terça-feira, maio 09, 2006
A mídia como pauta da mídia
Luciana Campos
No último dia 26, quarta-feira, teve início o seminário “Mídia da Crise ou Crise da Mídia”, promovido pela Escola de Comunicação da UFRJ. A palestra de abertura, cujo tema foi “Como a democracia se constitui em aliança, conflito e composição com os meios de Comunicação. Democracia pela mídia e governo dos meios de comunicação”, contou com a participação de pessoas com extenso conhecimento na área, como os jornalistas Paulo Henrique Amorin, Ricardo Kotscho e Sérgio Sá Leitão, o cientista político e professor da UFRJ e da Universidade Cândido Mendes, Wanderley Guilherme dos Santos, o também professor da UFRJ e representante da Rede Universidade Nômade, Giuseppe Cocco, e o ex-ministro chefe da Casa Civil, e deputado cassado, José Dirceu.
A participação de Dirceu no evento levou profissionais de diferentes jornais do Brasil ao auditório do Centro de Filosofia e Ciências Sociais (CFCH), que fica no campus da Praia Vermelha. Perto da mesa, fotógrafos e repórteres se acotovelavam por um espaço que desse o melhor ângulo do ex-ministro. Muitos temas acerca da democracia na mídia brasileira foram abordados e muitas críticas à postura da imprensa diante de alguns fatos políticos foram feitas. Segundo o cientista político, Wanderley Guilherme, a imprensa brasileira ainda não tolera um governo independente dela. “Não existe independência da imprensa contemporânea”, afirmou ele, lembrando que a imprensa é um grupo de interesse em negócios que oferece ao governo uma certa estabilidade.
Concentração
A concentração dos meios de comunicação não é novidade no Brasil. Os donos de televisão são os mesmos de rádios e jornais impressos. O jornalista Paulo Henrique Amorin lembrou que somente a Rede Globo, e não as organizações Globo, detém 50% da audiência e 70% da receita publicitária, sendo que, a televisão absorve 60% de todo o gasto publicitário. “Esse tipo de hegemonia desenvolvido pela Rede Globo não se reproduz em nenhuma democracia do mundo, nem mesmo as mais recentes, como a do Chile”, disse Amorin.
Defesa
O ex-ministro José Dirceu se defendeu das acusações que vem sofrendo nos últimos dias. Segundo ele, até agora nada foi provado contra sua pessoa no caso do assassinato do prefeito de Santo André, o petista Celso Daniel, lembrando de ainda não ter sido notificado pelo Ministério Público de São Paulo por seu possível envolvimento no caso. Porém, as manchetes de jornais publicam, quase que diariamente, segundo o ex-ministro, a sua investigação pela justiça no caso. Além disso, o ex-deputado afirmou que sua empresa tem caixa para custear suas viagens de avião, fazendo referência a um episódio que há duas semanas estampou as primeiras páginas dos jornais brasileiros, questionando o aluguel de um avião particular, feito por Dirceu para encontrar o ex-presidente Itamar Franco, em Belo Horizonte. Sobre mídia, tema do encontro que Dirceu estava participando, o ex-ministro disse que a imprensa brasileira apoiou o regime ditatorial e elegeu Serra, em 2004, fazendo uma campanha suja, hipócrita, e machista contra a candidata do PT, Marta Suplicy. Segundo ele, há no Brasil diversas mídias, como a popular, sindical, empresarial, parlamentar, municipal entre outras. “Se alguém quiser lutar pelo Brasil, deverá criar meios de comunicação alternativos. Mas, podem se preparar, porque sofrerão intensos ataques”, afirmou.
Resultados
Segundo a professora Ivana Bentes, diretora da Escola de Comunicação da UFRJ, que organizou o evento, o objetivo do seminário é o de reunir empresários, ativistas, jornalistas, entre outros profissionais de diferentes áreas, para discutirem temas relacionados à comunicação, colocando diversos pontos de vista sobre esta área que hoje é considerada um setor estratégico. Sobre a formação dos futuros comunicólogos, Ivana disse que, por estarem em uma universidade pública e gratuita, a idéia é formar pessoas que vão para o mercado de trabalho, que já está configurado, e invente mídia, criando assim, mais mercado de trabalho. “Nós não estamos formando para o mercado, e sim, criando um novo mercado, onde a comunicação seja um direito universal”, afirmou a diretora.
Publicado em: 27/4/2006
http://www.ufrj.br/noticias/materia.php?cod=2523