FÁBIO TAKAHASHI
da Folha de S.Paulo
Os professores da rede municipal de São Paulo, em greve há nove dias por aumento salarial, só recebem mais do que os educadores de Vitória, considerando as capitais do Sudeste.
O levantamento feito pela Folha teve como base o salário inicial e a jornada mínima dos professores com ensino superior das redes municipais das capitais da região.
No sistema paulistano, o docente recebe R$ 7,68 por hora-aula. A cidade em que a relação é mais alta é Belo Horizonte, com R$ 12,22 (variação de 37,15%). Em Vitória, o professor recebe R$ 7,08, e no Rio de Janeiro, R$ 8,17.Em termos absolutos, o pagamento mensal para os professores de São Paulo é o menor (R$ 615). Os educadores de cada capital, porém, cumprem cargas horárias diferentes. Em São Paulo, por exemplo, é de 20 horas semanais; no Rio, cujo vencimento é de R$ 736 (o segundo menor), a jornada é de 22 horas e meia."Com esse salário, o desestímulo é grande", disse o presidente do Sinpeem (sindicato dos professores e funcionários da rede municipal de São Paulo), Claudio Fonseca. "Há até o abandono simbólico. O professor está lá, mas não tem condição de fazer um bom trabalho. Não tem dinheiro para comprar livro ou um computador."Procurada pela reportagem, a Secretaria Municipal de Gestão não comentou os dados, fornecidos pelos sindicatos locais.Anteontem, a pasta informou que fará uma proposta de reajuste salarial para a categoria na próxima semana. "[Espero] que os professores, junto com a equipe da prefeitura, encontrem um caminho que entenda a importância da valorização do professor e que saiba das limitações da prefeitura", disse ontem o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PFL), durante vistoria de obra na zona sul da capital. "Não é em um ano que vamos resolver todos os problemas de nossos professores."Enquanto professores e prefeitura não se entendem, pais e alunos vêm sendo prejudicados. Na escola Olavo Pezzotti, em Pinheiros (zona oeste), a paralisação é quase total. Os poucos docentes que não aderiram à greve precisam cuidar de todas as crianças."Prefiro deixar as minhas crianças em casa. Eu mesma estou dando lição para elas. Mas e quem não tem essa condição?", disse a antropóloga Clarissa Magalhães, 37. "Os professores e a diretora são obrigados a se virar. Mas, como as turmas ficam misturadas, não há aula", afirmou."As escolas recebem os alunos do jeito que dá e estão como depósitos", disse a presidente do Napa (Núcleo de Apoio a Pais e Alunos), Cremilda Teixeira.Segundo o Sinpeem, 75% das escolas estão paradas total ou parcialmente. Já a prefeitura afirma que a greve atinge poucas unidades e que, mesmo nelas, não são todos os professores que aderiram. Amanhã está prevista outra assembléia da categoria.
Colaborou CONRADO CORSALETTE, da Reportagem Local