Oposição revela caráter golpista, afirma Dilma Rousseff
Acompanhando agenda do presidente Lula no RS, a chefe da Casa Civil criticou o comportamento dos setores da oposição que voltaram a falar em impeachment. “Querem ganhar no tapetão”, disse Dilma. Lula inaugurou obras em reserva indígena, em parque de energia eólica e em hospital.
Marco Aurélio Weissheimer - Carta Maior
PORTO ALEGRE - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou a quarta-feira no Rio Grande do Sul, inaugurando obras de energia em uma reserva indígena, ativando o primeiro gerador de um parque eólico e inaugurando uma nova ala de emergência em um dos maiores hospitais do Estado. Mas, do ponto de vista político, a fala mais forte do dia partiu da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que denunciou o caráter golpista do comportamento de setores da oposição. “Tentar impedir o presidente de governar ou de não participar do processo eleitoral, não digo que é um golpe em si, mas tem um caráter golpista”, disse Dilma em entrevista à rádio Gaúcha. Para ela, a tentativa de desencadear um processo de impeachment do presidente Lula tem um claro caráter eleitoral. A reação da chefe da Casa Civil ocorreu justamente no dia em que o senador Almeida Lima (PMDB-SE) apresentou requerimento à mesa do Senado para criação de mais uma Comissão parlamentar de Inquérito (CPI), desta vez com o objetivo de investigar denúncias envolvendo pessoas próximas ao presidente Lula (especialmente o presidente do Sebrae, Paulo Okamoto, e familiares de Lula).No final da tarde, em Osório (RS), Dilma voltou a criticar a oposição dizendo que, ao falar em impeachment do presidente Lula, quer ganhar a presidência no “tapetão”. “A oposição está querendo ganhar no tapetão o que não vai ganhar certamente no voto”, disse a ministra. Ela também respondeu as críticas de que Lula estaria aproveitando as inaugurações de obras para fazer campanha, observando que as realizações de um governo maturam no último ano de gestão. Ela citou duas delas, que fizeram parte da agenda de Lula, na visita que fez ao Rio Grande do Sul nesta quarta:“Tanto no programa Luz para Todos quanto na questão do Parque Eólico é de fato colher o que plantamos. O presidente tem absoluta função governamental de participar dos processos de entrega de obras e de prestação de contas à população”, defendeu Dilma, que acompanhou a agenda presidencial no Estado.
LUZ EM RESERVA INDÍGENA
A agenda presidencial começou cedo. Na cidade de Tenente Portela, Lula inaugurou obras do programa Luz para Todos, na reserva indígena do Guarita, no valor de R$ 2,5 milhões, beneficiando cerca de 7,5 mil índios das etnias kaingang e guarani. Em Osório, visitou o canteiro de obras do Complexo Eólico, que gerará energia elétrica a partir da força dos ventos. E, por fim, em Porto Alegre, participou da inauguração da nova ala de emergência do Hospital Conceição, um dos maiores da capital gaúcha.Lula destacou a importância do programa Luz para Todos, creditando o sucesso do mesmo ao trabalho de Dilma Rousseff, quando ocupava o Ministério de Minas e Energia. “Quando chega a energia elétrica você está tirando a pessoa das trevas, transportando a pessoa de um século para o outro quase que em um passe de mágica”, disse o presidente, repetindo palavras do ministro Silas Rondeau Cavalcante Silva, que ocupa atualmente a pasta das Minas e Energia.“A nossa vinda aqui hoje é para dizer à comunidade indígena da região que o nosso compromisso com o índio não era nenhum compromisso eleitoral. É um compromisso de vida”, acrescentou Lula. Além da obra que levou energia elétrica para a reserva, Lula também descerrou uma placa que marcou o início das atividades de uma rádio comunitária, cuja programação será feita nos idiomas kaingang e guarani.Com a energia elétrica propiciada pelo programa Luz para Todos, os cerca de 7.500 índios da reserva do Guarita poderão melhorar a produção de milho, feijão, fumo, frutas, soja, verduras e trigo. Agora, eles planejam comprar geladeiras para conservar e vender leite e derivados. Em seu discurso na reserva, Lula também citou ações governamentais, nos últimos três anos, para a comunidade indígena: aumento de 40% no número de vagas para índios nas escolas, investimentos de R$ 20 milhões, em 2005, em obras de saneamento básico em 297 aldeias, e 19 mil famílias indígenas beneficiadas pelo programa Bolsa-Família.A Reserva Indígena do Guarita é a maior área kaingang em extensão do estado e a mais populosa do País e também abriga 50 famílias de índios guaranis. Com 23.406 hectares, a área abrange os municípios de Tenente Portela, Redentora, Erval Seco e Miraguaí. Além da eletrificação, outras ações paralelas foram realizadas na região para melhorar a qualidade de vida da população indígena. A Fundação Nacional de Saúde (Funasa), por exemplo, investiu em torno de R$ 1 milhão na construção de poços artesianos e de postos de saúde.
PARQUE EÓLICO
A segunda agenda do dia ocorreu no município de Osório, onde Lula acionou um dos aerogeradores do Parque Eólico. “O Brasil tem todas as condições de se tornar o centro mundial das novas matrizes energéticas alternativas”, afirmou o presidente, que mencionou mais uma vez a importância do trabalho da chefe da Casa Civil e ex-ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, no desenvolvimento do setor energético.A solenidade, que contou com a presença do governador do RS, Germano Rigotto (PMDB), marcou a entrada em operação da primeira das 75 torres do Parque Eólico de Osório e a integração da usina à rede elétrica nacional. O parque terá capacidade de geração de 150 megawatts, o suficiente para abastecer cerca de 650 mil pessoas/ano.O centro é o maior do gênero na América Latina e o sexto maior do mundo. Cada um dos 75 aerogeradores terá 135 metros de altura e 810 toneladas de peso. Oito deles já estão concluídos. O parque eólico envolve um investimento de R$ 670 milhões, dos quais 69% são financiados pelo BNDES. O restante está a cargo do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), Caixa RS e Banrisul.
PROTESTO EM PORTO ALEGRE
Durante sua estada no RS, Lula encontrou protestos somente na capital. Servidores do Hospital Conceição protestaram contra o governo federal com uma chuva de ovos e mini-pizzas. Os funcionários temem que a instituição seja transformada em uma fundação privada. Empregados da Varig também cobraram do governo ajuda para salvar a empresa da falência. Durante os protestos, houve enfrentamento entre militantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e os manifestantes. Militantes do PT, de um lado, e do PSTU e do P-Sol de outro, também trocaram gentilezas.