sábado, abril 29, 2006

"Que venham", diz Lula, sobre os adversários


por Ricardo Amaral e Cesar Bianconi - Reuters

SÃO PAULO - Em discurso para 1.200 delegados ao 13º Encontro Nacional do PT, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desafiou a oposição a derrotar seu governo nas urnas, conclamou o partido para disputar uma eleição em clima de guerra e exigiu da legenda uma política de alianças que lhe permita ter maioria no Congresso caso seja reeleito.

“Se tivermos o PT unido com os partidos de esquerda e a sensibilidade de detectar na sociedade quem são nossos aliados, que venham (os adversários), porque estaremos prontos para rechaçá-los", disse Lula ao final de um discurso de uma hora e 15 minutos na quadra de esportes do Sindicato dos Bancários de São Paulo.“Eu quero saber do PT se nós temos mesmo um projeto nacional", cobrou o presidente. Ele tem defendido em conversas com auxiliares mais próximos que o partido tente fazer uma coligação formal com o PMDB.

Como era previsto Lula não se declarou oficialmente como candidato à reeleição, mas o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), deixou claro que essa decisão será confirmada na convenção do partido em junho."Tenha certeza de que o PT não vai esperar uma decisão, nós vamos preparar essa campanha desde já", disse Berzoini antes da fala de Lula.

O presidente fez no encontro do PT sua crítica mais elaborada ao comportamento da oposição desde o início da crise política, em maio do ano passado. Lula citou nominalmente, sob aplauso dos delegados, os ex-dirigentes José Dirceu e José Genoino. Lula conseguiu aplausos também para o ex-ministro Antonio Palocci."Aqui nesta sala falta um companheiro, falta a paciência do companheiro Palocci", disse Lula, lembrando as críticas que o ex-ministro da Fazenda recebeu de parte do PT no início do governo.

Sem vacilação - Lula acusou o PSDB e o PFL de fazerem uma oposição mais violenta do que o próprio PT havia feito a governos anteriores."Nossos algozes torciam, tinham a convicção de que o Brasil estaria quebrado ao final do primeiro ano do nosso governo", disse o presidente.

Lula afirmou que as CPIs dos Correios e dos Bingos foram criadas pela oposição para prejudicar o governo e o PT."Encontraram uma forma de fazer o julgamento do nosso partido por outros motivos, porque eles sabem que na disputa democrática eles não nos derrotarão.

"O presidente ironizou a proposta de "choque de gestão", que vem sendo pregada pelo candidato tucano, Geraldo Alckmin, qualificando-a de modismo."Eu não preciso de choque para ser responsável. Eu sou responsável de nascença", afirmou Lula, ressaltando que seu governo pratica a responsabilidade fiscal. "O que este país está precisando é de um choque de inclusão social, um choque de políticas públicas para ajudar a população pobre".

Lula disse aos delegados petistas que se preparem para uma campanha muito dura "porque no Brasil não é nossa tradição receber elogios de adversários"."Neste momento não existe espaço para dúvida, para vacilação. Temos de saber quem são os inimigos, os adversários e os nossos aliados", disse o presidente.

Ao longo de seu discurso, Lula citou os dados que considera mais importantes de seu governo em relação aos anteriores e disse que está "louco para fazer comparações".O Encontro Nacional do PT prossegue no fim de semana e deve definir neste sábado a política de alianças a ser seguida nas campanhas presidencial e as estaduais.


Lula cobra partido, defende governo e cita Dirceu e Palocci em encontro do PT

Em um discurso de uma hora, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um balanço de seu governo, cobrou atitudes de seu partido com vistas às eleições e fez menções aos ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci. Ele foi aclamado pelas mais de 1.200 pessoas reunidas no 13º Encontro do PT, mas não assumiu sua candidatura à reeleição presidencial.

O presidente se dirigiu ao microfone por volta das 19h25, quando foi recebido aos gritos pelos militantes, com slogans pedindo sua candidatura. Muito descontraído, Lula fez brincadeiras a todo o momento, dirigiu-se a diversas pessoas do palco e da platéia e no final se emocionou, quando alertou a militância do partido para que se preparasse para as eleições de outubro. "Nós vamos ter um enfrentamento grave. Vocês se preparem", disse ele.

Antes de seu discurso, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, já havia sinalizado que não seria hoje que Lula aceitaria a convocação do partido: "O PT está solidário com a sua decisão de só anunciar a sua candidatura quando achar melhor", disse Berzoini, referindo-se ao presidente da República.



Logo no início de seu discurso, ao cumprimentar as autoridades presentes no palco e localizar conhecidos na platéia, Lula identificou uma das personalidades mais aplaudidas da noite: o deputado cassado José Dirceu, o ex-ministro da Casa Civil."Esta aqui o nosso companheiro José Dirceu". A frase foi a senha para que Dirceu se levantasse e fosse bastante aplaudido. Militantes gritaram o refrão: "José Dirceu é meu amigo. Mexeu com ele, mexeu comigo". Pouco depois, Lula mencionou o ex-ministro da Fazenda, ao mencionar um "grande companheiro que estava ausente" e elogiar "a paciência do companheiro Palocci".