LEONARDO SOUZADA
FSP SUCURSAL DE BRASÍLIA
Dois senadores do PFL confirmaram à Folha que pegaram carona em aviões sob a responsabilidade do Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas. Heráclito Fortes (PI) admitiu ter usado várias vezes aeronaves do consórcio Voa, então administrado pelo Opportunity, para viajar para o Piauí e entre cidades do Estado.Já o presidente do partido, Jorge Bornhausen (SC), disse que voou com Dantas em 1998 por conta do aniversário do pefelista Luís Eduardo Magalhães (que morreria em abril daquele ano), mas afirmou não saber se o avião pertencia ao consórcio. Ele se recorda que conversou com Dantas sobre a campanha de Luís Eduardo ao governo da Bahia. Questionado se fez outros vôos em aviões cedidos pelo Opportunity, Bornhausen afirmou que não se lembra, mas não afastou a possibilidade. Disse que, se usou jatinhos do banco, o fez por orientação do partido.O Opportunity disse que o Voa - que também era integrado pela Brasil Telecom e Telemig- foi constituído só no final de 1998, e por isso Bornhausen não poderia ter voado num avião do consórcio. O Opportunity negou ainda que Dantas tenha ido ao aniversário de Luís Eduardo em 1998.Segundo auditoria interna da Brasil Telecom, os aviões do consórcio voaram para o Piauí ou dentro do Estado 58 vezes entre 1998 e o ano passado, embora a empresa não opere no Piauí. Heráclito negou que tenham sido tantas viagens, mas não soube precisar o número de vôos que fez. Também foram registrados centenas de vôos do consórcio para Santa Catarina, mas a Brasil Telecom opera no Estado.Heráclito é conhecido defensor de Dantas e do Opportunity no Congresso. Discursou muitas vezes em favor do banqueiro e da instituição na CPI dos Correios, que pediu o indiciamento de Dantas por suposta colaboração com o esquema de Marcos Valério. Heráclito disse que é perseguido por governistas por ter defendido investigações contra fundos de pensão administrados por petistas: "Tenho quase 25 anos de vida pública. Sempre tomei muito cuidado com essas coisas".A Brasil Telecom foi administrada pelo Opportunity até meados do ano passado, quando os fundos de pensão Previ, Petros e Funcef conseguiram na Justiça assumir o comando da empresa.A nova gestão fez uma auditoria para levantar irregularidades da administração anterior. Segundo a auditoria, entre abril de 2002 e setembro de 2005, a Brasil Telecom gastou R$ 66 milhões com o consórcio. Os novos gestores da empresa entraram com ações na Justiça contra o Opportunity nas quais dizem que, apesar de arcar com mais da metade dos gastos, a Brasil Telecom praticamente não usava os aviões, que ficavam à disposição do Opportunity.