O novo ministro da coordenação política do governo Lula, Tarso Genro, acredita que o país vive um período de consolidação da normalidade democrática e não acha que a crise política – alimentada pela oposição e amplificada por amplos setores da mídia – leve a um risco de retrocesso.
A análise de Tarso, feita durante entrevista ao programa Espaço Aberto, da Globonews, toma por base a própria reação da sociedade ao ambiente de desestabilização do governo Lula criado nos últimos dez meses.
“A crise mostrou que demos um grande salto político”, afirmou. Segundo o ministro, o caminho da estabilidade democrática faz do voto a melhor arma para que a população julgue os erros e acertos do governo.
“O Brasil vai decidir nas urnas. Agora, para essa alternativa ficar clara, tem que haver debate sobre o futuro e as alternativas para o país”, ponderou, criticando os que pautam a discussão política apenas pelo “denuncismo”.
Para Tarso, a exacerbação da luta política não leva a lugar nenhum. “E esta lição o meu partido já assimilou. É necessário que a oposição também assimile”, disse. Depois, concluiu: “Ninguém governa um país incendiado. Nem Lula, nem Alckmin, nem FHC vai governar o país numa situação de tensão absoluta”.
Partidarismo da mídia
O ministro criticou as “investigações” conduzidas pela oposição nas CPIs, por estarem “se alienando da busca de resultados”. E criticou a parte da mídia que se comporta da mesma maneira, assumindo posições majoritárias contra o governo.
“Nenhum de nós é ingênuo. A luta política verte por meio da imprensa. É absolutamente notório neste momento que 90% dos grandes formadores de opinião, 90% do noticiário, são contra o governo Lula. Se você pesar as matérias, vai perceber que elas são massivamente contra”, avaliou.
Por esse motivo, disse ele, o governo se esforça para construir uma agenda positiva, com a discussão de projetos de interesse do Brasil, para reverter a visão que predomina nos meios de comunicação. A consolidação da democracia, na opinião de Tarso, passa por essa mudança na pauta de discussões.
“Acho que se esse ambiente continuar, de denuncismo generalizado, com muitas denúncias sem provas, vamos fazer com que a população se afaste do processo eleitoral e não exerça sua cidadania”, afirmou Tarso, recusando, porém, a idéia de que haja uma “conspiração” contra o PT e a esquerda.
“Vejo como uma disputa política. Mas nós temos o direito de criticar, analisar e dizer isso a sociedade”, explicou. “A mídia também tem uma visão de que qualquer crítica que se faça, está se criticando a liberdade de imprensa. Isso não é correto”.
Retrocesso
O Brasil tem instituições sólidas, amadureceu muito a partir da Constituição de 1988. Não sofrerá nenhum tipo de retrocesso. Único retrocesso é não discutirmos os projetos que são do interesse do país.
Processo de redemocratização, no Brasil, é um pouco mais demorado. Desde 88, estamos processando e articulando uma nova hegemonia democrática para o Brasil. Estamos no caminho da estabilidade democrática. Hoje ninguém está pensando em golpe militar, em revolução armada.
Articulação
O ministro falou ainda das dificuldades do cargo que acaba de assumir no governo. Embora elogiando o trabalho de seus antecessores (José Dirceu, Aldo Rebelo e Jaques Wagner), lamentou que a relação com a base política ainda seja muito fragmentada.
“Não há relação estruturada com os partidos, o que leva a coordenação à exaustão. Mas esse é um problema (que depende) da reforma política. A democracia brasileira ainda não é uma democracia de partidos. Os partidos são uma couraça legal para um conjunto de interesses e relações regionais”, analisou.
Tarso considera natural o embate político que se trava no Congresso, inclusive quando a oposição utiliza a votação do Orçamento federal “como instrumento de barganha”. Disse, porém, que há limites. “A negociação política é legítima, mas os interesses às vezes são inaceitáveis”.
MST
Por fim, Tarso recusou a idéia de repressão às ações do MST, respondendo à sugestão da apresentadora, jornalista Miriam Leitão, de que o governo deveria ser mais duro com tais manifestações.
“Obedecer a lei é obrigação de qualquer cidadão que quer viver numa sociedade democrática. Mas não podemos compartilhar com uma visão de criminalização dos movimentos sociais”, ressaltando que isso vale tanto para os trabalhadores rurais quanto para os fazendeiros que promovem tratoraços, que os conflitos são normais e que o papel do governo é o de administrar as tensões.
“Não existe democracia sem conflito. Sem conflito, vira ditadura”, finalizou.