terça-feira, março 14, 2006
O que é um semicondutor???
Mais importante do que ter a idéia do que é um semicondutor (ver mais abaixo), é compreender o que o domínio da tecnologia e da produção de conhecimento nesta área representa em termos estratégicos para um país como o Brasil. Grande mercado, grande território, grande parque industrial e recursos minerais abundantes, tornam o Brasil um jogador perigoso em termos mundiais para negócios desse tipo. O que fica claro neste momento, é a ação dos velhos e conhecidos grupos que sempre participaram da traição e sabotagem do Brasil. Tentam de todas as maneiras desinformar a sociedade escondendo o que realmente está em jogo nessa questão da escolha do sistema de TV Digital no Brasil. Pressionam o governo LULA criando um clima de "fato consumado" (ver manchete da Folha semana passada), quando deveriam estar informando a população sobre os interesses em jogo e o esforço que existe por parte de alguns ministros como Dilma Rousseff em negociar vantagens e oportunidades para o estabelecimento de uma política industrial do Brasil para a fabricação e domínio da tecnologia de semicondutores. A escolha do sistema de TV Digital, é só uma pequena parte da história, a parte maior e mais interessante, a imprensa brasileira, salvo raríssimas exceções, está escondendo do povo brasileiro.
Algumas informações básicas sobre o que é um semicondutor:
O Brasil gasta entre US$ 4 e US$ 6 bilhões por ano com importação de semicondutores e componentes eletrônicos. Até 2007, esse valor vai atingir US$ 12 bilhões. O setor é dominado por nove grandes empresas transnacionais e os maiores pólos de produção estão localizados nos Estados Unidos, Japão, Taiwan, Coréia do Sul, Alemanha, França e Irlanda. O investimento para a criação de um pólo produtor de semicondutores ultrapassa US$ 30 bilhões. As grandes máquinas ou os sistemas telefônicos não funcionam sem um semicondutor, que é uma placa de silício capaz de processar milhares de informações rapidamente. O semicondutor hoje, é mais ou menos como a máquina a vapor e o aço no final do século 19.
Adauto Melo
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LUÍS NASSIF
De mão beijada, não
O fim de semana foi pródigo em versões rocambolescas sobre as negociações em torno do padrão de televisão digital -em quase todas aparecendo como herói o ministro das Comunicações, Hélio Costa. De acordo com uma das versões, em uma reunião do comitê ministerial incumbido de escolher o sistema, o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, teria ponderado que o padrão deveria permitir a exportação de produtos pelo Brasil. E o indômito Hélio, defensor do padrão japonês, teria liquidado a discussão argumentando que as empresas japonesas exportam para o mundo todo.Apesar de todos os balões de ensaio disparados, definitivamente não há decisão sobre o sistema de TV digital. Ainda está em fase de consulta, e pelo menos parte dos ministros envolvidos tem recomendado ao presidente ir mais devagar, inclusive abrindo para consulta pública, por duas razões muito simples. Primeiro, porque dá tempo para melhorar os "off-sets" (as contrapartidas exigidas dos competidores) e legitimar a escolha. Segundo, porque o sistema japonês para celular nem sequer foi para o ar ainda e o teste do sistema europeu, na semana passada, não foi bem-sucedido.Ontem, seis embaixadores europeus tiveram uma reunião de emergência com os ministros incumbidos de definir o padrão. O das Comunicações não compareceu. Compareceram o da Fazenda, Antonio Palocci Filho, Furlan e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Na reunião ficaram claras as regras do jogo. Para um padrão ser escolhido, o ponto-chave será a fábrica de semicondutores. O que se pretende não é uma fábrica qualquer, uma encapsuladora, como a implantada pela Intel em Costa Rica, mas uma fábrica de inovação, como a Intel está montando em Israel. A primeira é uma mera CKD, uma montadora de componentes importados. Já a fábrica de inovação permite o domínio da tecnologia de queimar o chip e criar o algoritmo -isto é, de gerar a inteligência. Permitirá criar inovações para televisores, geladeiras, eletrônica embarcada e queimar o chip correspondente. A idéia é que em torno dessa fábrica de chip seja instalada toda uma estrutura de empresas de designers de chips -ou seja, aquelas que montam os sistemas inteligentes que, depois, serão encapsulados. Outro ponto é que a empresa terá que ser uma joint venture com capitais nacionais privados. E, de preferência, financiado pelos países detentores da tecnologia.Essa mesma proposta foi feita para os japoneses. No caso europeu, a STM -maior empresa de semicondutores da Europa- se ofereceu para estudar se implantar no Brasil. Até agora, há mera manifestação de intenção. Para levar o sistema, o competidor terá que apresentar uma proposta firme. A divisão, agora, é apenas entre os ministros que querem decisão rápida e os que julgam mais prudente dar um tempo maior. Pode dar europeu, pode dar japonês. Mas o padrão Hélio Costa de entregar o mercado brasileiro de mão beijada está definitivamente descartado.
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