Adauto,
distribua aí, prô seu pessoal que não tenha lido. Essa crônica do LFV, hoje, matô a pau.
É uma perfeita resposta-na-ponta-da-língua (mas de gênio), às colunagens de FHC e àquele artigo salafrário do salafrário do Gol-de-mão, na Folha de S.Paulo, dia desses. Lula é muitos!
8-) Caia
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Lógica placável
Luiz Fernando Veríssimo (Em O Globo, RJ, 15/1/2006. Na edição impressa e na Internet, em http://oglobo.globo.com/jornal/colunas/veriss.asp)
Tudo o que está acontecendo estava previsto e seguiu uma lógica implacável. A radical mudança na política econômica do país após a posse do Lula, com a ortodoxia monetarista do governo Fernando Henrique dando lugar a uma política desenvolvimentista que prioriza o social, provocou uma forte reação do capital internacional e este, aliado aos banqueiros e à classe rentista nacionais que viram seus privilégios desaparecerem, a uma casta industrial acuada pela nova força do operariado com um ex-torneiro mecânico na Presidência, a uma aristocracia rural apavorada com uma reforma agrária agora para valer e a uma elite senhorial inconformada com os erros gramaticais do poder, dedicou-se a desestabilizar o governo, supervalorizando denúncias de corrupção e desencadeando uma campanha contra Lula inédita na sua virulência e...
Espera um pouquinho. Acho que estou lendo a projeção errada. Esta foi obviamente escrita antes da eleição, durante o susto artificial montado pelo mercado financeiro como último recurso para impedir a eleição do Lula, numa lógica suposição do que o PT faria no governo, mesmo tendo declarado que não faria. Mas, no Brasil, a lógica nunca é implacável. Aplacar a lógica é um dos nossos talentos naturais, que permitem a sobrevivência das nossas peculiaridades criativas num mundo em que dois mais dois insiste em ser, aborrecidamente, quatro. Mal sabíamos, então, o mercado e nós, que em matéria de política econômica o PT no governo seria o PSDB de barba, que o capital financeiro internacional não tinha nada com que se preocupar, que os banqueiros e os rentistas ganhariam dinheiro como nunca, que o Movimento dos Sem Terra chegaria ao fim do terceiro ano da administração como um dos seus maiores críticos e que os números não tão bons da indústria, apesar dos recordes de exportação, poderiam ser atribuídos a tudo, menos a uma falta de ortodoxia econômica. O que nos traz à conclusão, por uma lógica placável, de que se o Lula cair será pelos seus erros de concordância.
Se alguém, há alguns anos, apostasse na lógica implacável, previria uma má posteridade para Juscelino Kubitschek, que saiu do governo acusado de corrupção e não conseguiu fazer seu sucessor. Hoje é um herói retroativo nacional, festejado em boa prosa (não fosse sua autora a Adelaide do Amaral) e versos nostálgicos. Aplacaram a lógica.
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