sábado, dezembro 24, 2005


Sobre VINICIUS TORRES FREIRE. 12/12/2005. "Aaaah, Rooomeeeu!". Folha de S.Paulo, na edição impressa, p. 2 e na Internet, em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1212200504.htm
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É tão espantosa a ginástica que Vinicius Torres Freire fez, ontem, na página 2 da Folha de S.Paulo, para autorizar-se a escrever o que escreveu, que resolvemos começar por tentar saber quem, afinal, é VTF.
Da página da FSP, obtivemos a seguinte biografia: “Vinicius Torres Freire nasceu no Rio de Janeiro em 1965. Estudou ciências sociais e letras na USP, foi pesquisador visitante da Universidade da Califórnia (San Diego) e faz MBA em finanças. Começou no jornalismo no "Jornal da Tarde", em 1985, resenhando livros. Trabalhou na Editora Abril, no "Estado de S.Paulo", e foi, sucessivamente, editor de Educação, editor de Ciência, correspondente em Paris, editor de Opinião e editor de Economia da Folha. Atualmente, é secretário de Redação. Assina, às segundas-feiras, uma coluna na seção Opinião.” (Ontem, segunda-feira, assinou a coluna que estamos comentando.)
A biografia explica alguma coisa: nascido em 1965, VTF poderia ter freqüentado a USP na segunda metade dos anos 70 – auge da ditadura, quando nem USP havia, bem feitas as contas.
Depois, foram as tais “pesquisas” em San Diego, que não se sabe quais foram e podem ter ido, na década dos 80, de Maria Callas à Ku-Kux-Klan, entidades muito ativas na California, naquela década, às vezes in memoriam, às vezes ao vivo. Fossem quais fossem as tais “pesquisas” que VTF fez por lá, se fossem ou parecessem importantes para alguma finalidade que melhorasse as coisas para VTF, elas estariam mais detalhadas, no currículo que a FSP divulga para anunciantes em potencial. Sem nenhum detalhamento, no currículo de propaganda, não há dúvida possível: as “pesquisas” que VTF fez na California, na década de 80 ou de 90, bem explicadas, foram nada. “MBA em finanças” e nada, também são parentes próximos, e sempre foram, também em tempos pré-Schwarzzeneger, na California.
Mas o pior de tudo, nesse currículo de VTF, é que NADA do que se lê no currículo de VTF, até aqui, faz, forma, constrói um jornalista. A USP, nos anos 70? Não fez, formou, construiu jornalistas. “Resenhar livros”? Certamente essa atividade jamais fez, formou, construiu qualquer jornalista decente, no planeta.
O resto da biografia-produto de VTF vai pelo mesmo caminho e continuamos sem saber de onde, afinal, viria a competência pressuposta e, ontem, autoproclamada, para que VTF ‘decidisse’ – e a FSP publicasse, ontem, em espaço nobre – a sentença condenatória de algum nosso total avacalhamento brasileiro nacional congênito irremissível.
Até aqui, a coluna de VTF, ontem, seria só bobagem sobre bobagem – e chata, e mau-humorada e, afinal, pura grosseria e spleen à moda California-Schwarzzeneger. Mas pode haver mais, do pior.
Por que citar Roberto Schwarz, mas trair toda a essência crítica progressista do pensamento desse que é, provavelmente, hoje, o mais importante pensador brasileiro – e marxista e petista?
Pra início de conversa, Roberto Schwarz JAMAIS escreveu o que VTF escreve que ele teria escrito. Absolutamente nunca escreveu – não, sem dúvida alguma, absolutamente NÃO – no propósito de avacalhar o Brasil, que VTF tentou impor-lhe, na coluna de ontem. Mas Roberto Schwarz escreveu outras coisas, precisas e claras, que, essas, dificilmente ‘ajudariam’ VTF. Dentre centenas de outras, por exemplo, colho uma, que Roberto Schwarz escreveu em 1982 (há 23 anos, provavelmente enquanto VTF desmesurava-se, em San Diego, California, nas tais “pesquisas”). Enquanto VTF estudava só Deus sabe o quê, em San Diego, California, Roberto Schwarz já ensinava, com clareza solar – e em lição dirigida ao Partido dos Trabalhadores:
“A verdade é que a conquista de uma cultura democrática hoje não depende só de lutas econômicas e políticas, mas também da invenção – e a palavra invenção está aqui de propósito, para sublinhar a novidade do problema – da invenção de uma política democrática em relação aos meios de comunicação de massa. É certo que eles são inimigos do trabalhador, na medida em que servem o interesse do capital (...). Mas serão também um elemento de vida e um aliado indispensável, pois sem eles é impensável a democracia na escala presente. Portanto, é preciso lutar pelo acesso a eles, conhecê-los e estudá-los”.[1]
Depois, na coluna de VTF, hoje, é O Bandido da Luz Vermelha – que ninguém supõe que tenha sido lembrado, por VTF, por ter sido Acácio Pereira e morrido louco. VTF tenta é fazer-se de Paulo Vilaça, talvez, de Sganzerla.
Mas, outra vez, o que há de importante só aparece aqui, apenas, para que a frase do bandido possa ser travestida como ‘diagnóstico’... e ‘reaproveitada’ por VTF. O escandaloso projeto de chingar o Brasil, os brasileiros e todos os eleitores do Presidente Lula, nessa coluna de VTF, serve-se do filme, como máscara, para que o próprio VTF permaneça oculto.
Como fez, ao tentar usar Roberto Schwarz, também aqui VTF tenta construir alguma máscara metida a ‘inteligente’, que o esconda, que o camufle. E outra vez, como antes, VTF deixa o próprio rabo (fascista) de fora.
Em comentário de insider que – esse sim! – viu o filme, diz Carlos Ebert, câmera de “O Bandido”:
“O Bandido da Luz Vermelha é Ademar de Barros, Chateaubriand, Rádio Nacional, Hora do Brasil, Patrulha da Cidade, O Cruzeiro, Imprensa Marron (...)” [2]
Quer dizer, curto e grosso: o bandido-de-verdade é Vinicius Torres Freire, outra vez! E otário! E deu bandeira! [risos] Sganzerla vive! Paulo Vilaça vive!
E, afinal, chegamos à Julieta de Grande Otelo, em chanchada de 1949, que dá título à coluna de VTF, ontem, tão deslocada e extemporânea que chama a atenção. Afinal, se já VTF fez o que fez com (i) Roberto Schwarz; (iii) com Sganzerla; (iv) com “O Bandido da Luz Vermelha” (o filme); e com 40 anos de cultura crítica, no Brasil... o que não faria com uma... chanchada de 1949?!
Por que a Julieta de Grande Otelo, aos berros, no título da coluna? Por que não, por exemplo, uma Julieta Hebe Camargo, de um Romeu Ronald Golias – também excelentes Shakespeare de chanchada e televisão e, esses, de 1967-70, anos que, afinal, teriam mais a ver com o período que VTF finge que comenta?
A resposta a essa pergunta veio de um de nossos campanhistas. E teve, pra todos nós, o poder de convencimento que tem o horror sem nome, quando aparece antes aos olhos só de um, o mais atento ou, apenas o menos covarde. A resposta foi horrenda, porque, afinal, ela nos envergonha todos – jornal, jornalistas e leitores que não protestem.
Na roda de conversa sobre a coluna de VTF, hoje, quando a pergunta foi: “Mas por que, diabos, VTF meteu Grande Otelo, aí, nessa farsa fascista que ele construiu, tão desavergonhadamente?” a resposta veio tímida, envergonhada, não de sua lucidez, mas de ver o que via: “Porque Grande Otelo é negro.”
Parece impossível, eu sei, parece super-interpretar, parece forçação de barra. Não é.
É impossível evitar essa conclusão: Vinicius Torres Freire incluiu Grande Otelo nessa peça inacreditável de jornalismo fascista – de jornalismo militantemente racista – e que a Folha de S.Paulo publicou ontem, porque Grande Otelo é negro.
Na operação skin-head-brucutu, de jornalismo de pitt-bull-boy pirado, de inventar um avacalhamento nacional brasileiro congênito, irremissível, Vinicius Torres Freire ‘selecionou’ um negro brasileiro – um grande artista negro brasileiro –, para expô-lo como 'ridículo exemplar', como 'monstro de feira'.
Deve ter parecido metáfora precisa e perfeita, para Vinicius Torres Freire; que o ajudaria a dizer o que queria dizer aos leitores da Folha de S.Paulo, Brasil, dia 13/12/2005: “todos vocês, eleitores do presidente Lula, no Brasil 2005, são burros, por condenação 'aristocrática'; são pobres, por condenação 'moral'; e são pretos, por condenação racista”. Nós! Todos nós, os mais de 60 milhões de eleitores do presidente Lula, no Brasil... fomos ‘condenados’ por Vinicius Torres Freire, na Folha de S.Paulo, em São Paulo, Brasil, 2005! Em números, dá mais condenações do que na Alemanha de Hitler!
Para a felicidade da democracia brasileira, todos os fascismos são sempre o mesmo fascismo; e, tendo de ser construídos, como hoje, no Brasil, por imprensa-empresa partidarizada e completamente acanalhada, todos os fascismos têm de vir à tona, necessariamente; e aparecem. Onde apareçam, podem ser denunciados. O resto é trabalho.
Tudo, portanto, só, e cada vez mais... golpismos e golpismos, no Brasil-2005.
O presidente Lula, mais uma vez, acertou perfeitamente.
Lula-2006! Dirceu vive!
[assina] Caia Fittipaldi (dos Lingüistas Brasileiros para a Democracia/ Universidade Nômade / Campanha “Nenhum Brasileiro sem Resposta-na-ponta-da-língua, pra Responder à Folha de S.Paulo" / Tricoteiras Unidas / Mães do Planalto / Gaviões da Fiel)
[para vários destinatários, campanhistas e outros]
NOTAS:
[1] SCHWARZ, Roberto. 1987. Política e Cultura (subsídios para uma plataforma do PT em 1982). Que horas são?. São Paulo: Companhia das Letras, pp. 83-85.
[2] Depoimento de Carlos Ebert, câmera de “O Bandido da Luz Vermelha”. Revista Contracampo n. 61, na Internet, em http://www.contracampo.com.br/61/depoimentoebert.htm

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