sexta-feira, dezembro 09, 2005


Os mortos de Eldorado de Carajás,
polícia tucana a serviço do latifúndio.

Acusados de matar Dorothy Stang são julgados em Belém
Parentes da americana, funcionários da ONU, autoridades federais e agricultores pedem justiça no tribunal

BELÉM - Dois homens acusados de matar a freira americana Dorothy Stang, que atuava em comunidades pobres da Amazônia, começaram a ser julgados nesta sexta-feira em Belém. O caso representa um marco no combate a agricultores e madeireiros que devastam a floresta.
Dez meses após o assassinato da religiosa, em meio a uma disputa fundiária, os pistoleiros supostamente contratados por latifundiários para matá-la vão a júri em Belém. Dentro do tribunal, parentes de Stang, funcionários da ONU e autoridades federais pediram o fim da impunidade em centenas de homicídios encomendados na Amazônia.
"Dorothy era apaixonada pelo que fazia, amava o Brasil", disse seu irmão David Stang a jornalistas antes do julgamento. "Agora nossos advogados têm de trazer justiça para ela."
Diante do prédio amarelo-desbotado do tribunal, sob forte calor, agricultores que eram defendidos por Stang na remota região de Anapu (PA) ficaram à sombra de mangueiras e jacarandás rezando e gritando por justiça.
"Os que têm dinheiro sempre se safam dos processos por assassinato, e não vamos mais aceitar isso", disse Eliana de Alencar Souza, que estava entre as centenas de trabalhadores rurais que viajaram até Belém em ônibus sob forte escolta policial.
Esse é o julgamento mais importante em vários anos num caso que envolve direitos humanos no Brasil. Um influente advogado de Belém, que representa um dos acusados, disse que Stang era uma militante de esquerda que incentivava os agricultores a invadirem terras e sabia que poderia morrer por causa disso.
Nascida em Dayton, Ohio, Stang passou 30 anos lutando pelos direitos fundiários dos agricultores pobres da Amazônia. Ela foi morta quando tentava criar uma reserva extrativista federal, e seu assassinato chamou a atenção de todo o mundo para a luta dos que buscam conter o desmatamento e a grilagem na região.
Raifran das Neves Sales é acusado de disparar seis vezes contra Stang numa trilha da floresta, numa manhã de sábado, 12 de fevereiro de 2005. Ele teria sido ajudado por Clodoaldo Carlos Batista.
Dois fazendeiros dizem que Stang estava incitando a ocupação das suas terras e são acusados de pagar R$ 50 mil pelo crime. Ambos devem ser julgados em 2006, junto com um terceiro réu, acusado de organizar o assassinato.
A punição a pistoleiros e a quem encomenda os crimes é rara no Pará, onde latifundiários e madeireiros têm grande influência política.
O Governo brasileiro compara a morte de Stang ao assassinato do ativista Chico Mendes, em 1988, e diz que o crime serviu de recado para que as autoridades não se metessem nas atividades ilegais na floresta.
"É muito importante que haja uma punição real dos criminosos e assassinos da irmã Dorothy", disse o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, a jornalistas em Brasília. "Acabaria com a percepção de impunidade que estimula a violência no Pará e no Brasil."
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu restaurar a ordem na Amazônia depois do homicídio de Stang, em 12 de fevereiro, e enviou milhares de soldados para a floresta.
Cerca de 800 ativistas pela reforma agrária foram mortos no Pará nos últimos 30 anos, segundo entidades de direitos humanos.

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