quarta-feira, agosto 23, 2017
sábado, agosto 19, 2017
Os milhões de Lula que existem no país
Lula em Cruz das Almas.
A passagem do ex-presidente Lula por Cruz das Almas (BA) foi histórica! Ele foi homenageado pela UFRB e participou do IV Encontro da Juventude. Ele falou dos milhões de Lula que existem no país, sobre a importância dos jovens participarem da política e falou sobre ter garra, esperança e lutar por um País melhor!
Reveja e compartilhe alguns dos principais pontos dos seu discurso! Acompanhe a cobertura completa da Agência PT de Notícias: http://bit.ly/aovivolulapelobrasil
Judiciário Ridículo - A liminar caiu na rua
Professor da UFPR debate as conclusões de pesquisa realizada pelo Núcleo de Estudos Paranaenses
BRASILDEFATO.COM.BR
O doutor Reimão bem quis estragar a festa. Mas quando o povo que, não tem jeito. A liminar que proibia Lula de ir à Universidade do Recôncavo Baiano caiu, antes dos…
TIJOLACO.COM.BR
LULA no IV Festival de Jovens em Cruz das Almas
Lula cobra a participação dos jovens na política. "Vocês têm de assumir a política de verdade, sair do armário. Se eu fui presidente, por que vocês não podem? Se eu luto, por que vocês não podem?”. Veja a participação do ex-presidente no IV Festival de Jovens em Cruz das Almas. Leia em http://bit.ly/2wi1IFG
Foto: Ricardo Stuckert
Acompanhe a cobertura completa da Agência PT de Notícias:
http://bit.ly/aovivolulapelobrasil
#LulaPeloBrasil #LulaPelaBahia
http://bit.ly/aovivolulapelobrasil
#LulaPeloBrasil #LulaPelaBahia
Aos milhares de jovens que o acompanharam no ato, o ex-presidente deixou uma mensagem de esperança. Agenda faz parte da caravana Lula pelo Brasil
PT.ORG.BR
LULA É DEMOCRACIA. O GOLPE É CRIME.
Tive de fazer um destaque na foto acima, da chegada de Lula a um dos eventos iniciais de sua caravana, na Bahia, para não virar um “onde está Wally” para que as…
TIJOLACO.COM.BR
O Lula mudou a minha vida
O Lula mudou a minha vidaO LULA MUDOU A MINHA HISTÓRIA
Confira o vídeo emocionado dessa senhora que teve a vida transformada pelas políticas públicas implementadas durante o governo do ex-presidente Lula. Durante essa caravana estaremos conversando com os protagonistas da caravana "Lula pelo Brasil", o povo brasileiro.
Vídeo de Guilherme Imbassahy para os Jornalistas Livres'
quarta-feira, agosto 16, 2017
Com a palavra o ministro Zé Dirceu:
"Companheiros da Disparada e do Balaio, jovens estudantes e alguns já profissionais, visitaram-me em Passa Quatro no mês passado e passamos o dia pensando e sonhando com o Brasil e nosso povo, sua história e luta. Impressionado com a vontade política de luta e combate deles com suas vitórias no movimento estudantil, a dedicação ao debate, estudo e a pesquisa, me senti no dever de dialogar com eles expondo minhas angústias e dúvidas e minhas apreensões...
Para onde vamos e como? Eis uma pergunta que insiste em me atormentar nos últimos meses. Mesmo sabendo de minhas limitações políticas e pessoais, ouso responder com outras perguntas e algumas respostas.
Temos forças políticas e sociais para, no curto prazo, retomar o governo e realizar as reformas estruturais que o país demanda para sair da atual crise sem abrir mão da democracia, soberania nacional, projeto nacional e Estado de bem-estar social? E também sem regredir a um passado não muito distante quando o crescimento sempre foi sinônimo de concentração de renda e aumento da pobreza, do autoritarismo e conservadorismo, quando não da violência aberta e “legalizada” do Estado em nome democracia ou da luta contra o comunismo e a corrupção?
Sabemos o que fazer com o país e suas consequências, temos consciência do que são capazes as forças reacionárias e de direita? Aprendemos com a experiência do golpe contra a presidenta Dilma e da perseguição implacável e violenta contra o PT e Lula nos últimos três anos? O país tem condições de manter as políticas públicas sociais e a distribuição de renda sem realizar reformas estruturais como a do sistema bancário e financeiro, a tributária, a política, a do Estado e a sensível e explosiva dos meios de comunicação?
Teremos forças policias organizadas e mobilizadas, maioria parlamentar e hegemonia política na sociedade para realizar tais mudanças ou seremos constrangidos a administrar, para eles, a atual crise mesmo buscando manter determinadas políticas sociais – ao menos aquelas que restarem frente ao desmonte já realizado pelo usurpador?
Que vale a pena e devemos disputar o governo e Lula ser candidato, não resta dúvida. Mas essa não é a questão e sim com qual programa e com que objetivos, para além de resgatar seu legado e a democracia, o pacto constitucional e social rasgado pelos golpistas.
O que estamos fazendo para aumentar o nível político, cultural e de organização de nossas bases sociais e dos trabalhadores? Que mudanças estamos fazendo no PT e nos movimentos onde temos incidência para a nova conjuntura que enfrentamos? Avaliamos que nada mudou no Brasil e que teremos eleições normais em 2018 e o vencedor tomará posse e realizará sua política sem oposição ou teremos e esperamos novas tentativas de golpe e sabotagem aberta como a que levou a queda de Dilma e ao atual desastre econômica e social?
Por que não consolidamos a Frente Brasil Popular e criamos núcleos políticos e sedes, espaços para debates, mobilização, ações culturais e sociais, para ampliar a oposição ao golpe e ao governo Temer, as suas contra reformas e políticas visando retornar o Brasil a um simples país de linha auxiliar da política de Washington?
Como contrabalançar e contra-atacar a ofensiva liberal política, cultural e ideológica, via meios de comunicação? Qual perspectiva que apresentamos para a juventude mobilizada e na luta, para as inúmeras iniciativas de diferentes setores de oposição fora de nosso espaço sindical e social, da CUT, MST, MTST e tantos outros, como o Levante, a Consulta Popular, o Fora do Eixo, as Frentes Democráticas de Juristas e Advogados, as iniciativas culturais e o crescimento do movimento estudantil anti-Temer e Golpe?
O PT no seu recente congresso uniu-se em torno do Fora Temer, Diretas, Lula presidente, mas a realidade é outra: caminha para o fica Temer e eleições em 18. O que fazer?
Temos pouco tempo para as eleições de 18 e o suficiente para o médio prazo. A questão é combinar as duas tarefas e ações a curto e longo prazo, ir acumulando forças e elevando o nível político e de organização, inclusive para resistir à repressão e às ações paramilitares já presentes na atuação da direita, mudando nosso modo de agir e de organização, adaptando-nos para a essa nova fase da luta política no país e tendo consciência que não podemos e não devemos subestimar a direita ou desconhecer as mudanças no seu modo de agir e atuar. Ter ciência do ódio que a move e sua decisão de não apenas nos derrotar, mas sim nos destruir como força política e social, como partido e consciência política, memória histórica e, principalmente, como legado e conquista de direitos sociais e políticos pelo povo trabalhador e resgate da dignidade e soberania nacional.
Há outras questões não menos importantes, como nossas relações com a esquerda, os movimentos, as outras candidaturas - seja de Ciro Gomes ou outras que venham a surgir. Nossa experiência nos ensina que devemos, a partir de definições objetivas e claras sobre o que queremos, estarmos abertos ao diálogo e principalmente ao trabalho comum na Frente Brasil Popular e mesmo na Frente Povo Sem Medo. Isso independe do cenário de 2018, de uma possível candidatura de Guilherme Boulos ou ainda da criação ou não de um novo partido de esquerda com ou sem setores do PT. Temos força e experiência suficientes, já sofremos derrotas suficientes para não nos iludirmos sobre nossas reais forças e possibilidades, mas também para termos consciência de nosso papel e força e de nossa capacidade de luta.
Há uma plataforma comum que nos une contra Temer e o Golpe, pela democracia e um programa mínimo não apenas contra as atuais reformas, mas a favor de mudanças estruturais no país. Há consenso de que não podemos governar o país e atender as demandas populares sem quebrar os ovos do sistema financeiro, do rentismo, da concentração de renda, riqueza e propriedade, da estrutura tributária e da atual organização política e institucional do país. Ou será que não é consenso, daí a resistência de determinados setores ao programa da FBP e as idas e vindas dentro do parlamento de nossas bancadas nas relações com setores da situação e mesmo com o governo Temer ou com o presidente da Câmara no debate sobre diretas e das indiretas?
Nossa resistência ao Golpe e às reformas de Temer prova que temos capacidade de luta e mobilização, mas também expõe nossas limitações e fraquezas e nos convoca a superá-las, mesmo diante do tempo curto. Logo estaremos em plena sucessão presidencial e nos Estados, com todas as consequências de uma disputa eleitoral, agravadas pelo risco de Lula ser impugnado como candidato e o Congresso Nacional aprovar uma reforma política contra nós.
Devemos ter consciência que nossa vitória depende do crescimento de um amplo movimento de oposição pluralista, com total liberdade de iniciativas mas com um centro e uma direção orgânica, para a luta e o combate, com um sentimento e um impulso de dialogar e debater, enfrentar a ofensiva ideológica, cultural e política da direita, ir além da denúncia – mais do que necessária – das ilegalidades e arbitrariedades do aparelho policial-judicial e apresentando nossas propostas de mudanças e resgatando nosso legado.
A certeza de nosso crescimento vem do fato que nunca antes nesse país um golpe como o que foi dado durou tão pouco tempo, sendo hoje repudiado por mais de 95% da população que exige eleições gerais e o fim das contra reformas. Essa é nossa maior vitória política.
Mas atenção: não significa apoio a nós ou às nossas propostas a não ser que a conquistemos na luta e na disputa política e na ação política que é, na essência, a razão de ser de um partido ou de um movimento e foi e deve ser a única razão de ser do PT, que foi criado exatamente para que os trabalhadores deixassem de ser objetos da política para serem autores e atores das transformações sociais, econômicas, política e culturais a seu favor."*****
segunda-feira, agosto 07, 2017
Goering Ficaria Orgulhoso
Continuam Os Violentos Ataques Da 'Empiricus' A Lula Nos Meios "Empresariais"
5/8/2017, Mauro Santayana (blog)
5/8/2017, Mauro Santayana (blog)
Um dos fenômenos mais impactantes do processo histórico vivido pelo país neste momento é a extensão, profundidade e complexidade alcançadas pelo amplo esquema de contrainformação fascista montado nos últimos anos.
Voltado para atingir não apenas o público geral, mas também segmentos específicos da opinião pública, como a juventude, as igrejas (católicas e evangélicas) os ruralistas e os empresários urbanos, ele tem operado, desde 2013, praticamente sem contestação.
Na ausência de planejamento tático, estratégia, determinação ou articulação, a esquerda, que poderia servir de alternativa a esse discurso, reage, junto com o campo nacionalista e democrático, de uma forma tão lamentável e errática, que as derrotas vão se sucedendo, umas sobre as outras, com grande rapidez e facilidade, como ocorreu com o golpe jurídico-parlamentar-midiático de 2016.
Não há no Brasil uma frente pela democracia.
Não existe, no país, um comitê estratégico de comunicação, que pudesse, ao menos em parte, suprir a ausência dessa frente, ou transformar-se no seu braço mais atuante, em defesa da Verdade, da Liberdade, do Estado de Direito e da Constituição.
Nem uma coordenação jurídica nacionalista e desenvolvimentista, que possa restabelecer minimamente a justiça e fazer frente ao verdadeiro tsunami de calúnias produzido de forma mendaz pelo sistema de manipulação entreguista e fascista, em seus moinhos, ininterruptamente ligados, de ódio, mentira e hipocrisia.
E nem sequer grupos de monitoramento dignos desse nome, para ao menos mapear o que está ocorrendo nesse contexto, na internet e nos meios tradicionais de comunicação.
A cada 24 horas, no âmbito econômico e no institucional, da desculpa da busca de austeridade - agora ridicularizada pelos mais de 3 bilhões em emendas parlamentares aprovados pelo governo - que disfarça e sustenta a entrega da nação aos estrangeiros, à suposta defesa da honestidade que justifica, por meio do discurso de combate à corrupção, a destruição do Brasil, de programas e projetos no valor de centenas de bilhões de reais, são gerados, livre e maciçamente - na mídia, nos organismos de controle, justiça e segurança da República, nos intestinos de uma plutoburocracia sem nenhuma visão geopolítica ou um mínimo de sensibilidade estratégica para com a dimensão e a história do país que está irresponsavelmente arrebentando - centenas de ataques (milhares, se somarmos as redes sociais) ao Estado, à Democracia e à Política.
Às principais empresas nacionais e aos nossos bancos públicos - que poderiam nos servir de instrumento para enfrentar a crise em que nos meteram a propaganda, a conspiração e a sabotagem golpista desde a época da Copa do Mundo - distorcendo descaradamente a verdade, invertendo a realidade dos fatos, criando mitos tão mendazes quanto absurdos.
Disseminam-se, como sementes de ódio que brotam assim que atingem o solo - e tivéssemos sido tomados por um cego, orgásmico e orgiático viralatismo - falsos paradigmas que estão chegando - pela constante repetição, no incansável "pós venda" da "pós-verdade" - a milhões de brasileiros, nos mais diferentes nichos da sociedade e regiões do país, cumprindo sua missão de enfraquecer e destruir o Estado, desnacionalizar a economia e nossos principais instrumentos de desenvolvimento, e de ajudar a entregar, quem sabe definitivamente, o país ao fascismo, com embrulho de presente e tudo, nas próximas eleições.
Para fazer isso, a aliança entre direita "light", o anticomunismo tosco e anacrônico e o entreguismo mais abjeto, que encontraram no território brasileiro, nos últimos anos, um campo fértil, adubado com o preconceito e a ignorância, não utilizam apenas a mídia de massa - a ponta mais visível do iceberg que está afundando o país.
Mas também os mais insidiosos métodos e instrumentos, desenvolvendo estratégias específicas para cada tipo de público, por meio de instituições ligadas a interesses estrangeiros, vide as ligações entre o MBL e os irmãos Koch, por exemplo.
Há palestras e cursos de formação de "liderança" promovidos e financiados por consulados e embaixadas estrangeiras, de países que nos espionaram ainda nesta década.
Há "seminários" organizados por institutos e fundações de "defesa" da "justiça" e da "democracia", que não apenas levam nossos jovens para outros países, facilitando por meio de "bolsas" suas viagens e estudos, como depois também promovem e premiam, com plaquinhas, diplomas, medalhas, espelhinhos, festinhas, diplomas e miçangas e palestras remuneradas, sua fiel, abjeta e prestimosa "cooperação", quando alcançam algum poder em suas carreiras.
Há centenas de sites sofisticados, sem fontes de financiamento claras, e também empresas de "consultoria" e "research" que, a pretexto de prestar informações ao mercado e a investidores, fazem o mais descarado proselitismo político e antinacional.
Isso, sem serem incomodadas ou impedidas, na maioria das vezes, nem pelas autoridades, nem por quem está sendo por elas impiedosa e constantemente caluniado.
Usando, para pescar otários no oceano dos brasileiros comuns, saturantes- e caríssimas - campanhas de mídia dirigida, que, por sua extensão e capilaridade, devem envolver, principalmente na internet, milhões de reais.
Ora, todo mundo com um mínimo de conhecimento histórico sabe que, desde o início dos tempos, a mentira e o medo são as duas principais muletas do fascismo.
Que as utiliza para percorrer a trilha, pavimentada pela desinformação e o analfabetismo político, que costuma conduzí-lo ao poder, para finalmente calçar, sem abandoná-las como apoio para equilibrar-se, as pesadas botas do terror e do autoritarismo.
Quando na oposição, a falsidade e o preconceito servem ao fascismo para incentivar o golpismo.
Quando na situação, para impedir que ascendam novamente ao poder forças que possam se opor a ele.
Em fevereiro de 2015, denunciamos, em um texto para o qual recomendaríamos novamente a leitura, publicado na "Revista do Brasil", com o título de "O "FIM" DO BRASIL", a realização, na linha do "tenho medo", lembram-se? - de uma ampla campanha de mídia, dirigida principalmente para os meios empresariais, disfarçada como a venda de relatório de conjuntura, que afirmava - dentro da estratégia de disseminação e justificação do golpismo - que o Brasil iria "quebrar" naquele ano.
Por trás dela, estava uma empresa de "consultoria" cuja principal missão tem sido, nos últimos anos, a de explorar e apoiar abertamente o anticomunismo e o antipetismo no Brasil, adotando o sensacionalismo mais vulgar e o mais descarado terrorismo econômico, mesma estratégia que adota em outros "mercados", como Portugal, por exemplo.
Não apenas negando as eventuais conquistas que o país obteve na última década, mas, principalmente, assustando um público ignorante em economia, suscetível e contaminado ideologicamente pelo discurso conservador, privatista, entreguista e antibrasileiro vigente.
Ameaçando-o com a perspectiva da volta ao poder de um governo nacionalista, capaz de recolocar o país, por meio de um programa desenvolvimentista, em uma situação minimamente soberana e digna diante do mundo.
Agora, com a mesma estratégia, já denunciada, entre outros, por Fernando Brito, Tereza Cruvinel e Denise Assis - a de apresentar um discurso escarradamente político, em sua forma e consequências, como peça de propaganda de uma pseudo "análise exclusiva" - essa mesma empresa, a EMPIRICUS - sócia do site Antagonista e da Agora.inc, dos EUA, e já processada pela CVM e o MP de São Paulo - está promovendo outra campanha milionária, que, no lugar de "O FIM DO BRASIL" traz como apelo o alerta "A AMEAÇA QUE PODE ARRUINAR COM O PATRIMÔNIO DE SUA FAMÍLIA".
Nela, ela usa como principal gancho o retorno de Lula - que tirou o Brasil da decima-terceira economia do mundo e levou para sexta, hoje, ainda, nona posição, pagou a dívida com o FMI, triplicou o PIB, e multiplicou por 10, para 340 bilhões de dólares, as reservas internacionais - à Presidência da República e também defende, em outra peça de propaganda, a condenação definitiva do ex-presidente como um fator de melhora da situação para os investidores (Seguem-se vários exemplos de tuítos de propaganda fascista de desdemocratização que o pessoal aki, por princípio, NUNCA REPRODUZ).*****
domingo, agosto 06, 2017
O jogo esquecido: Por que a Rússia é Inimigo #1 para EUA e o Ocidente?
Quantas vezes ao longo de meses recentes ou mesmo anos, ouvimos o secretário-geral da OTAN, Obama, ou generais dos EUA declararem que "a Rússia é o maior inimigo" dos EUA e até de toda a ordem ocidental? A histeria da "ameaça russa" for forjada nos veículos da mídia-empresa, em alto padrão. Mas praticamente sempre é deixada sem resposta a questão de por que a Rússia seria tamanha ameaça contra os EUA.
Tudo parece ter começado em 2011, quando os EUA começaram a correr adiante com suas "revoluções" coloridas ou "primaveras" no mundo árabe. Mas se a "Primavera Árabe" foi "coberta" pela mídia, outro evento ficou praticamente sem ser noticiado – que os EUA passavam a observar vários governos "desleais" aos EUA, na América Latina e em outras partes do mundo. No ponto crucial – como na Síria –, a Rússia confronta os EUA e seus aliados nessas regiões.
O falecido presidente de Cuba, Fidel Castro, disse abertamente, pouco antes de morrer, que "A Rússia salvou o mundo de ser recolonizado." Ponto similarmente importante pode também ser lido num discurso há muito tempo esquecido de Zbigniew Brzezinski, de 1979, sobre ameaças que os EUA enfrentavam, e como os EUA deviam formular sua política exterior. Brzezinski destacou uma revolução que atingiu o planeta Terra no século 20: "De 1900 a 1950, a população mundial cresceu [saltou] de 900 milhões para 2,5 bilhões (...) como resultado dessa mudança política, o número de estados e nações triplicou para mais de 180. Na vida de qualquer de nós presentes nessa sala, foi a maior revolução política na história da humanidade (...) Por causa da tecnologia moderna e das comunicações, bilhões se tornaram conscientes de novas ideias e da desigualdade no mundo."
Depois da 2ª Guerra Mundial, devemos recordar, o principal campo de luta foi contra as potências coloniais, que buscavam preservar seu sistema colonial. Naquele período, os sovietes, guiados pela ideologia marxista-leninista, apoiaram quase todos os países que desejassem ser independentes de seus tutores coloniais.
Mas defesa aérea 'mais' soberania é fórmula mais perigosa que comunismo. "Pobre será o país que não possa defender seu povo contra ataque aéreo" – dizia Georgy Zhukov. Essas palavras hoje esquecidas do marechal Zhukov são chaves para compreender a presente situação e a luta por independência. Como vemos o esquema das ações dos EUA e o intervencionismo, é bem fácil compreender esse ponto.
Sanções, injustiça e lutas políticas ou nacionalistas estão criando dentro de cada sociedade uma massa crítica que será apoiada pelo intervencionismo dos EUA, depois do que os EUA alcançarão seus objetivos. Mas o elemento chave e crucial é a supremacia aérea. Sem supremacia no ar, que é a principal arma do processo de recolonização conduzido pelos EUA, os norte-americanos já não poderão intervir em qualquer país que tenha apenas uma força mediana em terra. Mas sem adequada defesa aérea, não importa o tamanho do Exército ou a popularidade do partido ou líder governante que se oponha aos EUA, esse governo está condenado a fracassar.
Dado o ímpeto dos EUA para dominar o mundo, e dado que a Rússia está exportando os melhores sistemas de defesa antiaérea para todos os hot points do mundo (Argélia, Síria, Irã, Venezuela), é indispensável perguntar: Quem é o agressor? Quem está atacando quem e o quê?
O capitalismo ocidental não pode existir sem imperialismo. Se no período Yeltsin vimos a tendência a abandonar todos os aliados do bloco socialista em todo o mundo, agora, nos tempos de Putin, vemos o exato oposto: toda a atenção aos ex-parceiros da URSS que permanecem, e não só sustentando os sobreviventes, mas também ajudando novos países socialistas – dos quais a Venezuela é o melhor exemplo.
Há muitas teorias sobre a política exterior de Putin. A primeira diz que seria formulada exclusivamente em torno da guerra por recursos de energia que são hoje a base da economia da Rússia. A segunda, que algumas elites ocultas da era soviética perseguem hoje os mesmos objetivos de antes, mas sob a cobertura da fórmula do atual estado russo. Finalmente, circula a ideia de que a Rússia estaria simplesmente defendendo a própria posição de estado soberano. Não importa qual dessas teorias pareça mais confiável. O que é óbvio é que a Rússia está confrontando os EUA em quase todos os pontos do planeta.
A guerra no Oriente Médio está perdida para os EUA e o dano que essa derrota causa à política regional e mundial dos norte-americanos é devastador.
A Venezuela talvez seja o próximo ponto de confronto entre EUA e Rússia. Hoje já está claro que Rússia e China apoiam Maduro e sua luta para preservar a via socialista que o país escolheu em eleições livres e limpas e manter-se no poder. A Rússia já instalou no país modernas defesas aéreas, desde o governo do falecido presidente Hugo Chávez. Hoje se vê que a Rússia também está ajudando Maduro com exportações de 60 mil toneladas de trigo por mês, além de considerável apoio logístico.
É claro que a Rússia não está simplesmente confrontando os EUA no que se poderia dizer que seria mera defesa da própria posição, mas está entrando, bem visivelmente, no que se conhece como "o quintal" dos EUA, da famosa "Doutrina Monroe". O resultado é claro: sanções, sanções e mais sanções e um buraco profundo nas relações Rússia-EUA.
Se se olha tudo isso de um ponto de vista estratégico, vê-se que a Rússia está fechando o círculo em torno da política dos EUA, revertendo todos os ganhos que os norte-americanos tenham obtido na Primavera Árabe, infiltrando-se como um verme nos projetos de energia da União Europeia, depois de cancelar o grande oleoduto do Oriente Médio. A Rússia está modelando um novo relacionamento com a Turquia e dando apoio a Duterte para que altere sua política exterior, num giro de 180 graus. E os EUA apanham, um golpe depois do outro.
Se comparamos a política exterior da Rússia à política da União Soviética, vê-se que ainda que a Rússia seja muito mais fraca que a União Soviética em termos de recursos, a Rússia é hoje perigo maior para os EUA. Não apenas o que se pode chamar de neocolônias, mas também os próprios aliados dos EUA estão mudando de lado, já sem interesse em permanecer na esfera de influência dos EUA.
Não é fácil para os EUA intervir militarmente no mundo "democrático". O senador McCain dos EUA disse explicitamente que a Rússia é mais perigosa que o ISIL, para os EUA. A frase soa engraçada para qualquer analista, porque se veem alguns padrões nas operações do ISIL – quando Maliki mudou de lado, o Iraque foi atacado pelo ISIL; quando Duterte mudou de lado, as Filipinas foram atacadas pelo ISIL e assim por diante.
É perfeitamente claro a quais mãos pertence a ferramenta chamada ISIL. Mesmo assim, esses tipos de operações especiais não conseguiram impedir que aqueles países escapassem da esfera dos EUA para buscar relações com outros países, especialmente Rússia e China.
Sobretudo, esse tipo de rebelião por trás do "muro" dos EUA pode ser comparada à rebelião dentro do Pacto de Varsóvia, só que dessa vez apoiada pela Rússia na direção oposta.
Os próximos pontos de confronto, além da Venezuela, são provavelmente a Península Coreana e os Bálcãs. Apesar de centenas de ameaças, os EUA ainda não atacaram a Coreia do Norte como atacaram a Síria, de tal modo que, se os EUA perderem outro confronto com Rússia e China, todo o sistema da dominação dos EUA em todo o mundo pode estar em perigo. A instalação, pelos russos, de modernos sistemas de defesa antiaérea em pontos críticos em todo o mundo fere mais profundamente a política dos EUA que qualquer ideologia anti-imperialista radical.
Os EUA só podem manter o próprio poder pela força bruta. Como se vê na atual situação, os EUA estão perdendo em termos estratégicos. Outros confrontos com a Rússia, como as novas sanções, só reduzem a velocidade com que os EUA perdem o poder, mas não têm suficiente potência para reverter o processo.
Não importa que teoria seja mais acurada quanto à formulação da política exterior russa, é claro que a Rússia está defendendo seu status atual, ao mesmo tempo em que apoia outros países, na mesma linha de apoio que a União Soviética também acionou, mas em formato diferente e sobre plataforma cultural e política muito mais ampla.
Os EUA só podem opor-se a essas ações com força bruta. Ao mesmo tempo, não intervir pode levar os EUA a posição ainda pior do que essa em que está. A intervenção, por sua vez, levará a queda ainda mais drástica na já fraca reputação que resta aos norte-americanos, e a consequências hoje ainda inimagináveis.*****
Para EUA, fim das "guerras a preço de ocasião"
4/8/2017, The Saker, Unz Review e Vineyard of the Saker
Com o golpe dos neoconservadores contra Trump agora já completado (pelo menos no objetivo principal, i.e., com Trump já neutralizado, o objetivo subsidiário, i.e., tirar o presidente da presidência, pode ser adiado para algum momento, não se sabe quando, no futuro), o mundo tem de lidar, mais uma vez, com situação muito perigosa: o Império Anglo-sionista está em rápida decadência, mas os neoconservadores voltaram ao poder. E farão de tudo, qualquer coisa que esteja ao alcance deles, para deter e reverter aquela decadência.
É também dolorosamente óbvio, se se observa a retórica dos neoconservadores, além de suas ações passadas, que a única "solução" que eles anteveem para se safar é iniciar algum tipo de guerra.
Assim sendo, a questão mais premente passa a ser: "quem o Império agredirá dessa vez?" Será a República Popular Democrática da Coreia ("Coreia do Norte")? Será a Síria? O Irã ou a Venezuela? Atacarão na Ucrânia, talvez? Ou os neoconservadores procurarão guerra com Rússia ou China?
Claro que, se assumimos que os neoconservadores são completamente loucos, nesse caso tudo é possível, desde os EUA invadirem o Lesotho, até atacarem simultaneamente com armas termonucleares a Rússia e também a China. Absolutamente não deixo de considerar a insanidade e a depravação dos neoconservadores, mas não vejo sentido algum em analisar racionalmente o que é claramente irracional, no mínimo porque todas as modernas teorias da contenção sempre pressupõem um "ator racional", não um maluco em operação suicidária delirante.
Para nossos objetivos contudo, assumiremos que resta algo que se assemelha a pensamento racional em Washington DC; e que, mesmo que os neoconservadores decidam lançar alguma operação completamente ensandecida, alguém que comande as alavancas nos níveis superiores de poder encontrará a coragem necessária para impedir que aconteça, como fez o Almirante Fallon, com seu "não no meu horário de serviço!" (o qual provavelmente impediu que os EUA atacassem o Irã em 2007). Então, assumindo-se que ainda haja circulante um mínimo de racionalidade, onde se deve esperar que o Império ataque a seguir?
O cenário ideal
A essa altura todos nós sabemos exatamente o que o Império mais gosta de fazer: definir um país fraco para ser o alvo, subvertê-lo, acusá-lo de violar direitos humanos, agredi-lo com sanções econômicas, disparar agitações e tumultos de rua, intervir militarmente em "defesa" da "democracia", da "liberdade" e da "autodeterminação" (ou algum outro desses incontáveis conceitos igualmente pios e sem significado). Mas até aí, é só a 'receita política'. O que quero examinar é o que chamo de "American way of war", ou seja, o modo como comandantes dos EUA gostam de combater.
Durante a Guerra Fria, grande parte do planejamento, das providências para suprir as forças, da doutrina e do treinamento focava-se em combater grande guerra convencional contra a União Soviética; e era claramente definido que essa guerra convencional podia escalar e converter-se em guerra nuclear.
Deixando de lado por um momento o aspecto nuclear (que não é relevante para nossa discussão), eu caracterizaria como "pesada" a dimensão convencional desse tipo de guerra: centrada em grandes formações (divisões, brigadas), envolvendo muitos blindados e artilharia, esse tipo de guerra envolveria gigantescos esforços logísticos de ambos os lados e isso, por sua vez, envolveria ataques profundos em forças de escalão secundário, obrigava a fazer reserva de suprimentos, a ter eixos estratégicos de comunicações (estradas, ferrovias, pontes, etc.) e uma defesa em profundidade em setores chaves.
O campo de batalha sempre seria imenso, centenas de quilômetros para os dois lados da (ing.) FEBA (Forward Edge of Battle Area), o chamado "front" ou "linha de frente" do combate. Em todos os níveis, tático, operacional e estratégico, as defesas estariam preparadas em dois, possivelmente três escalões.
Para lhes dar uma ideia das distâncias envolvidas, o segundo escalão estratégico dos soviéticos na Europa estava tão atrás, que chegava à Ucrânia! (Por isso, já que tocamos no assunto, a Ucrânia herdou depósitos gigantescos de munição da União Soviética; e por isso também jamais houve escassez de armas de nenhum dos lados para fazer a guerra civil ucraniana). Com o colapso do Império da União Soviética, toda essa ameaça desapareceu, bem, se não do dia para a noite, quase do dia para a noite. Claro, a Guerra do Golfo garantiu às forças armadas dos EUA e OTAN uma última, mas grande "festa de despedida" (contra um inimigo absolutamente sem chance de se impor), mas logo depois se tornou bem claro para os estrategistas dos EUA que a "guerra pesada" estava acabada e que brigadas blindadas podem já não ser a mais útil ferramenta de guerra no arsenal dos EUA.
Foi quando os estrategistas dos EUA, principalmente os das Forças de Operações Especiais, desenvolveram o que costumo chamar de "guerras a preço de ocasião". Funciona mais ou menos do seguinte modo: primeiro, acerte com a CIA o financiamento, arme de dê treinamento a alguns insurgentes locais (se preciso, traga pessoal do exterior); em seguida infiltre Forças Especiais dos EUA e misture-os àqueles insurgentes locais e com FACs[1] (soldados especialmente treinados para dirigir o apoio aéreo, aeronaves e helicópteros, para atacar forças inimigas que estejam em contato com forças dos EUA e "amigos"); por fim, aloque na em torno da zona de combate (porta-aviões, em países vizinhos ou até aeronaves locais confiscadas) para apoiar dia e noite as operações de combate. A noção chave é simples: garantir aos insurgentes amigos vantagem muito ampla no poder de fogo.
Todos vocês viram no YouTube: forças dos EUA e da "coalizão" avançam até entrar em área de fogo e, a menos que se imponham rapidamente, chamam um ataque aéreo que resulta num enorme BOOM!!! seguido por confraternização entre norte-americanos e amigos, e desaparecimento total dos atacantes. Repita a mesma receita várias vezes, e você consegue vitória fácil e rápida sobre inimigo completamente desarmado. Essa abordagem básica pode ser aprimorada com vários "suplementos" como fornecer melhor equipamento aos insurgentes (armas antitanque, equipamento para visão noturna, comunicações, etc.) e trazer para o local algumas forças dos EUA ou aliadas, inclusive mercenários, para dar conta dos alvos realmente fortes.
Embora muitos nas forças armadas dos EUA permanecessem profundamente céticos quanto a essa nova abordagem, o domínio dos tipos das Forças Especiais e o sucesso, pelo menos temporário, dessa "guerra a preço de ocasião" no Afeganistão tornaram a abordagem imensamente popular entre políticos e propagandistas norte-americanos. Melhor de tudo, esse tipo de guerra resultou em número muito reduzido de mortos norte-americanos e até lhes garantiu alto grau de "negabilidade plausível" no caso de algo sair errado. Claro, os espiões das agências de três letras também adoraram o novo tipo de guerra.
Mas bem poucos deram-se conta, no primeiro surto de euforia sobre a invencibilidade dos EUA, de que essa "guerra a preço de ocasião" assumia três pressupostos muito arriscados:
– Em primeiro lugar e sobretudo, toda aquela "invencibilidade" dependia completamente de haver inimigo profundamente desmoralizado que sente que, como na série Star Trek, seria fútil tentar resistir contra Borg (codinome, EUA), porque, ainda que as reais forças dos EUA alocadas para cada caso fossem limitadas em tamanho e capacidades, os EUA sem dúvida sempre enviariam mais e mais forças se necessário, até o total esmagamento da oposição.
– Em segundo lugar, esse tipo de guerra pressupõe que os EUA poderiam assegurar completa superioridade aérea sobre todo o campo de batalha. Os norte-americanos não gostam de prover apoio aéreo nos casos em que aeronaves e pilotos possam ser derrubados por força aérea ou mísseis inimigos.
– Em terceiro lugar, esse tipo de guerra exige que haja insurgentes locais que possam ser usados como "coturnos em solo" para realmente ocupar e controlar territórios.
Veremos adiante que esses três pressupostos não são necessariamente confiáveis, porque nem sempre estão presentes ou, para dizer mais claramente, porque os anglo-sionistas estão em falta de países nos quais ainda se verifiquem os três pressupostos. Analisemos vários casos, um a um.
Hezbollah, Líbano 2006
OK, essa guerra não envolve oficialmente os EUA, é verdade, mas, sim, envolve Israel, o que é mais ou menos o mesmo, pelo menos para as nossas finalidades. Embora seja verdade que as táticas superiores do Hezbollah e a melhor preparação, também pelo Hezbollah, do campo de combate, e embora seja inegável que as armas russas antitanques deram ao Hezbollah a capacidade de atacar e destruir até os tanques israelenses mais avançados, tudo isso considerado, o desenvolvimento mais importante dessa guerra foi que, pela primeira vez no Oriente Médio, uma força árabe comparativamente fraco não mostrou qualquer temor ao enfrentar o suposto "invencível Tshahal". O jornalista britânico Robert Fisk foi o primeiro a detectar essa imensa mudança e suas tremendas implicações: (itálicos meus)
Todos ouviram Sharon, antes de sofrer seu derrame massivo, Sharon usou essa frase no Knesset, você sabe: "Os palestinos têm de sentir dor". Isso, durante uma das intifadas. A ideia é que se você continua a bater e bater e bater nos árabes eles se submeterão, eventualmente cairão de joelhos e darão a vocês o que você quiser. E nada pode ser mais autoenganador, porque já nem se aplica hoje. De modo geral aplicava-se há 30 anos, quando pela primeira vez cheguei ao Oriente Médio. Se os israelenses cruzavam a fronteira libanesa, os palestinos pulavam nos próprios carros e iam para Beirute, para ir ao cinema. Hoje, se os israelenses cruzarem a fronteira do Líbano, o Hezbollah pula nos próprios carros em Beirute e corre direto para o sul, para se unir à luta dos palestinos. Mas a coisa chave hoje é que os árabes já não têm medo. Alguns líderes têm medo, os Mubaraks do mundo, o presidente do Egito, o rei Abdullah II da Jordânia. Esses sim têm medo. Gaguejam e tremem nas suas mesquitas de ouro, porque foram apoiados por nós [o ocidente]. Mas o povo já não tem medo.
É diferença descomunal, e o que o Hezbollah (Partido de Deus) obteve, aquela "Vitória Divina", em 2006, é hoje repetida na Síria, no Afeganistão, no Iêmen, Iraque e por toda parte. O medo da "única superpotência" é afinal passado. Foi substituído por um desejo ardente de cobrar as contas de uma lista infinita de agressões pelos anglo-sionistas e suas forças de ocupação.
O Hezbollah também comprovou outra coisa muito importante: a estratégia vitoriosa quando frente a inimigo mais forte não é tentar proteger-se contra os ataques daquele inimigo, mas negar-lhe qualquer alvo lucrativo. Dito em termos simples: melhor uma tenda de campanha, que um bunker. Ou, noutra versão, "se eles podem ver você, podem matar você". A versão mais acadêmica pode ter o seguinte formato: "não conteste a superioridade do inimigo – torne-a irrelevante".
Olhando em retrospectiva é bem óbvio que uma das armas mais formidáveis do arsenal anglo-sionista não era a bomba atômica ou o porta-aviões, mas uma máquina de propaganda que durante décadas, com muito sucesso, convenceu milhões de pessoas em todo o planeta de que os EUA seriam invencíveis: os EUA tinham as melhores armas, os soldados mais bem treinados, as táticas mais avançadas, etc. E afinal se vê que é absoluto nonsense – os militares norte-americanos no mundo real nada têm de parecido com essa contraimagem criada pela propaganda. Quando nos últimos tempos os EUA realmente venceram alguma guerra contra inimigo capaz de construir resistência capaz? No Pacífico, na 2ª-guerra mundial?
[Barra lateral: Escolho o exemplo do Hezbollah em 2006 não para ilustrar o colapso do paradigma "consagrado à rendição" [ing. "sacred into surrender"], mas para ilustrar o paradigma do "não conteste a superioridade do inimigo – torne-a irrelevante", do qual o mais antigo e melhor exemplo pode ser o Kosovo em 1998-1999, quando uma imensa operação que envolveu todas as forças aéreas da OTAN durou 78 dias (a agressão de Israel contra o Líbano durou apenas 33 dias) e deu em exatamente nada. Uns poucos veículos anfíbios destruídos, uns poucos aviões velhos destruídos em solo, e um Corpo do Exército Sérvio que nada sofreu e que Milosevic ordenou que se retirasse por razões pessoais e políticas. Os sérvios foram os primeiros a demonstrar que essa ação de "negar alvo ao inimigo" é viável mesmo contra adversário que tenha capacidades avançadas de inteligência e reconhecimento]
Força-tarefa dos russos, Síria 2015
Como sempre disse e insisti, a operação russa na Síria não foi caso de "os russos estão chegando" ou "a guerra acabou". A realidade é que os russos mandaram para lá uma forma muito pequena e que essa força menos derrotou o Daech e, muito mais, mudou o traço fundamental do contexto político da guerra. Dito em termos mais simples – o fato de a Rússia ter-se envolvido não apenas tornou muito mais difícil qualquer intervenção dos EUA: os russos também negaram aos norte-americanos a capacidade para usar contra o Sírio o seu modelão favorito de "guerra a preço de ocasião".
Quando os russos pela primeira vez levaram para a Síria a sua força tarefa, não levaram nenhum tipo de capacidade que negasse aos norte-americanos o uso do espaço aéreo sírio. Mesmo depois de os turcos derrubarem o SU-24 russo, Moscou só alocou jatos de combate e defesas de capacidade superior para se autoproteger de ataque semelhante, dos turcos. Mesmo agora, enquanto escrevo, se a Força Aérea dos EUA ou a Marinha dos EUA decidir assumir total controle do espaço aéreo sírio, sem dúvida poderia fazê-lo simplesmente porque em termos puramente numéricos os russos ainda não têm suficientes defesas aéreas ou, ainda menos, aviação de combate, para negar o espaço aéreo sírio aos norte-americanos.
Ah, sim, a verdade é que ataque desse tipo, dos EUA, custaria preço muito alto para os norte-americanos, seja militarmente seja politicamente. Mas ninguém realmente crê que o minúsculo contingente aéreo russo, de 33 aeronaves de combate (das quais só 19 podem realmente contestar o acesso ao espaço sírio: quatro SU-30, seis SU-34, nove Su-27). Supor que número desconhecido de baterias Pantsir S-300/S-400/S-1 podem realmente derrotar o poder aéreo combinado do Comando Central dos EUA e da OTAN é delírio no mais alto grau, ou simples sinal de que não há compreensão efetiva da guerra moderna.
O problema para os norte-americanos é formado por uma matriz de riscos dentre os quais, é claro, incluem-se as capacidades militares dos russos, mas também inclui os riscos políticos de estabelecer uma zona aérea de exclusão sobre a Síria. Não só esse tipo de movimento levaria a uma grande escalada na intervenção norte-americana já totalmente ilegal nessa guerra, mas também exigiria esforço sustentado para suprimir as defesas aéreas sírias (e potencialmente também as russas). Mas é algo que a Casa Branca não está querendo fazer agora, especialmente quando ainda não se pode antever o que esse tipo de operação tão arriscada poderia alcançar. Como resultado, os norte-americanos atacam aqui ou ali, como os israelenses, mas na verdade todos esses esforços são praticamente inúteis.
Ainda pior é o fato de que os russos agora estão virando a mesa contra os norte-americanos e entregando FACs1 e apoio aéreo próximo às forças sírias, especialmente em áreas chaves. Os russos também alocaram controladores de artilharia e sistemas de artilharia pesada, incluindo lançadores múltiplos de foguetes e lança-chamas pesados, que, todo esse equipamento, dá vantagem, em poder de fogo, às forças do governo. Paradoxalmente, agora são os russos que lutam uma "guerra a preço de ocasião" – ao mesmo tempo em que negam essa possibilidade aos norte-americanos e aliados.
Terroristas do bem, codinome "Exército Sírio Livre", Síria 2017
A principal fraqueza do Exército Sírio Livre, ESL, é que não existe na verdade, pelo menos não em campo. Ah, sim, há incontáveis exilados sírios do Exército Sírio Livre na Turquia e em outros pontos, e há também muitos tipos Daech/al-Qaeda que muito se esforçam para parecer que são o ESL aos olhos de gente como John McCain, e há uns poucos grupos armados disseminados aqui e ali na própria Síria, que muito quereriam ser "O Exército Sírio Livre". Mas na realidade, o ESL sempre foi uma abstração, um conceito puramente político.
Esse ESL virtual pode garantir várias coisas úteis aos norte-americanos: uma narrativa para a máquina de propaganda; pretexto 'santificado' para lhes enviar a CIA; uma mínima folha de parreira para esconder as vergonhas do Tio Sam na cama com al-Qaeda e Daesh; e um ideal político para tentar unificar o mundo contra Assad e o governo sírio. Mas o que esse ESL jamais pôde fornecer foram "coturnos em solo".
Todo mundo lá tinhas seus próprios coturnos em solo: Daesh e al-Qaeda sem dúvida, mas também os sírios, os iranianos e o Hezbollah e, claro, os turcos e os curdos. Mas, dado que os Takfiris eram oficialmente inimigos dos EUA, os norte-americanos ficavam limitados no objetivo e na natureza do apoio que sempre desejaram dar e deram àqueles wahhabistas malucos. Os sírios, os iranianos e o Hezbollah foram demonizados e, assim, tornou-se impossível trabalhar com eles. Restaram os turcos, que tinham relações horríveis com os EUA, sobretudo depois que os EUA apoiaram a tentativa de golpe contra Erdogan; e os curdos, que não davam sinais de muita disposição para lutar e morrer no fundo do Iraque, e cujos documentos eram observados por Ancara com alta dose de hostilidade. Com o avançar da guerra, afinal a dura realidade desabou sobre os norte-americanos: absolutamente não tinham "coturnos em solo" aos quais apoiar ou incorporar seus agentes de forças especiais.
A melhor ilustração dessa realidade é o mais recente debacle dos EUA na região de al-Tanf próxima da fronteira jordaniana. Os norte-americanos apoiados pelos jordanianos, invadiram silenciosamente aquela parte não habitada do deserto sírio, na esperança de cortar as linhas de comunicação entre sírios e iraquianos. Mas em vez disso foram os sírios que cortaram e descartaram os norte-americanos e chegaram antes à fronteira, o que tornou a presença dos EUA simplesmente inútil (detalhes aqui e aqui). Parece que os norte-americanos agora desistiram, no mínimo temporariamente, de al-Tanf, e as forças dos EUA serão retiradas e realocadas em algum outro ponto na Síria.
Quem será o próximo a ser atacado – Venezuela?
Rápida olhada para trás na história mostra que os norte-americanos sempre tiveram problemas com seus 'aliados' (i.e., fantoches) locais. Uns até que prestavam (Coreia do Sul), outros não (Contras), mas feitas as contas, cada vez que os EUA se servem de forças locais, eles se expõem a um risco inerente: os locais frequentemente têm agenda própria, algumas vezes muito diferente. E rapidamente se dão contra de que, se dependem dos EUA, os EUA também dependem deles.
Acrescente-se a isso o fato bem conhecido de que os norte-americanos não são famosos exatamente por sua, digamos assim, "sensibilidade e expertise multicultural" (basta ver quantos norte-americanos falam o idioma local dos 'aliados' que eles 'salvam'!). Assim se vê por que a inteligência dos EUA quase sempre só se dá conta desse problema quando já é muito, muito tarde para tentar qualquer conserto (e não importa quanta inteligência humana bem construída eles troquem por tecnologias toscas). A realidade é que os norte-americanos não têm, via de regra, qualquer noção aproveitável sobre o ambiente no qual operam. O fracasso dos EUA na Síria (ou na Líbia ou na Ucrânia, dentre outros fracassos) é excelente ilustração disso.
Agora que já identificamos algumas das fragilidades doutrinais e operacionais da abordagem "guerra a preço de ocasião" dos EUA, podemos usá-las para avaliar uma série de possíveis países alvos:
Pressuposto
|
Inimigo desmoralizado
|
Superioridade
no ar |
Coturnos em solo
|
Coreia
do Norte |
?
|
Sim
|
Não
|
Síria
|
Não
|
Não
|
Não
|
Irã
|
Não
|
Sim
|
Não
|
Venezuela
|
?
|
Sim
|
Sim?
|
Rússia
|
Não
|
Não
|
Não
|
Ucrânia
|
Não
|
Não
|
Sim
|
China
|
Não
|
Não
|
Não
|
Notas: "Inimigo desmoralizado" e "superioridade aérea" são palpites meus, mais do que estimativa, posso estar errada; "coturnos em solo" faz referência a uma força indígena e com capacidades de combate já dentro do país (não a força estrangeira de intervenção) capaz de tomar e conservar a posse de território, não simples pequeno grupo insurgente ou alguma oposição política.
Se minhas estimativas estão corretas, nesse caso o único país candidato a sofrer intervenção norte-americana seria a Venezuela.
Mas falta aqui o fator tempo: para que uma intervenção norte-americana seja bem-sucedida, exigiria uma estratégia realista de saída (os EUA já estão superdistendidos, e a última coisa de que o Império carece seria enredar-se em mais uma guerra invencível à moda Afeganistão). Além disso, embora tenha dado um "sim" tateante à oposição venezuelana, no quesito "capacidade para pôr coturnos em solo" (especialmente se receber apoio da Colômbia), não tenho muita certeza de que as forças pró-EUA na Venezuela estejam sequer perto de ter as capacidades de forças armadas regulares (as quais, suponho, se oporiam à invasão pelos EUA).
Além disso, há a questão do terreno. Embora num cenário otimista possa ser fácil tomar Caracas, seria difícil e perigoso tentar operar no restante do país.
Por fim, há a questão de se manter como poder: os norte-americanos gostam de vitórias rápidas; mas guerrilheiros latino-americanos já provaram muitas vezes que podem combater ao longo de décadas. Por todas essas razões, por mais que me pareça que os EUA são capazes de intervir na Venezuela e desgraçar o país até que fique irreconhecível, não acho que os EUA sejam capazes de impor ali, no poder, um novo regime, e de garantir que o novo regime controle o país.
Conclusão – Afeganistão 2001-2017
Afeganistão é frequentemente chamado de "cemitério de Impérios". Não tenho lá muita certeza de que o Afeganistão algum dia venha a ser o cemitério do Império Anglo-sionista, mas, sim, acho que o Afeganistão será o cemitério da doutrina da "guerra a preço de ocasião", o que é paradoxal, porque o Afeganistão foi onde essa doutrina foi aplicada pela primeira vez com sucesso que, inicialmente, pareceu enorme.
Todos nos lembramos das Forças Especiais dos EUA, frequentemente a cavalo, coordenando os ataques dos B-52 contra forças do governo afegão em rápida retirada. 16 anos depois, a guerra do Afeganistão mudou dramaticamente, e as forças dos EUA constantemente combatem uma guerra na qual 90% das baixas são causadas por Dispositivos Explosivos Improvisados [ing. IEDs], onde todos os esforços para algum tipo de acordo político fracassaram miseravelmente e onde tanto a vitória quanto a retirada parecem igualmente impossíveis. O fato de agora a máquina de propaganda dos EUA ter acusado a Rússia de estar "armando os Talibã" é poderosa ilustração de o quanto os anglo-sionistas estão desesperados. Eventualmente, claro, os norte-americanos terão de sair, totalmente derrotados, mas por enquanto o máximo que já admitem é que "não estão vencendo" (sério!).
O dilema dos EUA é simples: a Guerra Fria acabou há muito tempo, e estamos já no Pós-Guerra Fria, e já faz tempo que as forças armadas dos EUA precisam passar por completa reforma, embora essa reforma já seja também politicamente impossível. Nesse momento, as forças armadas dos EUA são o resultado bizarro dos anos de Guerra Fria, de "guerra a preço de ocasião" e de intervenções militares fracassadas.
Em teoria, os EUA devem começar por decidir-se por uma nova estratégia nacional de segurança; depois, desenvolver uma estratégia militar que apoie sua estratégia nacional de segurança, seguida do desenvolvimento de uma doutrina militar a qual, ela própria produzirá então um plano de modernização da força que afetará todos os aspectos da reforma militar, do treinamento ao planejamento dos deslocamentos da força. Os russos demoraram mais de uma década para fazer isso, incluindo vários falsos inícios e erros, e os EUA precisarão no mínimo do mesmo tempo, se não de mais tempo. No momento, até a decisão de embarcar em reforma de tão longo alcance parece estar a anos de distância. Por enquanto, a palavra de ordem parece ser propaganda 'de salão' ("somos os maiores, ninguém nos supera!") com negação obsessiva.
Como também aconteceu na Rússia, terá de sobrevir algum embaraço catastrófico (como a primeira guerra russa na Chechênia), para forçar o establishment militar dos EIA a olhar cara a cara a realidade e realmente atuar sobre ela. Mas até que aconteça, a capacidade das forças dos EUA para impor seu domínio sobre outros países que não se rendam a ameaças e sanções só continuará a se degradar.
A Venezuela será o país da vez? Espero que não. De fato, acho que não será. Mas se for, será um inferno, muita coisa destruída e pouquíssimo obtido. Os anglo-sionistas vêm lutando acima de seu peso real há décadas, e o mundo já começa a perceber. Derrotar e impor-se contra Irã ou Coreia do Norte já está claramente fora das reais capacidades militares dos EUA. Quanto a atacar Rússia ou China – seria suicídio. Com o quê, só resta a Ucrânia.
Suponho que os EUA possam enviar algumas armas para a junta em Kiev e organizar alguns campos de treinamento no oeste da Ucrânia. Mas nada além disso. E de qualquer modo nada aí fará qualquer real diferença (além de ofender ainda mais os russos, é claro).
A era das "guerras a preço de ocasião" já é passado e o mundo vai-se tornando lugar muito diferente do que foi. Os EUA terão de se adaptar à essa realidade, pelo menos se quiserem conservar algum grau de credibilidade, mas por enquanto não aparece ninguém em Washington DC – exceto Ron Paul – disposto a admiti-lo. Resultado disso, a era das grandes intervenções militares norte-americanas pode bem estar chegando ao fim, mesmo que sempre haja país do tamanho de Grenada ou do Panamá para ser "triunfalmente" destruído, sendo necessário.
Essa nova realidade, é claro, imediatamente levanta a questão de com o quê/como o EUA-dólar será bancado no futuro (até agora, só foi bancado, realmente, pelo poder militar dos EUA). Mas esse já é outro assunto.*****