sábado, março 26, 2016

Dá vergonha, mas É PRECISO ler o telegrama "Moro-Wikileaks":

A verdadeira história inacreditável, sem véu da fantasia, dos 'Moros' que pediram aulas de Processo Penal dos EUA ao Consulado dos EUA no RJ em 2009; do consulado que deu aulas (ninguém sabe com certeza que aulas deram!) no salão nobre do Ministério Público do Rio de Janeiro, como se o que parece bom para os EUA, fosse bom para o Brasil; e dos 'Moros' que assumiram posição oposta à do governo e do Ministério de Relações Exteriores do Brasil, em operação com agente estrangeiro... e a-do-ra-ram o resultado e pediram mais!!!
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Esse telegrama é quase inacreditável: há "os magistrados brasileiros" alunos do tal 'curso' que dizem a autoridade estrangeira que não sabem usar com eficácia o novo Código Penal e, por isso, precisam de 'mais aulas' ministradas pelos especialistas do Consulado dos EUA no Rio de Janeiro.

Aí está dito que, sim, o Juiz Moro e outros, teve treinamento intensivo (em 2009, com certeza; depois, a investigar) em procedimentos que são (talvez sejam, mas nem isso se sabe com certeza) legais NA LEGISLAÇÃO NORTE-AMERICANA, mas podem ser inexistentes e até vedados, na legislação brasileira. Pois nada disso parece perturbar alguém, nessa quadrilha de 'juristas', espiões e 5ª-Coluna que já atuava contra o Brasil em 2009.

E leiam lá, no fim do documento, a ideia de os EUA ajudarem a criar 'núcleos' para treinar Moros, a tal força-tarefa acompanharia em tempo real investigações e processos que tramitassem na justiça do Brasil... em pelo menos dois grandes centros urbanos onde haja "comprovado apoio judicial para casos de finanças ilícitas, especialmente em São Paulo, Campo Grande ou Curitiba"

Especialistas aí encontrarão certamente mais itens com os quais se indignar. Mas não poderão ficar mais indignados do que nós, honestos cidadãos brasileiros pagadores de impostos e eleitores. HORRÍVEL (NTs).]

#Não vai ter golpe! #MoroExonerado
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30/10/2009
Da Embaixada, Brasília
SENSÍVEL NÃO SIGILOSO

ASSUNTO: BRASIL: Conferência de finança ilícita usa com sucesso a "palavra T" ["Terrorismo"]

REF: BRASÍLIA 01684 

1.  (SBU) Resumo: Uma conferência regional financiada por S/CT intitulada "Crimes Financeiros Ilícitos" [orig. llicit Financial Crimes" (sic). Talvez porque já então, em 2009, o consulado dos EUA no RJ já tivesse inventado crimes financeiros LÍCITOS (NTs)] realizada no Rio de Janeiro,[1] nos dia 4-9/10/2009, reuniu com sucesso representantes da comunidade jurídica e das polícias federal e estaduais do Brasil e países de toda a América Latina [mas o telegrama não faz NENHUMA referência a qualquer dos tais outros "países latino-americanos". A conferência, ao que tudo indica, foi dedicada só aos "brasileiros" (NTs)].

A conferência durou uma semana e foi elogiada pelos participantes, em avaliações por escrito; muitos participantes pediam mais treinamento, incluindo treinamento específico para combater o terrorismo.

Esse pedido direto é diferente dos pedidos anteriores dos brasileiros, que historicamente sempre evitaram qualquer treinamento que tomasse por objeto o terrorismo, preferindo terminologia mais genérica como "crimes transnacionais". Além do mais, os participantes, todos eles, elogiaram o fato de o treinamento ter sido multijurisdicional, prático, com demonstrações ao vivo (por exemplo, como preparar uma testemunha para depor e o exame direto de testemunhas). Treinamentos futuros devem ser construídos em áreas específicas, como forças tarefas para finanças ilícitas, que pode vir a comprovar-se como o melhor meio para combater o terrorismo no Brasil. Fim do resumo.

"PROJETO PONTES": CONSTRUIR PONTES ATÉ A POLÍCIA BRASILEIRA

2.  (U) Esse posto concluiu recentemente uma bem-sucedida conferência sobre Finanças Ilícitas, 4-9 out. (enviamos telegrama sobre o evento), realizado na capital regional do Rio de Janeiro e financiada pelo Coordenador do Estado para Contraterrorismo [orig. State's Coordinator for Counter Terrorism (S/CT)]. É a primeira conferência regional conduzida no Programa desse posto, o programa guarda-chuva "Projeto Pontes" (Translation: Bridges Project), novo conceito de treinamento que esse posto introduziu em fevereiro de 2009 para consolidar o treinamento bilateral de aplicação da lei.

O treinamento dado nesse Projeto PONTES é único em vários sentidos: as apresentações são focadas nas melhores práticas que se encontram nos dois lados, Brasil e EUA [já aqui sumiram completamente os "outros países latino-americanos" (NTs)]; os participantes incluem num mesmo grupo, juízes, procuradores e policiais; os tópicos são decididos pelos dois lados, brasileiros e norte-americanos [bye-bye "outros países latino-americanos" (NTs)]; e as apresentações visam a desenvolver competências práticas, não a teoria.

3.  (U) A Conselheira Residente para Questões Legais desse posto [ing. Post's Resident Legal Advisor (RLA)] e o Ataché para Questões Legais [ing. Legal Attach (LEGAT)] acompanharam de perto o quadro do Projeto PONTES quando se desenvolvia a agenda da Conferência e a lista de participantes. Juízes e Procuradores Federais de cada um dos 26 estados do Brasil e de um Distrito Federal participaram e mais de 50 agentes de polícia federal (vindos de diferentes regiões do Brasil). Foi solicitada participação em nível dos estados, e 30 procuradores, juízes e policiais estaduais também participaram.

Além da grande delegação brasileira, o Posto esforçou-se para atender o foco regional do Coordenador do Estado para Contraterrorismo, e convidou representantes do México,
Costa Rica, Panamá, Argentina, Uruguai e Paraguai.

TERRORISMO afinal apareceu à frente da cena

4.  (SBU) A Vice-coordenadora para Contraterrorismo na S/CT,
Shari Villarosa, abriu a conferência com importante contribuição sobre Finança Ilícita e Terrorismo.

Na maioria das sessões de planejamento, desse Posto com contrapartes brasileiros, o mantra tradicional sempre foi não usar a palavra "Terrorismo" e usar, em vez dela, expressão menos controversa como "Crime Transnacional", como eufemismo (sic) para todas as atividades que envolvam violência organizada e ameaças.
[2]

Mas na sua fala de abertura, a vice-coordenadora Villarosa falou diretamente sobre terrorismo e o financiamento ilícito do terrorismo (sic) [outra vez: claramente há, para essa diplomata norte-americana, um "financiamento lícito do terrorismo" (NTs)], enfatizando que finança ilícita é problema global e tem de ser enfrentada de maneira global.

5.  (SBU) Em vez de discordar dessa terminologia e afirmações, como seguidamente acontece quando lidamos com o Ministério de Relações Exteriores [em 2009, o Ministério Celso Amorim (NTs)] ou Membros do Executivo [em 2009, governo do presidente Lula (NTs)] no Brasil,
[3] os representantes do Judiciário brasileiro presentes à conferência consideraram extremamente interessante e importante o tópico [do terrorismo].

Nas avaliações pós-conferência, o pedido mais frequente para continuação do treinamento era relacionado ao contraterrorismo, o que claramente mostra que os juízes e procuradores federais e outros profissionais agentes da lei estão menos preocupados com o campo minado que cerca o termo e mais legitimamente interessados em aprender a engajar o processo judicial brasileiro na luta contra o terrorismo [
ma ke baita feladaputa! Ela está elogiando juízes e policiais brasileiros, que militam na direção oposta à do governo eleito e seu Ministério de Relações Exteriores. Negritos acrescentados (NTs)]

6.  (U) Depois da palestra principal, ouvimos uma apresentação feita por Gilson Dipp, juiz do STJ [aposentou-se em 2014
[4]] – fim da página 1; começa a página 2 –, o qual ofereceu um panorama da história legislativa e política da legislação brasileira para lavagem de dinheiro e atividade de finanças ilícitas.

O Juiz Federal para Lavagem de Dinheiro no Brasil, Sergio Moro, na sequência, discutiu as, para ele, 15 questões mais frequentes nos casos de lavagem de dinheiro nas cortes brasileiras [essa é a ÚNICA referência a Sérgio Moro no telegrama inteiro. Ao final do telegrama, há um comentário sobre instalar "centros" em três cidades, umas das quais, Curitiba. Ou Moro não tinha importância alguma, e por isso não falaram dele; ou era importantíssimo, e por isso não falaram dele (NTs)].

Apresentadores norte-americanos discutiram vários aspectos relacionados à investigação e ao processo de casos de finança ilícita e lavagem de dinheiro, incluindo cooperação internacional formal e informal, ocultação e desvio de patrimônio, métodos de prova, esquemas "pirâmide", delação premiada, uso de interrogatório direto como ferramenta e sugestões de como lidar com ONGs que se suspeite que sejam usadas para financiamentos ilegais

Na sequência, foi apresentada uma simulação de preparação de testemunha e interrogatório direto. Ao final de cada dia, reservava-se uma hora para que os apresentadores respondessem perguntas adicionais, e os participantes pudessem levantar outras questões. Essa parte da conferência foi sempre animada e resultou em discussão de inúmeros tópicos e sugestões dos brasileiros sobre como trabalhar melhor com os EUA [depois de os tais brasileiros terem assumido posições e opiniões CONTRÁRIAS à orientação do governo do Brasil].

RESULTADOS: TÉCNICAS PRÁTICAS ÚTEIS [orig. practical techniques useful]

7.  (U) Os participantes elogiaram a ajuda em treinamento e solicitaram mais treinamento para coleta de provas, interrogatório e entrevista, habilidades em situação de tribunal e o modelo de força-tarefa. Participantes também elogiaram a qualidade das apresentações, com especial referência à simulação de exame direto de testemunha, como o ponto alto da conferência.

Enfatizaram a importância de discutir técnicas de investigação e tribunal, e a demonstração de exemplos concretos de cooperação entre Procuradores e policiais.

Por fim, vários comentaram que desejavam aprender mais sobre o modelo proativo de força-tarefa; desenvolver melhor cooperação entre Procuradores e polícia e ganhar experiência direta no trabalho sobre casos financeiros complexos de longo prazo.

8.  (U) Os participantes brasileiros procuraram individualmente a Conselheira Residente para Questões Legais desse posto [ing. Post's Resident Legal Advisor (RLA)] e o Ataché para Questões Legais [ing. Legal Attach (LEGAT)] durante a conferência, para discutir meios para aprimorar o sistema legal do Brasil, especialmente na área de investigações e processos financeiros complexos.

Os brasileiros explicaram que a democracia brasileira é muito jovem, tem apenas 20 anos [para os salafrários, parece, a democracia brasileira teria começado em 1996 (1º governo FHC); ou, então, só teria havido democracia no Brasil de 1964 até 1980 – exatamente os anos oficiais da ditadura militar (NTs)] e, portanto, juízes e procuradores federais e autoridades policiais têm pouca experiência com o processo democrático e não foram treinados nos fundamentos de investigações de longo prazo, forças-tarefas proativas e uso bem-sucedido da advocacia em sala de tribunal.

Além disso, declararam-se incapazes de usar efetivamente o novo Código Penal do país (?!?!), uma vez que mudanças recentes alteraram completamente o modo como a prova é apresentada no tribunal. Mas a Conselheira Residente [da Embaixada dos EUA, e quem assina esse telegrama] para Questões Legais defendeu as mudanças recentes no Código de Processo Penal brasileiro, que exige exame direto de testemunhas por Procuradoria e Defesa, não pelo juiz e usa testemunhos ao vivo, em vez de declarações por escrito.

Mas muitos dos brasileiros confessaram (sic) que não sabem usar as novas ferramentas, mas querem muito aprender.

TREINAMENTO FUTURO: FORÇA-TAREFA CONTRA FINANÇA ILÍCITA

9. (U) A conferência demonstrou claramente que o setor Judiciário do Brasil está muito interessado em se engajar mais proativamente na luta contra o terrorismo, mas carece de ferramentas e treinamento para engajar-se com eficácia.

Atualmente, a abordagem mais efetiva para encarcerarem suspeito de terrorismo ["encarcerarem suspeito (hoje de corrupção)" é PRECISAMENTE o que esses Moros estão fazendo agora!! [E inacreditável! (NTs)], é acusar o suspeito pela prática de algum outro crime que lhe será atribuído, como tráfico de drogas ou lavagem de dinheiro.

Na verdade, muitos dos participantes brasileiros da conferência só operam no Brasil, exclusivamente, na vara federal especializada em crimes contra o Sistema Financeiro Nacional (SFN) e de lavagem de dinheiro criada em 1998, em conjunção com uma lei sobre lavagem de dinheiro. Procuradores e investigadores especializados levam seus casos de lavagem de dinheiro àquelas varas, que têm sido mais efetivas que muitas e têm enfrentado alguns dos casos mais significativos envolvendo corrupção e indivíduos de alto nível.

10. (U) Consequentemente, há necessidade continuada de assegurar treinamento a juízes federais e estaduais no Brasil, e autoridades policiais para enfrentar o financiamento ilícito de conduta criminosa. Há um nexo entre fluxos de dinheiro ilícito e financiamento de terrorismo, e as cortes especializadas em lavagem de dinheiro provaram ser [fim da 2ª página; começa a 3ª] método efetivo para processar criminosos.

Idealmente, o treinamento deve ser de longo prazo e coincidir com a formação de forças-tarefa de treinamento. Dois grandes centros urbanos com suporte judicial comprovado para casos de financiamento ilícito, especialmente São Paulo, Campo Grande ou Curitiba, devem ser selecionados como locação para esse tipo de treinamento.

Assim sendo, as forças-tarefas podem ser formadas e uma investigação real poderá ser usada como base para o treinamento que sequencialmente evoluirá da investigação à apresentação em tribunal e à conclusão do caso. Com isso, os brasileiros terão experiência em campo do trabalho de uma força tarefa proativa num caso de finanças ilícitas e darão acesso a especialistas dos EUA para orientação e apoio em tempo real. Esse posto pode apresentar projeto com passos mais detalhados e uma análise de custos.

11.  (SBU) Comentário. De modo geral, a conferência foi um sucesso, não só por ter reunido número significativo de brasileiros e profissionais da aplicação regional da lei, para partilhar melhores práticas de investigação e processo de crimes ilícitos [orig. illicit crimes; com certeza, há crimes lícitos na criminologia dessa senhora (NTs)], mas também para ver que o termo "terrorismo" não é tabu para profissionais que precisam preparar-se para o pior. O Projeto PONTES desse posto continuará a reunir norte-americanos e brasileiros especialistas do Judiciário e polícias, em outras ocasiões, para aprofundar nosso relacionamento e a troca [só aqui se fala de "troca"; até aqui os 'brasileiros' eram reles aprendizes (e a-do-ra-n-do!)] de melhores práticas. Para os esforços de contraterrorismo, esperamos usar a abertura que essa conferência ofereceu, para enfocar o treinamento de uma força-tarefa para finança ilícita num grande centro urbano no Brasil. FIM DO COMENTÁRIO.

[ASSINA]
(Lisa) KUBISKE
(Ministra Conselheira da Embaixada dos EUA no Brasil)-----------


[2] De fato, a terminologia do Ministério Celso Amorim é MUITO MAIS AMPLA q a que o Consulado dos EUA tanto se empenha para implantar: quem fala de "crimes transnacionais" fala também de terrorismo, mas não fala SÓ de terrorismo. O primeiro passo para mascarar muitos e variados "crimes transnacionais" é chamar tudo de "terrorismo"; o mesmo golpe ajuda também a deixar passar uns terrorismos e terroristas, e não outros. Os EUA absolutamente NÃO TÊM CONSERTO. TESCONJURO! (NTs).
[3] 2009 é o ano em que o pres. Lula lançou o "Programa Minha Casa Minha Vida", dia 25/3/2009; nesse ano, a China passou a ser 1º parceiro comercial do Brasil e o Ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, e o presidente Lula estiveram na China (Lula, voltaria à China em 2011) [NTs].


Um pouco de malandragem ou quem se lasca somos nós


Existe uma certa ingenuidade em achar que é possível acabar com a corrupção. Não tem como acabar, e o número de pessoas e instituições envolvidas é muito grande. Uma das razões do golpe é justamente parar as investigações. A própria investigação da “vaza a jato” virou uma forma de chantagem para conseguir adesões ao golpe. Corrupção não se acaba, só se combate, e até um certo ponto. A coisa não pode ficar debochada. Assim como Gilmar Mendes ministro do STF. Eduardo Cunha presidente da Câmara dos Deputados. A Globo ter concessão pública de rádio e TV. Banco cobrar 18% de juro ao mês... A corrupção é o óleo que lubrifica o capitalismo.
A moral do pobre não pode ser a moral da burguesia.
Quando o Ciro Gomes diz que a moral do Lula é frouxa é porque ele é um pequeno burguês. Lula tem a moral do pobre, ele sabe como o mundo de verdade funciona.
O que os nossos governos precisam fazer é tomar de volta o que é nosso. Fazer muita distribuição de renda, muito programa social, muita lei para proteger o trabalhador. E um pouco de Bezerra da Silva...

Sem recursos públicos, como a Globo vai pagar a macacada?

O QUE APAVORA OS JORNALISTAS MAIS CAROS DA GLOBO. POR PAULO NOGUEIRA

por Paulo Nogueira24 de março de 2016
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  • Sem recursos públicos, como a Globo vai pagar este jornalista?
O que leva jornalistas graduados da Globo a se engajarem tão ferozmente na tentativa de golpe comandada por sua empresa?
É uma pergunta fascinante, e de resposta complexa.
Existem as razões miseráveis de sempre, mas há mais que isso. Bajulação, vassalagem e coisas do gênero contam apenas parte da história.
Há um fator provavelmente mais importante que tudo isso: medo. Pavor.
Jornalistas como Merval, ou Waack, ou Míriam Leitão, para citar alguns entre tantos, sabem que seu emprego corre enorme risco caso não se concretize um golpe que mantenha franqueado o acesso irrestrito da Globo aos cofres públicos.
A Globo tem uma dependência brutal do dinheiro do contribuinte. Apenas em publicidade de estatais, e estamos falando somente da tevê, arrecada cerca de 500 milhões de reais por ano.
A Globo sempre se valeu também de empréstimos indecentes do BNDES. Sua gráfica – um investimento estúpido dos anos 90, quando a internet já mostrava sua força – foi financiada pelo BNDES.
Na gestão FHC, um aporte do BNDES salvou a empresa da bancarrota depois de mais um investimento fracassado, este em tevê a cabo.
FHC devia “favores especiais” à Globo – tirar de cena a amante perigosa, Mírian Dutra, jornalista da emissora. Tivesse Mírian delatado FHC e provavelmente não teríamos que suportar hoje suas monocórdias e farisaicas prédicas pseudomoralistas.
Em outra passagem clássica, a Globo construiu o Projac com dinheiro do antigo banco estadual do Rio, o Banerj. O empréstimo foi pago com anúncios, o que levou o Pasquim na ocasião a definir Roberto Marinho como o maior ladrão de bancos da história do Brasil.
Um macaco teria feito a Globo ser o que é, tantas as mamatas e tamanhos os privilégios. Isto é, desde que o amigo símio estivesse disposto a vender a alma.
Este fantástico esquema de irrigação de cofres com recursos públicos depende de um golpe para prosseguir.
É claro que o governo petista, ainda que com formidável atraso, não vai mais financiar uma empresa que é capaz de tudo para derrubar uma democracia.
Se Dilma fica até 2018 e Lula se elege por mais quatro anos, a Globo estará condenada à morte. Ou, na melhor das hipóteses, a uma agonia parecida com a da Editora Abril.
Não é só o dinheiro público que vai sumir. Fora isso, a Era Digital fez da mídia que sustenta a Globo, a tevê, um veículo em acentuada decadência. O que ocorre hoje com a mídia imprensa é o que aguarda a televisão amanhã.
Inexoravelmente.
Tudo isso posto, como a Globo vai manter sua estrutura obesa de jornalistas caros, ainda que recorra a esquemas sonegadores como a prática do PJ?
Não há milagre.
Os maiores salários são os primeiros a ser eliminados quando a situação definitivamente se complica. A Editora Abril, por exemplo, acaba de demitir o diretor de redação da Veja, Eurípides Alcântara, depois de dizimar os redatores-chefes da revista.
Ali Kamel cabe numa Globo bilionária patrocinada pelo dinheiro público. Mas e numa Globo sem isso e com os anunciantes migrando para a internet?
Na Inglaterra, a internet já responde por metade do bolo publicitário. Todas as demais mídias – tevê, jornais, rádios – disputam o resto.
No Brasil, isso não vai demorar a acontecer.
Os jornalistas mais caros da Globo ficarão inviáveis. (Não só eles, aliás: os executivos também.)
Um golpe colocaria um presidente amigo, e isso significaria para a Globo a manutenção da fábrica fácil de fazer dinheiro.
Os jornalistas da Globo sabem que, sem isso, estarão numa empresa dinossauro em que terminarão demitidos com cartas bonitas de despedida pelos serviços sujos prestados.

Por isso, sobretudo, se engajam tão dramaticamente na luta contra a democracia: pela própria sobrevivência profissional.

O BRASIL NÃO ACEITA MAIS A CHANTAGEM DA GLOBO


SEX, 25/03/2016 - 14:11
ATUALIZADO EM 25/03/2016 - 14:17

Cerca de 30 mil pessoas cercaram a sede da Rede Globo em São Paulo na noite desta quinta (24), ao finalizar manifestação em defesa da democracia; o protesto pacífico, intitulado "Ato em Defesa da democracia - A saída é pela esquerda", realizou uma marcha por algumas vias da capital paulista; os manifestantes são favoráveis a permanência da presidente Dilma Rousseff no governo e contra o impeachment; o movimento acusa a Globo de "apoiar um golpe contra a democracia no país"; "Chegamos ao final da marcha no local que é o simbolo de um golpe que está sendo arquitetado no país", disse um dos organizadores do ato; "Golpe nunca mais, eu tô nas ruas por direitos sociais" foi um dos gritos entoados no protesto. Os manifestantes também entoaram: "barrar a Direita no governo, no Congresso e nas ruas".

Cerca de 30 mil pessoas cercaram a sede da Rede Globo em São Paulo na noite desta quinta-feira (24), ao finalizar manifestação em defesa da democracia. O protesto pacífico, intitulado "Ato em Defesa da democracia - A saída é pela esquerda",  teve início no Largo da Batata, em Pinheiros, região oeste da capital paulista. Os manifestantes são favoráveis a permanência da presidente Dilma Rousseff no governo e contra o impeachment. O movimento acusa a Globo de "apoiar um golpe contra a democracia no país".
Por volta das 18h40, o grupo começou a marchar pela Avenida Faria Lima em direção à Zona Sul da capital paulista. Eles passaram pelas avenidas Juscelino Kubitschek e Engenheiro Luis Carlos Berrini. Às 20h45 os manifestantes entraram na Avenida Chucri Zaidan e chegaram em frente à sede da TV Globo.
"Golpe nunca mais, eu tô nas ruas por direitos sociais" foi um dos gritos entoados no protesto. Os manifestantes também entoaram: "barrar a Direita no governo, no Congresso e nas ruas".
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, que participa do protesto, destacou que "muita gente de vários setores sociais estão lutando contra o golpe". "O impeachment signigica um retrocesso, a imposição de uma pauta neo-liberal, com a precarização do trabalho, arrocho. Não haverá estabilidade com impeachment", afirmou.
Falcão defendeu que o Supremo Tribunal Federal retire a suspensão da nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como ministro da Casa Civil. "Lula é ficha limpa, portanto não há nenhuma razão para ele não ser ministro", disse o presidente do PT
O líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Guilherme Boulos, disse em discurso que o objetivo do protesto é "deter uma ameaça à democracia e às garantias constitucionais". "Importante dizer que não estamos aqui para defender governo algum", discursou.

O deputado federal Ivan Valente (PSOL), afirmou: "Estamos aqui para defender os direitos dos trabalhadores e contra o ajuste fiscal. O processo de impeachment está sendo tocado por um delinquente que deveria estar preso: Eduardo Cunha".

domingo, março 20, 2016

Não há cadeia suficiente para Lula



Texto do professor da UNB - Perci Coelho de Sousa

Não há cadeia suficiente para Lula, não há construção erigida que suporte tamanha pena, que dê conta de tanto pecado. Haja grades de ferro e de aço que sejam capazes de segurar, de reter e de trancafiar tanta coisa numa só, tanta gente num só homem. Não há cadeia no mundo que seja capaz de prender a esperança, que seja capaz de calar a voz.

Porque, na cadeia de Lula, não cabe a diversidade cultural
Não cabe, na cadeia de Lula, a fome dos 40 milhões
Que antes não tinham o que comer
Não cabe a transposição do São Francisco
Que vai desaguar no sertão, encharcar a caatinga
Levar água, com quinhentos anos de atraso,
Para o povo do nordeste, o mais sofrido da nação.
Pela primeira vez na história desse país.

Pra colocar Lula na cadeia, terão que colocar também
O sorriso do menino pobre
A dignidade do povo pobre e trabalhador
E a esperança da vida que melhorou.

Ainda vai faltar lugar
Para colocar tanta Universidade
E para as centenas de Escolas Federais
Que o ‘analfabeto’ Lula inventou de inventar
Não cabem na cadeia de Lula
Os estudantes pobres das periferias
Que passaram no Enem
Nem o filho de pedreiro que virou doutor.

Não tem lugar, na cadeia de Lula,
Para os milhões de empregos criados,
(e agora sabotados)
Nem para os programas de inclusão social
Atacados por aqueles que falam em Deus
E jogam pedras na cruz.

Não cabe na cadeia de Lula
O preconceito de quem não gosta de pobre
O racismo de quem não gosta de negro
A estupidez de quem odeia gays
Índios, minorias e os movimentos sociais.
Não pode caber numa cela qualquer
A justiça social, a duras penas, conquistada.
E se mesmo assim quiserem prender
– querer é Poder (judiciário?),
Coloquem junto na cadeia:
A falta d’água de São Paulo,
E a lama de Mariana (da Vale privatizada)
O patrimônio dilapidado.
E o estado desmontado de outrora
Os 300 picaretas do Congresso
E os criadores de boatos
Pela falta de decência
E a desfaçatez de caluniar.
Pra prender o Lula tem que voltar a trancafiar o Brasil.
O complexo de vira-latas também não cabe.
Nem as panelas das sacadas de luxo
O descaso com a vida dos outros
A indiferença e falta de compaixão
A mortalidade infantil
Ou ainda (que ficou lá atrás)
Os cadáveres da fome do Brasil.
Haja delação premiada
Pra prender tanta gente de bem.
Que fura fila e transpassa pela direita
(sim, pela direita)
Do patrão da empregada, que não assina a carteira
Do que reclama do imposto que sonega
Ou que bate o ponto e vai embora.
Como poderá caber Lula na cadeia,
Se pobre não cabe em avião?
Quem só devia comer feijão
Em vez de carne, arroz, requeijão
Muito menos comprar carro,
Geladeira, fogão – Quem diz?
Que não pode andar de cabeça erguida
Depois de séculos de vida sofrida?
O prestígio mundial e o reconhecimento
Teriam que ir junto pra prisão
Afinal, (Ele é o cara!)
Os avanços conquistados não cabem também.
Querem por Lula na cadeia infecta, escura
A mesma que prendeu escravos,
‘Mulheres negras, magras crianças’
E miseráveis homens – fortes e bravos
O povo d’África arrastado
E que hoje faz a riqueza do Brasil.
Lula já foi preso, ele sabe o que é prisão.
Trancafiado nos porões da ditadura
Aquela que matou tanta gente,
Que tirou nossa liberdade
A mesma ditadura que prendeu, torturou.
Quem hoje grita nas ruas
Não gritaria nos anos de chumbo
Na democracia são valentes
Mas cordatos, calados, covardes
Quando o estado mata, bate e deforma.
Luis Inácio já foi preso,
Também Pepe Mujica e Nelson Mandela.
Quem hoje bate palmas, chora e homenageia,
Já foi omisso, saiu de lado e fez que não viu.
Não vão prender Lula de novo
Porque na cadeia não cabe
Podem odiar o operário
O pobre coitado iletrado
Que saiu de Pernambuco
Fugiu da seca e da fome
Pra conquistar o Brasil
E melhorar a vida da gente
Mas não há
Nesse mundão de meu Deus
Uma viva alma que diga
Que alguém tenha feito mais pelo povo
Do que Lula fez no Brasil.
“Não dá pra parar um rio
quando ele corre pro mar.
Não dá pra calar um Brasil,
quando ele quer cantar.”

Lula lá!

quinta-feira, março 17, 2016

O jogo virou: Lula "primeiro-ministro"

16/3/2016, Pepe Escobar, RT

Comparada ao que está acontecendo no Brasil, a série "House of Cards" é teatrinho de jardim de infância.

Apenas três dias depois de massivas manifestações de rua pedindo o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, e menos de duas semanas depois de uma detenção duvidosa, em termos da legalidade, por quatro horas, para 'interrogatório', o ex-presidente Lula do Brasil está de volta, em reestreia espetacular no governo do Brasil, como ministro; de fato, um superministro.

Foi o único movimento que se viu de Rousseff no tabuleiro de xadrez, numa crise política e econômica sem precedentes. Como se pode antever, a presidenta será acusada por todas as frentes – das elites comprador a Wall Street – de ter 'abdicado' em favor de Lula; e Lula será acusado de estar tentando escapar da investigação de corrupção, que já dura dois anos, chamada "Operação Car Wash".

Lula e sua protégée Dilma tiveram duas reuniões face a face, de decisões, em Brasília, 3ª-feira à noite e 4ª-feira pela manhã, discutindo em termos detalhados a 'reestreia' de Lula. De início, Lula só aceitaria posto no governo se fosse de Secretário de Governo – encarregado da articulação política; nesse caso, estaria no núcleo mais duro dos que realmente decidem sobre políticas no Brasil.

Mas na sequência, um ministro do governo Dilma, que pediu que seu nome não fosse relevado, apresentou a sugestão de oferecer a Lula o cargo de Ministro da Casa Civil – o ministério politicamente mais importante do Brasil.

O que é certo é que Lula deverá ser uma espécie de 'primeiro-ministro' – o que lhe dá carta branca para mudar drasticamente a vacilante política econômica de Rousseff e reconectar o governo à grande base social do Partido dos Trabalhadores, hoje dispersa e desiludida ante os massivos cortes nos investimentos sociais. Se Lula conseguir isso – e há aí um grande "se" – ele também estará perfeitamente bem posicionado como candidato às eleições presidenciais de 2018 – para desespero do complexo mídia-de-direita+velha elite econômica reinante.

O próximo cargo de Lula, em termos institucionais, combinará coordenar medidas para reiniciar o crescimento, ao mesmo tempo em que trabalhará para realinhar a base do governo dentro do Congresso notoriamente corrompido do Brasil. Com o cargo, a parte da investigação em que o nome de Lula surgiu, da Operação hoje chamada "Operação Car Wash", sai das mãos do juiz de um pequeno tribunal do Paraná e passa a ser conduzida diretamente pela Suprema Corte do Brasil.[1]

The comeback kid? ("O regresso", "Amargo regresso"?)

Lula tem pela frente tarefa de Sísifo, nada menos. Ninguém pode sequer avaliar o quanto de capital político ainda persistirá associado ao político que já foi o mais admirado governante do mundo (para Obama "Esse é o cara!"). Apenas a vaga possibilidade de Lula ser convidado para integrar o governo ventilada no início da semana bastou para fazer cair a Bolsa de Valores de São Paulo e fazer o dólar norte-americano novamente subir. A luta de Lula contra o Deus Mercado será Matar ou Morrer [High Noon, 1952, Gary Cooper] clássico.

Lula sempre privilegiou orçamentos equilibrados e governo com credibilidade.[2] Por exemplo, ao chegar ao governo do Brasil em 2003, pôs no Banco Central um ex-alto executivo do BankBoston, Henrique Meirelles; e imediatamente passou a trabalhar a favor de um ajuste fiscal, saneando despesas e domando a inflação. 

Lula não é contra algum ajuste fiscal per se – do qual o Brasil muito carece; o problema é que o ajuste feito por Dilma colidiu violentamente contra as classes trabalhadoras brasileiras e classes médias baixas, inclusive com cortes no seguro-desemprego. Lula é essencialmente contrário a punir excessivamente as classes trabalhadoras – o que só faz deprimir sempre mais a economia. A prova de que, em 2003, ele fez a coisa certa – como parte de um bem calculado longo jogo – é que o Brasil crescia 7,5% ao ano em 2010.

Animal midiático imbatível, da alta voltagem de um Bill Clinton em seus grandes dias, Lula também abrirá uma frente de resistência em tempo integral no campo das Relações Públicas – coisa que a presidenta Dilma simplesmente é incapaz de fazer. Quando no governo, Lula sempre explicou suas políticas em termos claros, por exemplo, quando exortou as pessoas a comprarem e usarem o crédito que o estado lhes oferecia. Mas esses foram os bons velhos tempos; hoje, vivemos em ambiente tóxico de não consumo, não investimento e não crédito.

Mesmo assim, é possível que Lula traga Meirelles – favorito de Wall Street –, de volta para o Banco Central. Meirelles já disse que algumas reformas profundamente impopulares são indispensáveis, se o Brasil quiser voltar a ser competitivo.

Todos os olhos na Suprema Corte do Brasil

O fator Lula como 'virada de jogo' nada tem a ver com virar de pernas para cima todo o complexo tabuleiro de xadrez; mas o tornará o jogo ainda mais imprevisível. O velho complexo jurídico-político-midiático plus elites econômicas ainda no último fim de semana clamavam pelo impeachment de Rouseff. Mas ninguém tem qualquer ideia da cara que o Brasil possa ter depois de algum impeachment.

Na conjuntura atual, um impeachment de Rousseff – que até hoje não foi acusada formalmente pela prática de qualquer crime – traduz-se como "golpe branco". Um dos primeiros atos de Lula 'primeiro-ministro' e negociador categoria máster – logo que assuma o tabuleiro de xadrez, será oferecer uma, alguma – e que outra coisa poderia ser? – alguma solução negociada contra a crise, o que implica que o governo atual permanece governante, incluindo o vice-presidente Temer, cujo partido político, o PMDB, governa também em aliança com o Partido dos Trabalhadores.

Paralelamente, o Advogado Geral do Brasil já reuniu informações sobre o afamado cheirador de cocaína e derrotado nas eleições passadas, 'líder' da oposição de direita, senador Aecio Neves, o qual, dentre outros malfeitos, mantém uma conta ilegal no Liechtenstein, sob o nome da... mãe. Esse certamente será completamente investigado.

Ao mesmo tempo, a investigação conhecida como "Operação Car Wash", pesadamente politizada, hollywoodianamente coreografada, continuará a atirar por todos os canos, ainda que seus objetivos mais importantes – tirar Rousseff do governo por artes de um impeachment e meter Lula na cadeia – tenham-se tornado hoje consideravelmente mais difíceis de alcançar. Mas a estratégia chave dos autores/atores da "Operação Car Wash" é clara: intimidar praticamente toda a população.

Os procuradores federais que agem por trás da "Operação Car Wash" querem fazer voar pelos ares qualquer possibilidade de acordo político em Brasília – mesmo que ao preço de lançar o Brasil numa guerra civil misturada com depressão econômica ainda maior.

Também é claro que, se a Suprema Corte do Brasil não policiar efetivamente os incontáveis desmandos da investigação "Car Wash", há possibilidade zero de o Brasil emergir dessa terrível crise político-econômica.

E tudo isso, enquanto o impeachment entra em modo "A volta dos mortos vivos". Institucionalmente, o rito sumário de um processo de impeachment só pode durar 45 dias. Esse é o tempo que Lula terá para costurar uma grande barganha, provando ao PMDB que o governo Rousseff ter-se-á tornado economicamente viável.

Antes da cartada Lula-Vira-Jogo, falando da ofensiva contra Lula, Dilma e o Partido dos Trabalhadores, o historiador craque Paulo Alves de Lima disse a mim: "Estamos à beira de um novo estágio de uma contrarrevolução em andamento, de uma democracia ainda mais restrita, insuportavelmente inchada de arrogância e violência institucional. Estamos mais perto de Pinochet, do estado ideal consagrado no altar do neoliberalismo Friedmanesco. Estamos à beira do fascismo de massa – o que é grande novidade no Brasil."

O espectro de Pinochet, da direita que se apossa do poder como aconteceu no Brasil em 1964 e no Chile em 1973, pode ser parcialmente exorcizado – por enquanto. Mas que ninguém se engane: os próximos dias serão épicos. O juiz Moro, pseudo Eliot Ness da Operação Car Wash, aliado com o império midiático Globo, farão o diabo para impedir qualquer possibilidade de qualquer novo arranjo político em Brasília a ser construído e negociado por Lula. Porque isso significará não só Lula primeiro-ministro, mas também Lula presidente – outra vez – em 2018. Começa agora guerra total.*****


[1] No original "He will be immune from the Car Wash investigation – but he can still be investigated by the Brazilian Supreme Court." Essa informação é imprecisa: Lula não "será imune" a coisa alguma ("imunidade"/"imune" são termos técnicos, com definição em lei e não cabem aqui), nem a investigação é interrompida. Por lei e dado o cargo que ocupará, investigação na qual Lula seja investigado passa a ser dever do Supremo Tribunal Federal.

              Para avaliar mais corretamente a nova situação, pode-se lembrar que, em situação semelhante, o deputado Eduardo Azeredo, do PSDB, acusado de corrupção e cujo processo, por ele ser deputado, seria obviamente conduzido pelo STF, preferiu renunciar ao posto de deputado, para poder ser julgado em tribunal menor (no qual foi condenado). Com o novo cargo, Lula está se expondo a investigação e julgamento em tribunal maior, federal; sem o ministério, continuaria a ser investigado e talvez julgado pelo pequeno juiz Sergio Moro do Paraná. Adiante, Pepe Escobar comenta essas filigranas [NTs].
[2] Ver também o que escreveu o embaixador MK Bhadrakumar, que refletiu essa semana sobre a crise brasileira: "Lula do Brasil e a Esquerda da Índia", 10/3/2016, MK Bhadrakumar, Indian Punchline, traduzido no Blog do Alok [NTs].


domingo, março 13, 2016

Lula do Brasil e a Esquerda da Índia



Entreouvido na Vila Vudu:

Foi preciso corrigir algumas informações, mas...
se non è vero, è ben trovato

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Enoch Powell, falecido político da direita britânica, disse certa vez que "Todos os políticos, a menos que sejam colhidos pela sorte e arrancados da vida política no meio do caminho, terminam em fracasso, porque essa é a natureza da política e dos assuntos humanos." Em grande medida é verdade, porque, a menos que a morte ou alguma doença intervenha para interromper-lhes a vida política pública, todos os políticos tendem a permanecer tempo demais na arena.

Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente do Brasil, é gloriosa exceção a essa regra. 'Lula', como o ex-presidente é carinhosamente chamado, foi o mais raros dos raros casos de políticos que simplesmente saiu de cena em 2010 com índices de aprovação que permaneciam nos 80%. Não tentou mudar a Constituição do Brasil para ganhar um mandato a mais, nem se declarou presidente vitalício nem trocou de papel com a esposa – nem algum dia cogitou de pôr sua esposa na presidência do seu país.

Por isso, quando a polícia chegou ao apartamento onde mora em São Paulo, às 6h da manhã, dia 4 de março de 2016, para levá-lo a um interrogatório em lugar não sabido, sobre uma investigação em curso sobre corrupção na Petrobras, o conglomerado brasileiro de petróleo e energia, e que envolvem acusações de uso de fundos públicos contra o próprio ex-presidente e membros de seu partido, um sentimento de ultraje tomou conta de muitos, muito plausível.

No domingo, 13/3, quando manifestações de protesto acontecerem na capital do Brasil, organizadas por detratores e por defensores do presidente, não há dúvidas de que o risco é alto; as linhas da batalha estão traçadas. Apoiadores de Lula no Brasil e no exterior veem conspiração montada para desacreditar a Esquerda brasileira e despachá-la rumo ao esquecimento, depois de ter permanecido no poder ao longo dos últimos 14 anos. Mesmo marxistas que não incluem Lula entre os seus, veem no movimento que se observa no Brasil um ataque à classe trabalhadora (por exemplo, aqui).

Lula é homem de personalidade magnética, que combina sensibilidade social e capacidade para avaliações políticas certeiras, e um tipo raro de inteligência emocional temperada por senso de humor e charme pessoal muito sedutor. A vida pessoal desse homem também é impressionante – de operário metalúrgico do chão de fábrica à presidência de uma das maiores economias do mundo. Mas, em vários sentidos, também é um feixe de contradições.

Lula governou totalmente comprometido com melhorar as condições de vida dos mais pobres e sempre foi intensamente consciente de que a miséria tinha de ser atacada diretamente e seriamente. Mas sempre viu, simultaneamente, a inevitabilidade de uma acomodação com os ricos e poderosos, sem a qual nenhuma democracia burguesa prospera. (...)

[Aqui se omitiram dois parágrafos do artigo original que repetem informação completamente errada, construídos com informação dos jornais brasileiros. Em 2005, o ministro Palloci pagou a dívida do Brasil ao FMI e por isso foi politicamente fuzilado pelos veículos da mídia-empresa liberal com grande alarde, acusado de envolvimento com prostitutas. Em 2009, o Brasil já emprestava dinheiro ao FMI. Desses eventos, o embaixador Bhadrakumar narra a versão falsa, do começo ao fim, da mídia-empresa brasileira (NTs)]

Com escândalos ou sem em seu governo, Lula sempre será lembrado com gratidão pelos pobres do Brasil, pelo programa que concebeu e implantou, "Bolsa Família", uma transferência mensal de dinheiro que é recebida pelas mulheres das famílias de mais baixa renda, para assegurar que as crianças frequentem a escola e os postos de saúde, regularmente, para controle de nutrição e crescimento. Hoje, o programa já alcança mais de ¼ da população do Brasil.

Lula é autor também de sucessivos aumentos no salário mínimo brasileiro que, cumulativamente, aumentou sempre, em seus oito anos de governo. (No Brasil, as aposentadorias são ligadas ao salário mínimo.) O Estatuto de Idoso é outro de suas mais notáveis realizações – bem como o sistema de empréstimos bancários para compra de casa própria pelos mais pobres, com débito automático nas aposentadorias e pensões. O investimento do Estado em educação triplicou.

Feitas as contas, o governo do presidente Lula promoveu a maior redução da pobreza em toda a história do Brasil. O número de pessoas que viviam abaixo do nível de pobreza caiu, de 50 milhões para 30 milhões, em seis anos. Quando Lula candidatou-se a um segundo mandato em 2006, a classe média que havia votado nele na eleição para o primeiro mandato, já se mostrava desiludida de seu governo [que fora menos liberal do que Wall Street desejaria; e a 'desilusão' foi furiosamente inflada pelos veículos da mídia-empresa que, no Brasil, é monopolizada por quatro famílias]. Mesmo assim, Lula foi reeleito com 61% dos votos, carregado pelo voto dos mais pobres e dos idosos.

Mas essa não foi outra história de populismo demagógico de líder carismático – da variante Hugo Chaves. Quando Lula chegou ao final de seu segundo mandato em 2010, a economia brasileira crescia ao ritmo de 7% ao ano. Lula atravessou brilhantemente as águas turbulentas do crash de Wall Street em 2008. Sua ação contracíclica promoveu o consumo doméstico e aumentou o investimento público, o que conseguiu o efeito de isolar a economia brasileira, que não sofreu os efeitos da quebradeira nos EUA, por mais que a economia brasileira fosse, como ainda é, inapelavelmente interconectada à economia dos EUA.

Lula foi governante excepcionalmente talentoso para a prática populista, com controle absoluto sobre o exercício do poder. Foram suas robustas políticas de Estado, sustentadas e focadas, que deram nova vida à economia brasileira. E depois, mesmo em tempos de queda na arrecadação, seu governo manteve o investimento social e o consumo, com investimentos públicos crescentes. Claro que, naquele momento, o boom nos preços das commodities muito ajudou.

Do ponto de vista da Índia, a questão mais intrigante é entender como um partido de esquerda como o Partido dos Trabalhadores (PT), que Lula liderou, conseguiu abalar a fortaleza do poder numa democracia burguesa e, mais importante, manter-se no poder, pelo voto, por quatro mandatos consecutivos? Qual foi a fórmula mágica de Lula?

Andre Singer, brilhante cientista político brasileiro e que foi assessor do ex-presidente Lula, oferece uma explicação. Para Singer, Lula compreende a psicologia dos pobres brasileiros, um subproletariado que recobre metade da população do país –, e sabe que os pobres são movido por duas emoções básicas: uma, a esperança de que o Estado consiga domar a desigualdade social; e, a outra, o medo de que movimentos de reivindicação social gerem desordem social.

Dito de outro modo, luta armada, inflação de preços e ação industrial são, na prática, três diferentes faces do mesmo fantasma de instabilidade social, que mais mete medo nos pobres. A incapacidade – aparentemente insuperável na esquerda –, para compreender essa evidência, não raras vezes trabalha a favor da direita.

De fato, Lula sempre entendeu que não só a classe proprietária, as classes altas, os grandes acionistas e gatos-gordos em geral precisavam receber garantias de que um governo popular no Brasil não faria 'coisas radicais': também os vendedores ambulantes, os trabalhadores que moram nas favelas e todos os despossuídos em geral careciam dessa 'segurança'. Lula precisou de três tentativas eleitorais de chegar ao poder, antes de entender essa evidência. Só foi eleito na quarta vez em que se candidatou. Mas dessa vez, foi eleito, em 2002, por mais de 60% dos votos.******


quinta-feira, março 10, 2016

A luta é de vida ou morte (porque Lula é BRICS)

8/3/2016, Pepe Escobar, RT

"BRICS" é a sigla mais amaldiçoada no eixo av. Beltway [onde ficam várias instituições do governo dos EUA em Washington]-Wall Street, e por razão de peso: a consolidação dos BRICS é o único projeto orgânico, de alcance global, com potencial para afrouxar a garra que o Excepcionalistão mantém apertada no pescoço da chamada "comunidade internacional".

Assim sendo, não é surpresa que as três potências chaves dos BRICS estejam sendo atacadas simultaneamente, em várias frentes, já faz algum tempo. Contra a Rússia, a questão é a Ucrânia e a Síria, a guerra do preço do petróleo, o ataque furioso contra o rublo e a demonização ininterrupta da tal "agressão russa". Contra a China, a coisa é uma dita "agressão chinesa" no Mar do Sul da China e o (fracassado) ataque às Bolsas de Shanghai/Shenzhen.

O Brasil é o elo mais fraco dessas três potências emergências crucialmente importantes. Já no final de 2014 era visível que os suspeitos de sempre fariam qualquer coisa para desestabilizar a sétima maior economia do mundo, visando a uma boa velha 'mudança de regime'. Para tanto criaram um coquetel político-conceitual tóxico ("ingovernabilidade"), a ser usado para jogar de cara na lama toda a economia brasileira.

Há incontáveis razões para o golpe, dentre elas: a consolidação do Banco de Desenvolvimento dos BRICS; o impulso concertado entre os países BRICS para negociarem nas respectivas moedas, deixando de lado o dólar norte-americano e visando a construir outra moeda global de reserva que tome o lugar do dólar; a construção de um cabo submarino gigante de telecomunicações por fibra ótica que conecta Brasil e Europa, além do cabo BRICS, que une a América do Sul ao Leste da Ásia – ambos fora de qualquer controle pelos EUA.

E acima de tudo, como sempre, o desejo pervertido obcecado do Excepcionalistão: privatizar a imensa riqueza natural do Brasil. Mais uma vez, é o petróleo.

Peguem esse Lula, ou...

WikiLeaks Já expôs há muito tempo, em 2009, o quanto o Big Oil estava ativo no Brasil, tentando modificar, servindo-se de todos os meios de extorsão, uma lei proposta pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, conhecido também como Lula, que estabelece que a estatal Petrobrás (lucrativa) será a única operadora de todas as bacias de petróleo no mar, da mais importante descoberta de petróleo desse jovem século 21: as reservas de petróleo do pré-sal.

Lula não só deixou à distância o Big Oil – especialmente ExxonMobil e Chevron –, mas também abriu a exploração do petróleo no Brasil à Sinopec chinesa – parte da parceria estratégica Brasil-China (BRICS dentro de BRICS).

O inferno não conhece fúria maior que a do Excepcionalistão descartado. Como a Máfia, o Excepcionalistão nunca esquece; mais dia menos dia Lula teria de pagar, como Putin tem de pagar por ter-se livrado dos oligarcas cleptocratas amigos dos EUA.

A bola começou a rolar quando Edward Snowden revelou que a Agência de Segurança Nacional dos EUA (ing. NSA) andava espionando a presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, e vários altos funcionários da Petrobrás. Continuou com o fato de que a Polícia Federal do Brasil coopera, recebe treinamento e/ou são controladas de perto por ambos, o FBI e a CIA (sobretudo na esfera do antiterrorismo). E prosseguiu via os dois anos de investigações da Operação Car Wash, que revelou vasta rede de corrupção que envolve atores dentro da Petrobrás, as maiores empresas construtoras brasileiras e políticos do partido governante Workers’ Party.

A rede de corrupção parece ser real – mas com "provas" quase sempre exclusivamente orais, sem nenhum tipo de comprovação documental, e obtidas de trapaceiros conhecidos e/ou neomentirosos seriais que acusam qualquer um de qualquer coisa em troca de redução na própria pena.

Mas para os Procuradores encarregados da Operação Car Wash, o verdadeiro negócio sempre foi, desde o início, como envolver Lula em fosse o que fosse.

Entra o neo-Elliott Ness tropical

Chega-se assim à encenação espetacularizada, à moda Hollywood, na 6ª-feira passada em São Paulo, que disparou ondas de choque por todo o planeta. Lula "detido", interrogado, humilhado em público (comentei esses eventos em
"Terremoto no Brasil").

O Plano A na blitz à moda Hollywood contra Lula era ambicioso movimento para subir as apostas; não só se pavimentaria o caminho para o impeachment da presidenta Dilma Rousseff (q seria declarada "culpada por associação"), como, também, já se neutralizaria Lula, impedindo-o de candidatar-se à presidência em 2018. E não havia Plano B.

Como não seria difícil prever que aconteceria – e acontece muito nas 'montagens' do FBI – toda a 'operação' saiu pela culatra.

Lula, em
discurso-aula, master class em matéria de discurso político, reproduzido ao vivo por todo o país pela internet, não só se consagrou como mártir de uma conspiração ignóbil, mas, mais que isso, energizou suas tropas de massa. Até respeitáveis vozes conservadoras condenaram o show à moda Hollywood, de um ministro da Suprema Corte a um ex-ministro da Justiça, que serviu a governo anterior aos do Workers' Party, além do conhecido professor e economista Bresser Pereira (um dos fundadores do PSDB, que nasceu como partido da social-democracia do Brasil, mas virou a casaca e é hoje defensor das políticas neoliberais do Excepcionalistão e lidera a oposição de direita).

Bresser disse claramente que a Suprema Corte deveria intervir na Operação Car Wash para impedir novos abusos. Os advogados de Lula, por sua vez, requereram à Suprema Corte que detalhasse a jurisprudência que embasaria as acusações assacadas contra Lula. Mais que isso, um advogado que teve papel de destaque na blitz hollywoodiana disse que Lula respondeu a tudo que lhe foi perguntado durante o interrogatório de quase quatro horas, sem piscar – eram as mesmas perguntas que já lhe haviam sido feitas antes.

O professor e advogado Celso Bandeira de Mello, por sua vez, foi diretamente ao ponto: as classes médias altas no Brasil – nas quais se reúnem quantidades estupefacientes de arrogância, ignorância e preconceito, e cujo maior sonho de toda uma vida é alcançar um apartamento em Miami – estão apavoradas, mortas de medo de que Lula volte a concorrer à presidência – e vença – em 2018.

E isso nos leva afinal ao juiz mandante e carrasco executor de toda a cena: Sergio Moro, protagonista de "Operação Car Wash".

Ninguém em sã consciência dirá que Moro teve carreira acadêmica da qual alguém se orgulharia. Não é de modo nenhum teoricista peso pesado. Formou-se advogado em 1995 numa universidade medíocre de um dos estados do sul do Brasil e fez algumas viagens aos EUA, uma das quais paga pelo Departamento de Estado, para aprender sobre lavagem de dinheiro.

Como já comentei, a chef-d’oeuvre da produção intelectual de Moro é artigo antigo, de 2004,
publicado numa revista obscura, nos idos de 2004 ("Considerações sobre Mãos Limpas", revista CEJ, n. 26, Julho-Set. 2004), no qual claramente prega a "subversão autoritária da ordem judicial para alcançar alvos específicos" e o uso dos veículos de mídia para envenenar a atmosfera política.

Quer dizer, o juiz Moro literalmente transpôs a famosa operação da Justiça italiana de 1990s Mani Pulite ("Mãos Limpas") da Itália para o seu próprio gabinete – e pôs-se a instrumentalizar os veículos da grande mídia brasileira e o próprio judiciário, para alcançar uma espécie de "deslegitimação total" do sistema político. Mas não quer deslegitimar todo o sistema político: só quer deslegitimar o Workers’ Party, como se as elites comprador que povoam todo o espectro da direita no Brasil fossem querubins.

Assim sendo, não surpreende que Moro tenha contado com a companhia solidária, enquanto se desenrolava a Operação Car Wash, do oligopólio midiático da família Marinho – o império midiático O Globo –, verdadeiro ninho de reacionários, nenhum deles particularmente inteligente, que mantiveram íntimas relações com a ditadura militar que, no Brasil, durou mais de 20 anos.

Não por acaso, o grupo Globo foi informado sobre a "prisão" hollywoodiana que Moro aplicaria ao presidente Lula antes de a operação começar, e pode providenciar cobertura que efetivamente tudo encobriu, ao estilo CNN.

Moro é visto por muitos no Brasil como um sub Elliot Ness nativo. Advogados que têm acompanhado o trabalho dele dizem que o homem cultiva a imagem de que o Workers’ Party seria uma gangue que viveria a sanguessugar o aparelho do Estado, com vistas a entregar tudo, em cacos, aos 'sindicatos'.

Segundo um desses advogados, que falou com a mídia independente no Brasil, ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Moro é cercado por um punhado de Procuradores fanáticos, com pouco ou nenhum saber jurídico, que fazem pose de Antonio di Pietro (mas sem a solidez do Procurador milanês que trabalhou na Operação Mãos Limpas).

Ainda pior, Moro não dá sinais de preocupar-se com a evidência de que depois que o sistema político italiano implodiu, ali só prosperaram os Berlusconi. No Brasil, certamente se veria a ascensão ao poder de algum palhaço/idiota de bairro, elevado ao trono pela Rede Globo – cujas práticas oligopolistas já são bastante berlusconianas.

Pinochets digitais

Pode-se dizer que a blitz à moda Hollywood contra Lula guarda semelhanças diretas com a primeira tentativa de golpe de Estado no Chile, em 1973, que testou as águas em termos de resposta popular, antes do golpe real. No remix brasileiro, jornalistas globais fazem as vezes de Pinochets digitais. Mas as ruas em São Paulo já mostram graffiti que dizem "Não vai ter golpe" e "Golpe militar – nunca mais."

Sim, porque tudo, nesse episódio tem a ver com um golpe branco – sob a forma de impeachment da presidenta Rousseff e com Lula atrás das grades. Mas velhos vícios (militares) são duros de matar: vários jornalistas próximos da Rede Globo e ativos agora na Internet já 'conclamaram' os militares a tomar as ruas e "neutralizar" as milícias populares. E isso é só o começo. A direita brasileira está organizando manifestações para o próximo domingo, exigindo – e o que mais exigiriam? – o impeachment da presidenta.

A Operação Car Wash teve o mérito de investigar a corrupção, a colusão e o tráfico de influência no Brasil, país no qual tradicionalmente a corrupção corre solta. Mas todos, todos os políticos e todos os partidos políticos teriam de ser investigados – inclusive e sobretudo – porque em todos os casos esses são corruptos conhecidos há muito tempo! – os representantes das elites comprador brasileiras. A Operação Car Wash não opera igualmente contra todos. Porque o projeto político aliado aos Procuradores do juiz Moro absolutamente não está interessado em fazer "justiça"; a única coisa que interessa a eles é perpetuar uma crise política viciosa, como meio para fazer fracassar a 7ª maior economia do mundo, para, com isso, alcançarem seu Santo Graal: ou aquela velha suja 'mudança de regime', ou algum golpe branco.

Mas 2016 não é 1973. Hoje já se sabe quem, no mundo, é doido por golpes para mudar regimes.*****


Como os EUA atuam na geopolítica - Da Primavera Árabe ao Brasil

MARVILHA! Prof.Moniz Bandeira é querido amigo cá da Vila Vudu, 
amizade q muito nos lisonjeia! Grande Moniz Bandeira! Grande Luis Nassif! (VV, Twitter, 10/3/2016)
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Jornal GGN – Mais de cinco anos se passaram desde o início dos protestos no Oriente Médio, que ficaram conhecidos como Primavera Árabe. As revoltas foram desencadeadas contra presidentes que estavam entre 20 e 40 anos no poder. Mas as condições para os conflitos tinham motivações sociais: alto desemprego e economias estagnadas. Terreno ideal para o incentivo norte-americano, estrategista no investimento de milhões de dólares na disseminação de sua ideologia.

Zine al-Abidine Ben Ali estava há mais de 20 anos no poder da Tunísia, Hosni Mubarak há 30 no Egito, Muammar Khadafi governou a Líbia por 42 anos, e Bashar al-Assad sucede o governo de 30 anos de seu pai na Síria, país que até hoje é palco de guerra civil, obrigando ao deslocamento de boa parte de sua população, agora na condição de refugiados pelo mundo.

Mas não foi pelo meio bélico que os Estados Unidos defendeu seus interesses nos países orientais em 2011. A essa outra forma de "ataque", o estrategista militar norte-americano Thomas Barnett denominou antecipadamente "sistemas administradores", na apresentação da Technology, Entertainment, Design (TED) 2005, intitulada "The Pentagon’s New Map for War & Peace". O "ataque" é efetivado em países alvos de desestabilização econômica ou social, e ocorre por meios de comunicação, jornais, ONGs, redes sociais, ativistas, empresários, organizações.

Se condições similares são encontradas, atualmente, no Brasil, há quem defenda que não são coincidências.

Para entender como a geopolítica dos Estados Unidos atua, o GGN conversou com o cientista político Luiz Alberto Moniz Bandeira, autor de mais de 20 obras, entre elas "A Segunda Guerra Fria - Geopolítica e dimensão estratégica dos Estados Unidos" (2013, Civilização Brasileira). Aos 80 anos, lança mais um livro em maio deste ano, "A Desordem Internacional".

"A crise hoje no Brasil é dimensionada de forma tão absurda como está ocorrendo porque os Estados Unidos não admitem a emergência de outra potência na América do Sul", afirmou. O pesquisador trouxe detalhes de como instituições norte-americana trabalham:
"não é somente a CIA. (...) As ONGs, financiadas pelo dinheiro oficial e semioficial, como a USAID e a National Endowment for Democracy, atuam comprando jornalistas, treinando ativistas. O programa da Primavera Árabe foi elaborado, ainda, no tempo de George Bush", contou.
Para o Prof. Moniz Bandeira, o mesmo está sendo feito no Brasil.
 Acompanhe a seguir e nos vídeos alguns trechos da entrevista:

GGN – Sobre essa nova geopolítica americana nas guerras nos países árabes, de que maneira que se dava a estratégia de insuflação, o uso de redes sociais?

Moniz Bandeira – Os Estados Unidos têm como objetivo os neoconservadores. São eles que hoje compõem o principal segmento do partido republicano, infiltrado no partido democrata também, porque o [presidente Barack] Obama manteve esses neoconservadores no seu Departamento de Estado. O objetivo é o domínio completo, espaço, área de todo o universo. O domínio total.

E é preciso compreender que a crise hoje no Brasil é dimensionada de forma tão absurda como está ocorrendo, porque os Estados Unidos não admitem a emergência de outra potência na América do Sul. A questão básica hoje está na moeda.

A Rússia, assim como a China, estão empenhados em acabar com a predominância do petrodólar. Criar outro sistema financeiro internacional. Estão a fazer isso. Estou expondo isso com detalhe no meu novo livro, que vai sair em maio, A Desordem Internacional.

Os Estados Unidos, quando não podem dominar, criam um caos. Agora, é preciso compreender que isso não é somente a CIA. A CIA gasta cerca de 80% do seu orçamento – que aliás, ninguém sabe, porque além do que há da ação oficial, ela tem empresas, até de agências de viagens, então tem um dinheiro muito diluído -, mas 80% que gasta do dinheiro oficial é em operações secretas. Isso já há muito tempo. Ao invés de coletar inteligência.

Porém, hoje, os Estados Unidos usam outras instituições. As ONGs, financiadas não só pelo dinheiro oficial e semi-oficial, como a USAID [United States Agency for International Development] e a NED [National Endowment for Democracy], comprando jornalistas, treinando ativistas, pesquisadores. Há programa sobre isso. Esse da Primavera Árabe foi elaborado, ainda, no tempo de Bush.

Na Ucrânia, os cursos foram dados dentro da Embaixada dos Estados Unidos. Isso está tudo documentado.

GGN – Que tipo de conteúdo eles davam nesses cursos?

Moniz Bandeira – O tema é defesa da democracia, combater a corrupção. São temas que sensibilizam a classe média, mobilizam. Essas instituições não atuam no vazio. Sempre, claro, as condições existem. No Oriente Médio, há um desemprego muito grande, as economias estagnadas, desemprego, sobretudo, para os jovens, que se formam, se educam, mas não encontram emprego.

GGN – Nessa intervenção por meio de ONGs e ativismo político, todas as pessoas que eram ensinadas ou Organizações tinham conhecimento ou era uma forma de manipulação não explícita?

Moniz Bandeira – Eles financiam a criação dos jornais e blogs na internet, e rádios. Uma rádio foi criada em 2009, na Síria, mas funcionava na Inglaterra, com dinheiro americano. Os Estados Unidos destinaram na Síria, isso tudo documentado, entre 2005 e 2010 cerca de US$ 12 milhões. O orçamento de 2005 para 2006 foi de US$ 5 milhões.

GGN – A partir de 2002, após o atentado das Torre Gêmeas, teve a chamada Cooperação Internacional, que juntou o Ministério Público e as Polícias Federais de todos esses países para combater o crime organizado. Você chegou a analisar de que maneira os Estados Unidos estão se valendo disso, também, para as suas estratégias geopolíticas?

Moniz Bandeira – Eles faziam treinamentos como os militares na Academia do Panamá. Hoje eles não contam mais com os militares. Depois das ditaduras, eles viram que elas não deram certo. Por um lado, desmoralizaram os Estados Unidos, por causa dos direitos humanos. Por outro, os militares, de uma forma ou de outra são patriotas. Eles não estavam muito para o comunismo, mas não queriam ser submissos aos Estados Unidos. No Brasil, principalmente, no Peru, e mesmo na Argentina.

Eu tenho uma pesquisa em um dos livros meus sobre o voto do Brasil desde 1968 até o fim da ditadura. O Brasil votou muito mais vezes com os países neutros, e a União Soviética, a favor dos Estados Unidos. Eu tenho isso listado no livro "Brasil – Estados Unidos: a rivalidade emergente", quando eu estudo o regime militar. Inclusive, não obstante à custa dos direitos humanos, a Argentina também votou contra.

Eu não tenho dúvida de que no Brasil os jornais estão sendo subvencionados. De uma forma ou de outra, não sei como, mas estão. Não posso provar, mas é possível que por trás disso estejam as fundações de George Soros, que dão dinheiro aos jornalistas. Há jornalistas honestos. Mas há outros que estão na lista de pagamentos. Muitos desses jornalistas que eu sei estão nos Conselhos Fiscais de várias empresas estrangeiras. Ganham dinheiro com isso, escrevem no O Globo e em outros jornais.

Outro dia, o diretor geral da Polícia Federal declarou que muitos policiais, comissários e outros recebiam dinheiro da CIA diretamente em suas contas. Este é um conluio que devia acabar.

Por detrás disso tudo, não tenha dúvida que estão os recursos da USAID, que é um instrumento da National Endowment for Democracy, e das Fundações, que são várias, dos Soros e outras, por exemplo, que se opõem a certas construções de hidrelétricas no Brasil. Elas estão a serviço de empresas alemãs e usam como pretexto, sempre, a proteção da natureza, meio ambiente. A USAID, onde ela trabalha? Trabalha fora da embaixada. É uma organização "semi-oficial". A National Endowment for Democracy é financiada pelo Congresso, mas é também fora, recebe dinheiro do Congresso americano.

GGN – Se a gente pega a estrutura de poder dos Estados Unidos, falando da CIA, etc, não tem diferenças de orientação entre, por exemplo, o FBI, o Departamento de Estado, Departamento de Justiça?

Moniz Bandeira – Os Estados Unidos é um país muito complexo e contraditório. Isso está evidente na campanha eleitoral onde Sanders é dado como progressista, enquanto que, por parte dos republicanos, você vê a decadência. O Trump, em primeiro lugar, por que? Porque os outros são de Bush para pior. O Trump é maluco. Porém, a figura é o retrato da situação.

Quando recebi o Doutor Honoris Causa da Universidade da Bahia, eu disse que uma potência é muito mais perigosa quando está a perder a hegemonia do que quando constrói o seu império. Quando constrói o império, ela necessita ser aceita. Mas quando está perdendo...

Como agora, os Estados Unidos não dominam mais, não têm mais o poder que tinham antes. Eu digo poder, porque, por exemplo, não influi mais sobre Israel. Os assentamentos continuam, não obstante a oposição dos EUA. Porque o lobby judaico dos Estados Unidos não deixa. E o governo de Israel mantém os assentamentos porque, realmente, não admite que haja dois estados. Isso, ideologicamente, já vem de muitos anos. Os Estados Unidos querem que todas as ideias sucumbam. *****