quinta-feira, setembro 29, 2011

Por que o Pará cantou o Hino Nacional Brasileiro?


Enviado por Walter Falceta
Antes da partida contra a Argentina (Super Clássico das Américas), nesta quarta-feira, a torcida paraense deu show de civilidade no lotado Estádio Mangueirão.
Cessou a amostra instrumental do Hino Nacional, mas o povo resolveu seguir até o fim da primeira parte da composição, à capela.
As imagens de TV mostram o povo feliz com a saudável molecagem, orgulhoso, muitos com as mãos sobre o peito.
São crianças, jovens, idosos, gente negra, branca, índios, representantes da comunidade nipônica e, certamente, a linda mistura de tudo isso.
O craque Neymar, ele próprio tão espetacularmente miscigenado, comove-se com a cantoria, marcada na percussão das palmas sincronizadas. Comoção bem comovida.
Talvez, mais do que a festa, seja conveniente tomar esse espetáculo como lição para o Sul-Sudeste, onde o Hino é frequentemente ultrajado pelos torcedores, especialmente pelos filhos das elites, sempre envergonhados de sua nacionalidade.
Cabe também uma reflexão sobre o ódio que determinados brasileiros têm do próprio país, expresso diariamente nos comentários neofascistas dos grandes jornais dessas regiões.
Esse comportamento, aliás, é resultado da campanha diária, massiva, que os mesmos veículos fazem para desmoralizar o país e seu povo.
O jornalismo de “pinça” só destaca o que é ruim, o que é nefasto, o que não presta. Obsessivamente.
O processo de extinção da miséria parece não existir, tampouco a expansão do consumo popular.
E cada agulha sumida numa repartição pública torna-se um escândalo.
Pior: a indignação é seletiva, pois o graúdo que desvanece nas administrações estaduais neoliberais nunca vira manchete.
Se há notícia boa do Brasil, ela é minimizada. Se o positivo é notório, emprega-se logo uma adversativa, um “mas”, para reduzir ou neutralizar o impacto da mensagem.
São espantosos os malabarismos aritméticos, os artifícios de linguagem e os sofismas utilizados para transformar em ruim o que é bom.
São gráficos lidos de trás para frente ou pizzas que têm apenas uma ou outra fatia destacada.
Disseminar a síndrome de vira-lata, obviamente, tem um objetivo claro.
É recalcar os tradicionais estratos médios, é causar rancor, é produzir a intriga, é gerar dissensão, é fomentar o ciúme, é espalhar o ódio entre irmãos.
Afinal, para os obsoletos da elite midiota, é preciso difundir todos os dias a ideia do caos, mesmo que imaginário.
Para quem perdeu, faz-se urgente uma insurreição para acabar com a festa do crescimento econômico extensivo, da inclusão social e da democratização de acessos.

Enquanto eles não passam, vale a pena ficar com o Pará, com os brasileiros do Pará. Viva o Pará!

Imprensa brasileira quer ferrar o Brasil. O que essa gente ganha, torcendo contra a gente?

Se o Maracanã foi executado em dois anos, porque o Itaquerão não pode ser feito em três?!

Enviada em 29 de setembro de 2011imprimir - enviar para um amigo
Os arquitetos Miguel Feldman e Antônio D. Carneiro diante da maquete do Maracanã, em 16/6/1949. Foto da coleção de Branca Feldman
Os arquitetos Miguel Feldman e Antônio D. Carneiro diante da maquete do Maracanã, em 16/6/1949. Foto da coleção de Branca Feldman
O brasileiro não tem memória suficiente da sua historia, o que leva a imprensa a fazer avaliações ultra-pessimistas, sem fundamento algum na realidade, e sem o contraponto adequado.
O estádio do Maracanã, na época o maior do mundo, foi construído em menos de dois anos. Faltam quase três anos para Copa de 2014 e a imprensa insiste em que não conseguiremos dar conta das obras necessárias para o evento, daqui a três anos, em especial, o Itaquerão.
Além das previsões pessimistas em relação aos estádios nas cidades-sede, fala-se do caos no transporte urbano, porque as obras de mobilidade não ficarão prontas a tempo.
Até a simples obviedade de que em dias de jogos importantes numa determinada cidade, a Lei Geral da Copa autoriza ao Prefeito a decretação de feriado, se transforma em infindável polêmica. Ora, isso de dispensar os funcionários mais cedo para assistir os jogos do Brasil em casa já não ocorre quando a Copa é disputada em outro país?
Dá até a impressão de que há uma poderosa torcida para que dê tudo errado e que isso possa criar as condições subjetivas de impedir a reeleição de Dilma Rousseff!
Nós que não olhamos a Copa de 2014 com preocupação eleitoral temos que ser racionais: a engenharia brasileira já deu mostras de que consegue empreender grandes construções no prazo adequado. É aqui que voltamos à história do estádio do Maracanã que, repito, foi construído em pouco menos de dois anos, para a Copa de 1950, no Brasil. Com a significativa diferença para os estádios de hoje: seria o maior estádio do mundo!
Para termos idéia do gigantismo da obra do estádio do Maracanã, apresento os números abaixo, extraídos do site http://www.clerioborges.com.br/maracana.html:
Foram utilizados 500.000 sacos de cimento e 10.000 toneladas de ferro na armação da estrutura do Maracanã, além de 40.000 caminhões, para transportes diversos.
Volume total de concreto utilizado: 80.000 m³. Área total de madeiras: 650.000m². Volume total de areia: 45.000m³. Volume total de escavações, para a execução das fundações: 39.572.000,00 m³. Volume total de aterro: 134.700.000,00m³
O volume de concreto utilizado na construção do estádio seria suficiente para construir a estrutura de edifícios de 10 andares em ambos os lados, e em toda a extensão da Avenida Rio Branco (2Km), no Rio de Janeiro, ou na Park Avenue, em Nova Iorque (EUA), entre as ruas 35 e 65.
Um homem sozinho construindo o Maracanã, e trabalhando 6 horas por dia – inclusive sábados, domingos e feriados –, levaria nada menos que 1.860 anos para conclui-lo.
Colocando-se em fila os 40.000 caminhões que entraram no Maracanã durante sua construção, estes cobririam toda extensão da estrada Rio-São Paulo (500 Km), ou de Nova Iorque a Washington (EUA).
Os ferros, transformados em barras de 3/16″, ou seja, 45 mm, seriam suficientes para contornar o globo terrestre uma vez e meia passando pela linha do Equador. Os sacos de cimento, empilhados individualmente, forneceriam 78 colunas da altura do Corcovado.
A madeira utilizada poderia forrar completamente a Avenida Presidente Vargas 3 vezes, em toda a sua extensão, que tem 2,5 Km. A areia utilizada poderia cobrir a Avenida Presidente Vargas, que tem a extensão de 2,5 Km, completamente, com uma camada de 25 cm de altura.
Trabalharam em média, na construção, 3.500 operários por dia, chegando aos 11.000 às vésperas da inauguração, tendo sido gastas 7.730.000 de horas de serviço ininterrupto.
A quantidade de pedras utilizada seria suficiente para encher uma trincheira de 2,50 m de largura, com 2,00 m de altura, numa extensão de 12 Km, ou então para construir um prisma de 20.000 m² de base e 3.000 m de altura;
O volume de escavações, executadas na construção do Maracanã, corresponde a abertura de 1.640 poços de 2,00 x 2,50 m, com 5,00 m de profundidade;
Se a engenharia e os gestores públicos conseguiram fazer o maior estádio do mundo em pouco menos de dois anos, há 60 anos atrás, porque não haverá de fazer o Itaquerão e os demais estádios, que são muito menores?
Num próximo artigo, escreverei sobre as obras de mobilidade urbana, mostrando que há muita confusão quando se aborda esse assunto.
José Augusto Valente – Diretor Executivo da Agência T1
Portal T1 - Logística e Transportes
http://agenciat1.com.br

quarta-feira, setembro 28, 2011

Não pode passar batido um dos momentos mais patéticos do jornalismo brasileiro

Imprensa brasileira foi à França reclamar de premiação a Lula
Posted by eduguim on 27/09/11 • Categorized as Últimas notícias

Não pode passar batido um dos momentos mais patéticos do jornalismo brasileiro. Acredite quem quiser, mas órgãos de imprensa brasileiros como o jornal O Globo mandaram repórteres à França para reclamar com Richard Descoings, diretor do instituto francês Sciences Po, por escolher o ex-presidente Lula para receber o primeiro título Honoris Causa que a instituição concedeu a um latino-americano.
A informação é do jornal argentino Pagina/12 e do próprio Globo, que, através da repórter Deborah Berlinck, chegou a fazer a Descoings a seguinte pergunta: “Por que Lula e não Fernando Henrique Cardoso, seu antecessor, para receber uma homenagem da instituição?”.
No relato da própria repórter de O Globo que fez essa pergunta constrangedora havia a insinuação de que o prêmio estaria sendo concedido a Lula porque o grupo de países chamados Bric’s (Brasil, Rússia, Índia e China) estuda ajudar a Europa financeiramente, no âmbito da crise econômica em que está mergulhada a região.
A jornalista de O Globo não informa de onde tirou a informação. Apenas a colocou no texto. Não informou se “agrados” parecidos estariam sendo feitos aos outros Bric’s. Apenas achou e colocou na matéria que se pretende reportagem e não um texto opinativo. Só esqueceu que o Brasil estar em condição de ajudar a Europa exemplifica perfeitamente a obra de Lula.
Segundo o relato do jornalista argentino do Pagina/12, Martín Granovsky, não ficou por aí. Perguntas ainda piores seriam feitas.
Os jornalistas brasileiros perguntaram como o eminente Sciences Po, “por onde passou a nata da elite francesa, como os ex-presidentes Jacques Chirac e François Mitterrand”, pôde oferecer tal honraria a um político que “tolerou a corrupção” e que chamou Muamar Khadafi de “irmão”, e quiseram saber se a concessão do prêmio se inseria na política da instituição francesa de conceder oportunidades a pessoas carentes.
Descoings se limitou a dizer que o presidente Lula mudou seu país e sua imagem no mundo. Que o Brasil se tornou uma potência emergente sob Lula. E que por ele não ter estudo superior sua trajetória pareceu totalmente “em linha” com a visão do Sciences Po de que o mérito pessoal não deve vir de um diploma universitário.
O diretor do Science Po ainda disse que a tal “tolerância com corrupção” é opinião, que o julgamento de Lula terá que ser feito pela história levando em conta a dimensão de sua obra (eletrificação de favelas e demais políticas sociais). Já o jornalista argentino perguntou se foi Lula quem armou Khadafi e concluiu para a missão difamadora da “imprensa” tupiniquim: “A elite brasileira está furiosa”.
http://www.blogcidadania.com.br/2011/09/imprensa-brasileira-foi-a-franca-reclamar-de-premiacao-a-lula/


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Os sinhozinhos vão a Paris

publicada terça-feira, 27/09/2011 às 16:59 e atualizada terça-feira, 27/09/2011 às 19:13
por Rodrigo Vianna
O Eduardo Guimarães já havia escrito aqui sobre o comportamento patético de jornalistas brasileiros em Paris. Meus colegas (!) parecem ter vergonha do presidente que tivemos durante 8 anos. Ou então, querem agradar aos patrões. Numa entrevista coletiva com o diretor da “Sciences Po” (instituição francesa que vai dar um título “honoris causa” a Lula), repórteres brasileiros pareciam enojados: por que Lula vai ganhar a honraria? “Ele não é um dos nossos”.
Qualquer presidente merece sempre tratamento crítico. E é nisso que os jornalistas vão se apegar para explicar o comportamento patético em Paris. Mas o que ocorreu lá foi diferente. Foi a manifestação de uma doença social brasileira. Doença que é mais grave entre esse batalhão raivoso que não suporta as 3 derrotas seguidas sofridas em 2002, 2006 e 2010.
Poder-se-ia (pronto, com ridículas mesóclises os brasileiros mostram que foram à Universidade, feito Janio Quadros) atribuir as perguntas ridículas em Paris a um certo mau-humor. O sujeito vai a Paris, vê aquela cidade maravilhosa, e fica de mau-humor. Sei. Na verdade, trata-se da herança escravocrata que está impregnada em tantos de nós brasileiros. A turma da Senzala só pode entrar na Casa-Grande se for “criado da casa”. Lula entrou na Casa-Grande pela porta da frente. Imperdoável.
Mas o relato fica mais eloquente na descrição do jornalista argentino do “Página 12″, que também estava lá. Normalmente, não gosto de argentino falando mal do Brasil. Dessa vez, é diferente. Ele fala mal da nossa imprensa trôpega, filha ideológica da Casa-Grande. Expõe o ridículo das perguntas feitas pelos repórteres brasileiros. E a classe do professor francês ao respondê-las. Na verdade, a descrição feita pelo “Página 12″ não é uma crítica ao Brasil. Ao contrário: é um tremendo elogio! Apesar dessa imprensa, o Brasil elegeu Lula 2 vezes. O Brasil derrotou a mentalidade escravocrata que domina nossa imprensa. Derrotou as capas da “Veja”. Derrotou Ali Kamel e sua obsessão de relativizar essa história de “preconceito racial”. Derrotou a família Frias (num almoço na “Folha, na campanha de 2002, Otavinho tentou humilhar Lula pelo fato de o líder o petista não ter diploma e não falar inglês). Derrotou a mentalidade de senhor de engenho que domina muitas redações brasileiras.
Mas os derrotados insistem. Deixemos ao jornalista argentino a tarefa de expor os sinhozinhos ao ridículo.
A pedidos, aqui o artigo traduzido para o português pelo “VioMundo”
Abaixo, o texto no original, em espanhol.
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ESCRAVISTAS CONTRA LULA
Uno de los colegas preguntó si estaba bien premiar a quien se jacta de no haber leído nunca un libro. El profesor mantuvo su calma y lo miró asombrado. Quizá sepa que esa jactancia de Lula no consta en actas, aunque es cierto que no tiene título universitario. Tan cierto es que cuando asumió la presidencia, el 1º de enero de 2003, levantó el diploma que les dan en Brasil a los presidentes y dijo: “Lástima que mi mamá se murió. Ella siempre quiso que yo tuviera un diploma y nunca imaginó que el primero sería el de presidente de la república”. Y lloró.
“¿Por qué premian a un presidente que toleró la corrupción?”, fue la siguiente pregunta.
por Martin Granovsky, no “Página 12″
Pueden pronunciar sians po. Es, más o menos, la fonética de sciences politiques. Con decir Sciences Po basta para aludir al encastre perfecto de dos estructuras, la Fundación Nacional de Ciencias Políticas de Francia y el Instituto de Estudios Políticos de París.
No es difícil pronunciar Sians Po. Lo difícil es entender, a esta altura del siglo XXI, cómo las ideas esclavócratas siguen permeando a gente de las elites sudamericanas.
Hoy a la tarde, Richard Descoings, director de Sciences Po, le entregará por primera vez el doctorado Honoris Causa a un latinoamericano: el ex presidente de Brasil, Luiz Inácio “Lula” da Silva. Hablará Descoings y hablará Lula, claro.
Para explicar bien su iniciativa, el director convocó a una reunión en su oficina de la calle Saint Guillaume, muy cerca de la iglesia de Saint Germain des Pres, en un contrafrente desde el que podían verse los castaños con hojas amarillentas. Meterse en la cocina siempre es interesante. Si uno pasa por París para participar como ponente de dos actividades académicas, una sobre la situación política argentina y otra sobre las relaciones entre la Argentina y Brasil, no está mal que se meta en la cocina de Sciences Po.
Le pareció lo mismo a la historiadora Diana Quattrocchi Woisson, que dirige en París el Observatorio sobre la Argentina Contemporánea, es directiva del Instituto de las Américas y fue quien tuvo la idea de organizar las dos actividades académicas sobre la Argentina y Brasil de las que también participó el economista e historiador Mario Rapoport, uno de los fundadores del Plan Fénix hace 10 años.
Naturalmente, para escuchar a Descoings habían sido citados varios colegas brasileños. El profesor Descoings quiso ser amable y didáctico. Sciences Po tiene una cátedra de Mercosur, los estudiantes brasileños acuden cada vez más a Francia, Lula no salió de la elite tradicional de Brasil, pero llegó al máximo nivel de responsabilidad y aplicó planes de alta eficiencia social.
Uno de los colegas preguntó si estaba bien premiar a quien se jacta de no haber leído nunca un libro. El profesor mantuvo su calma y lo miró asombrado. Quizá sepa que esa jactancia de Lula no consta en actas, aunque es cierto que no tiene título universitario. Tan cierto es que cuando asumió la presidencia, el 1º de enero de 2003, levantó el diploma que les dan en Brasil a los presidentes y dijo: “Lástima que mi mamá se murió. Ella siempre quiso que yo tuviera un diploma y nunca imaginó que el primero sería el de presidente de la república”. Y lloró.
“¿Por qué premian a un presidente que toleró la corrupción?”, fue la siguiente pregunta.
El profesor sonrió y dijo: “Mire, Sciences Po no es la Iglesia Católica. No entra en análisis morales, ni saca conclusiones apresuradas. Deja para el balance histórico ese asunto y otros muy importantes, como la electrificación de favelas en todo Brasil y las políticas sociales”. Y agregó, tomando Le Monde: “¿Qué país puede medir moralmente hoy a otro? Si no queremos hablar de estos días, recordemos cómo un alto funcionario de otro país debió renunciar por haber plagiado una tesis de doctorado a un estudiante”. Hablaba de Karl-Theodor zu Guttenberg, ministro de Defensa de Alemania hasta que se supo del plagio.
Más aún: “No excusamos, ni juzgamos. Simplemente no damos lecciones de moral a otros países”.
Otro colega preguntó si estaba bien premiar a quien una vez llamó “hermano” a Muamar Khadafi.
Con las debidas disculpas, que fueron expresadas al profesor y a los colegas, la impaciencia argentina llevó a preguntar dónde había comprado Khadafi sus armas y qué país refinaba su petróleo, además de comprarlo. El profesor debe haber agradecido que la pregunta no citara, con nombre y apellido, a Francia e Italia.
Descoings aprovechó para destacar en Lula “al hombre de acción que modificó el curso de las cosas”, y dijo que la concepción de Sciences Po no es el ser humano como “los unos o los otros” sino como “los unos y los otros”. Marcó mucho el et, “y” en francés.
Diana Quattrocchi, como latinoamericana que estudió y se doctoró en París tras salir de una cárcel de la dictadura argentina gracias a la presión de Amnistía Internacional, dijo que estaba orgullosa de que Sciences Po le diera el Honoris Causa a un presidente de la región y preguntó por los motivos geopolíticos.
“El mundo se pregunta todo”, dijo Descoings. “Y tenemos que escuchar a todos. El mundo no sabe siquiera si Europa existirá el año que viene.”
En Siences Po, Descoings introdujo estímulos para que puedan ingresar estudiantes que, se supone, corren con desventaja para aprobar el examen. Lo que se llama discriminación positiva o acción afirmativa y se parece, por ejemplo, a la obligación argentina de que un tercio de las candidaturas legislativas deban ser ocupadas por mujeres.
Otro colega brasileño preguntó, con ironía, si el Honoris Causa a Lula formaba parte de la política de acción afirmativa de Sciences Po.
Descoings lo observó con atención antes de contestar. “Las elites no son sólo escolares o sociales”, dijo. “Los que evalúan quiénes son mejores son los otros, no los que son iguales a uno. Si no, estaríamos frente a un caso de elitismo social. Lula es un tornero que llegó a la presidencia, pero según tengo entendido no dio un ingreso sino que fue votado por millones de brasileños en elecciones democráticas.”
Como Cristina Fernández de Kirchner y Dilma Rousseff en la Asamblea General de Naciones Unidas, Lula viene insistiendo en que la reforma del Fondo Monetario Internacional y del Banco Mundial está atrasada. Dice que esos organismos, así como funcionan, “no sirven para nada”. El grupo Brics (Brasil, Rusia, India, China, Sudáfrica) ofreció ayuda a Europa. China sola tiene el nivel de reservas más alto del mundo. En un artículo publicado en El País, de Madrid, los ex primeros ministros Felipe González y Gordon Brown pidieron mayor autonomía para el FMI. Quieren que sea el auditor independiente de los países del G-20, que integran los más ricos y también, por Sudamérica, la Argentina y Brasil. O sea, quieren lo contrario de lo que piensan los Brics.
En medio de esa discusión llegará Lula a Francia. Conviene hacerle saber que, antes de recibir el doctorado Honoris Causa de Sciences Po, debe pedir disculpas a los elitistas de su país. Un obrero metalúrgico no puede ser presidente. Si por alguna casualidad llegó a Planalto, ahora debería guardar recato. En Brasil, la casa grande de las haciendas estaba reservada a los propietarios de tierras y esclavos. Así que Lula, ahora, silencio por favor. Los de la casa grande se enojan.


Leia outros textos de Radar da Mídia
http://www.rodrigovianna.com.br/radar-da-midia/os-sinhozinhos-vao-a-paris.html#more-9851


Para não ficar apenas com a conversa mole do Jornal Nacional


Saiu o ranking da carga tributária 2010: Brasil em 31º

Compilei os dados da carga tributária de 183 países relativa a 2010. Muita gente precisa ver isto, principalmente comentaristas econômicos da velha mídia e os políticos da oposição.

A primeira tabela mostra a carga de impostos com relação ao Produto Interno Bruto (PIB), com dados da organização conservadora The Heritage Foundation. O Brasil ficou no 31º lugar em carga tributária. Existem 30 países com carga tributária maior que a do Brasil. Destes, 27 são países de grande desenvolvimento humano, europeus em geral.

Aí, confrontada com a realidade, a velha mídia vai dizer: "Ah, mas a população não vê o resultados dos impostos recolhidos". Para este  tipo de mentalidade, preparei a segunda tabela, com os países ordenados pela arrecadação per capita. O Brasil está em 52º lugar em arrecadação per capita, recolhendo 5 vezes menos que os países desenvolvidos.

Querem nível de vida escandinavo com arrecadação de emergente? É a pobreza, estúpido!

Aí vão dizer: "A situação estaria bem melhor se não fosse a corrupção!". Será? Um estudo da Fundação Getúlio Vargas mostrou que a corrupção impacta 2% (dois por cento) de nosso PIB. Na década, o TCU apanhou 7 bilhões de reais por ano em corrupção, mas a sonegação fiscal anual atinge 200 bilhões de reais, segundo pesquisa do Instituto de estudos tributários IBPT. Por que o movimento "Cansei 2.0" não vai às ruas contra a sonegação, que é 28 vezes pior que a corrupção? Espero que se indignem 28 vezes mais...

Essa neo-UDN!

Baixe a planilha da carga tributária mundial em 2010.




Entendeu ou quer que eu desenhe? OK. No mapa abaixo, quanto maior a carga tributária, mas verde é o país. A grama da Europa é muito mais verde!



E neste mapa, quanto maior a arrecadação, mais verde é o pais.

segunda-feira, setembro 26, 2011

O ocidente e o resto, em modelo tamanho único:

Declínio e Queda da Turma Toda
25/9/2011, Pepe Escobar, Tom Dispatch
Um sistema despido da própria essência
Número sempre crescente de especialistas concordam que a Ásia lidera o mundo, embora ainda só sirva para preencher vazios na narrativa ocidental da civilização. Mesmo assim, falar do “declínio do ocidente” é ideia perigosa. Referência histórica chave aí é o ensaio de Oswald Spengler, de 1918, com esse título[1]. Spengler, homem de seu tempo, pensava que a humanidade funcionasse mediante sistemas culturais únicos e que ideias ocidentais não seriam pertinentes a, ou transferíveis para, outras regiões do planeta. (Contem essa aos jovens egípcios na Praça Tahrir.)
Spengler, é claro, capturou o zeitgeist [al. no orig. “espírito do tempo”] de outro século, dominado pelo ocidente. Via as culturas como organismos que vivem e morrem, cada uma com alma única. O leste, o oriente, seria “mágico”, e o ocidente, “faustiano”. Misantropo reacionário, estava convencido de que o ocidente já alcançara o estágio supremo possível para civilização democrática – e, portanto, estaria destinado a conhecer o “declínio”.
Se lhe ocorreu que a coisa soa parecida com “choque de civilizações” huntingtonesco avant-la-lettre, não é pecado, porque se trata disso, exatamente.
Por falar em choques civilizacionais, será que alguém percebeu um tom de “pode até ser”, em recente matéria de capa da revista TIME, que retoma temas spenglerianos, sob a manchete “Declínio e Queda da Europa (e talvez do ocidente)”[2]? Nesse nosso momento pós-Spengleriano, o “ocidente” é com certeza os EUA, e como aquela revista poderia ter suposto que não seria? Talvez? Uma Europa hoje sob profunda crise financeira estará com certeza “declinante”, enquanto permanecer inextricavelmente entrelaçada com, e sempre curvada para, “o oeste” – quer dizer, Washington –, apesar de testemunhar a simultânea ascensão econômica do que, às vezes pejorativamente, é chamado “o sul”.
Pensem no atual momento capitalista global, não como “clash” [choque], mas como “cash” [venda a dinheiro] de civilizações.
Se Washington está zonza, operando no piloto automático, acontece em parte porque, historicamente falando, seu momento como “única superpotência” do globo, ou, mesmo como “hiperpotência”, mal durou os notórios 15 minutos de fama de Andy Warhol – da queda do muro de Berlin e colapso da União Soviética, até o 11/9 e a doutrina Bush. O novo século americano consumiu-se em três atos carregados de húbris: 11/9 (o contragolpe); invasão do Iraque (guerra preventiva); e quebradeira de Wall Street em 2008 (capitalismo de cassino).
Simultaneamente, se pode argumentar que a Europa ainda preserva suas oportunidades não-ocidentais, que, de fato, a periferia sonha cada vez mais com subtítulos europeus – não norte-americanos. A Primavera Árabe, por exemplo, focou-se em democracias parlamentares ao estilo europeu, não no sistema presidencial americano. Além disso, por mais financeiramente ansiosa que esteja, a Europa ainda é o maior mercado do mundo. Em vários campos tecnológicos, rivaliza hoje, ou ultrapassa, os EUA, enquanto monarquias regressivas do Golfo Persa recorrem ao euro (e compram propriedades imobiliárias de luxo em Paris e Londres) para diversificar os portfólios.
Com ‘líderes’ como o neonapoleônico Nicolas Sarkozy, David (das Arábias) Cameron, Silvio (“bunga bunga”) Berlusconi e Angela (Dear Prudence[3]) Merkel, que ou não têm imaginação ou têm competência, a Europa, com certeza, não precisa de inimigos. Mas, declinante ou não, a Europa ainda pode encontrar outro amor na vida, se puser de lado o atlanticismo e apostar pesadamente em seu destino euroasiático. Pode abrir as sociedades, economias e culturas à China, Índia e Rússia, e pode empurrar o sul da Europa para que se conecte mais profundamente com a ascendente Turquia, o resto do Oriente Médio, a América Latina e a África (e, para isso, não precisa convocar mais bombardeios ‘humanitários’ da OTAN).
Verdade é que os fatos em campo falam de algo que vai bem além do declínio do ocidente: falam do declínio de um sistema ocidental que, nos últimos anos, foi despido de sua essência. O historiador Eric Hobsbawm captou o espírito do momento, quando escreveu em How to Change the World[4] [Como mudar o mundo] que “o mundo transformado pelo capitalismo”, que Karl Marx descreveu em 1848, “em passagem de eloquência lacônica, sombria, é reconhecidamente o mundo do início do século 21”.
Numa paisagem na qual a política está sendo reduzida a espelho (quebrado) que reflete as finanças, e no qual produzir e poupar foram superados por consumir, pode-se já ver alguma coisa sistêmica. Como no verso famoso de William Butler Yeats, “o centro já não se mantém” [orig. the center cannot hold[5]] – e não se manterá [como centro coeso].
Se o ocidente deixa de ser o centro, o que, precisamente, deu errado?
Você está comigo, ou contra mim?
Vale a pena lembrar que o capitalismo foi “civilizado” graças à incansável pressão de incansáveis, resolutos movimentos da classe trabalhadora e a sempre presente ameaça de greves e, até, de revoluções. A existência do bloco soviético, modelo alternativo de desenvolvimento econômico (embora distorcido), também ajudou. Para apresentar-se como contraponto à URSS, os grupos dominantes em Washington e na Europa tiveram de comprar o apoio de suas massas, defendendo o que ninguém jamais se envergonhou de chamar de “o modo de vida ocidental”. Forjou-se complexo contrato social, que implicou o capital fazer concessões.
Agora, acabou. Já nada é assim em Washington, o que é óbvio. E cada vez menos é assim tampouco na Europa. Aquele sistema começou a fazer água – isso, sim, é total triunfo de uma ideologia! –quando o neoliberalismo tornou-se único sucesso da cidade. Abriu-se uma supervia expressa que partia diretamente dali, e levou todas as tendências mais frágeis da classe média diretamente para a situação de novo proletariado pós-industrial, ou, simplesmente, para o status de inempregáveis.
Se o neoliberalismo parece ainda vitorioso, é porque não há modelo realista, alternativo, de desenvolvimento. E, mesmo assim, o que o neoliberalismo possa ter ganho é muito discutível. Simultaneamente, os progressistas do mundo estão paralisados, como que esperando que a velha ordem derreta, ela mesma. Infelizmente, a história ensina que, como em encruzilhadas semelhantes no passado, o mais provável é que, à frente, se encontrem as vinhas da ira, ao estilo populista de direita, como tudo – ou, ainda pior, declarado fascismo.
“O ocidente contra o resto” é fórmula simplista que não basta nem para começar a descrever esse mundo. Imagine-se, em vez disso, um planeta no qual “o resto” tente ultrapassar o ocidente por várias vias, mas já absorveu o ocidente de vários modos ainda não descritos porque profundos demais. Aí está a ironia: sim, o ocidente “declinará”, Washington inclusive, e, mesmo assim, deixará ocidente por todos os cantos.
Sorry, esse modelo já era
Suponha que você seja país em desenvolvimento, comprando no supermercado desenvolvimental. Você olha para a China e pensa que vê algo novo – um modelo consensual que acende todas a luzes em todos os lugares – ou você mesmo as acende? Afinal, a versão chinesa de boom econômico sem liberdade política pode não ser modelo a ser escolhido por outros países. Em vários sentidos, pode ser mais como artefato letal não aplicável, bomba de ação retardada feita de restos do conceito ocidental de modernidade, que se casou com fórmula de base leninista, e um único partido controla as pessoas, a propaganda e – crucialmente importante – também o Exército de Libertação do Povo.
Ao mesmo tempo, esse sistema está evidentemente tentando provar que, apesar de o ocidente ter unificado o mundo – do neocolonialismo à globalização –, isso não implica que tenha de governar o mundo para sempre, material e intelectualmente.
Por seu lado, a Europa comanda um modelo de integração supranacional, como meio para resolver problemas e conflitos, do Oriente Médio à África. Mas qualquer lojista já consegue ver evidências de que a União Europeia está à beira do esfacelamento, europeus bicam-se sem parar, inclusive com revoltas nacionais contra o euro, ira contra o papel da OTAN-Robocop global, e tanta arrogância cultural que a Europa já não tem capacidade, sequer, para entender – só para dar um exemplo – por que o modelo chinês faz tanto sucesso na África.
Ou digamos que nosso lojista olhe para os EUA, que, afinal, ainda é a economia n. 1 do mundo, seu dólar ainda é moeda mundial de reserva, e seu exército ainda é n. 1 em poder de destruição e ainda mantém o globo sob cerco militar. Seria visão impressionante, não fosse o fato de que Washington está em visível declínio, oscilando furiosamente entre um populismo manco e uma ortodoxia rançosa, e fazendo divulgação de um capitalismo de cassino, como ‘bico’, num beco, no tempo livre. É poder gigante, tomado de paralisia política e econômica à vista de todo o planeta, e não menos visivelmente incapaz de oferecer qualquer estratégia de saída.
Francamente, você compraria o modelo de qualquer desses? Onde, afinal, em mundo cada dia mais em desarranjo, alguém deveria procurar modelos, hoje em dia?
Uma das principais razões da Primavera Árabe foi o completo descontrole dos preços dos alimentos, carestia gerada, significativamente por especulação. Os protestos na Grécia, Itália, Espanha, França, Alemanha, Áustria e Turquia foram consequência direta da recessão global. Na Espanha, cerca de metade da população que tem hoje 16-29 anos – uma “geração perdida” hiper educada – está hoje desempregada, recorde europeu.
É o pior da Europa, mas na Grã-Bretanha 20% dos que têm 16-24 anos estão desempregados, mais que a média do resto da União Europeia. Em Londres, quase 25% da população em idade de trabalhar está desempregada. Na França, 13,5% da população é hoje oficialmente pobre – os que vivem com menos que 1.300 dólares/mês.
Como muitos em toda a Europa Ocidental estão vendo, o estado já rompeu o contrato social. Os indignados de Madrid colheram perfeitamente o espírito do momento: “Não somos contra o sistema. O sistema é que é contra nós.”
Vê-se aí a essência do abjeto fracasso do capitalismo liberal, como David Harvey explicou em seu livro mais recente O Enigma do Capital[6]. Mostra claramente que uma economia política “de empobrecimento em massa, de práticas predatórias que chegam ao assalto à luz do dia, sobretudo contra os mais pobres e vulneráveis que a lei não protege, tornou-se ordem do dia.”
A Ásia salvará o capitalismo global?
Pequim por sua vez está ocupadíssima remixando o próprio destino como Império do Meio global – arregimentando engenheiros, arquitetos e trabalhadores de infraestrutura do tipo que não bombardeia, do Canadá ao Brasil, de Cuba a Angola –, para deixar-se distrair muito pelos trabalhos atlanticistas no Oriente Médio e Norte da África [ing. Middle East and Northern Africa, MENA).
Se o ocidente tem problemas, o capitalismo global vive momento de retomada – não se sabe por quanto tempo –, com a emergência de uma classe média asiática, não só na China e Índia, mas também na Indonésia (240 milhões de pessoas, em modo ‘boom’) e no Vietnã (85 milhões). Nunca canso de deslumbrar-me quando comparo as maravilhas instantâneas e a bolha imobiliárias que se veem hoje na Ásia e o que havia quando vivi lá, em 1994, e aqueles países ainda viviam tempos de “tigre asiático”, antes da crise financeira pré-1997.
Só na China, 300 milhões de pessoas – ‘apenas’ 23% da população chinesa total – vivem hoje em áreas urbanas de médio a grande porte e recebem o que sempre se chamou “rendas das quais podem dispor”. Constituem, de fato, uma nação ‘só deles’, uma economia já equivalente a 2/3 da economia alemã.
O McKinsey Global Institute[7] observa que a classe média chinesa compreende hoje 29% dos 190 milhões de lares do Império do Meio, e em 2025 alcançará espantosos 75% de 372 milhões de lares (se, claro, o experimento capitalista chinês não tiver, até lá, despencado de algum precipício, e a bolha imobiliária/financeira não explodir e afogar, na enxurrada, a sociedade).
Na Índia, com população de 1,2 bilhões, já há, segundo o Instituto McKinsey7, 15 milhões de lares com renda anual superior a 10 mil dólares; em cinco anos, as projeções indicam que serão 40 milhões de lares, ou 200 milhões de pessoas, naquele patamar de renda. E na Índia em 2011, como na China em 2001, a única saída é para cima (outra vez: enquanto durar essa retomada).
Aos norte-americanos, esses números talvez pareçam surreais (ou talvez comecem a preparar as malas de migrantes), mas renda anual de menos de 10 mil dólares/ano significa viver confortavelmente na China ou na Indonésia, enquanto, nos EUA, com renda familiar média de cerca de 50 mil dólares/ano, vive-se, praticamente, como pobre.
Nomura Securities[8] prevê que, em apenas três anos, as vendas no varejo serão maiores na China que nos EUA e que, assim, a classe média asiática pode, sim, “salvar” o capitalismo global por algum tempo – mas a preço tão alto, que a Mãe Natureza já deve estar conspirando, arquitetando vingança catastrófica, no que se chamava antigamente de ‘mudança climática’ e já se chama hoje, expressivamente, de “tempo esquisito”.
De volta aos EUA
Enquanto isso, nos EUA, o laureado presidente Barack Obama, Prêmio Nobel da Paz, continua a insistir em que todos vivemos num planeta EUA, excepcionalismo e tudo. Se essa cantilena tem eco doméstico, nem por isso é fácil de vender em mundo real no qual o primeiro jato de combate stealth [invisíveis nos radares] chinês será testado publicamente durante a visita do secretário de Defesa dos EUA à China. Ou quando a agência de notícias Xinhua, fazendo coro ao mestre Pequim, esbraveja contra os políticos “irresponsáveis” em Washington que participaram do recente circo do aumento do teto de endividamento; e aponta para a fragilidade de um sistema “salvo” da queda livre por promessa do Fed de fazer chover dinheiro gratuito sobre os bancos por, no mínimo, dois anos.
Washington não está sendo exatamente inteligente, ao confrontar a liderança de seu principal credor, dono de 3,2 trilhões de reservas em moeda norte-americana, 40% do total global, sempre intrigado pela continuada exportação letal de “democracia para idiotas”, das praias dos EUA para as zonas de guerra no Af-Pak, Iraque, Líbia e outros pontos quentes no Grande Oriente Médio. Pequim sabe bem que qualquer nova turbulência que os EUA provoquem no capitalismo global pode afetar as exportações chinesas, levar a colapso a bolha imobiliária-proprietária chinesa, e lançar as classes trabalhadoras chinesas em clima emocional de revolução linha (muito) dura. O que significa – apesar do que digam vozes estridentes à maneira de Rick Perry/Michele Bachmann nos EUA – que não há qualquer conspiração chinesa “do mal” contra Washington ou o ocidente.

De fato, por trás da reverência que a China prestou à Alemanha (“principal exportador do ocidente” e “fábrica do mundo”) há significativa quantidade de produção controlada, mesmo, por empresas dos EUA, europeias e japonesas.

Mais uma vez, o declínio do ocidente, sim – mas o ocidente já está tão profundamente presente na China, que não desaparecerá assim tão simplesmente nem tão rapidamente. Ascenda ou decline seja quem for, ainda permanece no mundo, como se vê hoje, um único sistema de desenvolvimento de comprar e comprar, que já está praticamente frito no Atlântico, e em pleno boom no Pacífico.
Se todas as esperanças de Washington sobre “mudar” a China são miragem, no que tenha a ver com o monopólio global do capitalismo, quem sabe que tipo de realidade nos espera?
Terra Desolada Redux
Os proverbiais bichos papões de nosso mundo – Osama, Saddam, Gaddafi, Ahmadinejad (curioso: são todos muçulmanos!) – foram criados para funcionar como miniburacos negros, atraindo para eles todos os nossos medos. Mas não salvarão o Ocidente, do declínio, nem salvarão a ex-única superpotência, de pagar por seus erros.
Paul Kennedy, de Yale, aquele historiador do declínio, nos lembra que a história varrerá a hegemonia dos EUA, certo como depois do verão vem o outono (certo como o colonialismo europeu foi varrido, apesar das guerras ‘humanitárias’ da OTAN). Em 2002, ainda na onda da invasão do Iraque, Immanuel Wallerstein, especialista em sistema-mundo, pôs o debate em termos claros, em seu livro O Declínio do Poder Americano[9]: a questão não é se os EUA estão em declínio ou não, mas se encontrarão modo de desabar com graça, sem causar excessivo dano a eles mesmos ou ao mundo. A resposta, nos anos que transcorreram de lá até hoje é bem clara: não.
Quem tem dúvidas de que, dez anos depois dos ataques do 11/9, a grande história global de 2011 foi a Primavera Árabe, ela mesma, sim, um subenredo do declínio do ocidente? Com o ocidente sucumbido num pântano de medo, islamofobia, crises financeira e econômica e até, na Grã-Bretanha, levantes de rua e saques, do Norte da África ao Oriente Médio as pessoas arriscam a vida para obter uma pitada de democracia à moda ocidental.
Claro, aquele sonho foi pelo menos parcialmente destroçado pela medieval Casa de Saud e seus asseclas do Golfo Persa, que impuseram feroz estratégia de contrarrevolução, com a ajuda prestimosa da OTAN, para alterar a narrativa, com sua campanha de bombardeios ‘humanitário’, e reafirmar a grandeza do ocidente. Como disse o secretário-geral da OTAN Anders Fogh Rasmussen, sem meias palavras, “Quem não consiga manter tropas além das próprias fronteiras não terá influência internacional, e o vácuo será ocupado por potências emergentes que não necessariamente partilham nosso pensamento e nossos valores.”[10]
Assim chegamos a 2011, o ano andando para o inverno. No que tenha a ver com Oriente Médio e Norte da África, o negócio da OTAN é manter EUA e Europa no jogo, os países BRICS fora dele, e os ‘nativos’, cada um no seu canto. Enquanto isso, no mundo atlântico, as classes médias mal se seguram em silencioso desespero; no Pacífico, a China segue em boom; e globalmente o mundo espera, sem respirar, pelo momento em que o próximo sapato econômico seja jogado contra o ocidente (e pelo seguinte, depois do próximo).
Pena não haver um neo-T.S. Eliot que faça a crônica dessa terra desolada[11], em farrapos, neomedievalista, em que se vai convertendo o eixo atlanticista. Quando o capitalismo chega à unidade de terapia intensiva, quem paga a conta do hospital são os mais vulneráveis – e a conta é invariavelmente paga em sangue.

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[1] Der Untergang des Abendlandes, 2 vol. (1918-22), O Declínio do Ocidente. Jorge Luis Borges escreveu sobre o livro: “ideia confusa, mas estilo magnífico”, “páginas viris” (...) “nunca contaminadas pelo ódio peculiar àqueles anos” (BORGES, Jorge Luis, “Biografia sintetica”, in Textos Cautivos. Ensayos y reseñas en "El Hogar", Edición de Enrique Sacerio-Garí y Emir Rodríguez Monegal, Barcelona, Tusquets Editores, 1986, col. Marginales, núm. 92 [NTs].
[2] 22/8/2011, The Decline and Fall of Europe (and Maybe the West), em http://www.time.com/time/covers/0,16641,20110822,00.html.
[3] Dos Beatles, 1968: “Querida Prudence, saia daí e venha brincar...” (Pode ser ouvida em http://www.youtube.com/watch?v=7ppmdvXsMBE)
[4] HOBSBAWM, Eric, How to Change the World, Tales Of Marx And Marxism, UK: Little Brown, 2011.
[5] “The Second Coming” [A Segunda vinda], 1921. O verso aparece na primeira estrofe: Turning and turning in the widening gyre / The falcon cannot hear the falconer; / Things fall apart; the centre cannot hold; / Mere anarchy is loosed upon the world (...) / The blood-dimmed tide is loosed, and everywhere / The ceremony of innocence is drowned; / The best lack all conviction, while the worst / Are full of passionate intensity. Há várias traduções. Aqui uma delas, que sequer é a melhor, apenas para ajudar a ler: Girando e girando em círculos que se ampliam, / O falcão não pode ouvir os comandos do falcoeiro; / As coisas se despedaçam; o centro se desloca; / A anarquia está à solta no mundo, / A maré tinta de sangue está à solta e por toda parte / A cerimônia da inocência está sendo afogada; / Aos melhores falta qualquer convicção / Enquanto os piores estão plenos de ardor (Paulo Azevedo Soares, em http://www.interpoetica.com/site/index.php?/tradu%C3%A7%C3%B5es/W.B.-Yeats.html, 26/9/2011).
[6] HARVEY, David, O Enigma do Capital, Lisboa: Bizancio, 2011, 1ª edição.
[9] WALLERSTEIN, Immanuel Maurice, O Declínio do Poder Americano, SP: Contraponto, 1ª. ed. 2004.
[11] Leem-se fragmentos do poema “The Wasteland” [Terra Desolada], de T.S.Eliot, em boa tradução para o português, in Obra Completa – Volume I – Poesia. Tradução, introdução e notas de Ivan Junqueira, SP: Art Editora, 2004 (e em http://www.algumapoesia.com.br/poesia2/poesianet149.htm) [NTs].