sábado, julho 30, 2011

"Fiz a bandeira palestina na minha pipa e quando a empino sinto como se estivesse erguendo meu país e minha bandeira, levando-os ao céu"


Palestina: 13 mil crianças empinam pipas

Grupo de crianças do país árabe empinou pipas em Gaza para quebrar recorde anterior da modalidade, que era da China.
Da redação
ONU ONU
Gaza: recorde em pipas
São Paulo - Um grupo de 13 mil crianças empinou pipas em Gaza, na Palestina, nesta quinta-feira (28) para bater o recorde da modalidade. De acordo com informações publicadas no site das Nações Unidas (ONU), a ação aconteceu mesmo após ataque ao acampamento de verão da ONU no país, onde eram realizados jogos para crianças. O recorde anterior, em pipas, era de crianças chinesas: 10.465.

"Superar a China é um feito difícil para as crianças de Gaza", disse o diretor interino da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos (UNRWA) em Gaza, Christer Nordahl. "Trouxemos felicidade para o nosso país quebrando o recorde mundial", disse Nadia el-Haddad, de 13 anos. "Hoje, porque quebramos o recorde mundial, sinto que tenho direitos e que sou como qualquer outra pessoa no mundo."

"Fico feliz quando empino pipa. Somos os melhores!", comemorou Abdullah Musleh, de 11 anos. "Fiz a bandeira palestina na minha pipa e quando a empino sinto como se estivesse erguendo meu país e minha bandeira, levando-os ao céu", contou Rawia Abd el-Dain, também de 11 anos. A ação foi organizada durante os jogos de verão da UNRWA, para 250 mil crianças.

sexta-feira, julho 29, 2011

O Brasil não é um negócio


O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, disse hoje à Agência Reuters que a balança de derivados de petróleo da empresa terá déficit até 2015, em meio à crescente demanda e à limitação na capacidade de refino. Ou seja, que a empresa terá de importar derivados de petróleo para satisfazer o consumo brasileiro.
De outro lado, o que não ficou expresso, é que com nossa crescente produção de óleo bruto, teremos de exportá-lo, sem poder refina-lo aqui.
As pessoas menos informadas dizem: que absurdo, importar derivados e exportar petróleo.
E é mesmo, mas é uma situação da qual não se pode fugir a curto prazo. E que, de quebra, ainda é agravada pela crise do etanol.
Isso é resultado da herança maldita de duas eras que o Brasil atravessou. A que ficou conhecida como “década perdida”, os anos 80 – Governos Figueiredo e Sarney – e o neoliberalismo – Collor e Fernando Henrique .
Até que a Refinaria do Nordeste, a Abreu e Lima, comece a funcionar, no ano que vem, serão 32 anos sem que uma só nova refinaria tenha sido agregada ao parque de refino da Petrobras.
O motivo? Dois, basicamente. O primeiro, é que uma refinaria custa caríssimo – dependendo do tido e capacidade, entre 10 e 20 bilhões de dólares – consome não menos de quatro ou cinco anos para ser implantadas.Tanto que você não vê nenhuma multi falando em fazer refinaria no Brasil. Negativo, querem é concessão para furar poços e extrair petróleo. Beneficiá-lo é coisa para “gente fina”, país desenvolvido.
A segunda razão, claro, é que o país – na recessão ou na “roda presa”, não crescia e, assim, etanol e gás natural completavam as necessidades que surgiam, basicamente o transporte automotivo e a geração sazonal de energia.
Escrevi, ontem, sobre o assunto, um texto que explicava que a Petrobras luta para corrigir este crime cometido contra o Brasil. E luta contra o mercado, ávido por lucros rápidos, que não tem compromisso com o desenvolvimento harmônico do Brasil.
O texto, na íntegra, pode ser lido no blog Projeto Nacional, mas transcrevo aqui um trecho:
“O Brasil precisa, desesperadamente, de novas refinarias de petróleo para chegar perto – chegar perto, prestem atenção – da demanda interna.
Sob pena de se tornar um exportador de petróleo bruto e importador de petróleo refinado.
Igualzinho ao que a “lógica de mercado” nos fez viver, exportando ferro e importando aço.
A Petrobras fez das tripas coração para cumprir seu papel de empresa de mercado, sem deixar de ser empresa de país, do nosso país.
Cortou onde podia cortar. Reduziu e restringiu aos ótimos negócios suas operações no exterior.; Está sofrendo com a falta de ação no mercado de etanol e, como se não bastasse, tendo de investir num setor onde a operação foge de sua cultura empresarial.
Porque, vocês sabem, como o álcool é negócio privado, onde vale o preço de mercado, enquanto que a gasolina, para a Petrobras, tem preço “de governo”.
A Petrobras está segurando a rebordosa nos preços da gasolina nas refinarias e enfrentando toda a sanha dos que procuram e acham espaço na mídia para bater na nossa petroleira.
O que eles não dizem é que querem que ela se lixe para o Brasil, como durante dez anos fez a Vale.
É por isso que refino de petróleo é uma palavra maldita para o “mercado”.
E bendita para o Brasil.”

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O lucro da Vale não é o Agnelli, é o preço do minério

Saiu o Roger Agnelli, entrou o Murilo Ferreira e o lucro da Valefoi lá pra cima. No segundo trimestre, o lucro líquido foi de R$ 10,275 bilhões, 54,9% acima do registrado no mesmo período de 2010.
“O resultado reflete a qualidade superior de nossos ativos em um ambiente caracterizado por forte demanda global e preços elevados de minerais e metais”, afirma a mineradora, em nota.
Aí está o tão falado sucesso de Agnelli: o preço do produto que a empresa vende.
A Vale estatal era ineficiente, esbanjadora ou vendia um minério que custava 15 vezes menos?
A pergunta, agora, é: o que ficou para o país de tamanho salto no valor de nosso minério?
Grandes siderúrgicas? Empregos? Uma cadeia produtiva de fornecedores? Tecnologia? Uma rede de estaleiros montada com as encomendas de transportes? Ao menos royalties para os municípios e estados produtores?
Nada.
Nem mesmo investimentos em outras áreas, lucrativas para a empresa e estratégicas para o pais, como iremos mostrar aqui, logo.
Da Vale,  ficou apenas uma ferida funda no chão e doída no peito dos brasileiros.

quinta-feira, julho 28, 2011

Casal de duas mulheres são heroínas na Noruega

26/7/2011, Matt Akersten (International News), Democratic Undergroundhttp://www.democraticunderground.com/discuss/duboard.php?az=view_all&address=439x1577398

ATENÇÃO: O original dizia "Duas lésbicas". A Vila Vudu NÃO ESCREVE as palavras "lésbica", "homossexual" nem "gay". Aqui é o seguinte: homem é homem e mulher e mulher e todo mundo ama quem quiser, como quiser. E pode alternar. Foi decisão da Vera-Verão, casada com a Lili, e elas dizem que "lésbica" é a mãe. Que elas são mulheres iguais a todas as mulheres. Acatamos, porque, disso, quem entende são elas, não os 'éticos' nem os 'politicamente corretos' (eca!). Que ninguém, nesse mundo, pode garantir nem o 'lesbianismo" nem o "deslesbianismo" de ninguém e que o negócio não depende de decreto. A Vera-Verão diz que "lésbica", "homossexual" e "gay" são palavras discriminatórias. Que, com elas, ninguém tasca. Aqui, tá falado.

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Um casal de duas mulheres que vivem numa ilha próxima de onde o terrorista da direita católica norueguesa Anders Behring Breivik massacrou dezenas de estudantes do Partido Trabalhista na 6ª-feira salvou cerca de 40 pessoas, recolhendo-as em seu barco.

Hege Dalen e sua companheira Toril Hanse fizeram quatro viagens de ida e volta em seu pequeno barco, recolhendo jovens feridos, ensangüentados e assustados.

O casal disse que ouviu tiros e gritos e correu para tentar ajudar.

“Dalen e Hansen levaram seu barco até a ilha e recolheram da água pessoas em estado de choque e feridos e os levaram para a margem” – noticiou a imprensa local, em tradução do “The People’s Forum”. “Várias vezes escapamos de tiros. Tivemos sorte” – disse o casal.

“Não era possível levar todos de uma vez. E elas voltaram quatro vezes à ilha. Calcula-se que salvaram da morte 40 pessoas”. 

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Israel tenta pegar carona na Primavera Árabe

28/7/2011, M K Bhadrakumar, Asia Times Online
http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/MG29Ak02.html

Depois de ter permanecido na sombra por quase oito meses, tentando entender o significado e avaliar os riscos da Primavera Árabe, Israel de repente voltou à cena, na 3ª-feira. Em movimento sem precedentes, o presidente israelense Shimon Peres convocou a imprensa árabe e anunciou que Israel apóia a mudança de regime em Damasco, Síria.

Até agora, Israel dedicara-se, atentamente, a não se identificar com a Primavera Árabe. Preferiu concentrar-se mais no que viria depois de mudados os regimes, do que em promover revolucionários nas barricadas. No caso da Síria, até se chegou a suspeitar que Israel estivesse secretamente envolvida na preservação do regime do presidente Bashar al-Assad, vendo-o como uma espécie de barreira de proteção, entre Israel e o dilúvio (a ascensão de um governo da Fraternidade Muçulmana).

Na 3ª-feira, Peres, num só golpe, apagou qualquer vestígio de ambigüidade estratégica. “Assad tem de sair. Quanto antes sair, melhor para o povo sírio” – disse Peres. O presidente israelense saudou os manifestantes anti-Assad: “É fácil [para os Sírios] sair à rua e protestar. Mas e quando o exército [sírio] atira contra o próprio povo? É espantoso. A coragem e a firmeza são prova da honra dos sírios”.

Peres insistiu em que a mudança de regime em Damasco trabalha a favor da paz entre árabes e israelenses. Mostrou-se absolutamente confiante de que o regime que suceda Assad em Damasco firmará um tratado de paz com Israel: “Os que buscam a paz prevalecerão”.

É novidade absoluta.

Por que Israel optou por expor a própria ambigüidade estratégica em relação à Síria? Israel, afinal, sabe, é claro, perfeitamente, que qualquer mudança de regime em qualquer ponto do mundo árabe, sob as atuais condições, sempre, e necessariamente trabalhará contra os interesses de Israel. O Egito é caso típico em que, se e quando o governo de transição passar o poder a governo eleito, não haverá como algum governo eleito deixar de considerar o forte desejo popular de que uma nova política externa egípcia opere para distanciar o país, ao mesmo tempo, de EUA e Israel.

Uma grande maioria de egípcios exigirá que seu governo eleito distancie-se de qualquer modalidade de cooperação próxima com Israel, em questões econômicas e de segurança. Israel assiste, com ansiedade, a possibilidade de que se construam laços de simpatia entre o Egito e o Irã. O chefe da inteligência militar israelense major-general Aviv Kochavi fez, recentemente, declaração espantosa: disse que o Irã estaria financiando secretamente a Fraternidade Muçulmana no Egito. Em resumo: para Kochavi, Israel não se poderia dar o luxo de ser otimista em relação ao resultado de uma mudança de regime na Síria.

O cálculo de Peres parece ser diferente. O que transparece é que Israel, agora, completou uma avaliação ‘fria’ e concluiu que, de fato, são mínimas as possibilidades de que haja qualquer tipo de mudança de regime em Damasco. Patrick Seal, arabista e autor conhecido, resumiu bem, semana passada:

"A situação em Damasco não chegou à massa crítica. Damasco não se levantou contra Assad, os serviços de segurança não deixaram de apoiar Assad, a economia não entrou em colapso. O regime parece fraco, mas a oposição parece ainda mais fraca. Quanto mais tempo passar, e mais mortos houver, mais difícil será encontrar uma solução. É indispensável encontrar solução negociada. Se não se conseguir isso, haverá guerra civil.”

Israel também parece estar decepcionada por não ver nem sinal de ação internacional concertada contra a Síria, como aconteceu na Líbia. No mínimo, as humilhações e baixas que Muammar Gaddafi lhes está impondo na guerra da Líbia parecem ter ensinado as potências ocidentais a avaliar mais objetivamente a ideia de abrir novo flanco de guerra na Região, dessa vez na Síria, pelo menos em futuro próximo.

Os BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – com o Líbano – estão contendo qualquer movimento das potências ocidentais, impedindo até uma discussão no Conselho de Segurança da ONU sobre a Síria. Recente visita a Damasco, do secretário-geral da Liga Árabe Nabil Elaraby, mostrou que, sim, os ventos regionais já sopram a favor de Assad.

A Turquia, outra vez, contra Israel
Por algum tempo, recentemente, Israel acalentou esperanças de reaquecer os laços hoje moribundos que a ligaram à Turquia, no campo da segurança; e de construir um movimento de pinça ascendente, contra a Síria, pelo norte e pelo sul. As coisas até pareceram estar andando bem nas últimas semanas, rumo a uma normalização das relações Israel-Turquia, com diplomatas dos dois lados trabalhando para neutralizar a amarga lembrança do ataque israelense contra o comboio humanitário que tentava chegar a Gaza vindo de Istambul, ano passado; naquele ataque, morreram nove cidadãos turcos.

Mas a coisa novamente desandou. Transpiraram notícias de que Ancara insiste na exigência de que Israel apresente desculpas formais, o que dificilmente acontecerá porque, se acontecer, implicará expor o exército de Israel a acusação também formal, de prática de crime. Os turcos agora ameaçam punir Israel.

“A bola está no campo israelense. Se pedir desculpas, tudo bem. Se não, teremos de recorrer ao Plano B” – disse um alto funcionário da Turquia à Agence France-Presse. Acrescentou que a Turquia considera acusar e processar formalmente os comandos israelenses que atacaram o comboio humanitário; e que analisa também a possibilidade de “diminuir ainda mais a representação diplomática e adiar o reconhecimento de novos enviados que Israel mande à Turquia”.

O ministro turco das Relações Estrangeiras fez declaração em que critica o recente movimento de Israel, de construir novas colônias nos territórios palestinos ocupados.

Antes, no sábado, o primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, ao falar numa conferências de enviados palestinos em Istambul, disse, na presença de Mahmoud Abbas, da Autoridade Palestina: “A menos que recebamos pedido formal de desculpas pela morte de nove cidadãos turcos, até que suas famílias sejam indenizadas e até que o bloqueio de Gaza seja completamente levantado, as relações entre Turquia e Israel não serão normalizadas”. E ameaçou visitar Gaza.

Ancara sabe que são exigências humilhantes que, ainda que o primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu desejasse atender, num espírito de realpolitik ou pragmatismo, não seriam aceitas pela opinião pública em Israel. Pode-se concluir que os turcos estão trabalhando exclusivamente para dificultar o mais possível, para Israel, o trabalho de recompor as relações entre os dois países. Repentinamente, os turcos parecem ter perdido o ímpeto na direção de “normalizar” as coisas com Israel (como os norte-americanos desejam), na atual conjuntura.

A secretária de Estado dos EUA Hillary Clinton visitou a Turquia há dez dias e fez inúmeras declarações elogiosas ao grande destino da Turquia como líder no Oriente Médio. O novo diretor da CIA-EUA, David Petraeus, também passou pela Turquia, na viagem de volta aos EUA, ao deixar o comando no Afeganistão. Tudo levava a crer que a Turquia morderia o fruto-tentação de aceitar alguma proposta para agir como cabeça de ponte, numa intervenção concertada, contra a Síria.

Mas Ancara avaliou cuidadosamente as vantagens de pôr-se como agente instigador de uma mudança de regime em Damasco. E parece ter chegado à conclusão de que os perigos que se criariam para sua própria integridade territorial ultrapassam em muito qualquer vantagem geopolítica que Washington possa prometer. Em palavras mais simples: não interessa à Turquia ser vista como ‘aliada’ de Israel nesse momento. E assim, desmoronam quaisquer esperanças que Israel acalentasse de começar a romper seu isolamento regional, reinventando um eixo Israel-Turquia, contra a Síria.

O que preocupa Ancara é que os desenvolvimentos na Síria parecem estar tomando rumo perigoso na direção de guerras religiosas, sem qualquer tipo de contenção possível, como as guerras religiosas que devastaram o Líbano nos anos 1980s – o que seria terrível, em país tão próximo da Turquia.

A sequência de eventos disparados pelo terrível assassinato de três famílias da tribo Alawi, mortos por extremistas salafitas na cidade de Homs, próxima da fronteira turca, é prova das consequências gravíssimas que adviriam de qualquer desvio incontrolado que aconteça nos movimentos democráticos na Síria – que, nos últimos meses, têm sido patrocinados por Ancara.

Uma onda de ressentimento anti-salafitas varre a Região, entre xiitas e alawitas. As paixões sectárias e religiosas ameaçam como vírus adormecido. Ancara é suficientemente sensível para saber que há extremistas salafitas, muitos dos quais ligados à al-Qaeda e veteranos calejados da guerra do Iraque, infiltrados nas manifestações de rua na Síria.

Se irromper na Síria uma guerra civil semelhante a que houve no Líbano, será apenas questão de tempo, e a Turquia também se incendiará. Os xiitas e alawitas na Turquia (cerca de 20% da população turca) envolver-se-ão instintivamente na guerra síria. Na sociedade turca, as tensões entre alawitas e salafitas são visíveis, bem à superfície.

Os grupos alawitas na Turquia formaram uma organização guarda-chuva conhecida como Fundação Alawi-Bektashi, que regularmente distribui manifestos para sensibilizar a comunidade mundial sobre alegadas “violações de direitos dos alawitas, casos de tratamento desigual e discriminatório” e “crimes de ódio” cometidos por salafitas associados à comunidade Fetullah Gulen.

O último desses manifestos alawitas, intitulado “A comunidade Gulen contra os alawitas” detalha que a comunidade Gulen de salafitas na Turquia está empenhada em “guerra negra de propaganda contra os alawitas”, acusados de ter “tomado o judiciário e o exército. Na Turquia há um secularismo sectário. Uma elite alawita governa como quer as massas sunitas”, e por aí vai.

Reação dos curdos

Mas o risco contra o qual a Turquia tem realmente de precaver-se é a quase inevitável reação dos curdos, cujos primeiros sinais começam a aparecer. O apoio da Turquia à oposição síria já expôs alguns sinais da proximidade entre os curdos e Damasco.

Se for empurrada para as cordas, Damasco pode retaliar contra a interferência turca, garantindo a cidadania síria aos colonos curdos que vivem no nordeste da Síria, sobretudo em Qamishli, o que sem dúvida será causa de graves dores de cabeça para Ancara, no longo prazo.

Bem visivelmente, os partidos curdos já se estão separando dos salafitas no norte da Síria, e sinalizam a disposição para trabalhar a favor do regime sírio. Há quem diga que, se a situação deteriorar, Damasco poderá ficar sem alternativa senão armar os grupos curdos para oporem-se aos salafitas.

Em resumo, Ancara sabe que patina sobre gelo muito fino, se contribuir para empurrar o regime sírio na direção de uma posição sem volta. A verdade mais simples é que os curdos como fazem invariavelmente adotarão a posição que Ancara adote. Abudllah Ocalan, líder do Partido dos Trabalhadores do Curdistão, viveu muitos anos exilado na Síria.

A questão da interferência da Turquia na Síria já levou os destacados líderes curdos Jalal Talabani (que é presidente do Iraque) e Massoud Barzani (que é presidente da Região Curda) a manifestarem apoio a Damasco. (O primeiro-ministro do Iraque, Nuri al-Maliki, também manifestou solidariedade ao regime sírio, ao assinar acordo para fornecer 150 mil barris de petróleo à Síria.)

Noutro momento, foi vitória histórica da “diplomacia coercitiva” da Turquia que, em 1998, Ancara tenha reunido tropas na fronteira síria, ameaçando invadir o país e, com isso, conseguiu literalmente obrigar Damasco a aceitar a “desmilitarização” das regiões de fronteira com a Turquia – e a expulsar Ocalan.

Agora, no contexto de uma possível interferência turca na atual situação, Damasco já enviou forças especiais para a região da fronteira com a Turquia, depois de 13 anos de “desmilitarização” daquela área.

Além disso, Damasco optou por mandar para a fronteira a 15ª Divisão de seu exército, formada predominantemente de sunitas e comandada por oficiais sírios sunitas – esvaziando o fácil pressuposto dos turcos, de que os oficiais sunitas do exército sírio estariam a ponto de desertar e abandonar o regime de Assad.

Em termos gerais, Israel acertou ao avaliar que os turcos começam a entender a mensagem de Assad, e preparam-se para alinhar-se ao lado do regime sírio.

Ancara já começa a baixar o tom da retórica anti-Síria e gradualmente está retomando sua velha plataforma de “zero problemas” com os vizinhos difíceis.

Ironia, nesse processo, é que Ancara também está sendo compelida a retomar termos mais amigáveis com o Irã e lançou ofensiva militar concertada contra guerrilheiros curdos no norte do Iraque, depois que 13 soldados turcos foram mortos, dia 14 de julho, na província de Diyarbakir, no leste da Turquia.

Em movimento brilhante, de timing impecável, o exército do Irã iniciou operações dia 16 de julho contra os rebeldes curdos nas montanhas Kandil no norte do Iraque. Paralelamente, os militares turcos também iniciaram operação no território iraquiano próximo da fronteira, na província de Hakkari, no leste da Turquia.

Ancara está fazendo o que pode, declarando que as operações iranianas e turcas não foram coordenadas. Talvez não, no plano oficial. Teerã não desmentiu. Mas os israelenses são suficientemente espertos e sabem perfeitamente bem o que está acontecendo – que alguém está trabalhando para refrescar a memória dos turcos, obrigando-os a considerar que ainda há um problema curdo não resolvido; que Ancara tem de prestar atenção aos curdos; e que, quanto a isso, Turquia, Síria, Iraque e Irã têm interesses comuns.

Evidentemente, Israel concluiu que o eixo Síria-Irã permanece intacto em larga medida, apesar da descomunal pressão que faz a Arábia Saudita, para que Assad rompa com Teerã; que o regime sírio absolutamente não está à beira do colapso, apesar da pressão organizada que sofre da Turquia, da Arábia Saudita, da França e dos EUA; e que o Qatar – o qual, dentre os estados árabes do Golfo Persa, sempre é o mais rápido – já adivinhou que a Primavera Árabe na Síria será disputa duríssima, muito mais dura que na Líbia; e que Doha de modo algum planeja entrar em luta de pesos muito mais pesados que ela.

Interessante observar que o Qatar fechou sua embaixada em Damasco e deu o fora, depois dos ataques às embaixadas dos EUA e França e à sede da rede al-Jazeera na capital síria. Mais importante que isso, Israel constata que a Turquia já começou a retroceder, na trilha que poderia levá-la a intervir na Síria.

Em resumo, o espectro que ronda Israel é que, se os tumultos na Síria começarem a arrefecer, a atenção da comunidade internacional inevitavelmente voltará a concentrar-se na questão palestina. Abbas ainda não desistiu de obter da ONU que reconheça o Estado da Palestina, na próxima sessão da Assembleia Geral, em New York, em setembro.

A surpreendente declaração do presidente Peres é esperta tentativa para (re)incendiar a questão síria. Interessa muitíssimo a Israel que, no caso de que irrompa na Síria outra guerra civil nos moldes da guerra do Líbano, árabes, curdos e turcos ponham-se a matar-se uns os outros.

Em nenhum outro momento da Primavera Árabe, que raiou no Maghreb em dezembro passado, cobrando a vida de um vendedor de rua em Túnis, alguém previu que chegaria o dia de Israel apresentar-se como garota-propaganda da democracia no Levante, embora para expandir a guerra. O Oriente Médio é caixinha inesgotável de surpresas. 

Neoliberalismo: a maior ameaça aos valores ocidentais


27/7/2011, Tarak Barkawi, Al-Jazeera, Catar


O estilo paranóico de fazer política frequentemente constrói as mais improváveis alianças, que se converteriam em terríveis ameaças, a serem destruídas por todos os meios necessários.

Em Choque de Civilizações, Samuel Huntington inventou um oriente amalgamado – uma aliança entre potências “confucianas” e “islâmicas” – que desafiariam o ocidente, para arrebatar-lhe o cetro da dominação mundial. Muitos jihadis temem a aliança de Cruzados entre judeus e cristãos. Esquecem que, há bem pouco tempo, em termos históricos, populações cristãs foram empenhados carrascos dos judeus.

Agora, Anders Breivik invocou um improvável eixo de marxismo, multiculturalismo e islamismo que, unidos, ameaçariam colonizar a Europa. Dado que vê o multiculturalismo como conspiração, Breivik conseguiu misturar velhos discursos fascistas numa só nova conspiração de comunistas, judeus e muçulmanos.

Como outros terroristas que matam em nome de seitas islâmicas, Breivik quer massacrar pessoas em nome de uma pureza inventada. A Noruega moderna só se tornou estado soberano em 1905; é retardatária, pode-se dizer, na comunidade das nações. No plano imaginário, é resultado da imaginação de vikings, exploradores do Ártico e assistentes humanitários de todo o planeta.

Se se considera a rapidez com que a literatura jihadi é descartada como loucuras, chama a atenção o quanto tantos estão levando a sério o mix ideológico ensandecido de Breivik. É fenômeno muito preocupante as análises que dizem que se deveriam enfrentar com mais atenção “as causas radicais” da loucura de Breivik – a imigração e a diferença cultural. Se assim não for feito, as sociedades europeias perderão a coesão social, para usar eufemismo muito recorrente para a “coesão do Volk [povo]”.

Se se acredita nisso, até se poderia perdoar a extrema direita que conclua que o terrorismo funciona. Quanto ao resto da humanidade, que hoje assiste a terroristas que se reimaginam, dos dois lados de batalhas obscuras de um passado mítico, podemos bem sentir saudades dos insurgentes e revolucionários de antigamente e suas guerrilhas anticoloniais. Esses, pelo menos, sabiam oferecer argumentos plausíveis a favor de suas lutas. 

Para garantir-se, taticamente falando, Breivik construiu uma reflexão, enquanto preparava sua operação. Mas, diferente de muitos jihadis, faltou-lhe a indispensável coragem para enfrentar inimigos armados como ele, e para oferecer a própria vida – além de vidas alheias – à causa em que crê. Apesar disso, quis que sua rápida aparição em cena tivesse algum tipo de solenidade e uniforme militares.

Uniformes bem talhados por alfaiates – essa aberração da diferença cultural – e um desejo de pureza racial são itens que nunca faltam ao misticismo fascista. Como na ideologia jihadi, são precisamente os elementos não racionais do fascismo que lhe dão potência emocional e, portanto, política. Porque o que Breivik e outros veem como ameaçada no ocidente é a fonte do significado, os valores essenciais, que eles associam à comunhão com um povo purificado.

Dado que o ocidente não enfrenta, obviamente, nenhuma ameaça existencial dessa escala e de tão amplo significado, é preciso inventar uma. Nesse preciso ponto, a improvável aliança de partidos de esquerda e o Islã cumpre sua função, com uma pressuposta invasão em massa de muçulmanos para colonizar a Europa. Na população da Noruega, há menos de 3% de muçulmanos; na Grã-Bretanha, menos de 5%. Apesar disso, o medo fantasmático de “perder” a Europa para o Islã anima muitos direitistas; é parte da política eleitoral dominante na Europa e há muito tempo é item sempre presente nos discursos da direita nos EUA.

Nessa visão de perigo ameaçador, o multiculturalismo tem papel chave. Muitos terão percebido a estranha referência, nos escritos de Breivik, a “marxistas culturais”, gente que eu, pessoalmente, só vi, e sempre em grupos pequenos, em departamentos de grandes universidades e em bares freqüentados por universitários recém-formados. Breivik faz referência à Escola de Frankfurt, um grupo de intelectuais judeus alemães que trocaram Hitler pelos confortos ocidentais cosmopolitas de New York.

A ideia é que “judeus” teriam encorajado a mestiçagem cultural no ocidente, comprometendo assim, fatalmente, a pureza do ocidente e, portanto, os valores ocidentais, ao mesmo tempo em que muçulmanos e judeus preservariam as respectivas força e identidade culturais. A Europa, pois, declararia “independência” e iniciaria o combate contra as hordas muçulmano-judeu-marxistas, a começar, parece, por matar os mais jovens.

Pode-se assumir que Breivik confundiu as fantasias dos jogos de computador de que é adepto – seu avatar é uma loura de busto avantajado, codinome “Conservadorismo” – e análise política. Mas o que realmente assusta é que o núcleo mais duro de sua visão do multiculturalismo como ameaça ao ocidente aparece, idêntico, também nos grandes partidos políticos na França, na Grã-Bretanha, na Alemanha e na Itália, dentre outros países. Por isso, precisamente, há alto risco de que a matança covarde de Breivik alcance alguns de seus objetivos. A imigração, dirá alguém, desequilibrou a homogeneidade do “nosso” povo. Já se ouve, aliás, precisamente isso, em todas as potências ocidentais.



Cale a boca, obedeça e colabore
A ironia disso tudo, é que o ocidente já nos impôs o império em escala global, extraindo sua força cultural, econômica e política das interconexões com todas as partes do mundo. As Cosmópolis de New York, Londres e Paris – um ocidente ‘moreno’, não mais ‘branco’ – são vitrines muito mais perfeitas de um ocidente cheio de arrogância, poder e confiança em seus valores, que qualquer purificação fantasiosa construída em campos de trabalhos forçados e fronteiras fechadas.Mas... o que estaria corroendo os valores ocidentais?Essa foi uma das perguntas que mobilizaram a Escola de Frankfurt e os que a influenciaram. Dedicaram-se a pensar sobre a interação entre capitalismo e cultura. Apontaram os modos pelos quais o capitalismo, progressivamente, converteu tudo em produto que pudesse ser comprado ou vendido, medindo os valores só pelo valor mais baixo. Lentamente, mas sem jamais parar, essas medições passaram a aplicar-se também aos valores culturais no cerne da sociedade. Até o tempo, como nos ensinou Benjamin Franklin, é dinheiro, doutrina que horrorizou Max Weber, que acusou a mentalidade capitalista de ser uma “gaiola de ferro” sem “espírito”.Vejam-se, por exemplo, os modos pelos quais as grandes vocações profissionais do ocidente – advogados, jornalistas, professores-doutores, médicos – foram cooptados e corrompidos pelo pensamento de melhor preço de compra/venda. Dinheiro e “eficiência” são os valores pelos quais nos norteamos e pelos quais damos a vida; não a lei, a verdade ou a saúde. Os alunos são imaginados como “consumidores”; os cidadãos, como “acionistas”. As associações profissionais defendem pisos salariais, não qualquer dos valores que elas existem para manifestar. Alunos formados pelas universidades de elite do ocidente, imbuídos do que aprenderam de nossos maiores pensadores, são mandados trabalhar em empresas como News International. Ali aprendem a calar a boca, obedecer e colaborar no serviço imundo da exploração em busca do lucro, serviço pelo qual são bem recompensados, pelo menos em termos financeiros.Graças em parte à força das garras do poder incorporado na imprensa e nos grandes partidos políticos, poucos hoje, no ocidente, conseguem imaginar qualquer outra política que não seja a política da ‘grande finança’. Nos EUA, e cada dia mais na Europa, a diferença de renda entre os pobres e os ricos aproxima-se da que se vê em repúblicas-de-banana. Os mais pobres são mandados arcar sob o peso de uma crise financeira criada por banqueiros. Os ricos, nos EUA, despacham os filhos para acampamentos de verão a bordo de jatos privados, em país no qual a taxa de desemprego já ultrapassou 15%.O neoliberalismo só fez acelerar esses processos no coração da sociedade capitalista. Aqui, sim, se vê ameaça muito mais grave aos valores ocidentais e à “coesão social”, que qualquer medo inventado por fascistas lunáticos. O mais grave é que essa ameaça vem de dentro, não de fora. Na linha de frente da resistência contra essa ameaça, isso sim, lutam partidos como o Partido Trabalhista da Noruega – alvo que Breivik escolheu. É preciso conter os efeitos corrosivos do capitalismo e, só assim, se poderá pensar em garantir alguma sobrevivência aos valores ocidentais humanos.

A TV não mostrou...



Cerimônia de encerramento dos 5º Jogos Mundiais Militares. Arranjo a seis pianos com Antonio Adolfo, Wagner Tiso, Arthur Moreira Lima, João Carlos de Assis Brasil, Nelson Ayres e Amilton Godoy.


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Murdoch falava MUITO MAIS com seus editores, do que diz


Oliver Wright é autor de The Man Who Owns the News [O dono da notícia] (2008), biografia de Rupert Murdoch

Da discussão de pauta, cá na Vila Vudu:

“Vam traduzi isso aí, sim. Taí o caso Murdoch, prá prová comé o negócio.
Os nossos ministros dos nossos governos Lula-Dilma têm de pará coesse papim-fraco de dar entrevista pro grupo GAFE (Globo-Abril-Folha-Estadão) do desjornalismo brasileiro.

Um dia, a casa cai prôs Murdochs do grupo GAFE Brasil-2011, os carin lá vai tudo pará na cadeia... e comé kefica quem vivia em convescotes com eles?! Já não basta a presepada dos Mervais e Miogos Dainardis e Goldembergs e Cerras & tucanaria udenista golpista, em lambeção de bota côs sub-dos-subs da embaixada dos EUA, como WikiLeaks noticiou?!

Se, no Brasil os jornalistas são “idiotas que perderam a modéstia” (e são!), por que, diabos, o Jobim vive a dar entrevistas por aí, prôs mesmos idiotas arrogantes do grupo GAFE?

Deu pá entendê, ministro Jobim... OU A GENTE VAI TÊ Q DESENHÁ?!

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Rupert Murdoch mantinha contato muito mais próximo e mais frequente com os editores de seus jornais londrinos do que admitiu no depoimento a deputados do Parlamento inglês, semana passada –, disse ontem seu biógrafo.

Michael Wolff, que gravou mais de 60 horas de entrevista com Rupert Murdoch para sua biografia semiautorizada, disse que o presidente e principal executivo da empresa News Corp passava “mais da metade do dia, todos os dias” envolvido com os jornais e conversava regularmente com os editores sediados em Londres sobre matérias a serem publicadas.

Semana passada, em depoimento ao Parlamento, Rupert Murdoch declarou que “só muito raramente” conversava com seus editores em Londres, e acrescentou: “Vocês não fazem ideia da quantidade de assuntos de que tenho de tratar diariamente. Acabei por perder de vista o The News of the World, talvez porque era pequeno demais, praticamente insignificante no contexto geral de minha empresa”.

Mas em entrevista ao Independent, Mr. Wolff, que teve o mais irrestrito acesso à intimidade da família Murdoch quando escrevia The Man Who Owns the News publicado em 2008, disse que Rupert Murdoch sempre foi proprietário muito mais presente e ativo do que agora admite.

“O envolvimento [de Murdoch] com os jornais sempre foi total” – disse Wolff. “Rupert foi chamado a depor, e seus advogados disseram ‘Você tem de dizer que não se envolvia com os jornais’. E ele foi e mentiu.”

E acrescentou: “Estive com ele durante horas e horas. Todas as vezes em que trabalhamos, ele atendia, pelo menos, um telefonema e muitas vezes atendia vários telefonemas, de Londres. Sempre eram os editores – James [Murdoch] e Rebekkah [Brooks].

“Pelas minhas contas, ele passava metade do dia envolvido diretamente no dia a dia dos jornais. Ele trabalha assim. Ele telefona – e pergunta sobre as manchetes. Quer saber o que está sendo preparado. Quer saber de onde vieram as matérias. É sempre muito preciso quando fala de uma ou outra matéria, quando pensa sobre uma matéria, ao analisar a substância da história: se é boa, ou se é fraca.”

Mr. Wolff lançou dúvidas sobre as declarações de que a empresa News Corp nada teria tido a ver com a indicação de Andy Coulson para trabalhar com David Cameron. Disse que acredita que tenha sido parte de uma estratégia construída por Rebekkah Brooks e James Murdoch, para conseguir que Rupert decidisse apoiar o então líder da oposição.

“Em 2007, quando eu estava preparando o livro, Rupert não tolerava Cameron” – disse Mr. Wolff. “Falava abertamente contra ele, sempre com desdém. Depois, começou a dizer “meu filho gosta dele e vou ter de confiar no que meu filho diz. A decisão será do meu filho.”

“Rebekkah fez campanha, se não para obter o apoio de Rupert a Cameron, pelo menos para reduzir a antipatia que Cameron lhe inspirava. Parte dessa campanha foi a indicação de Andy Coulson. Pessoalmente, não tenho dúvidas que houve uma barganha: para atrair Rupert na direção de Cameron. Rebekkah incluiu Andy no processo, como alguma espécie de garantia, para convencer Rupert a apoiar Cameron.”

Na opinião de Mr. Wolff, que rompeu espetacularmente com Rupert Murdoch depois da publicação do livro, o papel crucialmente decisivo que Murdoch desempenhava na empresa está hoje gravemente comprometido.

“Agora, estamos diante de um fato consumado. Não há como voltar atrás. É impossível meter a pasta de dente de volta no tubo” – diz ele.

Encontros com ministros...

George Osborne [desde maio de 2010, é Ministro da Fazenda do Reino Unido, Chancellor of the Exchequer]

Teve dois encontros com Rupert Murdoch depois da eleição de maio de 2010; quatro com seu filho, James Murdoch; cinco com a ex-editora executiva de Murdoch na empresa News International, depois de presa, acusada de participação no crime de grampeamento ilegal de telefones; e um encontro com Elisabeth Murdoch. Convidou Elisabeth Murdoch para sua festa de aniversário.

Jeremy Hunt [Secretário de Estado da Cultura, Jogos Olímpicos, Mídia e Esportes]

Teve dois encontros em janeiro de 2011 com James Murdoch para “delinear o processo da fusão da BSkyB”. Jantou com Rupert Murdoch dias depois da eleição geral.

Michael Gove [Secretário de Estado da Educação]

Rupert Murdoch almoçou ou jantou seis vezes com Michael Gove a partir das eleições, mais do que com qualquer outro ministro do Gabinete. Gove reuniu-se uma vez com James Murdoch.

Liam Fox [Secretário da Defesa do Reino Unido]

Três reuniões com executivos da empresa News International, nas quais o ministro passou-lhes informes da Defesa (em agosto do ano passado e em março e junho de 2011). Rebekkah Brooks esteve presente às três reuniões; James Murdoch participou de duas; e Rupert Murdoch, de uma.

O que acontecerá depois de Gaddafi?

26/7/2011, Yevgeny Primakov [entrevista a Matthias Schepp e Bernhard Zand] Spiegel http://www.spiegel.de/international/world/0,1518,776509,00.html
Yevgeny Primakov , 81, é ex-primeiro-ministro,
ministro da Relações Exteriores e Chefe do Serviço de Inteligência da Rússia

Spiegel é uma revista (não)VEJA em alemão – o que se percebe pelo tom arrogante metido a besta, dos jornalistas entrevistadores.
Mas é melhorzinha que a revista (não) VEJA (pior não há, no mundo!).
E o entrevistado é interessante (motivo pelo qual nunca seria entrevistado pela revista (não)VEJA).

Spiegel: Sr. Primakov, qual o país árabe que atualmente mais o preocupa?

PRIMAKOV: Líbia. A tentativa da coalizão ocidental de derrubar a bombas o regime de Gaddafi não foi autorizada pela Resolução n. 1.973 da ONU – e foi mal concebida, em termos estratégicos. É mais que hora de encontrarmos uma solução política para a crise da Líbia.

Spiegel: O ministro Sergey Lavrov, das Relações Exteriores da Rússia, reuniu-se com o ministro líbio das Relações Exteriores, semana passada, em Moscou. E diplomatas franceses e americanos também já iniciaram contatos com representantes do governo de Gaddafi.

PRIMAKOV: A verdade é que a OTAN meteu-se num beco sem saída. Ninguém dá sinais de interesse em propor as questões realmente importantes, como, dentre outras: Para onde essa guerra os está levando? E o que acontecerá depois de Gaddafi? Será que todos já esquecemos o que houve no Iraque? Oito anos de caos! Bombardeios diários, mortes diárias. Será que alguém ainda acredita que isso seja “estabilidade”?

Spiegel: O senhor esteve várias vezes com o coronel Gaddafi. Como devemos tratá-lo?

PRIMAKOV: Não sou dos que idealiza o coronel Gaddafi. Longe disso. Há quarenta anos, quando derrubou o rei Idris, Gaddafi tinha contato com o presidente Gamal Abdel Nasser do Egito. Gaddafi supunha que, se bem pago, Nasser o ajudaria a conseguir que a União Soviética lhe vendesse uma bomba atômica. Gaddafi pensava exatamente como um beduíno.

Spiegel: E hoje?

PRIMAKOV: Está mais velho e muito mais experiente, mas a Líbia ainda é uma ditadura – embora seja apoiada por parte da população. Muita gente oferece-se para proteger, como escudos humanos, os locais onde Gaddafi pernoita. São voluntários.

Spiegel: O que o senhor propõe, como solução para a crise da Líbia?

PRIMAKOV: Não se pode nem falar de missão de mediação, porque já está decidido que tentarão levar Gaddafi a julgamento na Corte Internacional de Justiça em Haia. Mas a Rússia não quer que a Líbia naufrague no caos. A única possibilidade é tentar uma reaproximação entre os dois lados que estão em conflito.

Spiegel: Como uma mediação dos russos poderia ser bem sucedida?

PRIMAKOV: Porque tentamos manter uma posição de equilíbrio entre os dois lados. A OTAN está, de fato, alinhada a um dos lados, nessa guerra civil. Nessas circunstâncias, a OTAN nada poder mediar.

Spiegel: Pouco depois de o primeiro-ministro russo Vladimir Putin criticar as resoluções sobre a Líbia como “convocação para uma Cruzada”, o presidente Dmitry Medvedev declarou que aquelas palavras seriam “inaceitáveis”. Há diferentes vozes em Moscou?

PRIMAKOV: Putin não quis vetar a resolução da ONU. E Medvedev, como ele, disse que a resolução não autorizou os ataques da OTAN. As posições de ambos são praticamente iguais; as diferenças são mínimas.

Spiegel: Afinal, a Rússia absteve-se de votar, como Brasil, China, Alemanha e Índia. O senhor acredita que a Rússia deveria ter vetado as resoluções da ONU?

PRIMAKOV: Não. Se as tropas líbias continuassem a atacar por mais dois, três dias, Gaddafi teria tomado Benghazi. Haveria um banho de sangue. A Resolução n. 1.973 é, sem dúvida, excessivamente vaga; mas uma zona aérea de exclusão significa exclusivamente destruir ou incapacitar toda a força área e as defesas aéreas de Gaddafi. Mas a OTAN pôs-se a bombardear grupos de soldados, refinarias de petróleo, os palácios de Gaddafi e até civis. Não há qualquer tipo de autorização legal para esses ataques. (...)

Spiegel: O senhor interpreta a abstenção, no caso da Alemanha, como dar as costas ao ocidente?

PRIMAKOV: Sou realista. As relações entre a Alemanha e os EUA permanecem intactas. Não suponha que os russos nos pomos a festejar, no instante em que Alemanha e EUA discordam. Não sejamos primitivos.

Spiegel: De qualquer modo, o senhor não parece considerar excelentes as políticas da OTAN para o Oriente Médio.

PRIMAKOV: Vejo uma tendência explosiva: a OTAN deseja deslocar e substituir a ONU. Sempre apoiei que a ONU pudesse delegar missões de paz, para alianças regionais. Mas a OTAN age independentemente, não se subordina à ONU – e age em todo o planeta.

Spiegel: Em que diferem as políticas russas para o Oriente Médio e as políticas ocidentais?

PRIMAKOV: A principal diferença é que estamos convencidos de que é impossível impor decisões a estados soberanos. Tampouco gostamos do que está acontecendo no Oriente Médio. Mas não acreditamos que alguém consiga resolver com bombas, seus problemas políticos. Os russos conhecemos e entendemos o Oriente Médio melhor que muitos países ocidentais. Sabemos que é indispensável considerar a história, as mentalidades, as tradições. Não acredito que alguma democracia baseada em modelo europeu seja viável nos países da Primavera Árabe.

Spiegel: O senhor acha que uma “democracia guiada” pelo modelo russo funcionaria melhor no Oriente Médio?

PRIMAKOV: Em geral sou contra prescrições e recomendações. Os países árabes têm de decidir, eles mesmos, como desejam ser governados.

Spiegel: Os russos previram os levantes populares no mundo árabe?

PRIMAKOV: Não. Como o ocidente, supusemos que só os movimentos islâmicos conseguiriam levar ao colapso os regimes autoritários pós-coloniais. Agora, vemos que há outras forças também ativas. Subestimamos a influência da globalização e da modernização, especialmente o poder da televisão e da internet. Seja como for, a verdade é que a crise no Oriente Médio tem sida apresentada de modo muito simplório.

Spiegel: O que o senhor quer dizer?

PRIMAKOV: A cobertura pelos jornais e televisão é enviesada e, simultaneamente, exagerada. Por exemplo, alguém viu alguma prova exibida na CNN e na Al-Jazeera, de que Gaddafi estaria cometendo genocídio? Há atrocidades dos dois lados, mas a cobertura de imprensa vária vezes pesou excessivamente a favor de um lado e sempre a favor do mesmo lado.

Spiegel: Por que a Rússia teria direito de criticar as políticas imperiais dos EUA? Se os EUA têm uma base militar no Bahrain, o Kremlin tem uma base militar na Síria...

PRIMAKOV: Há uma sutil diferença. Os 2 mil soldados e policiais sauditas sunitas dos Emirados Árabes que invadiram o Bahrain para sufocar as manifestações populares jamais o fariam sem as bênçãos dos EUA. E os russos em nenhum caso apoiaremos qualquer tipo de intervenção na Síria.

Spiegel: Mas os russos também querem preservar ali o status quo...

PRIMAKOV: Depois da experiência com a Resolução para a Líbia, é recomendável que todos cuidemos de pensar melhor. Ninguém no ocidente, até agora, dedicou-se a saber quem, de fato, está fazendo oposição a Assad. Há, claro, alguns democratas genuínos, mas também há grupos islâmicos e da ‘franquia’ da Al-Qaeda. É difícil saber quem é maioria. A Fraternidade Muçulmana na Síria é diferente da egípcia. No Egito, hoje, os irmãos da Fraternidade Muçulmana já admitem cristãos no partido.

Spiegel: Em 2007, o senhor disse que Assad continuava a ser “homem de profunda visão estratégica”. O senhor mantém, hoje, a mesma avaliação?

PRIMAKOV: Assad é previsível. Sejamos honestos: o ocidente não está, de modo algum, preocupado com alguma democracia. A única coisa que realmente preocupa o ocidente é a proximidade entre a Síria e o Irã. Encontrei-me várias vezes com o pai de Assad, Hafez – que me disse, certa vez, que o que mais desejava evitar, por todos os modos, seria um confronto com os israelenses, no qual a Síria estivesse sozinha. Hoje, o conflito entre Israel e palestinos é que força a Síria a manter-se unida ao Irã.

Spiegel: EUA e todo o ocidente consideram vital a estabilidade da região do Golfo e, especialmente, da Arábia Saudita. O senhor concorda?

PRIMAKOV: Ninguém deseja uma Arábia Saudita instável. Nem nós desejamos, nem o rei Abdullah deseja. Ele rapidamente distribuiu $36 bilhões de dólares [25 bilhões de euros] ao povo, depois do início das revoluções na Tunísia e no Egito. Quer dizer... Se o rei permitir que as mulheres dirijam... logo florescerá ali a mais bela democracia (risos).

Spiegel: O islamismo militante, ou “jihadismo”, teve grande expansão sob autocratas como Nasser, Assad e Saddam Hussein – e todos contaram com o apoio da União Soviética. Que parte cabe a Moscou, da culpa pela atual situação no mundo árabe?

PRIMAKOV: E, do outro lado, o ocidente apoiava os ditadores na Tunísia e no Egito. Que parte cabe ao ocidente, pelo que se vê agora?

Spiegel: O senhor está dizendo que os dois lados são culpados?

PRIMAKOV: Não, tampouco diria isso. Fui das primeiras vozes a reagir contra a ideia, que se ouviu em Moscou, de que o ocidente estaria fomentando as revoluções árabes. Os EUA foram apanhados de surpresa. Afinal, Mubarak foi, por muitos anos, parceiro do ocidente na luta contra o terrorismo.

Spiegel: Será que ultrapassamos a era dos líderes autoritários no Oriente Médio?

PRIMAKOV: Não. Creio que teremos lá governos mais democráticos que antes, mas nos quais ainda haverá traços autoritários.

Spiegel: Hillary Clinton diz que os líderes chineses temem que as revoltas árabes respinguem na China. O Kremlin também está nervoso ante a fúria dos jovens russos?

PRIMAKOV: Temos nossas contradições. Mas os eventos árabes não têm qualquer influência nos processos internos na Rússia. Por mais que respeite Hillary, discordo de seus juízos sobre a China.

Spiegel: O Oriente Médio foi, durante décadas, cenário da Guerra Fria. A China, agora, está assumindo o papel que coube à Rússia, como principal adversário na Região?

PRIMAKOV: A história não se repete, e esse tipo de jogo de soma-zero é coisa do passado. Já não há superpotências.

Spiegel: O senhor está dizendo que a China não será superpotência?

PRIMAKOV: Com certeza não será. A China crescerá, os chineses são ambiciosos. Já é a segunda maior economia do mundo. Mas, hoje, vivemos em mundo multipolar, com relações difíceis entre os pólos.

Spiegel: Que papel a Rússia desempenhará?

PRIMAKOV: Seremos um pólo, entre vários outros. E nossa força dependerá de conseguirmos, ou não, modernizar nossa economia.

Sayyed Khamenei: A propaganda ocidental contra o Islã


O Supremo Líder do Irã, Aiatolá Sayyed Ali Khamenei disse, no domingo, que os poderes do ocidente trabalham para comprometer a imagem dos muçulmanos, distorcendo os fatos e servindo-se da imprensa como instrumento de propaganda.

Em fala dirigida às forças navais do Irã e ao pessoal do Corpo de Guardas da Revolução Islâmica [ing. Islamic Revolution Guards Corps (IRGC)] no porto de Bandar Abbas, no sul do Irã, Sayyed Khamenei comentou os recentes ataques terroristas na Noruega.

“Os crimes recentemente cometidos num país do norte da Europa foram, desde o primeiro instante apresentados como ação de muçulmanos. Assim o ocidente opera, usando a imprensa como instrumento de propaganda” – disse Sua Eminência. “A propaganda ocidental é sempre o mal. Existe para falsear os fatos” – completou.

Na 6ª-feria, pelo menos 94 pessoas foram mortas e centenas foram feridas em duas ações terroristas conjugadas: um ataque a bomba em Oslo, capital da Noruega, e um tiroteio contra uma multidão reunida numa ilha nos arredores da cidade. Um dos terroristas, Anders Behring Breivik, que confessou seu envolvimento no ataque armado, professa ideias de extrema direita. Breivik não escondeu seu ódio aos muçulmanos, aos partidos da esquerda e à ala jovem do Partido Trabalhista da Noruega, pela internet, antes dos ataques.

Sayyed Khamenei também fez referência à onda de levantes populares no mundo islâmico no Oriente Médio e Norte da África e conclamou os cidadãos a perseverarem em suas mobilizações e a não se deixarem distrair dos objetivos centrais de seus levantes. “A única salvação possível para as nações da Região é o caminho da revolução. Gradualmente, os resultados aparecerão, como já estão aparecendo” – disse o Aiatolá Khamenei.