segunda-feira, julho 19, 2010

EUA compram jornalistas na Venezuela


Por Eva Golinger *
15.07.10 - AMÉRICA LATINA E CARIBE

Mais de 150 jornalistas foram capacitados e treinados pelas agências estadunidenses e 25 páginas da internet foram financiadas na Venezuela com o dinheiro estrangeiro.

Documentos recentemente desclassificados do Departamento de Estado dos Estados Unidos através da Lei de Acesso à Informação (FOIA, por suas siglas em inglês) evidenciam mais de 4 milhões de dólares em financiamento a meios e jornalistas venezuelanos durante os últimos anos.

O financiamento tem sido canalizado diretamente do Departamento de Estado através de três entidades públicas estadunidenses: a Fundação Panamericana para o Desenvolvimento (PADF, por suas siglas em inglês), Freedom House e pela Agência de Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos (Usaid).

Em uma tosca tentativa de esconder suas ações, o Departamento de Estado censurou a maioria dos nomes das organizações e dos jornalistas recebendo esses fundos multimilionários. No entanto, um documento datado de julho de 2008 deixou sem censura os nomes das principais organizações venezuelanas recebendo os fundos: Espaço Público e Instituto de Imprensa e Sociedade (IPYS).


Espaço Público e IPYS são as entidades que figuram como as encarregadas de coordenar a distribuição dos fundos e os projetos do Departamento de Estado com os meios de comunicação privados e jornalistas venezuelanos.

Os documentos evidenciam que a PADF, o FUPAD, em espanhol, implementou programas na Venezuela dedicados à "promoção da liberdade dos meios e das instituições democráticas", além de cursos de formação para jornalistas e o desenvolvimento de novos meios na Internet devido ao que considera as "constantes ameaças contra a liberdade de expressão" e "o clima de intimidação e censura contra os jornalistas e meios".

Financiamento a páginas web anti Chávez

Um dos programas da Fupad, pelo qual recebeu 699.996 dólares do Departamento de Estado, em 2007, foi dedicado ao "desenvolvimento dos meios independentes na Venezuela" e para o jornalismo "via tecnologias inovadoras". Os documentos evidenciam que mais de 150 jornalistas foram capacitados e treinados pelas agências estadunidenses e 25 páginas web foram financiadas na Venezuela com dinheiro estrangeiro. Espaço Público e IPYS foram os principais executores desse projeto em âmbito nacional, que também incluiu a outorga de "prêmios" de 25 mil dólares a vários jornalistas.

Durante os últimos dois anos, aconteceu uma verdadeira proliferação de páginas web, blogs e membros do Twitter e do Facebook na Venezuela que utilizam esses meios para promover mensagens contra o governo venezuelano e o presidente Chávez e que tentam distorcer e manipular a realidade sobre o que acontece no país.

Outros programas manejados pelo Departamento de Estado selecionaram jovens venezuelanos para receber treinamento e capacitação no uso dessas tecnologias e para criar o que chamam uma "rede de ciberdissidentes" na Venezuela.

Por exemplo, em abril deste ano, o Instituto George W. Bush, juntamente com a organização estadunidense Freedom House convocou um encontro de "ativistas pela liberdade e pelos direitos humanos" e "especialistas em Internet" para analisar o "movimento global de ciberdissidentes". Ao encontro, que foi realizado em Dallas, Texas, foi convidado Rodrigo Diamanti, da organização Futuro Presente da Venezuela.

No ano passado, durante os dias 15 e 16 de outubro, a Cidade do México foi a sede da II Cúpula da Aliança de Movimentos Juvenis ("AYM", por suas siglas em inglês). Patrocinado pelo Departamento de Estado, o evento contou com a participação da Secretária De Estado Hillary Clinton e vários "delegados" convidados pela diplomacia estadunidense, incluindo aos venezuelanos Yon Goicochea (da organização venezuelana Primero Justicia); o dirigente da organização Venezuela de Primera, Rafael Delgado; e a ex-dirigente estudantil Geraldine Álvarez, agora membro da Fundação Futuro Presente, organização criada por Yon Goicochea com financiamento do Instituto Cato, dos EUA.

Junto a representantes das agências de Washington, como Freedom House, o Instituto Republicano Internacional, o Banco Mundial e o Departamento de Estado, os jovens convidados receberam cursos de "capacitação e formação" dos funcionários estadunidenses e dos criadores de tecnologias como Twitter, Facebook, MySpace, Flicker e Youtube.

Financiamento a universidades

Os documentos desclassificados também revelam um financiamento de 716.346 dólares via organização estadunidense Freedom House, em 2008, para um projeto de 18 meses dedicado a "fortalecer os meios independentes na Venezuela". Esse financiamento através da Freedom House também resultou na criação de "um centro de recursos para jornalistas" em uma universidade venezuelana não especificada no relatório. Segundo o documento oficial, "O centro desenvolverá uma rádio comunitária, uma página web e cursos de formação", todos financiados pelas agências de Washington.

Outros 706.998 dólares canalizados pela Fupad foram destinados para "promover a liberdade de expressão na Venezuela", através de um projeto de 2 anos orientado ao jornalismo investigativo e "às novas tecnologias", como Twitter, Internet, Facebook e Youtube, entre outras. "Especificamente, a Fupad e seu sócio local capacitarão e apoiarão [a jornalistas, meios e ONGs] no uso das novas tecnologias midiáticas em várias regiões da Venezuela".

"A Fupad conduzirá cursos de formação sobre os conceitos do jornalismo investigativo e os métodos para fortalecer a qualidade da informação independente disponível na Venezuela. Esses cursos serão desenvolvidos e incorporados no currículo universitário".

Outro documento evidencia que três universidades venezuelanas, a Universidade Central da Venezuela, a Universidade Metropolitana e a Universidade Santa Maria, incorporaram cursos sobre jornalismo de pós-graduação e em nível universitário em seus planos de estudos, financiados pela Fupad e pelo Departamento de Estado. Essas três universidades têm sido os focos principais dos movimentos estudantis antichavistas durante os últimos três anos.

Sendo o principal canal dos fundos do Departamento de Estado aos meios privados e jornais na Venezuela, a Fupad também recebeu 545.804 dólares para um programa intitulado "Venezuela: As vozes do futuro". Esse projeto, que durou um ano, foi dedicado a "desenvolver uma nova geração de jornalistas independentes através do uso das novas tecnologias". Também a Fupad financiou vários blogs, jornais, rádios e televisões em regiões por todo o país para assegurar a publicação dos artigos e transmissões dos "participantes" do programa.

A Usaid e a Fupad

Mais fundos foram distribuídos através do escritório da Usaid em Caracas, que maneja um orçamento anual entre 5 a 7 milhões de dólares. Esses milhões de dólares fazem parte dos 40 a 50 milhões de dólares que anualmente as agências estadunidenses, europeias e canadenses estão dando aos setores antichavistas na Venezuela.

A Fundação Panamericana para o Desenvolvimento está ativa na Venezuela desde 2005, sendo uma das principais contratistas da Usaid no país sulamericano. A Fupad é uma entidade criada pelo Departamento de Estado em 1962, e é "filiada" à organização de Estados Americanos (OEA). A Fupad implementou programas financiados pela Usaid, pelo Departamento de Estado e outros financiadores internacionais para "promover a democracia" e "fortalecer a sociedade civil" na América Latina e Caribe.

Atualmente, a Fupad maneja programas através da Usaid com fundos acima de 100 milhões de dólares na Colômbia, como parte do Plano Colômbia, financiando "iniciativas" na zona indígena em El Alto; e leva 10 anos trabalhando em Cuba, de forma "clandestina", para fomentar uma "sociedade civil independente" para "acelerar uma transição à democracia".

Na Venezuela, a Fupad tem trabalhado para "fortalecer os grupos locais da sociedade civil". Segundo um dos documentos desclassificados, a Fupad "tem sido um dos poucos grupos internacionais que tem podido outorgar financiamento significativo e assistência técnica a ONGs venezuelanas".

Os "sócios" venezuelanos

Espaço Público é uma associação civil venezuelana dirigida pelo jornalista venezuelano Carlos Correa. Apesar de sua página web destacar que a organização é "independente e autônoma de organizações internacionais ou de governos", os documentos do Departamento de Estado evidenciam que recebe um financiamento multimilionário do governo dos Estados Unidos. E tal como esses documentos revelam, as agências estadunidenses, como a Fupad, não somente financiam grupos como o Espaço Público, mas os consideram como seus "sócios" e desde Washington lhes enviam materiais, linhas de ação e diretrizes que são aplicadas na Venezuela, e exercem um controle sobre suas operações para assegurar que cumprem com a agenda dos Estados Unidos.

O Instituto de Imprensa e Sociedade (IPYS) é nada mais do que um porta-voz de Washington, criado e financiado pelo National Endowment for Democracy (NED) e por outras entidades conectadas com o Departamento de Estado. Seu diretor na Venezuela é o jornalista Ewald Sharfenberg, conhecido opositor do governo de Hugo Chávez. IPYS é membro da agrupação Intercâmbio Internacional de Livre Expressão (IFEX), financiado pelo Departamento de Estado e é parte da Rede de Repórteres Sem Fronteiras (RSF), organização francesa financiada pela NED, pelo Instituto Republicano Internacional (IRI) e pelo Comitê para a Assistência para uma Cuba Livre.

Ver os documentos em: EEUU financia a medios y periodistas venezolanos


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Publicada em:18/07/2010 O OURO DE WASHINGTON

Sob total silêncio dos meios de comunicação conservadores brasileiros, foi divulgada a informação oficial segundo a qual veículos de imprensa e jornalistas venezuelanos receberam mais de quatro milhões de dólares nos últimos dois anos. Objetivo: desestabilizar o governo da República Bolivariana da Venezuela. A Lei de Acesso à Informação permitiu a divulgação de documentos do Departamento de Estado norte-americano. A grana foi distribuída através de três entidades públicas estadunidenses, a Fundação Panamericana para o Desenvolvimento, a Freedom House e a Agência de Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos (Usaid).

Mas a documentação não foi totalmente liberada, pois o Departamento de Estado censurou a maioria dos nomes das organizações e jornalistas contemplados com o ouro de Washington. É isso aí, não tem mais ouro de Moscou, de Pequim ou de qualquer outra capital de país socialista, como “informavam” os jornalões na época da Guerra Fria. Mas o ouro de Washington continua a ser distribuído em vários quadrantes do planeta com o objetivo de desestabilizar governos que contestem a dominação da potência hegemônica.

Nesta etapa, a distribuição das benesses ficou a critério de organizações venezuelanas Espaço Público e Instituto de Imprensa, segundo ainda os documentos do Departamento de Estado norte-americano. Ou seja, não há dúvidas de que as campanhas antichavistas renderam bons frutos($) para grupos que há anos tentam de todas as formas impedir o aprofundamento da revolução bolivariana.

Tendo em vista tais fatos, não será surpresa alguma se amanhã novos documentos do Departamento de Estado mostrarem que em outros países, inclusive nas plagas abençoadas por Deus e bonitas por natureza, o ouro de Washington segue rolando com toda a intensidade. Quem acompanha os noticiários de televisão e os colunistas de sempre desconfia que o ouro de Washington recheie os bolsos dos referidos. Mas qualquer problema, a Sociedade Interamericana de Imprensa está aí para isso mesmo, ou seja, defender incondicionalmente as organizações midiáticas e jornalistas que venham eventualmente a ser denunciados por recebimento de polpudas verbas.

Já que estamos falando em meios de comunicação conservadores, mais uma vez O Globo se superou. Com o maior destaque, o jornal da família Marinho dizia, na primeira página do caderno de economia, em referência ao desastre provocado pela British Petróleo (BP) no Golfo do México, que o Brasil remava contra a maré mundial ao continuar prospectando petróleo em alto mar. O Globo quer porque quer que as reservas do pré-sal continuem intactas, pois em outras partes do mundo, inclusive nos Estados Unidos, as prospecções foram suspensas.

O jornal que historicamente sempre defendeu poderosos interesses internacionais, seja da área petrolífera ou financeira, preferiu ignorar as denúncias segundo as quais o desastre ecológico no Golfo do México se deveu basicamente ao fato de a BP ter tentado economizar na procura do petróleo em alto mar. Por aqui, quer queira ou não O Globo, a questão é outra, a tecnologia desenvolvida no setor é de alta qualidade. Não se poupa nas pesquisas, que no caso do pré-sal começaram há anos.

A propósito de manipulação de informação, não é de hoje que o MST vem sendo criminalizado por publicações conservadoras vinculadas ao agronegócio. Há oito meses, por exemplo, foi feito o maior escarcéu (por pressão da bancada ruralista), sobre supostas irregularidades relacionadas com verbas públicas e o MST. Pois bem, uma CPMI (Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara e Senado) conclui seu relatório com a informação segundo a qual não há nenhuma irregularidade na conta do movimento que luta pela reforma agrária. Essa foi a terceira CPI do gênero sobre o MST.

Mas se os leitores imaginam que a manipulação midiática terminou, não devem se iludir. Daqui mais algumas semanas, a mesma bancada ruralista vai pressionar no sentido de que seja criada mais uma CPI, pois a de agora “terminou em pizza”. E os setores conservadores, aglutinados em torno do candidato de FHC, José Serra, vão aproveitar a campanha presidencial para atacar.

Em suma: verbas do Departamento de Estado norte-americano, criminalização do MST e muitos outros fatos fazem parte do mesmo jogo que tem como pano de fundo a necessidade de manter o Brasil e a América Latina como um mero quintal ou pátio traseiro dos Estados Unidos. Veja, O Globo, TV Globo, Folha de S. Paulo, O Estado de S.Paulo estão aí para isso mesmo.


chupado do Direto da Redação