segunda-feira, agosto 31, 2009

Custe o que custar


Os playboys da nova UDN.
E nem deve custar tanto assim...



O arsenal udenista está de volta,
o que poderá detê-lo?

Saul Leblon

Publicado no site da Carta Maior

O método da calúnia é tão antigo no arsenal político da direita quanto o seu objetivo de alcançar o poder a qualquer custo, seja pelo voto, o impeachment, o golpe, a fraude ou uma mistura das quatro coisas simultaneamente, como fez a UDN nas eleições de 1955, na primeira chance real de chegar ao poder pelo voto, depois da tentativa de golpe abortado pelo suicídio de Vargas.
Não deu certo. Os udenistas Juarez Távora e Milton Campos tiveram 30% dos votos contra 36% dados a Juscelino. A vitória apertada, mas indiscutível da chapa que tinha como vice João Goulart, herdeiro político de Vargas, não desanimou os udenistas.
Derrotados nas urnas em outubro de 1955, desencadearam uma campanha agressiva para impedir a posse de Kubitschek, marcada para janeiro do ano seguinte. Na linha de frente do golpismo estava o jornal O Estado de São Paulo - alter-ego da UDN paulista. O mesmo que hoje lidera a pressão pela derrubada de Sarney em nome da "moralização" do Congresso e da faxina ética na política nacional.
Não é preciso ser simpatizante da oligarquia maranhense para suspeitar que existe algo mais do que mau jornalismo no bombardeio que atribui a Sarney todas as malfeitorias praticadas no Senado, desde a sua criação em 1824, na primeira Constituição do Império. O que está por trás é a volta do arsenal "democrático" udenista em pleno aquecimento para 2010, quando o PMDB terá peso decisivo na sucessão de Lula, que cultiva o apoio da legenda num acordo de reciprocidade com Sarney.
A ressalva é tão óbvia que chega a ser admitida nas entrelinhas de editorialistas espertos, funcionando mais como salvaguarda cínica do texto, do que uma crítica efetiva ao jornalismo praticado em nome da moralidade. 
A moralidade de quase todos os grandes órgãos da imprensa brasileira está empenhada em corroer a candidatura Dilma Rousseff,
custe o que custar. A observação de Gramasci sobre a "imprensa que adquire funções de partido político" se aplica como uma luva ao jornalismo praticado hoje no país. 
Cada flanco que se abre nas fileiras do governo aciona pautas especiais; mini-editorias específicas; forças-tarefas montadas a toque de caixa. "Analistas" e acadêmicos são requisitados para teorizar sobre "a decadência irreversível do petismo", ao mesmo tempo em que petistas hesitantes, e ex-petistas recorrentes, endossam a dissolução da pureza vermelha contaminada pelos vícios do poder.
Desprovida de partidos de massa, a direita sempre teve nas campanhas midiáticas um valioso instrumento de intervenção na ordem institucional. 
Se desta vez a mutação flagrada por Gramasci ganha acentuação inédita é porque os resultados acumulados pelos dois mandatos de Lula deixaram um minúsculo campo programático para a coalizão demotucana se movimentar em 2010. O braço midiático deve compensar com denúncias a fragilidade propositiva.
Malgrado as limitações da aliança que o sustenta, Lula superou a pior crise do capitalismo desde 1930, acentuando as linhas de vantagem do seu governo em relação à estratégia conservadora abraçada pelo PSDB e predominantemente apoiada pela mídia. A saber: o desastroso recuo do Estado em todas as frentes do desenvolvimento; o alinhamento carnal com os EUA na política externa e comercial; a terceirização dos grandes desafios sociais à "eficiência dos mercados auto-regulados". Hoje esse cardápio se traduz na tentativa de desconstrução caluniosa da candidatura Dilma Rousseff; nas denúncias contra a Petrobras e na torcida mal-disfarçada com o êxito do país no pré-sal. 
Tivesse o Brasil persistido nessa rota, seria hoje uma terra arrasada por desemprego e quebradeira, a exemplo do que sucede no Leste europeu - última fronteira de expansão do neoliberalismo e seu obituário mais dramático.
Ocultar esse flanco substituindo o principal pelo secundário, portanto, sobrepondo à transparência da crise o que o monopólio midiático pauta como relevante, é o recurso precioso de Serra para contrabalançar sua opacidade programática em 2010. 
Trata-se de uma das especialidades legadas pelo udenismo à política nacional. Carlos Lacerda, caracterizado como "o Corvo" nas charges publicadas pelo jornal getulista Última Hora, manejava com maestria o ferramental de fraudes & ofensas, que hoje encontra aprendizes excitados nas redações.
Exemplos: dia 22 de agosto o comentarista político Fernando Rodrigues, classificou o senador Mercadante de "vassalo" do Planalto, com chamada na primeira página da Folha; antes dele, Danuza Leão comparou a ministra Dilma Rousseff , na mesma Folha, a um misto de pai autoritário e diretora "carrasca". Analista das Organizações Globo, o que não significa apenas uma inserção profissional, Lucia Hippolito espetou no título de um comentário sobre o PT (Globo online) o vocábulo-síntese de sua filiação carnal ao udenismo: "a pelegada". 
A fome dos petizes lacerdistas encontra fontes obsequiosas nas fileiras oposicionistas. 
Olhos, ouvidos e bocas de Serra na capital federal, ao lado de Virgílio, Agripino, Sergio Guerra e Jereissati, o senador pernambucano Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) definiu o PT, em recente entrevista, como uma sublegenda do "lulismo". Na boa tradição udenista equiparou o "lulismo", portanto o Presidente da República, aos "caudilhismos latinoamericanos, a exemplo do peronismo argentino". O conservadorismo do senador evoca um tema recorrente no cardápio lacerdista, que inspirou violenta campanha contra Vargas nos anos 50, fartamente difundida pela rádio Globo, dirigida pelo jovem udenista, Roberto Marinho.
Vale a pena rememorar esse "case" do modo udenista de abduzir a realidade e derivar daí vale-tudo de aniquilação dos adversários.
Em abril de 1954, o governo Vargas sangrava. Uma ciranda de ataques descomprometidos de qualquer outra lógica que não a derrubada de um projeto de desenvolvimento nacionalista fustigava o Presidente que criara a Petrobras, o BNDES e aplicava uma política de fortalecimento do mercado interno com forte incremento do salário mínimo.
O clima pesado de acusações e ofensas pessoais atingia Getúlio e sua família de forma indiscriminada. Lutero, irmão do Presidente, era tratado nas manchetes como "bastardo" e "ladrão". O ministro do Trabalho, João Goulart, era reduzido a "personagem de boate". Faltava, porém, um ponto de coagulação para transformar o tiroteio desordenado em míssil capaz de abrir um rombo na legalidade institucional.
Em meio à radicalização, em março de 54 surge a denúncia de que "os caudilhos" Vargas e Perón planejavam um suposto "Pacto ABC" (Argentina –Brasil –Chile), cuja meta era "a integração sul-americana num arquipélago de repúblicas sindicais contra os EUA". 
Carlos Lacerda, na Tribuna da Imprensa e na rádio Globo, e a Banda de Música da UDN no Congresso – um pouco como o jogral que hoje modula as vozes da coalização demotucana e da mídia "ética" - martelavam a denúncia incansavelmente, testando por aproximação as condições para o impeachment de Vargas.
A notícia do pacto foi vigorosamente desmentida pela chancelaria argentina, mas um ex-ministro rompido com Getúlio, aliou-se a Lacerda para oferecer "evidências" das negociações entre o Brasil e Perón.
A inexistência de provas – exceto a menção genérica de Perón à uma aliança regional — não demoveu a mídia que deu à declaração ressentida do ex-ministro contornos de verdade inquestionável, repetida à exaustão até acuar o governo. 
Vargas reagiu na única direção que lhe restava. No 1º de maio de 1954 anunciou o famoso reajuste de 100% para o salário mínimo num discurso marcado por elogios a Goulart, o ministro do Trabalho, mentor do reajuste, afastado pela pressão udenista.
Ao conclamar os trabalhadores a se organizarem para defender seus próprios interesses, o discurso de 1º de Maio soava como um ensaio de despedida. Talvez até mais radical, na convocação aos trabalhadores, do que a própria Carta Testamento deixada quatro meses depois, quando o Presidente atirou contra o próprio peito para não ceder à pressão da mídia pela renúncia.
"A minha tarefa está terminando e a vossa apenas começa. O que já obtivestes ainda não é tudo. Resta ainda conquistar a plenitude dos direitos que vos são devidos e a satisfação das reivindicações impostas pelas necessidades (...) Como cidadãos, a vossa vontade pesará nas urnas. Como classe, podeis imprimir ao vosso sufrágio a força decisória do número. Constituí a maioria. Hoje estais com o governo. Amanhã sereis o governo" (Getúlio Vargas, 1º de Maio de 1954).
A dramaticidade do suicídio iluminou o quadro político gerando transparência e revolta diante do golpismo em marcha. Porta-vozes da oposição a Getúlio foram escorraçados nas ruas do Rio; uma multidão consternada e enfurecida cercou e depredou a rádio Globo que saiu do ar; veículos do jornal de Roberto Marinho foram caçados e queimados nas ruas da cidade. Para Carlos Lacerda não sobrou um centímetro de segurança em terra: o "Corvo" foi obrigado refugiar-se no mar, a bordo do cruzador Barroso. 
A determinação conservadora de arrebatar o poder, todavia, não esmoreceu.
Poucas semanas depois do suicídio, em 16 de setembro de 1954, uma segunda "denúncia" associada ao Pacto ABC explodiria nos microfones da rádio Globo. Era a largada, com 12 meses de antecipação, para a primeira disputa eleitoral em vinte e quatro anos que não contaria com a presença divisora de Getúlio na cena nacional. 
O alvo agora era João Goulart, o herdeiro político do presidente morto e adversário certo da UDN no pleito de outubro de 1955. Na voz estridente de Lacerda, comentarista de diversos programas da emissora de Marinho, foi lida em primeira mão a "Carta Brandi". Uma suposta correspondência do deputado argentino Antonio Brandi a João Goulart , apresentada como a prova "definitiva" da conspiração para implantar "uma república sindicalista no Brasil".
Na efervescência da guerra eleitoral, o escândalo levou o Exército a abrir inquérito imediatamente, enviando missão oficial a Buenos Aires para aprofundar as investigações. 
A conclusão oficial de que tudo não passara de uma grosseira fraude, forjada por Lacerda e alimentada pela imprensa anti-getulista, não abalou seus protagonistas. Lacerda rapidamente mudou o foco da denúncia, invertendo os termos da equação: fora vítima de uma cilada, uma isca arquitetada por adversários eleitorais para desmoralizar a democracia e acelerar a implantação de uma república sindical no país - exatamente como descrevia a (falsa) "Carta Brandi". 
"(...) Se a carta não é verdadeira", escreveu na Tribuna de Imprensa, um mês depois da derrota da UDN para JK e Jango no pleito de outubro de 1955, "seu conteúdo está de acordo, mais ou menos, com o que se sabe da vida política do sr. Goulart..." 
Qualquer semelhança com o malabarismo denuncista que povoa a mídia tucana nos nossos dias não é mera coincidência. Os mesmos objetivos, os mesmos métodos, a mesma elasticidade ética e democrática estão de volta.
A vitória apertada de JK em 1955 foi tratada pelo udenismo como uma sintoma de "ilegalidade das urnas". Inconformada, a chamada "imprensa da UDN" iniciou uma nova campanha, desta vez liderada pelo jornal Estado de São Paulo, que não poupou papel e tinta na luta para impedir a posse do presidente eleito Juscelino Kubitschek. 
Se chegaram a esse ponto contra JK em 1955 e fracassaram, muito se deve ao desbloqueio do discernimento popular causado pelo suicídio do estrategista genial que foi Getúlio Vargas. O arsenal udenista, porém, está de volta e seu partido midiático não disfarça a determinação de transformar 2010 na nova inflexão conservadora na vida do país. Resta saber que força poderá detê-los agora, a ponto de despertar na sociedade o mesmo efeito esclarecedor do tiro que sacudiu o país na manhã de 24 de agosto de 1954.

http://www.pt.org.br/portalpt/index.php?option=com_content&task=view&id=81166&Itemid=201

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GLOBO: MAIS UM VEXAME

Belchior e o jornalismo de Ali Kamel
 
Mauro Carrara

 

Tempos atrás, narrei publicamente algumas desventuras daquele tido como “o mais pior dos jornalistas brasileiros”.

 

Entre muitos profissionais e observadores da imprensa, o estatístico Ali Kamel constitui-se em referência singular de apuração preguiçosa, texto confuso e aplicação ladina de lógicas de conveniência.

 

O sabujo da família Marinho subiu ao cume da Vênus Platinada valendo-se da escada magirus da obscenidade, especialmente na execução de serviços de comunicação encomendados pela direita brasileira.

 

Detalhe: a referência nada tem a ver com “O Solar das Taras Proibidas”. Deixemos em paz o astuto Casanova de Roberto Mauro.

 

Convém, no entanto, notar como o amoroso e eterno pupilo de Henrique Caban logrou, no tempo presente, impor seu “modus informandi” às Organizações Globo e, por tabela, a significativa parcela da inculta mídia monopolista do país.

 

Exemplo formidável tivemos na edição de 23 de Agosto do Fantástico, o caduco programa dominical da emissora carioca.

 

Inventou-se ali uma estória (sim, agora sem “h”, mesmo) sobre o desaparecimento de um “grande astro da MPB”.

 

O sumido (ninguém sabe, ninguém viu) seria Belchior, o inspirado cantor e compositor cearense, moço de Sobral, ex-repentista, autor de jóias da música brasileira como “Apenas um rapaz latino-americano” e “Paralelas”.

 

A longa matéria misturava fraseados de trama noir e música incidental de suspense hitchcockiano. Por meio de depoimentos pinçados e uma edição bem tesourada, a Globo induziu o brasileiro a cogitar até mesmo de uma abdução.

 

No dia seguinte, por exemplo, no comércio popular da Rua 25 de Março, no Centro de São Paulo, um pirateador de CDs afirmava que o artista encontrava-se numa base militar em Vênus, na qual cientistas cabeçudos escaneavam sua mente de poeta.

 

Naquele final de tarde, o hábil prosador admitia já ter vendido 16 cópias de álbuns do artista.

 

O que o telespectador engole

 

Ora, nos delírios narrados por Patrícia Poeta e Tadeu Schmidt, o folhetim da Globo manteve-se caninamente fiel à doutrina kameliana do jornalismo “testador de hipóteses”.

 

Afinal, a teoria do desaparecimento era verossimilhante, o que mestre Kamel considera suficiente para a construção de uma boa matéria.

 

O estatístico, aliás, já cometera experiências do gênero em “Veja” e na própria Globo, com destaque para os malabarismos argumentativos destinados a atirar no colo de Lula a responsabilidade pela tragédia com o avião da TAM, em Congonhas, em 2.007.

 

No caso de Belchior, a reportagem foi tratada como pândega por vários profissionais gabaritados da Central Globo de Jornalismo. Era o "se colar, colou". Riu-se da figura do trouxa engolidor de bobagens, o típico Homer Simpson boneriano.

 

Nas redações da emissora, pórém, a pauta se converteu em batata quente. Ninguém queria assumir a execução da suíte.

 

Durante a semana, os fatos comprovaram que os súditos de Kamel testam hipóteses, levianamente, ou são péssimos apuradores.

 

Nos dois anos do suposto “sumiço”, Belchior foi visto, fotografado e gravado em vídeo por dezenas de pessoas, entre jornalistas e cidadãos comuns.

 

Uma cantora lírica encontrara o cantor em duas ocasiões, em setembro do ano passado, em São Paulo.

 

Dois meses depois, ele aparecera no bairro do Coqueiral, no Recife, para participar de um evento do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase.

 

Bastava aos jornalistas do Fantástico “testar um Google” para encontrar as matérias dos jornais pernambucanos sobre a participação de Belchior na cerimônia.

 

Em 9 de Fevereiro, em Brasília, posara para fotos ao lado de outro famoso amante do bigode, ninguém menos que José Sarney.

 

O “sumido” distribuira ainda autógrafos para admiradores em lugares como aeroportos e restaurantes, no Brasil e no Uruguai. Tudo recente, recentíssimo.

 

Aliás, que fugitivo, abduzido ou desencarnado daria palhinhas em shows, participaria de atividades de ONGs e visitaria o presidente do Senado?

 

A edição de 30 de Agosto do Fantástico, portanto, tinha de colocar dar um fim honroso a mais essa alucinação kamelista.

 

A batata quente caiu nas mãos da dedicada Sônia Bridi. Coitada.

 

E lá foi a galega comer pó nas estradas do Uruguai e, convertida em emissária da assistência social, dar plantão na porta de uma pousada em San Gregorio de Polanco.

 

Tomou um chá de cadeira. Coitada de novo.

 

Belchior apresentou-se já de noite à câmera da Globo. Afirmou que considerava “estranha” a reportagem sobre seu suposto desaparecimento. E disparou uma fleumática reprovação: “aquilo não tinha nenhuma relação comigo”.

 

Com um sorriso de mofa nos lábios, concluiu: “eu vivo em São Paulo”.

 

Ao que tudo indica, o simpático Belchior deu um tempo para escapar de falsos amigos e parentes chatos. É possível ainda que, inadimplente, tenha revivido seu personagem latino-americano, aquele “sem dinheiro no bolso”. Normal, normalíssimo.

 

Não por acaso, o jornalismo kameliano faz estardalhaço em torno de fatos inexistentes, mas cerra os olhos ao embuste dos bandalhos mal dissimulados.

 

A Globo não sabe, por exemplo, quem é o marido de Lina Vieira, desconhece seu padrinho demista cara-de-pau e nem desconfia dos interesses da ninfa da Receita no factóide da “agilização”.

 

Vamos testar uma hipótese? A empresa da família Marinho continuará enfiando gente em seu Triângulo das Bermudas, e Ali Kamel seguirá educando os truões da mídia imprensaleira. Vale uma aposta?


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domingo, agosto 30, 2009

O Estado brasileiro é mais forte porque mais democrático




27/08/2009

Estado, governo, partidos, democracia

O Estado brasileiro é mais forte porque mais democrático.

A campanha eleitoral da oposição - tendo sua comissão de frente nas empresas privadas da mídia - concentra seu foco de supostas denúncias em um tema central: o governo confundiria o Estado com o governo, apropriando-se do Estado em função dos partidos que o apóiam. O jornal da família Frias chegou a colocar como manchete na sua primeira página que “O governo se reserva tal porcentagem do pré-sal”, como se se tratasse de uma apropriação por parte de governo de receitas de um projeto de enorme transcendência, que mobiliza grande quantidade de recursos, para seu proveito, em lugar de fazê-lo para o Estado brasileiro. 

Confusão faz essa imprensa despreparada teoóricamente e mesquinha politicamente, ao não se dar conta de como os destinos do Estado brasileiro estão em jogo na repartição dos recursos do pré-sal, não se tratando apenas de um problema de um governo de turno. Mas quando se trata de manter de pé campanha sistemática de acusações a um governo que, apesar disso ou talvez até mesmo também por isso, goza de mais de 80% de apoio da população, vale de tudo, pelo próprio desespero de não ver refletir nas pesquisas de opinião, o tempo, os espaços e o papel gasto na até aqui inglória luta contra o governo.

Para começar: o Estado brasileiro, no governo Lula, é muito mais democrático do que antes, em qualquer outro governo. Em primeiro lugar, porque atende as reivindicações de um numero incomparavelmente maior de pessoas do que qualquer outro governo. Atende seus direitos a emprego formal, a acesso a bens fundamentais, a escola, a habitação, a saneamento básico, a créditos, a energia elétrica, entre outros direitos elementares, mas que foram sempre negados à maioria da população.

Como conseqüência, o Estado integra a setores majoritários do povo, que nunca antes tinham se sentido participantes do Estado, do que é expressão o fato de mais de 80% da população apoiar o governo, não ocasionalmente, no momento de um plano econômico qualquer – como em momentos do Plano Cruzado do governo Sarney ou do Plano Real do governo FHC – mas estavelmente, no sétimo ano do governo, quando FHC tinha apenas 18% de apoio e Sarney algo similar.

O Estado dispõe de mais pessoal e mais qualificado, melhor remunerado, depois de ter passado pela sua demonização, pela desqualificação do servidor público e diminuição pelas políticas de Estado mínimo do governo da tucanalhada-demoníaca.

As empresas estatais são mais fortes e mais eficientes hoje. Tome-se o exemplo da Petrobrás no governo atual, em comparação com ao que tinha sido reduzida – “Petrobrax” – no governo FHC. Os levantamentos do IPEA revelam como o serviço publico é mais eficiente que as empresas privadas, como mostra da melhoria do Estado no governo atual.

A diminuição significativa do superávit fiscal, o freio nos processos de privatização – que previam a privatização da Petrobras, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal, da Eletrobras, nos acordos assinados com o FMI na última das três crises com que o governo FHC vitimizou o Brasil fortaleceram o Estado. 

Ao contrário dos governos tucanos, como o de Serra, que seguiu adiante as privatizações e, não fosse o Banco do Brasil ter comprado a Nossa Caixa, a teria vendido ao capital privado, como os tucanos tinham feito com o Banespa vendido a um banco estrangeiro, o Santander.

O Estado brasileiro é muito mais forte, porque muito mais respeitado no exterior, tanto na América Latina, como no conjunto do mundo, como se vê pelo prestígio de Lula, em comparação com a penosa imagem projetada por FHC e seus tristes ministros de Relações Exteriores.

O Estado é mais forte porque recuperou sua capacidade de indução do crescimento econômico, como se viu muito claramente na capacidade do governo e dos bancos públicos de promover a recuperação econômica do país na atual crise, muito maior do que qualquer uma que o governo FHC tenha vivido e, no entanto, o Brasil sai dela mais forte, ao contrário das anteriores, em que – como no caso da crise de 1999 – o país saiu enfraquecido – com as taxas de juros próximas de 50%, com o desemprego em níveis altíssimos, com um descontrole inflacionário, com um aumento exponencial da divida pública, com uma recessão de que somente o governo Lula pôde fazer com que saíssemos da crise.

O Estado é mais forte justamente porque o governo não confundiu governo e Estado. O governo é um instrumento de fortalecimento do Estado, mediante políticas de interesse nacional – como as políticas sociais, educativas, culturais, econômicas, a política externa independente, entre tantas outras – e não para atender interesses privados – como as escandalosas privatizações de FHC, que dilapidaram o patrimônio público ou como a privataria educacional que promoveu as faculdades e universidades privadas em detrimento da educação publica, universal e gratuita.

O Estado é mais forte, porque arrecada mais e melhor, canalizando recursos para o crescimento econômico e as políticas sociais. Porque diminuiu as taxas de juros, diminuindo a remuneração ao capital especulativo e a transferência de renda ao capital financeiro.

Assim, o Estado brasileiro é mais forte, não porque menos democrático, mas porque muito mais democrático, mais integrador, mais provedor de direitos, mais reconhecido no exterior e dentro do Brasil.

O Estado governa com os partidos que apóiam o governo Lula, um governo submetido pelos dois maiores plebiscitos públicos – as eleições de 2002 e 2006 -, em que, mesmo tendo a ditadura das empresas privadas da mídia contra, contou com o imenso apoio popular, que só cresceu desde então. Governa, portanto, com a delegação da grande maioria do povo. A oposição queria que ele governasse, como no governo FHC, com representantes diretos do grande capital, dos bancos, das corporações privadas, da mídia oligárquica, do capital estrangeiro.

Os governos estaduais dos outros partidos – como o de Olívio Dutra no Rio Grande do Sul – foram sistematicamente sabotados pelo governo FHC, ao contrário do governo Lula, que compartilha os recursos federais com governos da oposição, como os governos tucanos de São Paulo e de Minas Gerais, com governadores pré-candidatos à presidência pela oposição ao governo.

O Estado é mais forte no Brasil no governo Lula, a democracia é mais forte, porque o governo as promove como seus objetivos centrais. Passado o circo midiático, fica claro que foram os tucanalhas-demoníacos, que debilitaram o papel de controle tributário, favorecendo a sonegação fiscal como nunca no Brasil.

Um Estado forte é um Estado democrático, reconhecido e apoiado pela grande maioria da população. É um Estado que implementa políticas de caráter nacional, de interesse público, promovendo a prioridade das questões sociais e não a ditadura econômico-financeira de Malan-FHC-Serra.

O Brasil precisa ser mais democrático e não menos, como quer a oposição, adepta do Estado mínimo e dos cortes dos direitos sociais. O Brasil precisa reformar profundamente o Estado, não como quer a oposição, para deixar mais espaços para o mercado, mas para torná-lo efetivamente um Estado de todos e para todos.

Postado por Emir Sader


http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=348


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sábado, agosto 29, 2009

Jornalistas na coleira


O Pentágono e seus ‘jornalistas confiáveis’

27/8/2009, David Axe, “Danger Room”, Wired

http://www.wired.com/dangerroom/2009/08/pentagon-reconsiders-war-reporter-screening/#more-16479 e http://www.wired.com/dangerroom/2009/08/pentagon-reporter-screening-crisis-deepens/

 

O Pentágono contratou uma empresa para avaliar o trabalho de jornalistas interessados em acompanhar soldados em campanha [ing. embedded reporters] no Iraque, no Afeganistão e no Paquistão, segundo noticiou o Stars & Stripes, jornal mantido parcialmente por fundos públicos.

“Funcionários de Relações Públicas dos EUA no Afeganistão informaram que jornalistas que solicitem autorização para acompanhar tropas em campanha terão seu trabalho jornalístico avaliado pela empresa The Rendon Group,” noticiou o Stars & Stripes na 2ª-feira. O sistema de classificação da Rendon implica analisar matérias já publicadas, para classificá-las em uma de três categorias: “favorável”, “contrária” ou “neutra” em relação aos objetivos de guerra dos EUA.

O Pentágono negou que essas categorias estejam sendo usadas para selecionar jornalistas. Segundo o porta-voz do Pentágono Brian Whitman, os militares deixaram de usar as categorias “favorável”, “contrária” ou “neutra”, em outubro. Atualmente, o Pentágono apenas avalia o rigor informacional nas matérias jornalísticas, disse a capitã Elizabeth Mathias, assessora militar de imprensa em Cabul. “Assim, sabemos com quem estamos trabalhando”, disse ela.

Hoje o jornal Stars & Stripes voltou à carga. Citou documentos recentes aos quais teve acesso e que mostram que os militares continuam a usar o sistema “favorável-contrária-neutra” de classificação de matérias jornalísticas. “Um dos documentos [que vazaram] avalia matéria publicada em maio de 2009, o que indica que a prática de avaliação não foi suspensa ou modificada em outubro como disse Whitman” – revelou o jornal.

O quadro parece ser ainda mais grave. Os relatórios produzidos pela Rendon estão sendo usados para definir estratégias para influenciar jornalistas – diz hoje o jornal Stars & Stripes. O jornal cita um relatório da Rendon que recomenda que os militares façam contato com um repórter de TV que seria “particularmente subjetivo”, para obter dele cobertura “mais adequada de uma operação militar bem-sucedida”, o que resultaria em “cobertura favorável.”

O prof. Bob Zelnick, ex-consultor e repórter militar da rede ABC, atualmente na Boston University, já manifestou preocupação com a possibilidade de o Pentágono estar ativamente manipulando a mídia. “Não creio que seja possível cobrir uma guerra, se se deseja fazer cobertura séria e significativa, sem os jornalistas que acompanham os soldados em campanha”, disse ele a esse blog. “Sempre houve jornalistas em todos os fronts de guerra, da Guerra Civil à Guerra do Vietnam.”

Para Zelnick, os veículos da pequena mídia – blogs, jornais locais – são mais vulneráveis à fiscalização pelo Pentágono, que os grandes jornais e redes, que podem protestar abertamente contra qualquer tentativa de manipulação pelos militares. Mesmo assim, diz Zelnick, só a imprensa – toda ela, seja grande ou pequena – tem poder para alterar as políticas viciosas de imprensa do Pentágono. “Acho que, se os jornalistas não estão tendo acesso, ou se o acesso está sendo controlado no Pentágono, o melhor é ir direto ao topo. Creio que o atual secretário de Defesa [Bob] Gates é partidário da liberdade de imprensa e de cobertura justa das políticas e feitos do Pentágono.”

O Pentágono está examinando essas denúncias de que o aparelho militar de relações públicas no Afeganistão estaria classificando jornalistas segundo o grau de simpatia que manifestem em relação aos objetivos de guerra dos EUA. A investigação informal veio à tona três dias depois de Stars & Stripes ter comentado a prática das ‘avaliações’ (http://www.stripes.com/). “Já consultei o nosso pessoal no Afeganistão e estamos reunindo informações”, disse Bryan Whitman, porta-voz do Departamento de Defesa.

Os militares contrataram a empresa The Rendon Group, de Relações Públicas, para tratar publicamente a questão das ‘avaliações’ – como revelou a revista Stars & Stripes. Jornalistas que solicitem autorização para acompanhar soldados em campanha [ing. embeds] têm o trabalho anterior avaliado e classificado em categorias de “positivo”, “negativo” ou “neutro” em relação à estratégia dos EUA. Quando Stars & Stripes divulgou a história, os coordenadores da mídia militar no Afeganistão insistiram na versão de que as avaliações nada tinham a ver com solicitações de jornalistas interessados em obter autorização para acompanhar os soldados. Os militares também informaram que já não utilizam o sistema “positivo-negativo-neutro”; e que só buscam aferir a isenção, o respeito aos fatos e o rigor informacional das matérias jornalísticas. A revista Stars & Stripes, em seguida, publicou excertos de algumas daquelas “avaliações”, comprovando que o sistema ‘de três notas’ continua a ser usado exatamente como em julho passado.

Simultaneamente, aumenta o número de jornalistas que procuram o escritório de Whitman para conhecer suas próprias ‘avaliações’ e ‘perfis’. E vários grupos de defesa de direitos humanos e da liberdade de imprensa já se manifestaram contra a prática das ‘avaliações’ e ‘perfis’ do Pentágono. “Levar a democracia ao Afeganistão é desafio gigantesco”, declarou a Federação Internacional de Jornalistas. “E o desafio só aumentará se as autoridades tentarem manipular a imprensa ou seduzir jornalistas (a palavra certa seria “chantagear”) para que manifestem viés favorável aos militares.”

“Se os militares só pré-aprovarem alguns jornalistas e só os que trabalhem a favor de um específico ponto de vista e de uma agenda única, a opinião pública norte-americana perderá as condições mínimas para avaliar objetivamente a realidade e para tomar decisões equilibradas; e isso é grave ameaça à democracia nos EUA” – declarou a Federação Norte-Americana de Artistas de Rádio e Televisão.

“Se eu encontrar algo que seja inconsistente com os valores e políticas do Departamento de Defesa, podem ter certeza de que darei toda a atenção ao tema” – Whitman garantiu aos repórteres. “Para mim, uma avaliação desse tipo não tem qualquer utilidade, serve para nada e não agrega valores.”


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“Há muita ideologia e poucos dados nas argumentações de que o Estado é improdutivo"

Produtividade no setor público supera a do setor privado

O Ipea avaliou a evolução da diferença de produtividade entre esses dois setores entre 1995 e 2006. “Em todos os anos pesquisados, a produtividade da administração pública foi maior do que a registrada no setor privado. E essa diferença foi sempre superior a 35%”, diz o presidente do instituto, Marcio Pochmann (foto). “Há muita ideologia e poucos dados nas argumentações de que o Estado é improdutivo, e os números mostram isso: a produtividade na administração pública cresceu 1,1% a mais do que o crescimento produtivo contabilizado no setor privado, durante todo o período analisado”, acrescenta.

A administração pública é mais produtiva do que o setor privado. Essa foi uma das conclusões a que chegou o estudo Produtividade na Administração Pública Brasileira: Trajetória Recente, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. O Ipea avaliou a evolução da diferença de produtividade entre esses dois setores entre 1995 e 2006.

“Em todos os anos pesquisados, a produtividade da administração pública foi maior do que a registrada no setor privado. E essa diferença foi sempre superior a 35%”, afirmou o presidente do Ipea, Marcio Pochmann, ao divulgar o estudo. “No último ano do estudo [2006], por exemplo, a administração pública teve uma produtividade 46,6% maior [do que a do setor privado]. O ano em que essa diferença foi menor foi 1997, quando a pública registrou produtividade 35,4% superior à da privada”.

O estudo diz que entre 1995 e 2006 a produtividade na administração pública cresceu 14,7%, enquanto no setor privado esse crescimento foi de 13,5%. “Há muita ideologia e poucos dados nas argumentações de que o Estado é improdutivo, e os números mostram isso: a produtividade na administração pública cresceu 1,1% a mais do que o crescimento produtivo contabilizado no setor privado, durante todo o período analisado”.

Segundo o Ipea, a administração pública é responsável por 11,6% do total de ocupados no Brasil. No entanto, representa 15,5% do valor agregado da produção nacional. “A produção na administração pública aumentou 43,3% entre 1995 e 2006, crescimento que ficou mais evidente a partir de 2004. No mesmo período, os empregos públicos aumentaram apenas 25%. Isso mostra que a produtividade aumentou mais do que a ocupação”, argumentou o presidente do Ipea. "Esse estudo representa a configuração de uma quebra de paradigma, porque acabou desconstruindo o mito de que o setor público é ineficiente”, defendeu Pochmann.

Entre os motivos que justificariam o aumento da eficiência produtiva da administração pública, Pochmann destacou as recentes inovações, principalmente ligadas às áreas tecnológicas que envolvem Informática; os processos mais eficientes de licitação; e a certificação digital, bem como a renovação do serviço público, por meio de concursos.

O presidente do Ipea lembrou ainda que as administrações estaduais que adotaram medidas de choque de gestão, como São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, não constam entre aquelas com melhor desempenho na produtividade. "Ou tiveram ganho muito baixo, ou ficaram abaixo da média de 1995 a 2006", afirmou, ressalvando que essa comparação não era objetivo do estudo, mas foi uma das conclusões observadas.

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16123&boletim_id=585&componente_id=9884

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quinta-feira, agosto 27, 2009

Suplicy é um calado ressentido


Suplicy e o cartão vermelho

 

O PT é um partido sem mídia.

O PSDB é uma mídia com partido.

 

Mauro Carrara

 

Em À Sombra das Chuteiras Imortais, Nelson Rodrigues, bem descreve o juiz ladrão, figura folclórica e indefectível no universo do ludopédio.

 

O cronista e dramaturgo, entretanto, lamenta o desaparecimento do vigarista declarado, do canalha que não tem vergonha de sua falta de escrúpulos.

 

Ele conta dos gatunos autênticos da segunda década do Século XX. Cita um, em específico, que cedia gentilmente a todas as tentativas de suborno.

 

“O canalha é sempre um cordial, um ameno, um amorável”, escreve.

 

Em certo match, lá por 1.917, o sujeito resolve levar propina dos dois lados e rouba de maneira desenfreada e imparcial os dois quadros.

 

Ao findar o jogo, todos os 22 correm para cima do democrático ladrão, que escapa pulando muros e galinheiros.

 

Rodrigues lamenta que esse transparente safado tenha sido substituído por outros contidos e frustrados.

 

De fato, falta-nos a impagável cara-de-pau do juiz ladrão declarado, como aquele vivido por Otávio Augusto, no filme Boleiros, do inspirado palestrino Ugo Giorgetti.

 

A roubalheira no futebol de hoje é muito mais técnica e sutil. Há, pois, verdadeira ciência de prestidigitação para conceder à vigarice um ar de inevitável e inocente casualidade.

 

O futebol, assim como a política, define vencedores e perdedores na escala dos detalhes. Um esbarrão pode virar pênalti, de acordo com a conveniência do árbitro, e o empate heróico logo se converte em derrota.

 

O ladrão profissional de hoje apita tudo direitinho, mas em algum momento premia o comprador.

 

Age com rigor ao expulsar o jogador do Arranca-Toco, o que não escandaliza nenhum comentarista. Pois, de fato, o zagueirão mandou ver na canela do adversário.

 

Dizem todos: “o juiz está corretíssimo em coibir a violência”.

 

O mesmo severo árbitro, entretanto, não bota na rua os bárbaros do Bicudo FC, que fazem igual ou pior. Rigor ali, condescendência aqui.

 

E lá na cabine de rádio ninguém se assombra dos não-expulsos. O “deixa-passar” é logo esquecido e raramente se transforma em polêmica nos periódicos do dia seguinte.

 

Logicamente, o moderno juiz ladrão tem outras artimanhas. Pode assinalar os impedimentos do jogo, mas deixar passar um, justamente aquele que define a classificação. Elegância e cara feia completam a encenação.

 

O Partido Mudo e a punição por símbolos

 

Na Copa do Mundo da Inglaterra, houve enorme confusão na partida entre os donos da casa e os argentinos, pelas quartas de final.

 

Ao término da partida, as pessoas não sabiam ao certo o que o árbitro alemão Rudolf Kreitlein tinha marcado num lance em que admoestou vários jogadores.

 

Havia a barreira da língua. Atletas e árbitros não conseguiam se comunicar.

 

Foi assim que o inglês Ken Aston, do Comitê de Árbitros da FIFA, resolveu instituir os cartões amarelo e vermelho para clarificar as decisões da autoridade em campo.

 

O sistema passou a vigorar já na Copa do Mundo seguinte, em 1.970, no México.

 

Não por acaso, pois, os cartões começaram a ser utilizados para remediar os problemas causados por quem não sabia se comunicar. Foi um alívio para mudos, gagos e toda sorte de atrapalhados com as palavras.

 

Dias atrás, vimos o Senador Suplicy subir à tribuna e posar de árbitro informal da crise parlamentar.

 

Depois do palavrório enrolado, o arauto da moralidade resolveu sacar um enorme cartão rubro para o presidente da casa, José Sarney.

 

O episódio é revelador do comportamento recente do Partido Mudo. Distante do bom discurso e da argumentação, perdido nas malhas grossas do twitter de Mercadante, a agremiação reduziu sua comunicação a um pedaço de papel colorido.

 

Estranhamente, o parlamentar paulista usou seu cartão para copiar os árbitros de conveniência do moderno futebol.

 

Exigiu a saída de José Sarney (sim, autor de faltas graves e antigas), mas fechou hipocritamente os olhos às botinadas, puxões de camisa e cusparadas que marcam a conduta de Virgílios (o Almir Pernambuquinho do Senado), Tassos, Álvaros, Demóstenes, Agripinos e outros boleiros de caráter enlameado.

 

No dia seguinte, o senador do Partido Mudo deu sequência a sua arbitragem parcial, afirmando que seu cartão devia servir de alerta para o presidente Lula.

 

Não é à toa que Suplicy se transformou em motivo de chacota na Casa Alta, de um lado e de outro. É tratado como maluco pela base governista e como bobo pela oposição. Todos os dias, por exemplo, é humilhado pelo boca-mole Heráclito Fortes.

 

Ninguém pode acusar Suplicy de receber “por fora”. Afinal, sua biografia não o aproxima daquela de Edílson Pereira de Carvalho, o líder da mais recente máfia do apito.

 

Não seria leviandade, entretanto, ver no grisalho parlamentar uma mistura de sede de vingança e vaidade.

 

Suplicy é um calado ressentido. Por não ter conseguido candidatar-se à presidência, por não ter virado ministro e por outros fracassos políticos.

 

Paralelamente, ao tentar assumir a arbitragem da crise, o senador quis jogar para a torcida, amealhar aplausos, elogio cada vez mais raro na fase atual de sua carreira política.

 

Cabe à agremiação de Lula avaliar a necessidade de manter em seus quadros um levantador seletivo de papéis coloridos.

 

Caso não se assuma como protagonista neste momento histórico do embate político, o Partido Mudo, que já recebeu o amarelinho da sociedade, corre o risco de tomar um cartão vermelho do tamanho do Brasil.


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quarta-feira, agosto 26, 2009

GLOBO: um vexame em cima do outro!

A Globo aparelha o PSDB ou o PSDB aparelha a Globo?

A crise da Globo 
A Globo é controlada por interesses políticos. 
Mônica Waldvogel passa por outro vexame.
O jornalismo da Globo é eviscerado ao vivo na TV.
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Entre Aspas liquida com o factóide da Receita

Por Fábio Macedo

Bom dia Nassif,

Você já deve estar informado, em todo caso, acabei de ver o vídeo do programa Entre aspas dessa terça e me parece que acabou a farsa.

Everardo Maciel insistiu, “isso é um factóide”, sobre essa novela da Lina Vieira.

Vale a pena ver e tirar as conclusões: clique aqui.


Comentário

O comentário inicial lido por Mônica Waldvogel é vergonhoso, antijornalístico, desonesto, porque desmentido ao longo de todo o programa pelos três entrevistados convidados. A Globonews perdeu o rumo.

Os três convidados são unânimes em afirmar que politização ocorreu na fase de Lina Vieira, não agora. Mônica atropela as conclusões da mesa redonda, desrespeita os telespectadores ao antecipar conclusões falsas. Principalmente sabendo-se que a abertura sempre é feita após o programa, com base nas conclusões levantadas.

Paulo Antenor, presidente do SindiReceita, sindicato dos Analistas-Tributários da Receita Federal, denuncia o aparelhamento da Receita… por Lina. Mostra que o pedido de demissão coletiva dos antigos superintendentes foi apenas uma antecipação para demissões que ocorreriam. O advogado tributarista nega crise na Receita. Disse que está mais preocupado com as taxas de juros dos bancos e temas mais relevantes.

Mônica tenta se socorrer do ex-Secretário da Receita Everardo Maciel, da gestão FHC, pedindo que confirme a politização. Everardo diz que a politização ocorreu com Lina e que agora não há ingerência política, porque é atribuição do Ministro definir o Secretário.

Depois disso tudo, Mônica volta ao papo de que Mantega estaria pressionando para não apertar os grandes contribuintes. Os entrevistados negam. Everardo mostra que esse foco nos grandes contribuintes começou em sua gestão. Mônica diz que houve aumento na arrecadação dos grandes contribuintes na gestão Lina. Everardo desmonta com números.

Mônica vem com a história da opção do regime de caixa pela Petrobras foi manipulação. Everardo é incisivo: a Petrobras está certa. O factóide criado foi para justificar a queda da arrecadação na gestão Lina - embora admita que a queda tem muitos outros fatores deflagradores, entre os quais a crise.

Mônica: se fosse tão clara a possibilidade de mudar o regime no meio do ano, não haveria essa controvérsia.

Everardo: a regra é clara e foi feita em 1999 justamente para enfrentar o problema da desvalorização cambial.

Mônica: mas até agora a Receita está para soltar um parecer.

Everardo e os demais: já foi feito, concordando com a Petrobras. Essa prática existe há muito tempo, não existe qualquer ilegalidade ou manobra contábil.

Mônica, balbuciando: a lei foi feita. Houve então uma manipulação da opinião pública?

Todos concordam com a cabeça.

Aí ela deriva a entrevista para o caso Sarney, perguntando se é legítimo pressionar a Receita para abrandar a fiscalização.

O presidente do Sindicato disse que é impossível essa pressão, que nunca essa informação correu na Receita. Disse que sempre trabalhou próximo à chefia da Receita, tanto no governo FHC e Lula, e nunca viu esse procedimento. O chefe da Receita conversa com políticos todos os dias. Mas esse tipo de ingerência é novidade para a gente.

Everardo disse que se ocorreu, o momento certo seria na época em que foi feita. Se não fez, cometeu prevaricação.

Conclusão final dos três entrevistados: Lina foi um desastre para a imagem da Receita e caberá a todos os funcionários trabalharem para o resgate de sua imagem.

Assista o programa e depois volte à abertura.

PS - O programa é ao vivo. Então na abertura Mônica definiu conclusões que não foram avalizadas, posteriormente, pelos entrevistados.

Por Valter

Parece que a Globo se equivocou ao chamar o Presidente do Sindireceita Paulo Antenor. Eles queriam falar com o Presidente do Unafisco Sindical, Pedro Delarue, aliado de D. Lina Vieira e co-responsável por sua desastrosa gestão na Receita Federal.

O equívoco é evidenciado em matéria posterior em que o Globo atribui a Pedro Delarue as palavras de Paulo Antenor.

Um vexame em cima do outro!

Enviado por: luisnassif - Categoria(s): Sem categoriaTags relacionadas: http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/08/26/entre-aspas-liquida-com-o-factoide-da-receita/
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