quinta-feira, junho 30, 2011

Tio Sam quebrou... mas continua matando

“Se os Estados Unidos, pela primeira vez, não puderem pagar suas contas, as consequências para a economia americana serão significativas e imprevisíveis”, disse o presidente americano Barack Obama em uma coletiva, hoje,  na Casa Branca, segundo publicou há pouco a BBC.
Até  o FMI afirma  a dívida dos Estados Unidos está em uma “trajetória insustentável”, e um fracasso em elevar o limite irá causar “choques severos” na ainda frágil recuperação da economia americana e nos mercados globais. O endividamento americano chegou a seu limite legal, de US$ 14,3 trilhões (cerca de R$ 22,5 trilhões), no mês passado. A data limite para aprovação da elevação do teto é 2 de agosto, data a partir da qual o Tesouro americano não terá mais como honrar seus compromissos.
É lógico que, ao contrário do que acontece com a Grécia e outros países, não haverá “pacotes” de ajuda condicionados a cortes de despesas.
Pena, pois quem sabe se recomendassem o corte de despesas estatais supérfluas, como a guerra, por exemplo.
Até porque quase 20% desta dívida se deve às despesas da escalada bélica começada em 2001.
Hoje, agência Reuters publicou uma matéria sobre os custos derivados da guerra que os EUA mantêm no Iraque e no Afeganistão.
Os diretos são, como se vinha comentando, cerca de US$ 1,3 trilhão.
Mas os indiretos, como os gastos com assistência médica, social e pensões podem representar outros US$ 2,4 trilhões, segundo o projeto de análise “Costs of War” , feito pelo   Instituto Watson de Estudos  Internacionais, da Universidade de Brown, em Rhode Island, Estados Unidos.
Num cálculo conservador, esclareça-se, porque o estudo admite que possam atingir, no total, até US$ 4 trilhões, até 2020.
É a economia – já está ficando chato citar aquele “estúpido” – que está levando à retirada de tropas. Mas guerra é isso: faz correr sangue e dinheiro, em grandes quantidades.

Para não ficar apenas com o desjornalismo da Miriam Leitão

Do ponto de vista concorrencial, é claro que a união entre Pão de Açúcar e Carrefour não é boa.  A soma das duas redes representa quase 30% do setor supermercadista e isso é um nível de  concentração que dificilmente será aprovado pelo Conselho Administrativo de Defesa da Economia – o Cade, que examina este tipo de fusões – sem que o grupo resultante não concordar em  transferir uma parte significativa dos cerca 1.100 pontos de venda que, juntas, possuem.
Evidente que, salvo uma ou outra superposição geográfica de duas lojas de grande porte, a venda será das unidades menores. e não é provável que faltem compradores.
O mais importante, porém, é discutir porque isso está acontecendo e se o BNDES – através de sua subsidiária BNDESpar – deve participar do negócio.
Negócio, que, aliás, é extremamente complicado. Vamos tentar resumir, ajudados pela excelente matéria publicada hoje no Valor pelas repórteres Graziella Valenti e Vanessa Adachi.
Em 2005, Abílio Diniz vendeu 50% do controle da companhia para o grupo varejista francês Casino. Na venda, houve um acordo para que ele permanecesse como controlador até 2012, quando o controle passaria aos franceses.
O grupo Carrefour, principal concorrente do Casino, vai mal das pernas na França – embora domine lá o setor, contra 12% apenas de participação do grupo Casino -  e  ramo brasileiro de seus negócios era alvo da cobiça do próprio Casino (via Pão de Açúcar) e do americano WalMart, pelo fato de que a matriz queria evitar os prejuízos que colhe aqui, por má administração.
Pão de Açúcar, Carrefour e Walmart são, pela ordem, as três maiores empresas do ramo no Brasil. A quarta também é estrangeira, a Cencosud, do Chile, que controla as redes Bretas (em Minas) e GBarbosa  (no Nordeste) e fatura R$ 5 bi por ano.
Mas, como este negócio entre o Pão de Açúcar e Carrefour tem escala mundial, é  bom  ter uma ideia do tamanho destes grupos consultando o relatório deste ano da consultoria Deloitte (aqui, em pdf e em inglês). Lá você verá que o Walmart é o líder mundial, com faturamento de US$ 408 bilhões em 2009, seguido do Carrefour, com US$ 121 bilhões. O Casino aparece em 26º,  com faturamento de US$ 37 bi e o Pão de Açúcar em 75º e US$ 11,8 bilhões.
Só que, em matéria de resultado, o brasileiro lidera com folga mais do que acentuada. De lá para cá seu faturamento cresceu, em reais, 37%. Em dólares, embora não se possa dar o percentual, porque o relatório da Deloitte não dá a data de conversão, isso deve chegar ultrapassar 50%.
Esse crescimento dá ideia do “boom” do setor no Brasil, empurrado pela elevação do poder de compra das classes populares.
Para se ter uma ideia, coloco aí ao lado um gráfico do mercado mundial de produtos de higiene, cosméticos e perfumaria – segunda força de vendas dos supermercados, após os alimentos.
Veja que o Brasil já surge como terceiro mercado mundial no setor, avançando rapidamente.
E no setor de alimentos – carro-chefe dos supermercados – nem é preciso falar, porque todos sabem que não apenas o consumo aumenta como é unânime a avaliação de que eles subiram, sobem e subirão mundialmente de preço.
Aí está porque o setor de varejo atrai a cobiça dos grandes grupos econômicos.
E este setor, no Brasil, ficaria, a partir do ano que vem, com seus maiores grupos – que respondem por cerca de 50% das vendas – sob controle estrangeiro.
Bom, agora o outro ponto. Mesmo sendo para o país não ficar com o setor totalmente internacionalizado, o BNDESpar deveria entrar no negócio, usando dinheiro do Estado?
A Miriam Leitão acha que não e disse hoje no Bom Dia Brasil:
“O nosso dinheiro não tem nada a ver com isso. O BNDES pensar em participar desse processo é estranho. O BNDES não só emprestaria dinheiro, como entraria de sócio na nova empresa. É importante lembrar que o BNDES recebe dinheiro de endividamento público. O tesouro se endivida para colocar dinheiro no BNDES, que pega esse dinheiro para entrar de sócio em um supermercado?”
Está se confundindo - não a Leitão, que sabe exatamente  disso – empréstimo do BNDES com compra de participação acionária – sociedade, se preferirem.
Um dos papéis do BNDES é, sim, ser sócio – e viabilizar negócios – em atividades privadas que se exerçam em larga escala e com níveis de concentração e investimento significativos. E estes negócios devem se pautar por dois critérios: serem impulsionadores de nossa economia, gerando cadeias de produção e comercialização e serem, comercialmente, bons negócios, embora talvez não em prazo, condições e volume de capital que atraiam recursos privados.
Ora, até Merval Pereira e o Carlos Alberto Sardemberg reconheceram, também hoje, na CBN, que o negócio é lucrativo para o BNDES.
E no aspecto estratégico, é bom?
Uma cadeia de supermercados vende o que? Alimentos industrializados. O Brasil, entre suas grandes vocações, produz o que? Alimentos. Evidente que um participação brasileira na segunda rede mundial de supermercados vai auxiliar a colocação de produtos brasileiros em suas gôndolas.
A última questão é: isso é um ganho de poder pessoal para o Sr. Abilio Diniz? Sim. Tornará a nova empresa um “quintal” da família Diniz? Não. Por que?
A reportagem de Graziella Valenti e Vanessa Adachi ajuda a responder.
“Diniz, Casino e todos os atuais acionistas de Pão de Açúcar migrarão para a holding chamada NPA. Nessa nova empresa, que só teria ações ordinárias e o controle disperso na bolsa, Abilio Diniz e família teriam direta e indiretamente 16,9% e Casino, 29,8%. A fatia de Wilkes, participação indireta de ambos, sairia de 25,2% para 20,5%.
O estatuto dessa nova companhia, porém, limita o poder de votar de um acionista a 15% do capital, independentemente da participação econômica detida. Esse dispositivo abre espaço para que Diniz e Casino tenham o mesmo poder político – ainda que o grupo francês tenha quase o dobro em dinheiro investido.
Para preservar a estrutura dispersa do capital, NPA ainda terá em estatuto a previsão de que quem superar 39% de participação deve lançar oferta pública para todos os acionistas.
O primeiro passo, porém, seria transformar o Pão de Açúcar numa companhia apenas com ações ordinárias, embora não listada no Novo Mercado. As preferenciais seriam convertidas em ordinárias na proporção de uma para 0,95.
O segundo movimento é a incorporação da empresa aberta por NPA, que seria sucessora como empresa listada na BM&FBovespa.
Nessa companhia, os atuais acionistas seriam diluídos pela entrada da BNDESPar e do Pactual, com aporte total de R$ 4,6 bilhões, que ficariam com 18% e 3,2% do capital, respectivamente.
Abilio Diniz e família teriam a participação reduzida de 21,4% para 16,9% e Casino sairia de 36,9% para 29,8%. Os minoritários, que hoje detêm 41,6% do Pão de Açúcar, ficariam com 32,1% de NPA.
Em seguida, Pão de Açúcar deveria incorporar Carrefour Brasil, numa transação que daria 31% do negócio ao Carrefour na França.
Nesse momento NPA teria os outros 69% do negócio. Para igualar a participação em 50% para cada lado, os 19% excedentes do NPA seriam trocados por uma participação de 11,7% no capital do Carrefour França em ações preferenciais, incluindo voto mais direitos para participação na gestão.”
Bom, acho que com estas informações você pode avaliar melhor esta complicada e gigantesca negociação.
E não fazer papel de bobo, com o pessoal que fica chiando sobre a “intervenção do estado”, como se estivéssemos tratando de o BNDES estar comprando uma fatia de meia-dúzia de quitandas, para ajudar o patrício Abílio das Verduras.
Porque a desinformação e a superficialidade são grandes maneiras de nos levarem no bico e nos “ajudar” a formar opinião que são autênticos “gols contra”. E este negócio é muito mais complicado, como se disse, do que achar uma promoção de supermercado em encarte de jornal.
PS. Depois de postar este texto, fui ler uma matéria, publicada pela BBC que ajuda a ter noção do tamanho desta guerra e do que representam os apetites internacionais do setor sobre o Brasil, definido como “eldorado” para as grandes redes de varejo. Quem não pensar considerando esta escala, vai errar. E errar, neste campo, significa deixar o país totalmente entregue aos tais apetites.

quarta-feira, junho 29, 2011

“Por que baixar o preço se o consumidor paga?”

Nosso comentarista Tovar Fonseca adiantou-se e leu a segunda parte da reportagem sobre o gigantesco “lucro Brasil” das montadoras de veículos, escrita por  Joel Silveira Leite, no UOL, e que se comentou ontem aqui.
O trecho final da matéria é estarrecedor e dispensa qualquer comentário:
Para o presidente da PSA Peugeot Citroën, Carlos Gomes, os preços dos carros no Brasil são determinados pela Fiat e pela Volkswagen. “As demais montadoras seguem o patamar traçado pelas líderes, donas dos maiores volumes de venda e referência do mercado”, disse.
Fazendo uma comparação grosseira, ele citou o mercado da moda, talvez o que mais dita preço e o que mais distorce a relação custo e preço:
“Me diga, por que a Louis Vuitton deveria baixar os preços das suas bolsas?”, questionou.
Ele se refere ao “valor percebido” pelo cliente. É isso que vale.
“O preço não tem nada a ver com o custo do produto. Quem define o preço é o mercado”, disse um executivo da Mercedes-Benz, para explicar porque o brasileiro paga R$ 265.00,00 por uma ML 350, que nos Estados Unidos custa o equivalente a R$ 75 mil.
“Por que baixar o preço se o consumidor paga?”, explicou o executivo.
Sobra dinheiro nas duas pontas desta equação do consumo de alto luxo, até porque ali falta imposto. Mas a regra que praticam é diferente para os consumidores de classe média? E será que esta genial “ciência econômica” é exclusiva dos executivos das montadoras? Em quantos produtos não estará sendo aplicada a “máxima” de “por que baixar o preço se o consumidor paga?”

O autismo da elite branca


WIKILEAKS: Cônsul e FHC ironizam movimento “Cansei”

Movimento não convenceu o ex-cônsul-geral dos Estados Unidos em São Paulo, Thomas White, que diz que seus líderes se tornaram alvos fáceis de caricatura
Por Andrea Dip, especial para a Pública
Em 2007, aproveitando o acidente com o vôo 3054 da TAM, empresários paulistas lançaram o “Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros” que ficou conhecido popularmente como “Cansei”, integrado por atrizes, atores e apresentadores de TV famosos que protestavam por uma variedade de temas – caos aéreo, corrupção educação, segurança.
Na visão do cônsul-geral dos Estados Unidos em São Paulo, Thomas White, que deixou o cargo em meados de 2010, o movimento não era apartidário.
Assim começa um comunicado enviado a Washington no dia 18 de setembro de 2007: “Na tentativa de aplacar o descontentamento popular com o governo Lula, um grupo de empresários de São Paulo lançou o Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros, conhecido informalmente como ‘Cansei’ (I’m tired)”.
O documento segue dizendo que “apesar de os líderes insistirem no apartidaridarismo e dizerem que o movimento não ataca ninguém especificamente, tem causado forte reação de movimentos sociais e entidades ligadas ao governo Lula, que caracterizam o Cansei como um grupo de membros ricos da elite branca sem nada melhor para fazer do que reclamar”.
White diz ainda que o movimento não sabia direito para que direção avançar. “Conforme descrito em seu site e cartazes publicitários, os membros do Cansei estão fartos do caos aéreo, do poder dos traficantes, das crianças nas ruas, balas perdidas e tanta corrupção”.
Conversas com D’Urso

A Washington, White comenta sobre um encontro entre oficiais da embaixada americana, Luiz Flávio Borges D’Urso e representantes da OAB de São Paulo no dia 29 de agosto de 2007. “A OAB organiza frequentemente programas em conjunto com as mesmas associações empresariais que fazem parte do ‘Cansei’. De acordo com D’Urso, faz parte dos interesses da organização elogiar o governo mas também criticá-lo quando for o caso”.
O presidente da OAB São Paulo também aproveitou o encontro para criticar a resolução da arquidiocese de São Paulo, que proibiu o Cansei de fazer uma manifestação na Catedral da Sé em julho daquele ano e obrigou o movimento a fazer seu “um minuto de silêncio de indignação” ao ar livre. “Para D’urso, o arcebispo se curvou diante da pressão e não quis criar controvérsias”

FHC: “não é um lema para Martin Luther King”

Outra parte do documento diz que os líderes do “Cansei” não ajudaram ao tentar contar seu lado da história. “Entrevistado pela revista Veja, João Dória Jr. queixou-se que a opinião pública discrimina os bem sucedidos e ricos (…) e que sua imagem de alguém que nunca fumou, bebeu ou usou drogas, não briga, não fala palavrões e usa gel no cabelo tornou difícil aos brasileiros comuns se identificarem com sua causa”.
White diz também que o presidente da Philips no Brasil, Paulo Zotollo, atraiu atenção negativa quando disse a um jornal que, ao apoiar o movimento Cansei, desejava remexer no “marasmo cívico” do Brasil, e afirmou: “Não se pode pensar que o país é um Piauí, no sentido de que tanto faz quanto tanto fez. Se o Piauí deixar de existir ninguém vai ficar chateado”. “Zottolo insistiu que sua observação tinha sido tirado do contexto, mas, novamente, o estrago já estava feito” diz o americano.
Thomas White conclui o telegrama dizendo que o slogan “Cansei”, embora possa resumir com precisão os sentimentos de algumas pessoas, não é muito eficaz como um grito de guerra.
“Como ex-presidente Fernando Henrique Cardoso comentou recentemente ao cônsul-geral, não é um lema que Martin Luther King, Jr., teria escolhido para inspirar seus seguidores”, revela White.
Para ele, “os líderes do movimento, por toda sinceridade e seriedade tornaram-se alvos fáceis para a caricatura”.
Em 2011, não há mais vestígios do Cansei. A página do movimento foi tirada do ar.

terça-feira, junho 28, 2011

Enterro da UFMA é domingo

Isso que você vê aí é o portão principal da Universidade Federal do Maranhão.
Há muito tempo que a UFMA não tem reitor e prefeito.
Mas onde estão alunos, professores e funcionários?
A UFMA MORREU!!!
MORREU DE BROCHAMENTO GERAL...








Carta Maior

















FAO reconheceu papel de Graziano e do Brasil contra fome, diz Dilma
Em nota oficial sobre eleição de José Graziano da Silva para comandar a FAO, presidenta Dilma Rousseff afirma que vitória foi um reconhecimento da contribuição dele nas ações do governo de combate à fome e do esforço brasileiro para inserir o tema na agenda internacional.
> LEIA MAIS | Internacional | 26/06/2011
• José Graziano é eleito diretor-geral da FAO
Argentina felicita a Brasil por la eleccion de Graziano

Eleição de Graziano é vitória da política externa do Brasil
Na avaliação do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, eleição de José Graziano da Silva para a direção-geral da FAO é uma vitória da política externa brasileira, do governo da presidenta Dilma Rousseff e da agricultura brasileira. “A eleição do doutor Graziano significa o reconhecimento do êxito da política externa da presidenta Dilma. Disputamos essa eleição com um candidato muito forte (o espanhol Miguel Anges Moratinos). Foi uma disputa política muito dura onde só um vence. É preciso que se reconheça isso internamente", disse o embaixador à Carta Maior.
> LEIA MAIS | Internacional | 26/06/2011

A FAO e a importância da eleição de Graziano
Além da notoriedade acadêmica e do desempenho técnico de José Graziano, sua candidatura tem recebido numerosas adesões em decorrência do seu papel no primeiro mandato do Presidente Lula, quando arquitetou e liderou a implantação da estratégia de combate à fome. Como Ministro de Segurança Alimentar e Combate à Fome, coordenou a montagem de uma das mais importantes políticas públicas da história do Brasil, a política de segurança alimentar a partir do Programa Fome Zero, que levou nosso país aos monumentais resultados de redução da fome registrados pelo IBGE. O a rtigo é de Afonso Florence.
> LEIA MAIS | Internacional | 26/06/2011
• Ignacy Sachs: A FAO e a promoção da segurança alimentar universal
• Sucessão na FAO: As credenciais de José Graziano
• Em artigo no Guardian, Lula defende candidatura de Graziano
• Os desafios para impedir uma nova crise alimentar
• "É importante que se escolha a pessoa com maior experiência"

O resgate da Grécia é resgate dos bancos europeus
Um editorial do jornal The New York Times afirma que o resgate da Grécia à beira da bancarrota, corresponde, na verdade, ao resgate dos bancos europeus. Só na França e na Alemanha, os bancos detêm cerca de 90 bilhões de dólares em dívida pública e privada grega. O Banco Central Europeu também detém dívida pública grega, e o medo é que o padrão de perdas na Grécia possa ameaçar toda a Europa. A vulnerabilidade dos bancos estadunidenses em relação à crise da zona euro também está em cima da mesa.
> LEIA MAIS | Economia | 26/06/2011

O capitalismo precisa de férias
O crescimento mede ao menos uma coisa: a saúde do capitalismo. Desse ponto de vista, o futuro parece sombrio. Nos Estados Unidos, o esgotamento dos efeitos da política monetária da administração Obama e a evolução da dívida pública marcam os limites de uma política de alavancagem que não toca nas alucinantes desigualdades na distribuição de renda. O sobressalto japonês reduziu-se a nada, pelas consequências da catástrofe nuclear. Quanto à Europa, ela bate no muro com alegria. O artigo é de Michel Husson.
> LEIA MAIS | Economia | 25/06/2011

Crise: déficit maior é de democracia, não de ajuste especial
A dimensão sistêmica da crise não é um atributo apenas da esfera econômica, mas argui a capacidade da esquerda de intervir para mudar o rumo da engrenagem em pane, em vez de se comportar apenas como um dente constitutivo da sua mecânica. O capitalismo não se auto-destrói. Assim como não existe autorregulação dos mercados não há auto-imolação do capital. Se as respostas não vierem da esquerda, a direita fará o serviço, como tem feito na periferia européia com mão-de-obra social-democrata.
> LEIA MAIS | Economia | 24/06/2011

O Irã coordena o novo eixo Af-Pak

28/6/2011, M K Bhadrakumar, Asia Times Onlinehttp://www.atimes.com/atimes/Middle_East/MF28Ak02.html
A participação dos presidentes do Paquistão e Afeganistão na conferência internacional sobre terrorismo realizada em Teerã durante o final de semana marca importante vitória política e diplomática do Irã, na atual conjuntura da política regional. O Líder Supremo do Irã, aiatolá Seyed Ali Khamenei recebeu os dois presidentes, do Paquistão e do Afeganistão, Asif Ali Zardari e Hamid Karzai.

Um dos principais focos da conferência foi demarcar com clareza que os EUA têm usado o terrorismo internacional como pretexto para intervenção militar no Afeganistão e no Oriente Médio, e para interferir nos assuntos internos de países da região. A mensagem de Khamenei à conferência, em resumo, pôs em pauta “os planos das potências satânicas do mundo, que usam o terrorismo como instrumento de suas políticas e planejam assim alcançar seus objetivos ilegítimos”.

Khamenei denunciou as finanças e os grupos terroristas armados norte-americanos na região e – muito interessante! – referiu-se explicitamente aos “crimes” cometidos pelo grupo Blackwater (Xe Services), que dá assistência a “grupos terroristas” no Paquistão, como “parte da vergonhosa e imperdoável lista de atos de terrorismo praticados pelos norte-americanos”.

Expressando solidariedade às crescentes críticas que Islamabad e Kabul têm feito contra os excessos das operações militares dos EUA no AfPak, Khamenei acrescentou: “Os ataques mortíferos de aviões-robôs não tripulados [drones] contra famílias desarmadas e indefesas nas vilas [do Paquistão] e nas áreas mais carentes do Afeganistão têm, com inadmissível frequência, convertido cerimônias de casamento, em funerais.” E disse Khamenei, em ataque demolidor contra as políticas dos EUA para a região:
“Com tais ações, é vergonhoso [para os EUA] apresentarem-se como líderes da luta contra o terrorismo (...). Do ponto de vista dos políticos da potência hoje dominante [EUA], tudo que ameace seus interesses ilegítimos é definido como terrorismo. Os norte-americanos definem como terrorismo todas as lutas que se fazem legitimamente contra forças de ocupação e forças de intervenção.”
Zardari destacou, na conferência, que o Paquistão sofreu terrivelmente durante toda a década de guerra que os EUA comandaram no Afeganistão. Disse que mais de 5.000 agentes da segurança do Paquistão foram assassinados. E que estima em cerca de 37 bilhões de dólares os prejuízos que os bombardeios provocaram na economia do Paquistão. Zardari destacou a necessidade “vital de uma campanha coletiva, de todos os estados da região que são alvos da ‘guerra ao terror’”.
Interesses de segurança que se superpõem
Karzai, por sua vez, disse que “é impossível combater o terrorismo exclusivamente por meios militares”. Conclamou à unidade, a que os países da região adotem posições firmes e “ações de cooperação coletiva, que reúnam os estados árabes” na luta contra o terrorismo.

Na véspera da conferência, Zardari e Karzai tiveram reunião tripartite com o presidente do Irã Mahmud Ahmadinejad, o qual, outra vez, falou da urgente necessidade de “cooperação estreita entre os países da região” para encaminhar soluções de “paz e segurança no Oriente Médio”. Declaração distribuída pelo gabinete do presidente Ahmadinejad dizia que “[Irã, Paquistão e Afeganistão] prometeram expandir a cooperação em áreas políticas, de segurança e econômicas; e combater o terrorismo e as intervenções militares.”

Do ponto de vista do Irã, um objetivo principal foi construir pensamento comum com Paquistão e Afeganistão, no sentido de que a permanência de forças dos EUA e da OTAN no Afeganistão tem impacto adverso sobre os interesses dos três países e trabalha contra a segurança e a estabilidade na região. Foi exatamente o que o Irã obteve, da reunião entre Khamenei, Zardari e Karzai.

Khamenei procurou “expandir amplamente os laços” entre Irã e Paquistão e alertou Zardari de que “Washington está tentando semear o dissenso no Paquistão, porque a divisão do Paquistão serve aos interesses ilegítimos dos EUA”. Manifestou sua satisfação por o povo paquistanês já ter percebido claramente “a intenção perversa” dos EUA e estar resistindo aos “golpes a favor de os EUA controlarem o país”.

A fala de Khamenei ultrapassou o que Ahmadinejad já dissera sobre “haver provas específicas” de que os EUA conspiram para confiscar o arsenal nuclear do Paquistão. Khamenei deu a impressão de estar sugerindo que os EUA têm plano para desestabilizar o Paquistão; para enfraquecer o estado; e para derrotar a decisão de resistir ao domínio norte-americano; além de comprometer a capacidade de o Paquistão vir a desempenhar papel efetivo na região.

Claramente, as tensões aumentaram nos últimos tempos entre EUA e Paquistão – circunstância que o Irã está explorando, ao encaminhar a mudança de tom. É a primeira vez que se ouve esse tipo de manifestação, do alto nível de Khamenei.

A delegação do Paquistão incluiu, além do presidente Zardari, também o ministro do Interior, Rehman Malik, o que sugere que o Paquistão espera que o Irã partilhe suas reflexões sobre implicações das políticas dos EUA para a região.

Malik manteve importante encontro separado com o ministro do Interior do Irã, Mostafa Mohammad-Najjar, ex-ministro de Defesa e membro do Corpo Revolucionário dos Guardas Islâmicos [ing. Islamic Revolutionary Guards Corps]. O relatório iraniano dessa reunião sugere que tenham sido discutidas, principalmente, as atividades do grupo terrorista Jundallah, que opera fora do Paquistão, na província do Sistão-Baloquistão, na fronteira leste do Irã.

“Discutimos meios para colaborarmos na luta contra terroristas e extremistas que usam solo paquistanês para ações contra os interesses do Irã” – disse Mohammad-Najjar. A observar, que Teerã está demarcando clara diferença entre o grupo Jundallah e o estado paquistanês (antes houve comentários de que o grupo contaria com o apoio do Paquistão). Não se sabe ainda se Malik (que também já presidiu a Agência de Investigação Federal do Paquistão) chegou a reunir-se com o poderoso ministro da Inteligência do Irã, Heydar Moslehi.

Na reunião com Karzai, Khamenei atacou frontalmente os planos dos EUA de estabelecer bases militares no Afeganistão. “Os norte-americanos só pensam em fixar bases militares permanentes no Afeganistão, o que é muito perigoso porque, enquanto houver soldados dos EUA no Afeganistão, não haverá segurança real para ninguém. O povo afegão sofre com a presença de soldados norte-americanos em seu país e essa presença causa dor ao povo de toda a região” – disse Khamenei.

A reunião com Karzai aconteceu dois dias depois de o presidente Barack Obama dos EUA ter anunciado redução do número de soldados no Afeganistão. Khamenei disse a Karzai que o que interessa ao Afeganistão e à região é a rápida retirada dos soldados norte-americanos. E que confia que o Afeganistão tenha plena capacidade para “controlar seus próprios negócios e definir o próprio destino”.

Tudo indica que os iranianos concluíram que ainda é possível forçar os EUA a desistir dos planos iniciais para instalar bases militares no Afeganistão, graças a uma combinação de circunstâncias – a oposição total dos Talibã às bases militares dos EUA; a crise econômica que se agrava nos EUA; a opinião pública farta de guerras; e a urgência, para os EUA, de conseguirem concentrar-se no Oriente Médio e África.

Enquanto isso, Teerã trabalha para impedir que Karzai ceda aos americanos. O que mais preocupa o Irã são as bases que os EUA planejam instalar em Herat e Shindad, no oeste do Afeganistão, junto à fronteira com o Irã.

Ampla convergência de interesses

A grande questão é se é realmente possível construir um eixo regional com Irã-Paquistão-Afeganistão, para discutir o problema afegão. A resposta mais fácil é que esse eixo tem tanto de aparência quanto de substância; e que a proporção de cada uma dependerá de a situação no Afeganistão – e, portanto, na região – tornar-se mais aguda, ou encaminhar-se para solução pacífica.

No momento presente, os diferentes graus de rejeição que os EUA provocam no Paquistão e no Afeganistão por um lado, e, por outro lado, o impasse até agora insanável entre os EUA e o Irã são fatores que operam a favor da aproximação entre os três países.

Zardari e Karzai, evidentemente, empreenderam a visita a Teerã sabendo perfeitamente que a visita é declarado ato de “desafio estratégico” aos EUA – e, mais importante, que Washington entenderia imediatamente o recado: a “conexão iraniana” está conseguindo encontrar espaço de manobra contra os EUA.

Mas Kabul e Islamabad também têm interesses específicos em forjar melhor entendimento com o Irã. Karzai gostaria de poder contar com todo o apoio que o Irã tenha a oferecer, para prosseguir na via de reconciliação com os Talibã.
Gulbuddin Hekmatyar, líder do Hezb-i-Islami, que está representado no governo de Karzai, viveu exilado no Irã durante cinco anos. E o Irã também tem forte influência sobre inúmeros grupos não-pashtuns que não têm dado sinais de simpatia aos planos de paz de Karzai, de reconciliação com os Talibã.

No pior cenário previsível, o Irã pouco acrescentaria; mas ter o Irã como seu parceiro político sempre aumentará substancialmente o poder de barganha de Karzai face aos EUA (e ao Paquistão).

Obter o apoio do Irã para seu processo de paz, como vizinho mais próximo, é absolutamente indispensável para que Karzai consiga costurar um acordo afegão sustentável. E Teerã, por sua vez, conta com que Karzai jamais esqueça o limite intransponível dos legítimos interesses do Irã no Afeganistão e saiba preservá-los adequadamente.

Até o presente, e apesar da interferência dos EUA, Karzai sempre conseguiu conviver em bons termos com Teerã. Desse ponto de vista, o que Khamenei disse sem meias palavras, diretamente a Karzai, sobre as bases militares dos EUA no Afeganistão, pode significar um pacto.

No passado, os interesses do Irã e do Paquistão no Afeganistão muitas vezes andaram em direções contrárias. Mas muitas coisas mudaram. Para o Paquistão, acossado hoje por apreensões e desconfianças quanto às reais intenções dos EUA, ter o Irã como vizinho amistoso passou a ser ativo criticamente importante.

Ainda mais porque a reação do Irã contra as atividades de espionagem dos EUA dentro do Paquistão sempre será valiosíssima e a solidariedade do Irã ajuda a mitigar a furiosa pressão dos EUA. Do ponto de vista de Teerã, é importante que o Paquistão faça o máximo possível para bloquear a atividade do Jundallah, de modo a impedir que outros países usem o grupo como instrumento para desestabilizar o Irã.

O Paquistão, além do mais, é importante país sunita; e ao Irã interessa garantir que não se alinhe à aliança de sunitas liderada pela Arábia Saudita contra o Irã no Oriente Médio. O Irã sempre poderá brandir a amizade com o Paquistão, para denunciar a campanha dos sauditas – que trabalham para fomentar o sectarismo entre xiitas e sunitas, e têm falado de Teerã como líder do campo xiita, para incendiar, contra o Irã, a ira dos sunitas árabes.

Os Talibã sempre foram questão insuperável no relacionamento entre Irã e Paquistão. Já não são. Hoje, na avaliação dos dois países, o ‘problema afegão’ resume-se à presença militar dos EUA no país. Irã e Paquistão concordam com que se deve impedir a presença de longo prazo dos EUA no Afeganistão. E os Talibã tampouco são hoje o que antes foram – como sugerem os contatos diplomáticos entre eles e os EUA (sem conhecimento ou participação de Islamabad).

Hoje, sobretudo, subiu muito o nível de conforto do Irã no que tenha a ver com contar com a boa vontade dos afegãos em acordos com grupos afegãos com os quais o Irã sempre manteve laços históricos e culturais. O estilo pashtun antiquado de dominação no Afeganistão parece ter sido superado por uma espécie de “despertar político” do povo afegão.

O Irã com certeza inclui em seus cálculos políticos a evidência de que a invasão do Afeganistão em 2001 e as consequências que dela advieram reduziram muito a capacidade de o estado paquistanês controlar unilateralmente qualquer acordo afegão. A melhor aposta hoje, dadas as atuais circunstâncias, é Karzai, tanto para o Irã quanto para o Paquistão, para levar avante um processo de paz “liderado pelo Afeganistão”. Todos esses elementos contribuíram para a ampla convergência de interesses entre Irã, Paquistão e Afeganistão.

O modo como essa convergência se manifestará nas próximas semanas e meses pesará muito no curso dos acontecimentos no Afeganistão e terá impacto também, sem dúvida, no processo de reconciliação com os Talibã. O Irã terá sempre o máximo interesse em forjar um eixo regional a partir dessa ampla convergência de interesses e preocupações, e em fazer dele força capaz de modelar, muito mais do que só de catalisar, os eventos futuros. Mas o tango é dança de dois; nesse caso, de três.

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