sábado, fevereiro 28, 2009

Aqui no Brasil tem governador querendo privatizar as prisões




Prender miúdos por dinheiro 

Cinco mil crianças no estado da Pensilvânia, EUA, foram consideradas culpadas, e até duas mil foram presas por dois juízes corruptos que recebiam contribuições de construtores e proprietários de prisões privadas que beneficiavam das decisões.

 

Os dois juízes consideraram-se culpados num caso de ganância e corrupção que ainda se está a desenrolar. Os juízes Mark A. Ciavarella Jr. e Michael T. Conahan receberam 2,6 milhões de dólares em compensações por mandar prender crianças que muitas vezes nem tinham acesso a um advogado. O caso oferece um vislumbre extraordinário da vergonhosa indústria das prisões privadas que está a florescer nos Estados Unidos (EUA).

 

Vejamos a história de Jamie Quinn. Quando tinha 14 anos, foi presa por quase um ano. Jamie, agora com 18 anos, descreveu o incidente que a conduziu à prisão.

 

"Entrei em discussão com uma das minhas amigas. E tudo o que aconteceu foi uma discussão normal. Ela deu-me um estalo e eu fiz-lhe o mesmo. Não havia marcas, nem testemunhas, nada. Era apenas a palavra dela contra a minha."

 

Jamie foi colocada numa das duas prisões controversas, a PA (sigla usada para designar o Estado da Pensilvânia) Child Care, e depois passou por vários outros locais. A prisão de 11 meses teve um impacto devastador nela. Disse-me: "quando saí, as pessoas olhavam para mim de forma diferente, pensavam que eu era uma pessoa má porque estive fora por tanto tempo. A minha família começou a dividir-se... porque eu estava fora e presa. Ainda estou a batalhar na escola, porque o sistema escolar em prisões como esta é simplesmente horrível."

 

Começou a cortar-se a si própria, culpando a medicação que foi forçada a tomar: "nunca estive deprimida, nunca me puseram a tomar medicamentos antes. Fui para lá e começaram a dar-me medicamentos e eu nem sequer sabia o que eram. Disseram que se não os tomasse não estaria a seguir o meu programa." Foi hospitalizada três vezes.

 

Jamie Quinn é apenas uma de milhares que estes dois juízes corruptos mandaram prender. O Juvenile Law Center (JLC), em Filadélfia, foi envolvido quando Hillary Transue foi enviada para lá por três meses por fazer um website em que parodiava o director-adjunto da sua escola. Hillary identificou claramente a página web como um brincadeira. Aparentemente, o director-adjunto não achou graça e Hillary enfrentou o notavelmente ríspido juiz Ciavarella.

 

Como me disse Bob Schwartz, do Juvenile Law Center: "Hillary assinou um papel, desconhecido por ela, a sua mãe assinou um papel abdicando do direito a um advogado. Isto fez da sua audiência de 90 segundos com o Juiz Ciavarella um tribunal de circo". O JLC descobriu que em metade dos casos juvenis no Condado de Luzerne, os arguidos abdicaram do seu direito a um representante legal. O Juiz Ciavarell ignorou repetidamente as recomendações de clemência por parte do procurador e do advogado de acusação. O Supremo Tribunal da Pensilvânia acolheu o caso do JLC e o FBI começou uma investigação que resultou, na semana passada, no pedido de acordo dos dois juízes, reconhecendo culpa por evasão fiscal e fraude.

 

Espera-se que cumpram sete anos de prisão federal. Dois processos legais separados foram submetidos em nome das crianças presas.

 

Este escândalo envolve apenas um condado nos EUA e uma empresa de prisões privadas relativamente pequena. De acordo com o Projecto Sentencing, "os EUA são o líder mundial em encarceração, com 2,1 milhões de pessoas actualmente detidas em prisões ou cadeias - um aumento de 500% relativamente há 30 anos." O Wall Street Journal escreve que "as empresas de prisões estão a preparar-se para uma onda de novos negócios, à medida em que a depressão económica torna evidente a crescente dificuldade dos funcionários dos governos estaduais e federal de construir e gerir as próprias prisões". Empresas de prisões lucrativas, como a Corrections Corporations of América e o GEO Group (antes designada por Wackenhut), estão posicionadas para aumentar os lucros. Ainda não é claro o impacto que o recém-assinado pacote de estímulo à economia terá na indústria das prisões privadas (por exemplo, o pacote contém 800 milhões de dólares para a construção de prisões, no entanto foram cortados milhões para a construção de escolas).

 

O Congresso está a considerar aprovar legislação para melhorar a política de justiça juvenil, a União Americana das Liberdades Civis diz que a legislação é "construída com base na certeza de que os programas comunitários são mais eficazes na prevenção do crime juvenil do que as políticas de encarcerações excessivas e desacreditadas".

 

As nossas crianças precisam de educação e oportunidade, não de prisão. Que os miúdos do Condado de Luzerne presos para o lucro de juízes corruptos nos ensinem uma lição. Como disse Jamie Quinn sobre a sua prisão de 11 meses: "Faz-me realmente questionar outras figuras de autoridade e pessoas em quem supostamente deveríamos confiar e admirar."

 

17 de Fevereiro de 2009

 

Denis Moynihan contribuiu na pesquisa para esta coluna.

 

Amy Goodman é a locutora de "Democracy Now!", um programa diário de notícias internacional de TV/rádio que transmite para mais de 700 estações na América do Norte. Foi galardoada com o Prémio Right Livelihood em 2008 que é considerado o prémio "Nobel Alternativo" e recebeu o prémio em Dezembro, no Parlamento Sueco.

Tradução de Sofia Gomes

http://www.esquerda.net/index.php?option=com_content&task=view&id=10930&Itemid=130

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quinta-feira, fevereiro 26, 2009

O uso do cachimbo entorta a boca



















A "ditabranda" da Folha: a culpa é de Fidel

Faltando três dias para o início do carnaval, a Folha de S. Paulo inverteu o rito de inversão. Tirou a fantasia de "fiscal republicana”, longamente confeccionada ao longo dos anos 1980, e partiu para o desfile sem disfarces, disposta a contar suas origens, histórias e personagens.
Com o editorial (ou seria um samba-enredo?) "Limites a Chávez " (17/2/2009), o jornal acompanha o pensamento do ex-publisher, Otávio Frias de Oliveira (1912-2007), mostra o inconformismo com a nova institucionalidade latino-americana e reverencia os generais-presidentes da ditadura com quem manteve laços estreitos. Dessa vez, os carnavalescos da Barão de Limeira deixaram claro que o apreço pela democracia tem limites. E eles são bem mais estreitos do que supunham os otimistas.
Ecoando o sentimento da grande imprensa latino-americana, o editorial deplora mais uma vitória do presidente venezuelano em eleições internas e afirma que “o rolo compressor do bonapartismo chavista destruiu mais um pilar do sistema de pesos e contrapesos que caracteriza a democracia. Na Venezuela, os governantes, a começar do presidente da República, estão autorizados a concorrer a quantas reeleições seguidas desejarem."
É um raciocínio tortuoso esse. É como se, uma vez desenhada a tela institucional das elites, o regime político aceitável só pudesse existir como moldura para uma realidade pretérita. Não é apenas contra Chávez que a Folha se volta, mas contra qualquer possibilidade de incorporações de novos atores sociais à política. Algo fundamental quando o que se objetiva é dar maior densidade à democracia. Reinventar o ordenamento jurídico-político, respeitando os procedimentos constitucionais, é coisa recente na América Latina.
Os termos, bem como as idéias, estão fora do lugar. Empregam-se categorias como caudilhismo, bonapartismo e até mesmo ditador, fora de contexto histórico preciso, sem qualquer rigor conceitual. É o caso de indagarmos se a Venezuela bolivariana não dispõe de um Estado com organização flexível que, assegurando a vontade popular, preserve igualdade de possibilidades e liberdade? Talvez, ali, verifique-se, em plenitude, a idéia do Estado democrático como transformador da realidade. E é precisamente isso que deve ser exorcizado pelos editorialistas de plantão: a concepção de que a democracia implica um Estado fomentador da participação pública.
Os membros do conselho editorial da Folha sabem da inexistência de presos políticos em Caracas. Não têm notícias de perseguição e assassinatos de lideranças da oposição. Não ignoram a presença de uma forte mídia privada que continua defendendo os interesses das elites banidas do poder pelas urnas, mas batem na mesma tecla do “autoritarismo chavista”. O que chamam de antidemocrático, no final das contas, é o emprego da ordem legal como instrumento de reestruturação social. 
Como parte integrante das classes dominantes, os conglomerados privados na área de comunicação, e seus prestimosos funcionários, não têm qualquer pudor em manejar torneios verbais de ocultamento e prestidigitação da realidade.
Voltemos ao editorial. O trecho em destaque vai além de um canhestro exercício de política comparada. Revela motivações bem mais profundas e significativas. "Mas, se as chamadas "ditabrandas" - caso do Brasil entre 1964 e 1985 - partiam de uma ruptura institucional e depois preservavam ou instituíam formas controladas de disputa política e acesso à Justiça, o novo autoritarismo latino-americano, inaugurado por Alberto Fujimori no Peru, faz o caminho inverso".
Ao comparar o movimento político liderado por Chávez com a ditadura militar brasileira, a Folha não incorre em equívoco de um "articulista desavisado". Assume editorialmente a defesa dos golpistas de Pindorama. O neologismo "ditabranda" é usado pelos filhos de quem nunca negou apoio ao terrorismo de Estado. Pelo contrário, o empréstimo de peruas C-14 do jornal para transporte de presos mostra total alinhamento dos Frias com centros de torturas e seus comandantes mais conhecidos.
Em 1969, com o lançamento da Operação Bandeirantes (OBAN), antecedente dos DOI-Codi, a estrutura de terror estava praticamente montada. Financiada por setores do grande empresariado, a OBAN tinha a tarefa, definida após anos de discussão, em órgãos como a Escola Superior de Guerra, de centralizar toda a operação repressiva do Estado. Não lhe faltou apoio logístico da Folha da Tarde.
A "ditabranda" teve duas constituições e não respeitou nenhuma delas.O que prevalecia era uma lógica militar que devia obediência aos regulamentos internos de quartéis e aos altos comandantes do regime. Suas "ditabrandas" formas de convencimento incluíam torturas de vários tipos: espancamentos, telefones (tapas simultâneos nos dois ouvidos), corredor polonês (fila dupla de espancadores), pau-de-arara, choque elétrico, afogamentos, entre tantas outras "técnicas".
Em documento publicado pelo Congresso Nacional, conforme registrou a revista Retrato do Brasil, em 1984, havia uma "Relação parcial sobre brasileiros mortos após 64", dando conta de 197 casos até 1979, 147 dos quais só no período Médici, exatamente quando a Folha mais colaborou com o regime. Quantos mortos e torturados foram transportados por suas “ditabrandas” peruas?
Como os carros alegóricos já estavam na rua, os leitores que questionaram o editorial conheceram a ira do carnavalesco. O enredo de vilezas não acabou no editorial. A ele sobreveio a ridícula "Nota da Redação" de 19/2, com o "ditadômetro"; seguida da torpe e covarde, porque oculta no anonimato da "Redação", agressão a Maria Victoria Benevides e Fábio Konder Comparato.
Com a ligeireza dos passistas de porões, a Folha se justifica com a mesma explicação dada ao personagem Anna de la Mesa, no magistral filme de Julie Gavras: A culpa é de Fidel. E não se fala mais nisso.
Ver José Serra na presidência foi um sonho não realizado pelo patriarca da família Frias. Seus filhos não poupam esforços para realizá-lo. Seria interessante saber o que pensa de tudo isso o atual governador de São Paulo. Afinal, ele foi presidente da UNE, militou na Ação Popular (AP) e, com o golpe militar, viveu no exílio até 1978. Tido por muitos como um quadro “progressista” do PSDB”, deveria tecer alguma consideração sobre a “ditabranda” do jornal que o apóia. Serviria para esclarecer o que significa ser “ de esquerda” no tucanato. 
Artigo publicado originalmente no 
Observatório da Imprensa.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro.

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terça-feira, fevereiro 24, 2009

Os Masters do Universo enfiaram a vaca no brejo




Roubini e o fracasso do jornalismo econômico

Atualizado em 23 de fevereiro de 2009 às 15:58 | Publicado em 23 de fevereiro de 2009 às 15:50

Nos próximos dias vamos testemunhar todo tipo de contorcionismo verbal e intelectual para tentar negar um fato, especialmente no Brasil, onde nossa mídia só vai reconhecer que o consenso de Washington acabou em alguns anos: Barack Obama vai nacionalizar os bancos americanos.

Não se trata de uma opção ideológica. É o reconhecimento puro e simples da falência do sistema financeiro. Ou isso ou, dentro de alguns meses, o óbvio assaltaria o governo Obama com um estilete, de madrugada, e ele seria obrigado a declarar toque de recolher para evitar quebra-quebra diante das instituições financeiras, feito aconteceu na Argentina.

A nacionalização, pois, é o mal menor. Nouriel Roubini, que era tratado feito maluco pela mídia dos Estados Unidos há alguns meses (quando, aliás, é preciso registrar, já era ouvido pela Carta Capital) chegou às páginas do Wall Street Journal. Quando o Murdoch vai ouvir o Roubini isso significa que, definitivamente, as coisas não andam bem nos Estados Unidos.

Alguns trechos da entrevista de Roubini ao Journal:

"Daqui a seis meses mesmo firmas que hoje parecem solventes se tornarão insolventes. A maioria dos grandes bancos -- quase todos eles -- parecerão insolventes. Nesse caso, se você assumir o controle deles de uma vez, causa menos danos do que se fizesse isso com apenas alguns, agora, criando muito mais confusão e pânico e nervosismo".

"Entre garantias, apoio de liquidez e capitalização o governo já deu de 7 a 9 trilhões de dólares para ajudar o sistema financeiro. De fato, o governo já controla um bom pedaço do sistema bancário. A questão é se você quer ou não tornar isso oficial".

"Começamos com bancos que já eram muito grandes para falir mas o que aconteceu, no processo, é que esses bancos se tornaram ainda maiores-para-falir. O JP Morgan assumiu a Bear Stearns e o Washington Mutual. O Bank of America assumiu o Countrywide e a Merrill. O Wells Fargo ficou com o Wachovia. Não funciona! Você não pode pegar dois bancos-zumbis, juntá-los e fazer um banco forte. É o mesmo que colocar dois bêbados um ajudando o outro a ficar em pé".

"Eu acredito na economia de mercado. Para parafrasear o Churchill -- que disse isso sobre a democracia e regimes políticos -- a economia de mercado pode ser o pior regime econômico existente, com exceção de todos os outros".

"As duas coisas em que o (Alan) Greenspan errou completamente são em suas crenças: um, de que o mercado se auto-regula; dois, de que o mercado nunca erra".

"Nos mercados financeiros, sem as devidas regras institucionais, é a lei da selva -- já que existe a cobiça. Não há nada de errado com a cobiça em si, e as pessoas não cobiçam mais hoje do que há 20 anos. Mas a cobiça precisa ser temperada, primeiro, pelo medo das perdas. Se você resgatar as pessoas, haverá menos medo. E segundo, a regulamentação prudente e a supervisão evitam certos excessos".

"Nos anos de bolha todos se tornam cheerleader, inclusive a mídia. É a hora em que os jornalistas deveriam fazer as perguntas duras, e acho que houve um fracasso aqui. Os Masters do Universo estavam sempre na capa, na primeira página -- os caras dos hedge-funds, os executivos imperiais. Eu gostaria que tivesse havido mais jornalistas de finanças e de negócios, nos anos bons, que perguntassem: "Peraí, esse cara, essa empresa, tem um lucro de 100% por ano, como fazem isso? Será que eles são mais inteligentes que os outros, ou estão assumindo tantos riscos que vão falir em dois anos?".

"Um bom jornalista tem que ser o cara que, nos tempos bons, desafia o pensamento convencional. Se você não fizer isso, está fracassando em suas obrigações".

http://www.viomundo.com.br/opiniao/roubini-e-o-fracasso-do-jornalismo-economico/


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EUA preparam uma envergonhada estatização de instituições financeiras privadas
 
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19/02/2009 -
 
Os EUA vão nacionalizar seus bancos?


Os Estados Unidos parecem caminhar para a nacionalização [a rigor, estatização] de grande parte do seu sistema bancário. Porém Obama prefere prefere não ouvir falar do tema, e parece que sua equipe mestá proibida de pronunciar as palavras malditas: na-cio-na-li-za-ção.

Por Alejandro Nadal, no La Jornada*
 
Ocorre que em matéria de bancos esta pode ser a única saída, pois até agora nada parece estar funcionando. Ontem, os mercados desmoronaram por temerem que nenhum dos planos de Obama dê resultado0: é provável que o seu pacote de estímulo fiscal (de US$ 787 bilhões) não seja suficiente para dar à economia estadunidense os eletrochoques de que ela precisa.

A verdade é que o crédito continua travado: é claro que o primeiro pacote não de resgate bancário não teve o resultado desejado. Era de se esperar, pois a ajuda não tinha condicionantes: os banqueiros poderiam fazer o que quisessem com o dinheiro. E como operações de crédito em plena crise são arriscadas, não surpreende que os afortunados banqueiros tenham feito de tudo, exceto emprestar.

Mas a explicação mais importante é que o estado das finanças dos bancos está contaminado até a medula por activos tóxicos. O significado é uma maravilha hoje, os grandes bancos dos EUA estão insolventes. Estimativas confiáveis indicam que as perdas no sector financeiro atingiram US$ 1,8 trilhão. Se esses números estiverem corretos, a espinha dorsal do sistema bancário estadunidense está quebrada. Restaurar o quadro clínico requer quantias astronómicas da capital devido à forte alavancagem destas actividades.

Em 9 de fevereiro o secretário do Tesouro apresentou o seu plano para resgatar os bancos e colocadar a economia de novo nos trilhos. O ponto importante é que Geithner seguiu o mesmo caminho do seu antecessor Paulson, propondo um plano muito amistoso para o sector financeiro, com um pesado fardo para o fisco.

Geithner sugeriu a criação de entidades público-privadas encarregadas de promover a compra de ativos tóxicos (inadimplência e seus derivados) em poder dos bancos para suprimi-los das tabelas de seus balancetes. Mas esse plano tem vários problemas. Para começar, ninguém sabe quem vai comprar os ativos, porque o pacote também promete reduzir os pagamentos das hipotecas. Ou seja, o valor dos ativos embasados em hipotecas de segunda categoria cairia ainda mais.

Obviamente, a raiz do problema é que o preço real desses ativos tóxicos está a zero. Vende-los por tal valor significaria que muitos dos grandes bancos passariam a registrar capital social negativo, e desapareceriam.

Os bancos evidentemente não concordam em vender estes ativos por um preço de mercado tão castigado. Mas comprá-los pelo preço nominal, uma dádiva desmedida para os bancos, seria um escândalo político. Geithner preferiu deixar as coisas como Bush as passou. O mercado de ações não se deixou nimpressionar e no dia seguinte desabou.

Mas o plano Geithner deixa entrever que a nacionalização não é a prioridade de Obama. Este poderia ser o seu erro histórico, pois hoje parece que só uma nacionalização poderia romper o nó górdio dos ativos tóxicos, limpar a contabilidade desses estabelecimentos e reiniciar o a atividade bancária convencional (tanto na captação como na concessão de empréstimos).

Obama pode até oferecer uma nacionalização temporária. Dentro de alguns anos, quando existir um novo sistema de regulamentação, os bancos teriam reprivatizados. E seria possível recorrer a esquemas distributivos muito interessantes ao repassar os bancos para o setor privado. Um deles consistiria em distribuir o valor das aações desses bancos entre os correntistas; afinal, foi com o dinheiro deles que a banca teria podido se recapitalizar e sanear os estabelecimentos.

Mas Obama é contra, dizendo que o custo de uma nacionalização seria muito elevado. Isso é discutível.

De fato, se formos falar de custos, é preciso registrar que entre setembro e janeiro o Fed [Dederal Reserve, o banco central dos EUA] aumentou sua folha de despesas em US$ 1,2 trilhão e agora se recusa a revelar os nomes das instituições beneficiadas. Está claro que os custos do resgate já superaram o que foi autorizado pelo Congresso e transparência é nula. Vários circuitos da economia dos EUA receberam uma forte injeção de liquidez naqueles meses. Em algum momento, tudo isso vai se reverter, criando pressões inflacionárias de difícil controle. Obama pode vir a lamentar não ter nacionalizado os bancos quando podia.

Por que parece tão amarga a pílula da nacionalização de bancos estadunidenses? Marx diria que nos EUA só imperou um único modo de produção, o capitalista. Nem o escravismo (a economia sulista pertence a outra categoria), nem o feudalismo, apenas o mundo do capital. Isso conduz a uma visão a-histórica do mundo. Só o capital existe, natural e eterno. Nacionalizar? Oh, não, que horror!

* Professor de Economia Comparada no Colégio do México; fonte, La Jornada, México (
http://www.jornada.unam.mx)
 
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23/02/2009
 
 
Antes absurda, estatização dos bancos nos EUA ganha adeptos a cada dia
 
 
As especulações em torno da eventual nacionalização dos grandes bancos norte-americanos são crescentes. Na sexta-feira (20), as ações de Bank of America (-3,56%) e Citi (-22,31%) despencaram, sob o temor de estatização.
 
Nesta segunda-feira, matéria do Wall Street Journal traz a possibilidade de um aporte público no Citigroup, levando a participação do Estado no banco a 40% do capital social.
 
 
Em resposta, Fed, FDIC e Treasury publicaram comunicado conjunto pela manhã confirmando a realização de testes de estresse sobre os níveis de capitalização das instituições financeiras e, caso necessário, a disponibilidade de mais capital estatal. Contudo, as autoridades lembraram que uma das premissas fortes do plano de assistência ao setor financeiro é manter a administração dos bancos sob mãos privadas.

 
Se antes a ideia da nacionalização dos bancos soava como extremada, a perspectiva agora ao menos divide a opinião de analistas, dada a crescente dificuldade para a limpeza da folha de balanço dos bancos.
 
 
Na semana passada, Alan Greenspan, ex-chairman do Fed, reconheceu que talvez seja necessária uma estatização temporária de alguns bancos, com intuito de facilitar as mudanças fundamentais e promover uma reestruturação.
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18 de fevereiro de 2009
Agência Estado
 
Greenspan defende estatização de bancos, segundo FT
Para ele, EUA teriam de ser cuidadosos para não impor alguma perda aos credores de bancos
 

O ex-presidente do Federal Reserve, Alan Greenspan, defendeu que poderia ser necessário estatizar, temporariamente, alguns bancos do país para corrigir o sistema financeiro e restaurar o fluxo de crédito, de acordo com o jornal britânico Financial Times.


Ele disse que isto "permitiria ao governo transferir ativos tóxicos para um 'banco ruim' sem a preocupação de ter de estabelecer um preço para eles", afirmou o jornal.
 
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Partilhando da visão de Greenspan, o prêmio Nobel de Economia Paul Krugman publicou artigo no New York Times nesse domingo julgando correta a opção pela nacionalização. A opinião de Krugman fundamenta-se em três pilares.
Primeiramente, "alguns bancos estão perigosamente perto do limite - na realidade, eles já teriam falido se os investidores não esperassem pelo socorro governamental em caso de necessidade".
 
 
Além disso, o colapso do Lehman Brothers praticamente ruiu o sistema financeiro mundial e seria muito arriscado permitir algo semelhante com instituições do porte de Citigroup e Bank of America.
 
Para completar, muito embora os bancos precisem de fato do resgate, o governo dos EUA não poderia, fiscal e politicamente, dar grandes benefícios aos acionistas dos bancos.
 
 
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23/02/2009 -
UOL Economia , Com informações da AFP
 
 
EUA abrem caminho para estatizar bancos a partir de quarta-feira

O Tesouro americano anunciou nesta segunda-feira as novas modalidades de socorro aos bancos em crise. Se o setor privado não tiver interesse ou dinheiro suficiente, o governo vai emitir ações para ter controle sobre os bancos - um caminho aberto para a estatização.

Essas modalidades de socorro, que explicam como o Tesouro levará adiante o plano de estabilidade financeira votado pelo Congresso em outubro, serão aplicadas a partir desta quarta-feira.




As autoridades americanas consideravam nesta segunda-feira a possibilidade de uma nacionalização dos bancos que enfrentam maiores dificuldades, uma eventualidade há muito tempo discutida, mas que o Tesouro quer evitar fazendo um apelo aos capitais privados.

O "Plano de Assistência em Capital", sobre o qual foram anunciados detalhes, oferece o esperado esclarecimento, já que a questão da nacionalização dos bancos foi intensamente debatida nos Estados Unidos nas últimas semanas.

O Tesouro explicou que nacionalizará bancos apenas em último caso. A primeira etapa consistirá em avaliar "as necessidades em capitais dos grandes estabelecimentos bancários americanos (...) no contexto econômico mais difícil".

Para os bancos com necessidade de capital, haverá "oportunidade de buscar, primeiro, fontes privadas de capital", explicou o Tesouro. Se a oferta privada não for suficiente, as finanças públicas serão colocadas à disposição.


Se Washington tiver que intervir, "qualquer capital do Estado será de ações preferenciais obrigatoriamente conversíveis, que serão convertidas em ações ordinárias somente se isso se mostrar necessário com o tempo para manter os bancos em uma posição bem capitalizada", indicou o Tesouro.

Até lá, o Estado se contentaria com ações preferenciais não-conversíveis, que não lhe ofereceriam direito de voto.

Se o Tesouro tiver que injetar capital, já se advertiu que "não está previsto que a situação seja mantida permanentemente". O Estado vai continuar a exigir dos bancos que eles readquiram suas ações preferenciais desde que suas finanças os permitam.

Essa novidade política poderá conduzir o Estado a se tornar o acionista de referência dos bancos que estão em dificuldades maiores, nos quais o setor privado não desejar mais investir.

"Por que não arriscar e nacionalizar? (...) O controle de longo prazo pelo Estado não é o objetivo: como os pequenos bancos resgatados pela FDIC (autoridade de regulamentação bancária) a cada semana, os grandes seriam devolvidos ao setor privado quando fosse possível", considerou no domingo o prêmio Nobel de Economia americano Paul Krugman.

Os mercados já consideram essa opção para os dois bancos nos quais Washington injetou mais dinheiro, o Bank of America e o Citigroup, que receberam US$ 45 bilhões cada um.

A queda de seu valor na Bolsa desde o início do ano reflete amplamente a crença de que, para retirá-los de grandes dificuldades, o Estado deve readquiri-los a preços baixos antes de reestruturá-los, como foi o caso da seguradora AIG.

No domingo, o "Wall Street Journal" afirmou que, no Citigroup, as autoridades americanas pretendiam adquirir de 25% a 40% do capital.

Contatado pela agência de notícias AFP, o banco não comentou essa informação, reiterando que tinha "uma base de capitais sólida".

A
s autoridades americanas se engajaram neste caminho com uma reticência evidente.

"Porque nossa economia funciona melhor quando as instituições financeiras são bem administradas pelo setor privado, o objetivo do Programa de Assistência em Capital é que os bancos permaneçam em mãos privadas", concluiu o comunicado comum do Tesouro, da FDIC, do Federal Reserve, e de duas autoridades reguladoras dos bancos submetidas ao Tesouro.


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Análise: participação dos EUA no Citi não resolverá todos os problemas


Por Megan Davies e Jonathan Stempel
Reuters
 
 
Mesmo se o governo ficar com uma grande participação no Citigroup Inc, persistirão as preocupações sobre a habilidade do banco de absorver as crescentes perdas em meio à recessão norte-americana.
 
O terceiro maior banco dos Estados Unidos por ativos está em conversações com reguladores federais sobre planos do governo de aumentar sua participação na instituição, segundo uma fonte próxima ao assunto.
 
Depois de caírem cerca de 2 dólares na sexta-feira, as ações do Citigroup subiram 23,1 por cento após o anúncio das conversações e de os reguladores bancários do país dizerem estar prontos para fornecer mais capital para o setor para "preservar a viabilidade dessas importantes instituições financeiras".
 
Mas os investidores temem que as perdas decorrentes de cartões de crédito, países emergentes e ativos podres possam afundar os esforços do presidente-executivo do banco, Vikram Pandit, para retomar o ritmo fiscal do Citigroup.
 
Os analistas não acreditam que o Citigroup seja rentável nem em 2009 nem em 2010.
 
"Ajuda o capital deles, mas não ajuda nos problemas de ativos", disse Walter Todd, administrador de portfólio do Greenwood Capital Associates LLC. "Se o Citi tivesse saído dos problemas, a ação não estaria valendo 2 dólares."
 
"Não tenho certeza se dar recursos e manter vivas empresas potencialmente insolventes ajuda a economia e o mercado como um todo com o tempo", afirmou Ben Halliburton, chefe de investimentos do Tradition Capital Management.

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sábado, fevereiro 21, 2009

DIAMANTES DE SANGUE


A fortuna pessoal declarada, de Lev Leviev, é de 8 bilhões de dólares.

Estrelas do Oscar devem boicotar os diamantes de joalheiro
que constrói colônias ilegais na Palestina

The Electronic Intifada, 20/2/2009 - http://electronicintifada.net/v2/article10327.shtml

Os grupos Adalah-NY e Judeus Contra a Ocupação (Jews Against the Occupation-NYC, JATO-NYC) têm feito contato, nos últimos dias, com 16 agências de Relações Públicas e Publicidade de Hollywood e com a "Academy of Motion Picture Arts and Sciences", para garantir que nenhuma das estrelas e astros de cinema presentes à festa do Oscar do próximo domingo usem diamantes Leviev.

Em campanha de duas semanas, por carta, e-mail e telefonemas para as agências que administram as carreiras dos astros e estrelas de cinema, os grupos chamaram atenção para as atividades do joalheiro Leviev de violação de direitos humanos e das leis internacionais nos Territórios Ocupados na Cisjordânia, onde a mesma empresa constroi colônias exclusivas para judeus e, também, para suas atividades na indústria de diamantes em Angola e Namíbia. Leviev, ao que se sabe, controla 1/3 de todas as minas de diamante do mundo.

Entre as 16 agências e empresas de Relações Públicas contatadas estão seis agências que representam 10 indicadas ao prêmio para atriz principal e atriz coadjuvante e representantes de várias outras atrizes.

As agências informaram que receberam as cartas enviadas por Adalah-NY/JATO-NYC, e várias agências disseram que as cartas circularam entre os altos executivos.

Dia 18 de fevereiro, em conversa telefônica com militantes do grupo Adalah-NY, um assessor de imprensa da Academia de Cinema informou que a carta enviada por Adalah-NY e JATO-NYC havia sido recebida, mas que a Academia não comentaria o apelo para boicotar as joias Leviev, nem a afirmativa dos grupos de que a presença de joias Leviev na festa do Oscar indicaria cumplicidade com as práticas vergonhosas de violações de direitos humanos e legislação internacional.

Salma Hayek usou joias Leviev na festa do Oscar 2006. Dia 19/2/2008, em noticiário da Warner Brothers Extra TV, dias antes da premiação, a apresentadora Dayna Devon disse que estava usando "$17 milhões de joias Leviev, que vocês também verão na festa dos Oscars." Depois disso, não houve outras referências às joias Leviev usadas na premiação de 2008. Dita Von Teese usou diamantes Leviev em festa 'pré-Oscar', dia 19/2/2008.

Alexis Stern, do grupo Adalah-NY, comentou que "Depois do movimento que fizemos, espero que a Academia e as atrizes que compareçam à festa e eventos relacionados à premiação cuidem para não associar a própria imagem aos diamantes Leviev. Seria vergonhoso associar a festa do Oscar e a destruição de comunidades palestinas, com o massacre de mineiros na Namibia e em Angola e com diamantes de sangue."

Riham Barghouti, do grupo Adalah-NY acrescentou que "enquanto houver palestinos em Jayyous e Bilin lutando para salvar suas casas ameaçadas pelas máquinas da construtora de Leviev, não se admite qualquer promoção da mesma empresa. Ainda ontem, para fazer calar os manifestantes reunidos em Jayyous, contra a construção de colônias, o exército israelense entrou na cidade, que já estava sob toque de recolher, e prendeu 50 moradores.

O prefeito de Jayyous, Mohammed Taher Jabr, pediu apoio da comunidade internacional, e disse que "os israelenses estão usando qualquer meio para nos expulsar de nossa terra."

Leviev já sofreu vários contratempos desde que foi elogiado no New York Times, em setembro de 2007. As ações de uma das maiores empresas do grupo, Africa Israel, perderam 90% do valor e a empresa está envolvida numa batalha judicial que envolve o projeto de transformar o Apthorp[1] em condomínio de luxo. O grupo Adalah-NY fez 13 manifestações de protesto frente à joalheria Leviev, na Madison Avenue, desde a inauguração.

A UNICEF e Oxfam têm denunciado a empresa por agressão aos direitos humanos e várias das principais estrelas de Hollywood têm procurado não associar a própria imagem à joalheria; e os governos do Reino Unido e Dubai também têm sido pressionados a não manter negócios com Leviev, cujo nome foi excluído da lista de patrocinadores do Baile "Carousel of Hope" de outubro último, do qual sempre participam muitas estrelas.

As empresas de Leviev, Africa Israel e Leader trabalham como empreiteiras na construção de colônias só para judeus nos territórios palestinos ocupados em Zufim, Mattityahu East, Har Homa e Maale Adumim, que reduzem à miséria as cidades palestinas de Bilin e Jayyous, dentre outras, e violam legislação internacional. Leviev também gerencia o fundo Land Redemption Fund. Em dezembro, o jornal israelense de finanças, Globes publicou matéria sobre graves abusos dos direitos humanos e os processos Kimberley, em Angola, onde Leviev beneficia-se de contatos com o regime repressor de Dos Santos. E na Namíbia, Leviev recentemente demitiu 200 lapidadores que estavam em greve, alguns dos quais já viviam abaixo da linha da miséria, com salários de $2 por dia.


[1] Sobre o tradicional conjunto de apartamentos, na Broadway, NYC, e essa operação, ver http://nymag.com/daily/intel/2008/06/the_apthorp_goes_condo_officia.html

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sexta-feira, fevereiro 20, 2009

As definições policialescas do conceito de democracia

Battisti e... Obama!

GIUSEPPE COCCO
(Folha de S.Paulo, TENDÊNCIAS/DEBATES, 20/2/2009, p. 2, em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2002200909.htm)


Fechar feridas dos anos 70, reconhecer a sua dimensão política
e, portanto, a do caso Battisti, é essencial para o futuro da democracia


OS CRIMES atribuídos a Cesare Battisti datam de mais de 30 anos. Mas são tratados como se tivessem acontecido ontem. Apareceu até um pequeno pelotão de supostos finos conhecedores da realidade italiana para sustentar que seus "crimes" não seriam políticos, pois a Itália seria então, como hoje é, uma democracia; que a repressão à luta armada da década de 1970, esquerdista ou direitista, teria sido feita dentro do marco da Constituição, sem leis especiais.

A vasta literatura de crítica às leis de "emergência" desenvolvida por juristas de porte internacional -como Luigi Ferrajoli e Alessandro Baratta- é simplesmente ignorada. Mas o que mais impressiona é a mistura de "palpites" sobre a história italiana e as definições policialescas do conceito de democracia.

"Depois de 20 anos de fascismo, os italianos, em 1948, elegeram o modelo republicano. A partir daí a Itália passou a viver democraticamente", escreveu Wálter Maierovitch nesta Folha (7/2/2009). Ora, o referendo que escolheu a república data de 2 de junho de 1946. Ao mesmo tempo, antes do fascismo, a Itália já era uma democracia (monarquia constitucional), e Mussolini -aliás, como Hitler- chegou ao poder pelas vias e mecanismos daquela democracia.

Mais importante: o "depois do fascismo" não foi fruto de eleições; foi uma conquista que passou pela guerra e pela luta armada. A data de referência na Itália é justamente o 25 de abril de 1945, "festa da libertação do fascismo", quando a Resistência e a população insurrecta ocuparam a cidade de Milão.

Cabe aqui perguntar: uma luta armada contra as ameaças do fascismo, na democracia dos anos 1920, não teria sido legítima? Não poderia ter conseguido evitar 20 anos de ditadura, os lutos da guerra e a vergonha das leis raciais e da deportação dos judeus italianos? Não teria faltado, na democracia italiana dos anos 1920, uma luta capaz de barrar o fascismo e assim consolidar a democracia mediante a sua renovação?

Também nesta Folha (12/2/2009) podemos ler que, em 1948, a nova Carta Constitucional entrou em vigor e, a partir de então, "a Itália é uma República democrática". Pedro Del Picchia parece não saber que 1948 é também o ano do atentado contra Togliatti, líder do Partido Comunista.

Por dois dias, quase toda a Itália do norte esteve sob controle das forças comunistas e da população insurrecta, à beira de uma guerra civil que só foi evitada pelos apelos do próprio Togliatti. Del Picchia ignora também que a Constituição democrática italiana sempre co-habitou com um emaranhado de leis e instituições fascistas: o Código Penal Rocco, o "concordato" entre Estado e Vaticano, o seguro-desemprego não-universal.

Já com esses poucos elementos, podemos ver que as dimensões formais da democracia italiana foram consolidadas pelas lutas dos que as conquistaram, defenderam e renovaram, com risco da própria vida -fosse contra os fascistas, os ocupantes nazistas ou as forças de polícia dos governos da Democracia Cristiana que não hesitavam em usar, nos anos 1950, as milícias mafiosas (o "bandido" Giuliano) para massacrar camponeses sem terra.

E, nos anos 1960 e 1970, os atentados "de Estado", bem no estilo do que no Brasil foi feito no Riocentro e foi tentado no Gasômetro do Rio. O Brasil era uma ditadura; a Itália, uma democracia. A Guerra Fria, no entanto, era uma só!

A potência da democracia -nos ensinam os grandes constitucionalistas- não está na obediência, mas no direito à revolta. Para afirmar a Constituição, "foram necessários protestos e luta, nas ruas e nos tribunais, por meio de uma guerra civil e da desobediência civil". Não é slogan de Battisti, mas discurso de Barack Obama na Filadélfia (18/3/2007), na trilha de Thomas Jefferson.

Hoje mesmo, os direitos dos trabalhadores estrangeiros na Itália não são protegidos pela Constituição formal, mas dependem das ruas, quer dizer, da capacidade de mobilização social, por exemplo, contra ou a favor a nova lei que obriga os médicos italianos a denunciar os imigrantes ilegais.

Os erros políticos da luta armada na Itália dos anos 1970 não cancelam a evidência de que o conteúdo democrático da democracia dependia e depende da vitalidade dos movimentos. A repressão dos movimentos significou o enfraquecimento da democracia italiana e o desaparecimento da esquerda: a xenofobia no poder!

Fechar as feridas da década de 1970, reconhecer a dimensão política daqueles eventos e, portanto, a do caso Battisti é fundamental para o futuro da democracia, na Itália e alhures.

GIUSEPPE COCCO , 53, cientista político, doutor em história social pela Universidade de Paris, é professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Entre outras obras, escreveu, com Antonio Negri, o livro Glob(AL): Biopoder e Luta em uma América Latina Globalizada".

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quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Países que se desfizeram de bancos e empresas públicas, como o caso argentino, convivem hoje com maiores dificuldades



A hora e a vez do novo Estado

Autor(es): Marcio Pochman

A crise mundial torna mais evidente o conjunto de equívocos que resulta da recente experiência neoliberal. Os países que mais longe avançaram o princípio da autorregulação das forças de mercado e da desregulamentação do Estado encontram-se entre os mais frágeis e vulneráveis no contexto atual de turbulências e incertezas globais.

 

Fácil imaginar como a economia brasileira estaria débil e à deriva se a trajetória privatista e de inserção externa subordinada aos interesses dos países ricos dos anos 90 não tivesse sido interrompida. Sem bancos públicos (BB, CEF, BNB e BNDES) e empresas estatais, como Petrobras e Eletrobrás, por exemplo, o Brasil não teria a mínima condição de responder imediata e positivamente à crise do crédito e do investimento privado. Países que se desfizeram de bancos e empresas públicas, como o caso argentino, convivem hoje com maiores dificuldades para enfrentar afirmativamente a crise. No Brasil, a fase da privatização implicou reduzir a participação dos bancos públicos de mais de 50% para quase um terço da disponibilidade total do crédito doméstico, enquanto a transferência para o setor privado de empresas estatais respondeu por 15% do PIB e pela destruição de mais de 500 mil postos de trabalho. Em valor, o processo de privatização brasileiro somente conseguiu ser inferior à experiência soviética, com parte significativa do setor produtivo estatal sendo capturado pelo capital estrangeiro.

 

Da mesma forma, a opção política pela diversificação comercial permite ao Brasil o reposicionamento no mundo com soberania, bem diferente das economias com exportações concentradas em poucos países, como parece indicar o México, com mais de 80% do comércio externo só com os EUA. A recessão nos países ricos contamina mais facilmente aquelas nações dependentes de suas trocas externas.

 

Para o Brasil, o peso dos países ricos no comércio externo encontra-se pouco acima de 40%, quando nos anos 90 era de mais de 67% do total. Estas constatações sobre o país em relação a outras nações descrevem resumidamente uma situação melhor, porém ainda insuficiente para indicar a necessária construção de novo caminho a ser percorrido. Isso porque se tem presente que o neoliberalismo cometeu o seu haraquiri, não tendo sido superado - até o momento - pelo estabelecimento de projeto econômico e social alternativo. As respostas à crise do capital globalizado podem até ser transformadas numa etapa de desenvolvimento do novo padrão civilizatório, mas ainda estão distante disso.

 

De maneira geral, percebe-se que o Estado reaparece como elemento central do enfrentamento à turbulência mundial, embora ainda desfalcado da perspectiva transformadora de oportunidades e desafios do Século XXI. A reprodução dos tradicionais traços do padrão de Estado dos últimos 100 anos indica tão-somente o aprofundamento da organização por funções setoriais (caixinhas), cada vez mais ineficientes, quando não concorrentes entre si e à margem do potencial das forças do mercado. Adiciona-se a isso o acúmulo das variadas ondas de "choques de gestão" internalizadas pela administração do Estado, que produziram tanto a regressão da capacidade e sistematicidade de grande parte das políticas como o esvaziamento da própria função pública. Por um lado, o corte do funcionalismo e de sua remuneração procedido pela internalização de métodos privados acirrou a competição na função pública e fortaleceu a autonomização setorializada e não convergente das políticas adotadas pelo conjunto do governo. Como na lógica privada, o todo deu lugar a partes, trazendo consigo a prevalência da visão e ação de curto-prazismo no interior da função pública. O planejamento e o compromisso de longo prazo foram substituídos por uma sucessão irracional de programas e projetos pilotos que, alterados constantemente pelas autoridades de plantão, fizeram com que o Estado fosse abandonando o sentido estruturador do padrão civilizatório fora da emergência do curtíssimo prazo. Por outro lado, a estabilidade da esfera pública foi sendo contaminada pela lógica da eventualidade, amplamente acolhida pelo curso da terceirização das funções e da contratação de mão-de-obra. Assim, o Estado foi-se comprometendo com repasses crescentes de recursos a instituições - algumas nem sempre decentes (fundações, ONG's e cooperativas) - portadoras de flexibilidade para o exercício dos desvios da função pública. Assim, orçamentos e licitações tornaram-se, muitas vezes, o espaço privilegiado para manifestação da força dos interesses privados, negociatas e maior corrupção. Em síntese, a emergência da corrosão do caráter da função pública, posto que o tradicional funcionário de Estado, demarcado pelo profissionalismo e meritocracia, passou a dar lugar - em algumas vezes - ao comissionado e ao corpo estranho dos terceirizados.

 

O novo Estado precisa ser construído. Ele deve ser o meio necessário para o desenvolvimento do padrão civilizatório contemporâneo em conformidade com as favoráveis possibilidades do Século XXI. A sociedade pós-industrial, com ganhos espetaculares de produtividade imaterial e expectativa da vida ao redor dos 100 anos de idade, abre inédita e superior perspectiva civilizatória: educação para a vida toda, ingresso no mercado de trabalho depois de 25 anos, trabalho menos dependente da sobrevivência e mais associado à utilidade e criatividade sócio-coletiva. Para além das exigências do Século XX, que conformaram tanto o Novo Estado Industrial (J. Kenneth Galbraith) como o Bem-Estar Social (K. Gunnar Myrdal), encontra-se em curso novos e complexos desafios que exigem profunda reforma estatal.

 

Três grandes eixos estruturadores do novo Estado precisam ser perseguidos com clareza e efetividade. O primeiro diz respeito à constituição de novas institucionalidades na relação do Estado com o mercado. Alavancada pela experiência neoliberal, o mercado enfraqueceu as bases de promoção da competição, cada vez mais sufocadas pelo predomínio da monopolização expresso pelos vícios privados das grandes corporações transnacionais.

 

O esvaziamento da competição precisa ser rapidamente combatido com novas instituições portadoras de futuro, capazes de garantir a continuidade da inovação por meio da concorrência combinada com a cooperação entre empreendedores e da maior regulação das grandes corporações empresariais. O segundo grande eixo estruturador do novo Estado deve resultar da revolução na propriedade que impulsione uma relação mais transparente, democrática e justa com toda a sociedade. Neste caso, a ampliação do fundo público se faz necessária para sustentar o padrão civilizatório do Século XXI, a partir da tributação sobre o excedente adicional gerado por novas fontes de riqueza, que por serem intangíveis escapam crescentemente das anacrônicas bases arrecadatórias vigentes há mais de 200 anos. Por fim, o terceiro eixo reside na profunda transformação do padrão de gestão pública. Políticas cada vez mais matriciais e intersetoriais pressupõem a organização do Estado em torno do enfrentamento de problemas estruturais e conjunturais. Noutras palavras, a meritocracia e o profissionalismo para conduzir ações públicas articuladas para lidar com problemas estruturais e políticas governamentais descentralizadas e compartilhadas com a sociedade e mercado para enfrentar diversos e específicos problemas conjunturais. Urge fazer do Estado do futuro o experimentalismo do presente. Muito mais do que anunciar as dificuldades da crise global, cabe ressaltar as oportunidades que dela derivam como a realização de uma profunda reforma do Estado que viabilize o alcance das condições pós-crise para sustentação do novo desenvolvimento ambiental, econômico e social.

 

Marcio Pochmann é presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e professor licenciado do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas. Escreve mensalmente às quintas-feiras.


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VEJA ESSE FILME

















Gaza: as vozes silenciadas

Por Victor Barone em 27/1/2009

O documentário Occupation 101: Vozes da Maioria Silenciada (2006) é um belíssimo trabalho jornalístico sobre as origens e conseqüências do conflito entre judeus e palestinos no Oriente Médio. Em cerca de uma hora e meia de primorosa edição, pontilhada de entrevistas, imagens perturbadoras e comentários relevantes, o filme – dirigido por Sufyan Omeish e Abdallah Omeish, e narrado por Alison Weir, fundadora da organização If Americans Knew – discute os eventos a partir do surgimento do movimento sionista até a segunda Intifada, passando pelo processo de limpeza étnica da Palestina, as relações entre Israel e Estados Unidos e as violações dos direitos humanos e abusos cometidos por colonos e soldados israelenses contra os palestinos.


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quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Imprensa tucana é uma piada


Acabou-se cometendo até um desatino perante a Justiça Eleitoral pois mesmo depois de deixar o cargo de ministro da Fazenda, o Fernando Henrique era quem assinava as primeiras cédulas de Real. E o mais grave é que eu fingi que não vi.
Itamar Franco em:
>>>
Imprensa quer fazer política. 
Só ela e a oposição

O problema mais grave no Brasil não é a antecipação da campanha eleitoral, um factóide criado pela própria imprensa que, na prática pressionou - ela sim, e não FHC - os pefelistas e tucanos a irem a Justiça eleitoral com ação contra isso.

Interesssante é que os fatos estão aí, os governadores presidenciáveis tucanos de São Paulo, José Serra, e de Minas Gerais, Aécio Neves, também estão em campanha, ou fazendo uso da máquina administrativa, pelos critérios com que a mídia classifica a ação de governo do presidente Lula. 

Mas a parcialidade da imprensa, quando não o apoio direto a candidaturas da oposição, além da evidente má vontade e mesmo oposição militante ao governo Lula e ao PT a impede de fazer qualquer registro a respeito.

Na semana passada, o governador Serra foi a Maringá (PR), a uma feira de implementos agrícolas e nenhum veículo registrou que ele estava em outro Estado que não o governado por ele, muito menos em "campanha", como vem registrando a cada deslocamento do presidente Lula e da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. 

Essa situação é grotesca, ridícula!

Nem o PT escolheu candidata e muito menos o presidente Lula, que sequer convocou a ministra Dilma Rousseff para essa tarefa, para uma conversa a esse respeito. Portanto, aquilo que é a natureza da democracia e da liberdade de expressão, que é fazer política, é que parte da mídia quer cercear.

A mídia quer proibir ao governo - não à oposição - um direito da mesma natureza que o seu, por exemplo, de exercer seu trabalho na vigência da liberdade de imprensa! Na prática querem proibir Lula, Dilma, o PT, e nossos aliados, de discutirem 2010 e mesmo de governar, de viajar para fiscalizar ou inaugurar obras.

Querem proibir, de uma forma extrema, o presidente e ministros de viajar, participar de atos de governo para ficar só com a imprensa, com os articulistas e comentaristas, e com a oposição o monopólio de  fazer política, debater  e discutir 2010. 

Deve ser para ficar mais  fácil para a imprensa descaradamente - é o caso de certos jornais - apoiar Serra e desqualificar Dilma Rousseff, além de militar na oposição a Lula e ao PT.

http://www.zedirceu.com.br/index.php?option=com_content&task=blogsection&id=11&Itemid=37

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domingo, fevereiro 15, 2009

Porque nós somos a inteligência coletiva. A ignorância privatista não prevalecerá.



















Vista de perto, a Itália de 2009 dá medo.

Franco Berardi (Bifo), 14/2/2009
(Msg distribuída por e-mail, Lista Rekombinant, orig. adiante.
Tradução do Coletivo de Tradutores Attraverso. Distribuição autorizada.)

Franco Berardi (mais conhecido pelo apelido, Bifo), 60,  é filósofo, escritor e agitador cultural italiano

Após conduzir um ataque insano contra os trabalhadores, depois de ter levado a termo a criminosa operação Alitalia com a ajuda da oposição de Sua Majestade, após haver tentado (e parcialmente realizado) um ataque mortal contra o que resta da escola Pública, agora – com o pacote de segurança – o governo Berlusconi toma decididamente o caminho da violência autoritária.

O que podemos imaginar nesse momento? Podemos imaginar que esse governo dure por mais quatro anos devastando para sempre qualquer esperança de vida civil. Ou podemos imaginar que a situação se precipite em direção ao banho de sangue, à guerra civil inter-étnica, à catástrofe civil dolorosa. Que outra coisa se pode imaginar?

Se olhamos a situação de perto, se experimentamos olhá-la de Roma, ou de Milão – onde a EXPO 2015 virou pretexto para fechar todos os locais de encontro livre dos trabalhadores precários e da cultura dissidente, como os grupos paramilitares fascistas de 1922  fecharam as associações sindicais operárias – não há esperança.

Mas não é de perto que se deve olhar o que acontece na Itália hoje, nem de Roma, nem de Milão. Tentemos mudar o nosso ponto de observação e olhar a Itália de fora, a partir do mundo. Então compreenderemos melhor e nos livraremos da angústia.

No final de novembro de 2008, a classe política que se reuniu em torno de Berlusconi mostrava-se vencedora. No final de novembro de 2008, parecia que o rei-caricatura e sua gentalha estivessem destinados a cavalgar alegremente, sem obstáculos.

O que os jornalistas que cobrem o Parlamento chamam de "oposição" (o Partido Democrático, moribundo desde antes de nascer) é, em realidade, uma heterogênea tropa de apoio.

Os Colaninno[1] que compõem aquele partido nada são, senão sócios nos negócios, do presidente do Conselho. Os Bassolini e os Cofferati contribuíram para tornar odioso aquele amontoado de perdedores arrogantes que o pobre Veltroni não conseguiu governar.

Por isso Berlusconi ria feliz: tinha vencido e não havia oposições no horizonte.

Mais tarde a atmosfera mudou, porque três eventos epocais modificaram o horizonte.

(1): O cataclismo econômico por longo tempo anunciado e por muito tempo ignorado desembarcou nos EUA e está lambendo a península com tempestades das quais, até agora, só vimos os primeiros ventos.

(2): A Onda Anômala[2] de centenas de milhares de estudantes, professores, pesquisadores, trabalhadores do precariato ocupam as escolas, as universidades, as ruas, as praças e rejeitam a "Reforma Gelmini". A inteligência mobiliza-se contra a ignorância; e é só o começo de um movimento destinado a corroer, profundamente, as bases do poder obscurantista.

(3): A vitória de Barak Hossain Obama nos EUA abre nova fase histórica no planeta inteiro. Não podemos saber quais direções tomará, efetivamente, a nova presidência americana. Não podemos saber quão profunda será a mudança que Obama imprimirá ao seu país e ao mundo inteiro.

Mas não se pode, por isso, esquecer dos criminosos que governaram o mundo no último decênio. A classe incompetente que levou o mundo à catástrofe econômica e ecológica começa a ser desprezada, amaldiçoada e derrotada pelos homens e pelas mulheres que iniciam a nova história.

Desde novembro de 2008, quando o cataclismo econômico, a Onda Anômala e o presidente negro mudaram os rumos do mundo, os rostos pálidos que estão no poder na Itália aparecem como são: criminosos incompetentes inimigos da sociedade da inteligência.

A partir daquele momento, tornaram-se perdedores. Nem por isso são menos perigosos. Ao contrário, tornaram-se ainda mais perigosos, como já se vê. Desde então, puseram-se a incitar o ódio étnico, o ódio religioso, transformaram em lei a sua vontade de assassinar a liberdade de manifestação política, introduziram leis de segurança que lembram de perto os momentos mais obscuros da história do século XX. São até mais perigosos hoje, porque vivem seus últimos momentos, são existências destinadas a desaparecer com a avalanche que se aproxima.  

Protegem-se agressivamente, mostram a feição descarada da arrogância clerical-fascista e racista. Mas perderam.

Podem ainda produzir muita dor, podem provocar uma guerra racial e podem produzir uma guerra social que levaria a Itália ao precipício. Mas perderam.

Agora, é hora de tomarmos a iniciativa, com calma, com prudência e espírito de paz.

Toca-nos dizer que não se deve aceitar os tons de cruzada, porque as cruzadas são coisas da Idade Média e, para nós, a Idade Média acabou. Goffredo da Buglione morreu. George W Bush morreu. Dick Cheney morreu. E Berlusconi está destinado a segui-los logo.

Assisto a um telejornal. Ouço que Famiglia Cristiana, jornal de pessoas de bem que vivem a fé com caridade e respeito, acusa o governo de fomentar o ódio racial. Ouço que o ministro Maroni ameaça com retaliação 'legal' o jornal mais lido pelos italianos crentes. Depois, vejo que os fascistas no parlamento atiram-se contra o corpo de uma moça que morreu há 17 anos, gritam impropérios, porque querem expropriar os homens e as mulheres do direito de dispor do próprio corpo e da própria alma.

Depois, ouço que o Instituto de Estatística nos dá as cifras da catástrofe. No mês de novembro, a produção industrial italiana caiu 14% – 50% no setor de automóveis. Dos EUA chegam notícias de que, no último mês, desapareceram 600 mil postos de trabalho.

Essa é a realidade que a classe criminal dos Berlusconi e dos Bush produziu. Essa é a realidade que a classe criminal que provisoriamente governa a Itália procura esconder, agitando cruzes de fogo e urrando maldições.

Mas para eles acabou. Do abismo a que nos levaram, devemos nos levantar com as nossas forças e sobretudo com a nossa inteligência. E evitar a guerra civil à qual querem nos arrastar. E evitar a angústia na qual querem nos sufocar.

Porque nós somos a inteligência coletiva. A ignorância privatista não prevalecerá. [Tradução: coletivo de tradutores attraverso]


http://liste.rekombinant.org/wws/subrequest/rekombinant
http://www.rekombinant.org



[1] Roberto Colanino, político e empresário italiano (presidente da Alitalia).

[2] Sobre isso, ver "L’onda anomala prepara la grande mareggiata! Dalla Sapienza occupata una proposta: tutti a Roma il 14 novembre", Roma, 10/11/2008, em http://www.globalproject.info/art-17629.html


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