quarta-feira, maio 28, 2008

O livro didático sob o risco da alienação
























A elaboração de conteúdos de livros didáticos encontra-se na iminência de cair sob o controle de empresas multinacionais, cujos interesses não coincidem necessariamente com os interesses do contexto nacional do ensino e da aprendizagem das futuras gerações de brasileiros. Atualmente, das seis maiores empresas que dominam o mercado de livros didáticos no País pelo menos quatro são estrangeiras. E, se se consumar, como se anuncia na imprensa, a venda das editoras Ática e Scipione — atualmente de propriedade do grupo Abril em sociedade com multinacionais — para um grupo espanhol, a responsabilidade pela elaboração dos conteúdos irá transferir-se, na sua quase totalidade, para mãos estrangeiras.
Não se pretende com a advertência despertar a xenofobia, que não é e nunca foi componente da cultura brasileira. Ao contrário, esta se distingue como paradigma de tolerância e de respeito à diversidade. Mas não se pode deixar de registrar que a ausência de uma política nacional do livro didático — que o governo Lula e o Partido dos Trabalhadores estão a dever ao País — mantém desguarnecido um flanco que país algum, que seja cioso de sua soberania e de seus interesse nacionais, mantém aberto, ou mais propriamente escancarado, como ocorre no caso brasileiro.
Na aparência, pelo menos, não nos encontramos em situação de já não reconhecer a bandeira nacional. Ainda não vivenciamos o desconforto de presenciar em relação ao Brasil a troca de farpas diplomáticas entre o rei Juan Carlos, da Espanha, e o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, a propósito de visões divergentes — a do dominador e a do dominado —, sobre a herança colonial. Mas, em princípio, a exemplo do que já ocorreu em outros países, nada impede que, num contexto em que os interesses do mercado desregulado passem a prevalecer sobre as injunções do contexto cultural nacional, o controle sobre o conteúdo do livro didático venha a ser exercido de fora para dentro.
Lembre-se a propósito da epopéia, de má memória, do “Imperial Curriculum” (curriculum imperial), expressão utilizada na literatura acadêmica para caracterizar a empreitada de deformação e malformação da percepção e visão de mundo dos povos colonizados, pelos colonizadores britânicos, mediante o controle sobre a literatura didática posta à disposição dos alunos nos países subjugados. Por meio da evangelização, da colonização ou da alfabetização em massa, os modelos nacionais têm sido exportados e difundidos no exterior, na linha de menor resistência — e esse processo tem-se acentuado ainda mais com a globalização. Por isso, de uns dez anos para cá, as questões relativas à utilização, à tradução, à adaptação de livros didáticos estrangeiros passaram a se constituir em objeto de numerosos estudos, na Grécia, Itália, Argentina, Chile, México, Canadá e em muitos outros países.
Compreende-se o interesse das multinacionais pelo mercado brasileiro de livros didáticos: o programa do governo federal de compras de livros didáticos é o maior do mundo. Maior filão do mercado editorial, segundo informações do MEC, 75% das vendas de livros didáticos ao governo são disputadas por apenas quatro empresas (Moderna, FTD, Ática e Saraiva), que dividiram entre si três quartos, ou R$ 559,8 milhões dos R$ 746,4 milhões gastos pelo Ministério da Educação com material didático fornecido aos municípios em 2008. Esse valor é 43% superior aos R$ 523 milhões despendidos em 2007, o que sugere que, além de o País contar com o maior programa de compras de livros didáticos, esse segmento do mercado editorial brasileiro é também o que mais cresce no mundo.
Para abocanhar partes crescentes desse bolo, as editoras em geral não medem esforços, éticos ou condenáveis, para influenciar os responsáveis, direta e indiretamente, pelas compras, da mesma forma como procedem laboratórios farmacêuticos junto à classe médica. Para contê-las em seus ímpetos mercantis, o MEC elaborou recentemente uma cartilha de boas maneiras, para uso das editoras junto aos professores e às escolas. Contudo, a iniciativa, que alcançou eficácia relativa, não chegou a debelar o mal. Tanto assim que um dos motivos admitidos reservadamente por um diretor da Abril Educação, para sair do setor, é que a empresa não se encontra à altura da agressividade da concorrência, com a distribuição de automóveis, viagens internacionais e outros “mimos” para professores, diretores de escolas e autoridades da área de educação. E se o leitor duvidar de tal agressividade, sugiro que abra o site da Fundación Santillana, por exemplo, e constate a proximidade que a empresa espanhola mantém historicamente de ministros brasileiros da Educação, chefes de departamentos do MEC, secretários estaduais da educação e secretários municipais, caracterizando um dos lobbies mais bem incrustados no aparelho de estado brasileiro, do mesmo modo como procede em todo o mundo ibero-americano.
É dessa forma que se criam redes de relações sociais entre políticos, funcionários públicos e empresas (e seus tentáculos, como fundações, ONGs, etc.) que influenciam e conformam o pensamento político sobre a educação. Nesse tipo de rede, quase nunca é clara a distinção entre o que é assessoria, consultoria, apoio, patrocínio ou atividade de lobby. É sob esse estado ambíguo que o ex-ministro da Educação do governo FHC, Paulo Renato Souza, ao deixar a sua cadeira no Ministério, tomou imediatamente assento na Santillana, como “consultor”, assim como Mônica Messenberg, braço direito de Paulo Renato no MEC na condição de executiva responsável pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, passou a ocupar alto cargo executivo na mesma empresa, como diretora de assuntos institucionais (leia-se: lobby junto a governos, secretarias estaduais e municipais de Educação) da editora Moderna (Santillana).
O interesse pelo livro didático cresce à medida em que esse mercado transpõe fronteiras sob o impulso da acumulação do capital a partir dos países centrais e a leniência de países periféricos, ao mesmo tempo em que, no campo ideológico, acirra-se a disputa conceitual entre educação como mercadoria e educação como formação integral sob a responsabilidade do Estado. Nesse contexto, é de destacar que os livros escolares assumem múltiplas funções associados aos interesse estratégicos da soberania nacional. De acordo com Alain Choppin, especialista na história dos livros didáticos, a pesquisa mostra que os livros didáticos exercem quatro funções essenciais. São elas:

1. Função referencial, também chamada de curricular ou programática, que se constitui no suporte dos conteúdos educativos, depositário dos conhecimentos, técnicas ou habilidades que um grupo social assume como necessários para transmitir às novas gerações.
2. Função instrumental: o livro didático põe em prática métodos de aprendizagem, propõe exercícios ou atividades que visam a facilitar a memorização dos conhecimentos, favorecer a aquisição de competências, a apropriação de habilidades, de métodos de análise ou de resolução de problemas, etc.
3. Função ideológica e cultural: é a função mais antiga e estratégica. A partir do século XIX, com a constituição dos estados nacionais, o livro didático se afirmou como um dos vetores essenciais da língua, da cultura e dos valores das classes dirigentes. Instrumento privilegiado de construção de identidade, geralmente é reconhecido, assim como a moeda e a bandeira, como um símbolo da soberania nacional e, nesse sentido, assume um importante papel político. Essa função, que tende a aculturar – e, em certos casos, a doutrinar – as jovens gerações, pode se exercer de maneira explícita, sistemática e ostensiva, ou, ainda, de maneira dissimulada, sub-reptícia, implícita, mas não menos eficaz.
4. Função documental: o livro didático pode fornecer um conjunto de documentos, cuja observação ou confrontação podem vir a desenvolver o espírito crítico do aluno, no exercício de construção de sua percepção e visão de mundo, que variam de acordo com o contexto nacional e local em que ele se encontra.

A importância de tais funções, no contexto da autonomia nacional, sobressai ainda mais, ao se constatar a existência de iniciativas do mercado que visam a subvertê-las. No que se constitui na mais recente ameaça ao processo independente e democrático de seleção e escolha do livro didático, sob a coordenação do MEC, surgem grupos educacionais — empresas que exploram a educação privada e que mais recentemente decidiram por fazer incursões mercantis também no setor público — para a venda de material didático diretamente às prefeituras, secretários municipais da educação, funcionários públicos, diretores de escola e professores. Trata-se de um conluio entre autoridades estaduais e municipais, de um lado, e empresas de material escolar, de outro, que tem por objetivo neutralizar e reverter na prática as diretrizes e normas sobre o livro didático estabelecidas pelo MEC, trazendo de volta o tráfico de influência, a ausência de controle de qualidade e eventual corrupção no processo de compra.
Como expediente para escapar ao controle do MEC, autoridades municipais e estaduais entendem-se diretamente na negociação de “apostilas” e “material pedagógico” - eufemismos utilizados para dispensar o governo federal de prover às escolas os livros didáticos avaliados pelos especialistas. A compra desse material por parte das prefeituras caracteriza um dispêndio desnecessário, já que o MEC distribui os livros gratuitamente. O argumento utilizado pelos prefeitos para justificar a realização do negócio diretamente junto às editoras é que o material didático adquirido representa um “diferencial de qualidade”. Segundo informações divulgadas pela imprensa, o negócio do “diferencial de qualidade” entre administrações municipais e grandes editoras tem-se revelado como um dos mais rentáveis e auspiciosos, apresentando resultados financeiros no balanço das empresas, que, a cada ano, chegam a 50% acima dos do ano anterior. Assim, entra pela porta dos fundos o que o MEC nos últimos anos havia conseguido expelir pela porta da frente.
É sabido que a imagem da sociedade apresentada pelos livros didáticos corresponde a uma reconstrução que obedece a motivações diversas, segundo época e local. Os autores e editoras de livros didáticos não são simples espectadores de seu tempo: eles reivindicam um outro status, o de agente. O livro didático não é um simples espelho: ele modifica a realidade no processo de formação das novas gerações, provendo dela eventualmente uma imagem deformada, esquematizada, maniqueísta: as ações contrárias à moral são punidas exemplarmente; e os conflitos sociais, os atos delituosos ou a violência cotidiana são silenciados.
Não é suficiente, por isso, deter-se nas questões que se referem aos autores e ao que eles escrevem; é necessário também prestar atenção àquilo que eles silenciam, pois se o livro didático é um espelho, pode ser também uma tela, observa Alain Choppin.
Sem ser especialista em políticas educacionais, ocorre-me uma sugestão, no plano do bom senso, que certamente iria contribuir para dirimir o qüiproquó recorrente entre independência na elaboração dos conteúdos e interesses do mercado. A sugestão não é original, pois já foi adotada pela França. As instituições públicas de ensino superior, em parceria com as entidades do professorado e autores de livros didáticos poderiam assumir a responsabilidade pela elaboração dos conteúdos que, uma vez produzidos, seriam colocados pelo governo em licitação pública para impressão, ou seja, para confecção física do livro. Dessa forma, a participação do mercado nos programas do livro didático seria restrita à sua fase industrial, propriamente dita, deixando-se para o Estado a responsabilidade que lhe cabe na defesa e afirmação da cultura como componente da soberania nacional.
Como afirmei neste espaço anteriormente, tudo isso são elementos suficientes para justificar a necessidade de se promover um debate nacional sobre o papel do Estado na definição de uma política nacional do livro didático.


Rui Falcão, advogado e jornalista, 64 anos, é deputado estadual pelo Partido dos Trabalhadores. Foi deputado federal, presidente do PT e secretário de governo na gestão Marta Suplicy.


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segunda-feira, maio 26, 2008

A Argentina é um problema nosso

GILSON CARONI FILHO*

Ser latino-americano compreende viver sobressaltado ante as incansáveis estratégias urdidas por forças políticas que têm como único objetivo a promoção do retrocesso. Nossas elites, baseadas em um trotskismo às avessas, se empenham em estratégias que podem ser definidas como “involução permanente”. Um procedimento recorrente em toda a América Latina que, com o apoio ostensivo das corporações midiáticas locais, visa a desestabilização de governos emergentes do campo democrático-popular.
Nesse sentido, o crescente conflito entre o agronegócio e o governo de Cristina Kirchner é algo que, ultrapassando o território de origem, incide diretamente na agenda do governo Lula. Um breve retrospecto se faz imperativo para recordar dois pontos que, com distinções de origem, convergem para um encontro que não pode ser perdido de vista: a origem dos dois governos e a trajetória de seus líderes.
INVERSÃO
Um nasceu há 63 anos em Garanhuns, cidade incrustada no agreste pernambucano. Quatro décadas após uma viagem de pau-de-arara rumo a São Paulo, chegou à Presidência da República. Inequívoca inflexão ética de um eleitorado secularmente conservador, sua vitória foi festejada como o fato político mais importante da história recente da América Latina. Um ex-retirante, forjado no embate político-sindical, líder do mais importante partido de esquerda do subcontinente, sobrepujava os preconceitos da elite e os receios de parcela expressiva da classe média. A esperança teria, enfim, vencido o medo. Com 61,2% dos votos válidos. Em 2006, apesar da maciça artilharia da mídia conservadora, se reelegeu com 60,83% dos votos contra 39,17% de seu oponente tucano.
O outro, 59 anos, veio de Santa Cruz, província argentina rica em petróleo e gás natural. Advogado, desde jovem filiado à ala revolucionária do Partido Justicialista, foi governador de sua terra natal por duas vezes. No dia 25 de maio de 2002, com 46% dos 37 milhões de argentinos vivendo em estado de pobreza, chegou à Casa Rosada em meio à maior crise política, econômica e social dos últimos 100 anos. Ao contrário do primeiro, não foi tão festejado nem despertou tanta expectativa de mudança efetiva. Foi empossado com 22% dos votos, depois da desistência do ex-presidente Carlos Menem.
Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Néstor Carlos Kirchner têm em comum o período em que chegaram ao poder e a herança deixada por ditaduras e políticas neoliberais dos antecessores. O governo petista recebeu uma dívida interna equivalente a 62% do PIB, inflação na casa de 25,3% e uma economia à beira da ruptura financeira. Tais indicadores já haviam levado, ainda na campanha, o candidato Lula a assinar a “Carta ao Povo Brasileiro’’, em que eram mantidas as metas básicas dos acordos firmados pela equipe econômica de FHC com o FMI. A política de manutenção dos superávits foi aprovada simultaneamente ao programa de governo pela direção nacional do PT.
DESEMPREGO
Kirchner se deparou com uma economia tomada pela informalidade, taxa de desemprego superior a 20%, dívida pública superior a US$ 146 bilhões e avançado estágio de sucateamento de um parque industrial cuja pujança remontava ao início do século XX.
Ao não quitar débitos estimados em US$ 14 bilhões com o Fundo, Buenos Aires recebeu elogios da conservadora revista The Economist. Obteve, ainda, apoio internacional à proposta de pagamento da dívida privada com deságio significativo. O resultado foi um crescimento em ritmo asiático superior a 8% em quatro anos consecutivos, que somado ao reajuste de 50% do salário mínimo, congelado desde 1993, e à política de programas sociais negociados com o movimento sindical, tirou a Argentina do limbo. Em 2007, conseguiu eleger sua mulher, Cristina Fernández de Kirchner, com 44,8% dos votos.
Não há dúvidas que ainda faltam correções para pavimentar o caminho do crescimento sustentável, tanto aqui como na Argentina, mas a correção de rota não pode ser confundida com um retorno ao neoliberalismo da banca. E muito menos com uma política externa que volte a vislumbrar uma reinserção subalterna no cenário internacional. Por tudo isso, o que se delineia no país vizinho é preocupante demais.
Os locautes dos setores agroexporta-dores não podem ser vistos apenas como resultado de uma equação fiscal complicada. A natureza da paralisação patronal, por não aceitar a redução dos seus lucros, é, antes de qualquer coisa, uma ação política que atinge a classe trabalhadora urbana com desabastecimento e elevação de preços. Pede-se, em especial aos setores de esquerda, que não percam o foco de quem é o real adversário a ser combatido.
Manifestações como a da Frente Obrero Socialista (FOS), corrente trostskista que segue o pensamento de Nahuel Moreno, beiram a insanidade política. Ao afirmar que “foi correto nos colocarmos contra os dois (governo e ruralistas) e chamar os trabalhadores da cidade e do campo a unirem-se em torno a um programa operário para garantir a alimentação”, os morenistas parecem não ter aprendido que do gueto não se faz revolução. É, quando muito, um atalho curto que leva a alamedas de cemitérios ou a presídios mais próximos.
Cortes nas estradas e “caçarolaços” nas classes médias das cidades evocam um passado tão recente que talvez a melhor saída, a mais sensata, seja parafrasear Terêncio, o grande dramaturgo romano: nada do que é latino me é estranho. Precisamos redobrar a atenção. Lidamos com derrotados que costumam vencer ao primeiro cochilo da crítica.

*Professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, e colaborador do Jornal do Brasil e Observatório da Imprensa.

http://www.horadopovo.com.br/ModelosNovaEdicao/P6/pag6h.htm

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quarta-feira, maio 21, 2008

CAI AVIÃO DA GLOBO EM SÃO PAULO


Para tristeza dos deputados, senadores da oposição e para a Globo, não caiu nenhum avião em SP no dia de ontem, como foi noticiado.A GloboNews chegou a noticiar até o nome da empresa do avião, a Pantanal. Disse que o avião havia se chocado com o prédio. Teve até deputado do DEM que deu a noticia e já emendou um discurso de tragédia anunciada. Acho até que o tal vidente Jucelino Luz correu registrar no cartório a sua premonição. O que houve foi um incêndio em uma loja de colchões no bairro Campo Belo, próximo ao aeroporto. A hipótese é de curto-circuito. Não houve mortes, apenas ferimentos leves nos proprietários da loja, e um imenso prejuízo. Ficou demonstrado com isso a sanha que está a mídia e a oposição para que uma tragédia aconteça. Eles querem falar mal do governo Lula, do presidente Lula, se houver perdas de vidas, como no acidente da TAM, melhor ainda para eles. Que vexame!

Postado por Jussara Seixas no POR UM NOVO BRASIL em 5/21/2008 05:41:00 AM


O azar dessa imprensa vagabunda que torce pelo mal do Brasil é que hoje a militância democrática está de olho neles 24h por dia, 365 dias por ano.
Torcem tanto por uma tragédia que metem os pés pelas mãos.

Isso não é jornalismo.

Isso é bandidagem.


Não entregue seu dinheiro pra essa gente.

Existe boa informação de graça produzida pela militância democrática na internet.

Democracia é saber...

domingo, maio 18, 2008

A barbárie política da mídia



fonte:http://www.rsurgente.net/

Sábado, 17 de Maio de 2008
Intelectuais argentinos denunciam clima golpista e barbárie política da mídia

Cláudia Cardoso envia texto publicado no jornal argentino Página 12 sobre carta-aberta assinada por mais de 750 intelectuais denunciando o clima de golpismo que vem sendo alimentado na Argentina pelos setores conservadores ligados ao agronegócio e seus aliados urbanos.

O documento critica fortemente a atuação dos grandes meios de comunicação na formação desse clima. A carta afirma:"Na atual confrontação em torno da política de retenções desempenharam e desempenham um papel fundamental os meios massivos de comunicação mais concentrados, tanto audiovisuais como gráficos, de altíssimos níveis de audiência, que estruturam diariamente a realidade dos fatos, que geram 'o sentido' e as interpretações e definem 'a verdade' sobre atores sociais e políticos a partir de variáveis interessadas que excedem a busca de audiência.

Meios que gestam a distorção do que ocorre, que difundem o preconceito e o racismo mais espontâneo, sem a responsabilidade por explicar, por informar adequadamente nem por refletir com ponderação as mesmas circunstâncias conflitivas e críticas sobre as quais operam".

"Esta prática de autêntica barbárie política diária, de desinformação e discriminação, consiste na gestação permanente de mensagens formadoras de uma consciência coletiva reacionária. Privatizam as consciências com um sentido comum cego, iletrado, impressionista, imediatista, parcial. Alimentam uma opinião pública de perfil anti-político, que desacredita a existência de um Estado democraticamente interventor na luta de interesses sociais. A reação dos grandes meios diante do Observatório da discriminação na rádio e na televisão mostra claramente um desprezo fundamental pelo debate público e pela efetiva liberdade de informação".

Diante desse cenário, o documento defende a necessidade de "uma recuperação da palavra crítica em todos os planos das práticas e no interior de uma cena social dominada pela retórica dos meios de comunicação e pela direita ideológica de mercado".

"Da recuperação de uma palavra crítica que compreenda a dimensão dos conflitos nacionais e latino-americanos, que assinale as contradições centrais que estão em jogo, mas sobretudo que acredite ser imprescindível voltar a articular uma relação entre mundos intelectuais e sociais com a realidade política".


"Esta problemática", afirma ainda a carta, "é decisiva não só em nosso país, mas também no Brasil de Lula, na Bolívia de Evo Morales, no Equador de Correa, na Venezuela de Chávez, no Chile de Bachelet, onde abundam documentos, estudos e evidências sobre o papel determinante que assume a contenda cultural e comunicativa e as denúncias contra os meios em mãos dos grupos de mercado mais concentrados".


Postado por Marco Aurélio Weissheimer

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sexta-feira, maio 16, 2008

Globo fechou no Rio Grande do Sul







Cadê essa turma?

Não tem Globo no Rio Grande do Sul???


Das empresas de fachada à mala preta

O Ministério Público Federal dividiu os denunciados no esquema de fraude no Detran em seis núcleos denominados: Família Fernandes, Carlos Dahlen da Rosa, Fundacional (Fatec e Fundae), Detran, UFSM e Lair Ferst. O procurador Alexandre Schneider explicou que a ação da quadrilha teve dois momentos distintos. O primeiro deles, de julho de 2003 a maio de 2007, foi chamado de "fase das empresas de fachada". Neste período, empresas-fantasma eram usadas para o pagamento de propina. O MPF identificou dois contratos fraudulentos entre Detran e Fatec: o primeiro em julho de 2003 e o segundo em dezembro do mesmo ano. Nos dois casos, houve dispensa indevida de licitação, sem que houvesse um fator de urgência que justificasse a medida.

leia mais aqui:

http://www.rsurgente.net/

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quarta-feira, maio 14, 2008

Os navios fantasmas da Quarta Frota



Por Gilson Caroni Filho, da Agência Carta Maior


Ao anunciar a reativação da Quarta Frota, desativada há 58 anos, para "patrulhar os mares da América Latina", a marinha estadunidense encena, em versão farsesca, a sina do capitão magistralmente criado por Wilhelm Richard Wagner, em 1841.


A diferença é que se o "Holandês voador" navegava eternamente por conta de maldição que só um amor redimiria, o que move os militares norte-americanos - e seus "navios fantasmas" - é a necessidade de retomar o controle de uma região que, por décadas, foi seu quintal seguro. A nova constelação governos latino-americanos que, assumindo posições contrárias às do governo dos Estados Unidos, opõe-se à concessão de bases para as forças militares do Império, é o mar revolto a ser vencido. Se o personagem wagneriano tinha em "Senta" sua possibilidade de redenção, ao governo americano resta apenas Uribe como promessa de rendição.


Convém atentar para o que disse Alejandro Sánchez, funcionário de organismo de investigação do governo Bush: "Nos últimos anos os Estados Unidos se concentraram no Iraque e Afeganistão. Agora estão tentando voltar para a América Latina". Nesse ponto, um breve retorno a 2003 é indispensável.


O que movia o cenário internacional podia, sem riscos de reducionismo, ser descrito em poucas linhas. O maior império da história, governado por uma "junta" oriunda do segmento petrolífero, precisava desesperadamente invadir o Iraque, ex-aliado no Oriente Médio, para se apossar de uma reserva estimada em 112 bilhões de barris. Às voltas com um crescente déficit público e uma produção doméstica de combustível que correspondia a 50% do consumo interno, ao governo americano parecia não haver outra alternativa que não fosse o uso de sua inconteste supremacia militar. Os objetivos eram claros: "ouro negro" e controle político do Oriente Médio.


A barbárie se anunciava com o mais portentoso apoio midiático de que se tem conhecimento. Das páginas do Washington Post ao jornalismo de campanha da Fox o que se vislumbrava era a disfuncionalidade da ONU como instância de regulação internacional. Os editoriais eram a crônica de uma guerra inevitável.


Tendo chegado ao poder em eleições marcadas por fortes evidências de fraude, George W. Bush, apoiado pela direita fundamentalista americana, é a expressão acabada de uma superpotência que, enfraquecida como projeto hegemônico, busca manter a supremacia pela truculência bélica e a chantagem econômica. Unilateralismo na política externa e a elisão de direitos civis são as duas faces da mesma moeda.


A chamada Lei Patriota, que criou o Departamento de Segurança Interna, deu à nova agência poderes para monitorar desde a ficha médica aos e-mails de pessoas contrárias à política governamental. A CIA não tem mais qualquer restrição legal para assassinar, em qualquer país, indivíduos que possam ser classificados como terroristas. Política expansionista e Estado policial são a marca distintiva dos Estados Unidos desde o fim da Guerra Fria. Ante-sala do horror contemporâneo, a cruzada americana teve em seu aparelho propagandístico o pânico interno como dispositivo para construção do consenso.


O papel dos órgãos de imprensa, a maior parte controlados por grandes corporações, foi decisivo para a empreitada da política imperialista americana. Legitimaram, como nunca, a aventura no Oriente Médio. Não agem diferente no recorte simbólico dado às principais lideranças latino-americanas.


Sua maior colaboração residiu, como ainda reside, na capacidade de transformar em evento o que é processo, tirando da história qualquer possibilidade de apreensão dialética. Operam em restrita lógica binária, usando, para potencializar sua eficácia , o que Ignacio Ramonet classificou como "fascínio pelo espetáculo do evento". Enquanto os jornalões brasileiros dão pouco destaque à nova ameaça, as forças navais estadunidenses preparam-se para, a partir de 1º de julho, "supervisionar as tarefas de suas unidades na América Latina e no Caribe."


É o momento de amplificar o alerta de Socorro Gomes, presidente do Conselho Mundial da Paz:"O anúncio da recriação da Quarta Frota norte-americana, destinada a realizar missões navais agressivas nas regiões do Caribe, América Central e América do Sul é uma grave ameaça à paz, à segurança e à soberania de todos os povos e nações da América Latina.


Recentemente, ao respaldar a ação militar da Colômbia em território equatoriano, o governo estadunidense intentou dar vigência em nosso continente aos pressupostos da guerra preventiva, uma doutrina fascista a serviço do terrorismo de Estado". O que os Estados Unidos anunciam é o fomento à militarização do continente, a corrida armamentista e a ameaça nuclear.


Para lidar com isso, além da vontade política das forças progressistas da região, é necessário restabelecer a agenda de uma nova ordem informativa como possibilidade contra-hegemônica. Talvez devêssemos recuar à década de 80 para resgatar projetos que a onda neoliberal varreu do cenário acadêmico-político dos anos subseqüentes. O mais caro, sem dúvida, seria a retomada das discussões em torno de uma Nova Ordem Informativa. Mesmo levando-se em conta a mudança radical da configuração geopolítica existente à época e o surgimento de novas meios de produção, difusão e intercâmbio de dados, a atualidade do relatório produzido, em 1980, pela Comissão Internacional para o Estudo dos Problemas da Comunicação (a Unesco sediou os debates) é inconteste. Como não deixar de referendar as palavras do presidente da comissão, Sean MacBride, no prólogo do relatório?"


Gostaria de parafrasear H. G. Wells e dizer que a história humana se transforma cada vez mais numa corrida entre a comunicação e a catástrofe. O emprego total da comunicação é vital para assegurar que a humanidade venha a ter mais história (...) do que nossos filhos tenham futuro" (Um mundo e muitas vozes)" É uma agenda inadiável.


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domingo, maio 11, 2008

A FOME INFAME

Transnacionais de alimentos lucram com aumento da fome

A fome no mundo é a nova grande fonte de lucros do grande capital financeiro e os lucros aumentam na mesma proporção que a fome. Nos últimos meses, os meses do aumento da fome, os lucros da maior empresa de sementes e de cereais aumentaram 83%. Ou seja, a fome de lucros da Cargill alimenta-se da fome de milhões de seres humanos. A análise é de Boaventura de Sousa Santos.

Há muito conhecido dos que estudam a questão alimentar, o escândalo finalmente estalou na opinião pública: a substituição da agricultura familiar, camponesa, orientada para a auto-suficiência alimentar e os mercados locais, pela grande agro-indústria, orientada para a monocultura de produtos de exportação (flores ou tomates), longe de resolver o problema alimentar do mundo, agravou-o.

Tendo prometido erradicar a fome do mundo no espaço de vinte anos, confrontamo-nos hoje com uma situação pior do que a que existia há quarenta anos. Cerca de um sexto da humanidade passa fome; segundo o Banco Mundial, 33 países estão à beira de uma crise alimentar grave; mesmo nos países mais desenvolvidos os bancos alimentares estão a perder as suas reservas; e voltaram as revoltas da fome que em alguns países já causaram mortes. Entretanto, a ajuda alimentar da ONU está hoje a comprar a 780 dólares a tonelada de alimentos que no passado mês de março comprava a 460 dólares.

A opinião pública está a ser sistematicamente desinformada sobre esta matéria para que se não dê conta do que se está a passar. É que o que se está a passar é explosivo e pode ser resumido do seguinte modo: a fome do mundo é a nova grande fonte de lucros do grande capital financeiro e os lucros aumentam na mesma proporção que a fome.

A fome no mundo não é um fenômeno novo. Ficaram famosas na Europa as revoltas da fome (com o saque dos comerciantes e a imposição da distribuição gratuita do pão) desde a Idade Média até ao século XIX. O que é novo na fome do século XXI diz respeito às suas causas e ao modo como as principais são ocultadas. A opinião pública tem sido informada que o surto da fome está ligado à escassez de produtos agrícolas, e que esta se deve às más colheitas provocadas pelo aquecimento global e às alterações climáticas; ao aumento de consumo de cereais na Índia e na China; ao aumento dos custos dos transportes devido à subida do petróleo; à crescente reserva de terra agrícola para produção dos agro-combustíveis.

Todas estas causas têm contribuído para o problema, mas não são suficientes para explicar que o preço da tonelada do arroz tenha triplicado desde o início de 2007. Estes aumentos especulativos, tal como os do preço do petróleo, resultam de o capital financeiro (bancos, fundos de pensões, fundos hedge [de alto risco e rendimento]) ter começado a investir fortemente nos mercados internacionais de produtos agrícolas depois da crise do investimento no sector imobiliário.

Em articulação com as grandes empresas que controlam o mercado de sementes e a distribuição mundial de cereais, o capital financeiro investe no mercado de futuros na expectativa de que os preços continuarão a subir, e, ao fazê-lo, reforça essa expectativa. Quanto mais altos forem os preços, mais fome haverá no mundo, maiores serão os lucros das empresas e os retornos dos investimentos financeiros.

Nos últimos meses, os meses do aumento da fome, os lucros da maior empresa de sementes e de cereais aumentaram 83%. Ou seja, a fome de lucros da Cargill alimenta-se da fome de milhões de seres humanos.

O escândalo do enriquecimento de alguns à custa da fome e subnutrição de milhões já não pode ser disfarçado com as "generosas" ajudas alimentares. Tais ajudas são uma fraude que encobre outra maior: as políticas econômicas neoliberais que há trinta anos têm vindo a forçar os países do terceiro mundo a deixar de produzir os produtos agrícolas necessários para alimentar as suas próprias populações e a concentrar-se em produtos de exportação, com os quais ganharão divisas que lhes permitirão importar produtos agrícolas... dos países mais desenvolvidos. Quem tenha dúvidas sobre esta fraude que compare a recente "generosidade" dos EUA na ajuda alimentar com o seu consistente voto na ONU contra o direito à alimentação reconhecido por todos os outros países.

O terrorismo foi o primeiro grande aviso de que se não pode impunemente continuar a destruir ou a pilhar a riqueza de alguns países para benefício exclusivo de um pequeno grupo de países mais poderosos. A fome e a revolta que acarreta parece ser o segundo aviso. Para lhes responder eficazmente será preciso pôr termo à globalização neoliberal, tal como a conhecemos.

O capitalismo global tem de voltar a sujeitar-se a regras que não as que ele próprio estabelece para seu benefício. Deve ser exigida uma moratória imediata nas negociações sobre produtos agrícolas em curso na Organização Mundial do Comércio. Os cidadãos têm de começar a privilegiar os mercados locais, recusar nos supermercados os produtos que vêm de longe, exigir do Estado e dos municípios que criem incentivos à produção agrícola local, exigir da União Europeia e das agências nacionais para a segurança alimentar que entendam que a agricultura e a alimentação industriais não são o remédio contra a insegurança alimentar. Bem pelo contrário.

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=14976

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sexta-feira, maio 09, 2008

Grife de luxo Louis Vuitton processa artista que pendurou sua bolsa em menino africano


A artista Nadia Plesner criou a imagem ao lado, estampou em camisetas e posters como uma forma de chamar atençao para a fome e o genocidio em Darfur, na Africa. Um dos resultados de sua iniciativa é um processo aberto pela grife de luxo Louis Vuitton.
Leia mais no link abaixo:

quarta-feira, maio 07, 2008

VEJA O VIDEO COM A SURRA DA MINISTRA DILMA NO AGRIPINO MIA



Dilma lembrou que tinha 19 anos (19 anos!) quando foi presa, torturada e acabou passando três anos na cadeia. Falou do quanto dura e do quanto dói a tortura. Mostrou que mentir, nesse caso, era um ato de bravura.

"Qualquer comparação entre ditadura e democracia, só pode partir de quem não dá valor à democracia brasileira. Eu tinha 19 anos e fiquei três anos na cadeia e qualquer pessoa que ousar dizer a verdade a seu torturadores pode colocar a vida de seus pares em risco (...) Eu me orgulho de ter mentido. Mentir na tortura não é facil.",

disse a ministra, que completou afirmando que "na Democracia, a gente fala a verdade. Na ditadura, quem tem coragem, quem tem dignidade, fala mentira", desabafou Dilma, deixando o senador Agripino visivelmente constrangido.

Clique aqui:

http://terratv.terra.com.br/templates/channelContents.aspx?channel=2481&contentid=197576

http://www.senado.gov.br/tv/noticias/quarta/tv_video.asp?nome=CO070508_7

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terça-feira, maio 06, 2008

“Investment”, continuidade de quê?



GILSON CARONI FILHO


Embora não sejam os olhos de Capitu, os jornalistas brasileiros costumam produzir textos oblíquos e dissimulados. A decisão da agência de risco Standard & Poor’s de promover o país à condição de “investment grade” fez com que a grande imprensa se esmerasse na produção da sinuosidade tão apreciada pelo “leitor Bentinho” de todo dia. Aquele que tem ressaca cívica na retina e não percebe que o arrazoado conservador, para o qual dobram os sinos de todas as editorias, é o cemitério da ética.
Embaralhando fatos e datas, a elevação do Brasil a grau de investimento foi anunciada como coroamento de um processo iniciado nos dois governos de Fernando Henrique Cardoso. O mérito de Lula teria sido apenas o de dar continuidade à política econômica tucana. É como se um suposto neoconservadorismo petista demonstrasse empenho e competência na gestão da velha ordem, aperfeiçoando-a em muitos casos. Nada mais farsesco.
Carlos Alberto Sardenberg, comentarista econômico da TV Globo e âncora da rádio CBN, escreveu em seu blog que “a classificação não depende de um ponto exclusivo, mas do conjunto da obra. E a obra é uma política econômica clássica, cujo construção começou com o lançamento do real em 1994, e seguiu com vários passos, sendo os principais: a introdução do regime de metas de inflação em 1999, do regime de câmbio flutuante também em 1999 e a definição de leis e normas que colocaram as contas públicas sob controle”. Ou seja estaríamos diante de um processo evolutivo, sem rupturas ou descontinuidades. Pura prestidigitação. O que se apresenta como registro jornalístico é uma peça ideológica que busca, através do falseamento, ocultar agendas totalmente distintas.
O que deve ser embaçado é o êxito que contradisse a certeza de tantos editoriais. Contrariando todos os prognósticos do campo neoliberal, Lula assumiu o governo, administrou uma política de transição necessária e, paulatinamente, priorizou o mundo do trabalho e o capital produtivo. Nesse 1º de maio, a prática como critério de verdade pede que se resgate o passado recente. E, nele, ao contrário do que apregoam articulistas, não há argamassa que sustente a construção de alvenaria que o tucanato pretende erguer.
Há seis anos o cenário era de terra arrasada. Renda estagnada, taxa de desemprego em patamares altíssimos e dívida pública de 58% em relação ao PIB compunham a aquarela de “uma política econômica clássica”. Em oito anos, o índice de inflação acumulada foi de 100,7%. Não esqueçamos que fez parte do “equilíbrio macroeconômico” do consórcio PSDB/PFL (atual DEM) um processo de privatização criminosa do Estado brasileiro que torrou, a pretexto de sanear a dívida pública, US$100 bilhões de ativos públicos. E, aos que hoje vociferam contra uma política fiscal expansionista, lembremos que nos tempos da insensatez tucana a carga tributária pulou de 28,3% para 35,7% do PIB. Nesse ponto cabe uma inflexão.
Um governo que, dialogando com os movimentos sociais, suspendeu o sucateamento do patrimônio público e recuperou o papel indutor do Estado guarda alguma relação com o que lhe antecedeu? A redução efetiva da dívida pública, o saneamento financeiro do Estado e uma política de crédito de inegável teor inclusivo é continuação da subordinação aos ditames do mercado? Se há linearidade, ela só ocorre na contrafação de velhas editorias. As mesmas que viram no patrimonialismo de FHC o acerto de contas com a modernidade e, hoje, vêem aparelhamento em um Estado recuperado.
Quando Fernando Henrique Cardoso diz que “já deveriam ter dado a nova classificação há mais tempo”, paira uma ambigüidade: há nessa afirmação uma autocrítica inédita ou ela revela uma privação de sentido? Com a palavra, os saudosistas do cassino.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Agência Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil e do Observatório da Imprensa


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domingo, maio 04, 2008

Emir Sader: Os nossos espelhos de Eduardo Galeano




Alguma vez me perguntaram que livro eu recomendaria a alguém que fosse ler um único livro e eu respondi: ''O mundo de cabeça para baixo''. Agora tenho que acrescentar: no século passado. Neste recém nascido, eu diria: ''Espelhos – Uma história quase universal''.


Por Emir Sader, na Agênia Carta Maior*

Uma vez ao mês, mais ou menos, ele – o nosso melhor escritor – nos brinda com uma crônica que fala de tudo e de todos, em poucas palavras e linhas. Diz tudo, com a contundência, a erudição e o fervor moral de quem desvenda as leis ocultas do nosso tempo e as torna legíveis aos olhos de todos. Como se estivesse atendendo ao pedido desesperado de Brecht, quando falava da maior das dificuldades para dizer a verdade: não era a de descobri-la, a de separar as essenciais das inócuas, mas a de fazê-la chegar a quem mais precisa delas, as maiores vitimas das mentiras do nosso tempo.


Para isso, escolher uma linguagem compreensível, buscar exemplos do cotidiano, falar do que importa para uma vida melhor, denunciar o inaceitável e levantar esperanças donde só se pode ver miséria, desencanto e morte. Para que a verdade seja reconhecível para quem vive embrulhado por inverdades, principalmente pelas mentiras do silêncio sobre o que é fundamental, invisível aos olhos e corações, como tarefa cotidiana da imprensa mercantil.


Cada tanto tempo ele nos regala com livros. Alguma vez me perguntaram que livro eu recomendaria a alguém que fosse ler um único livro e eu respondi: O mundo de cabeça para baixo. Agora tenho que acrescentar: no século passado. Neste recém nascido, eu diria: Espelhos – Uma história quase universal.


Ele se chama Eduardo Galeano, vive em Montevidéu, mas habita o mundo e os nossos corações. É o mais subversivo dos seres humanos, por isso o Brasil é o único pais dos que eu conheço, que não publica suas crônicas regularmente na chamada grande imprensa. Não querem dar tiro nos seus próprios pés – ou no próprio bolso, permitir comparações com os ventríloquos dos poderosos que eles publicam diariamente. Fazem bem. Censuram por razões compreensíveis, tornam mais saborosos ainda os textos do Galeano.


Espelhos:


Os espelhos estão cheios de gente.

Os invisíveis nos vêem.

Os esquecidos nos recordam.

Quando nos vemos, nós os vemos.

Quando nos vamos, eles se vão?


Essa a abertura. Na última capa:


Este livro foi escrito para que não se vão.

Nestas páginas se unem o passado e o presente.

Renascem os mortos, os anônimos têm nome:

os homens que levantaram os palácios e os templos de seus senhores;

as mulheres, ignoradas pelos que ignoram o que temem;

o sul e o oriente do mundo, desprezados pelos que desprezam o que ignoram;

os muitos mundos que contêm e esconde;

os pensadores e os sentidores;

os curiosos, condenados por perguntar,

e os rebeldes e os perdedores e os loucos lindos que foram e são o sal da terra.


Não digo mais nada, não cito mais nada, me entristeci quando terminei a leitura dos quase 600 relatos, aí me alegrei quando recomecei. Só lhes digo: leiam, leiam todos os seus relatos. Mas sobretudo leiam a história de Rosa María, a primeira negra alfabetizada no Brasil, como nasceu, como viveu e como desapareceu. Nos enfeitiçamos com ela e com os espelhos em que reconhecemos o mundo que criamos e recriamos todas as horas, mas em que fingimos não nos reconhecermos.


Espelhos de nós mesmos. Obrigado, Galeano.




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TV PIG


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